quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Salve geral.
No post de apresentação, publicado no dia dez de março, eu explicava as razões do lançamento do blog. Mas tem outra coisa importante que não aparece ali. Quase todo dia, aqui na agência, a gente saía para almoçar e futebol era assunto obrigatório. Daí, pensei: se todo dia eu converso sobre futebol, por que não posso escrever sobre futebol duas ou três vezes por semana? Talvez seja divertido. E está sendo. 
Igual a todo mundo que fala de futebol, o blog acertou e errou num monte de coisas, o que não tem nada a ver com entender ou não do assunto. A grande verdade é que ninguém entende de futebol. Melhor: entender de futebol não adianta nada quando se trata de arriscar quem vai ganhar o jogo ou quem vai ser campeão. De futebol não se entende; de futebol se gosta ou não. 
O blog acertou, por exemplo, quando apostou no Fluminense como um dos fortes candidatos ao título do Brasileirão, mas errou ao não incluir o Cruzeiro na briga. (Eu achava que a interdição do Mineirão ia trazer muito mais prejuízos técnicos do que trouxe.) Acertou quando, lá no meio da competição, afirmou que o São Paulo despontava como um dos favoritos para a Copa do Brasil 2011. Errou feio quando viu no time do Palmeiras qualidades que nem mesmo os palmeirenses conseguiam enxergar. Por outro lado, pelo menos até agora o blog tem acertado ao perceber um certo charlatanismo no desempenho do Felipão. 
Depois de assistir ao jogo entre Guarani e Flamengo, ainda no primeiro turno, escrevi um post em que me dizia surpreso por não ver aqueles dois times horrorosos na zona do rebaixamento. Foi só questão de tempo: o Guarani acabou rebaixado e o Flamengo precisou do auxílio luxuoso de terceiros para escapar. Na Copa, o blog acertou em não acreditar na seleção argentina e errou quando alimentou esperanças vãs em relação ao time de Dunga, sobretudo após os enganosos três a zero em cima do Chile. 
Mas a grande vitória do blog foi conseguida junto à rapaziada. É legal ver o Thomas comentando as bizarrices rubro-negras, o Jaime reclamando de tudo e xingando todos, o Beto protestando contra a ausência de elogios ao Grêmio, é legal encontrar a Camilinha no corredor da agência e ela cobrar o post do dia. Ou, como aconteceu num dos últimos textos – que falava sobre a possível vinda de Adriano para o Corinthians –, ouvir do Saulo e da Fernanda que os argumentos do post fizeram com que eles mudassem de opinião. Aí é bem bacana. 
O blog está de férias até a segunda quinzena de janeiro, voltando quando já estiver encerrada a temporada de especulações e com os times mais ou menos definidos. 
Valeu, gente.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Val Baiano e a carne moída com chuchu.
“Perdi meu pai com um ano e quem segurou a onda foi minha mãe. Minha avó também ajudou a sustentar minhas duas irmãs e mais um irmão. Hoje, na minha família, todo mundo depende de mim. Joguei no Poções e fiquei um ano sem receber salário. Depois fui para o Paraná, joguei no Toledo e no Grêmio Maringá, e foram mais de três meses sem receber. Minha mãe ligava, perguntava se estava tudo bem, e eu falava que sim. Mas era difícil. Aquele frio no Sul e eu sem um real pra poder tomar um refrigerante, comendo só aquele cortado de carne moída com chuchu. Agora estou aqui. O Flamengo é meu décimo-quinto clube. Foi um longo caminho”. 
A história de Val Baiano é bastante triste. O problema é que histórias tristes não fazem de ninguém um bom centroavante.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O São Paulo parece ter entendido que precisa repensar seu modelo.
Quando cheguei em São Caetano do Sul, em maio de dois mil e cinco, o São Paulo tinha menos títulos brasileiros do que o Flamengo, o Palmeiras e o Vasco, e o mesmo número de Corinthians e Internacional. Já conquistara duas vezes a Libertadores, o que o igualava a Santos e Cruzeiro. Ou seja: em termos de retrospecto e ranking, estava ali no bolo. 
A partir daquele ano, as coisas começaram a mudar. Com a conquista da Libertadores em dois mil e cinco e do Brasileirão nos três anos seguintes, o clube passou a ser o grande ganhador de títulos do nosso futebol. Colhia os frutos de sua organização e se destacava diante dos quase sempre esculhambados adversários. 
O problema é que, nos dois últimos anos, o São Paulo sequer chegou à final dos três torneios que disputou. A saber: Campeonato Paulista, Corinthians e Santos no ano passado, Santos e Santo André esse ano; Campeonato Brasileiro, Flamengo e Inter no ano passado, Fluminense e Cruzeiro esse ano; Libertadores, Estudiantes e Cruzeiro no ano passado, Inter e Chivas esse ano. Aí, parada obrigatória para pensar. Surpreso com a má performance do time em dois mil e nove e dois mil e dez, cheguei a uma tese que reconheço ser controversa. Mas é uma tese. 
Nem o mais fanático são-paulino olha para seus últimos elencos vencedores e enxerga um só craque que seja. As conquistas se basearam na organização do clube e na solidez do sistema defensivo. Nenhum dos recentes times campeões do São Paulo tinha um cara jogando tanto quanto o Pet jogou no Brasileirão do ano passado ou o Conca e o Montillo no desse ano. Era, sobretudo, a vitória da organização. Só que aí aconteceram dois fatos que mexeram nessa história: a crise econômica mundial de dois mil e oito – não por acaso, o último ano de título tricolor – e a entrada firme de patrocinadores no futebol brasileiro. 
Por um lado, a falta de grana diminuía a farra no mercado europeu; por outro lado, Olympikus, Seara, Unimed etc. injetavam dinheiro pesado em alguns clubes. Foi assim que Adriano desembarcou no Flamengo, Vágner Love no Palmeiras, Roberto Carlos no Corinthians, Fred no Fluminense, foi assim que Robinho voltou para comandar o endiabrado Santos do primeiro semestre desse ano. E aí o São Paulo descobriu que o craque ganha da organização. 
É óbvio, é claro, é evidente, que você precisa ter planejamento, CT, disciplina, estádio etc. Mas quem ganha jogo é o craque. Quando ninguém tem craque e só você é organizado, provavelmente você vai ganhar. Mas quando os craques estão com a camisa adversária e você entra só com a organização, suas chances começam a diminuir. Não é à toa que os sites especializados têm noticiado que o São Paulo anda à procura de um bom meia, e as especulações citam Alex, Wagner e Thiago Neves. Bons nomes, embora eu ache que o Thiago Neves seja mais fama do que proveito. 
De qualquer modo, o São Paulo começa a se movimentar. E dá toda a pinta de que vai realizar um sonho antigo do meu amigo Jaime Agostini: ver o tricolor entrar em campo com um camisa dez de verdade.
Assuntos proibidos.
Os poucos abnegados que acompanham o blog sabem que, aqui, certas matérias são assumidamente vetadas. Me recuso a discutir, por exemplo, o título brasileiro de oitenta e sete. Quem quiser saber mais sobre o assunto pode acessar http://www.trivela.com/Conteudo.aspx?secao=45&id=16544 e conferir o completíssimo texto de Ubiratan Leal, sob o título “Crise, revolução e traição”. Tá tudo lá. Outro tema que jamais vai frequentar o blog é essa história risível de unificação dos títulos brasileiros. A quem quiser perder tempo com essa bobagem, recomendo o ótimo artigo de Emerson Gonçalves, no link http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2010/12/15/por-que-reescrever-a-historia/. Reitero que o blog fala exclusivamente de futebol. Política não entra.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu acho que Adriano deveria ir para o Corinthians.
Já escrevi aqui no blog um longo post pró-Adriano. A torcida do Flamengo tem que ser eternamente grata a ele, o principal responsável pela inesperada conquista do Brasileirão no ano passado. (Quem não leu e quiser ler, o post foi publicado no dia 26 de maio, com o título “O Imperador voltou. O Imperador já vai. Viva o Imperador.”, e foi muito elogiado lá em casa.) Mas depois daquele desinteressado início de dois mil e dez, quando deixou o time na mão diversas vezes, inclusive na Libertadores, acho que Adriano no Flamengo não rola mais não. Vai ter muita patrulha, muita cobrança, muita encheção de saco, e a coisa vai acabar não acontecendo. Apesar da minha amiga Fernanda não concordar, acredito que no Corinthians pode ser diferente, até porque o temperamento inconstante de Adriano o transformou num jogador de tiro curto. É arriscado contar com ele numa competição longa e desgastante que nem o Campeonato Brasileiro, mas como o Corinthians vai disputar a Libertadores – um torneio de no máximo catorze jogos –, dá pra encarar. Acho também que o Fenômeno acerta na mosca quando diz que Adriano tem a cara do Corinthians. Aliás, vejo identificação do Adriano com três clubes brasileiros: Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro. Com os outros, como diria o grande Gobato, o santo não bate. E mais: no Brasileirão desse ano o Flamengo usou doze atacantes, que marcaram ao todo dezenove gols. O mesmo número de gols que Adriano fez, sozinho, no título do ano passado. Aproveito para lembrar aos corintianos que o Iarley e o Souza não brigam em público com a mulher, não faltam a treinos, não queimam o calcanhar na lâmpada do quintal, não frequentam a Vila Cruzeiro. Motivado e compreendido, Adriano resolve.
Bem-feito. 
Não vi Mazembe e Internacional. Não botei pra gravar. Não tenho o menor interesse por um torneio que conta com a presença de um time de Papua-Nova Guiné. Só existe uma chance de acompanhar o Mundial Interclubes: o Flamengo participar. Ou seja, não existe chance. De qualquer forma, bem-feito. 
Em princípio, não tenho nada contra nenhum clube brasileiro. Torço a favor e contra todos, dependendo das circunstâncias. A única exceção foi o Vasco dos tempos de Eurico Miranda, muito menos pelo Vasco e muito mais pelo Eurico. Hoje, nem isso. Mas confesso que gostei da derrota do Inter. 
Entendo que o futebol se profissionalizou, que futebol é negócio, que o Mundial Interclubes dá grana, mas será que o futebol virou apenas isso? Dinheiro, dinheiro, dinheiro? Desde quando, para o Corinthians, é mais importante jogar contra o Jorge Wilsterman da Bolívia do que contra o Palmeiras? Não me conformo. 
O Inter tem um bom elenco e tinha chances enormes de conquistar o Brasileirão – título que, de resto, o clube não ganha há mais de trinta anos. Não se interessou pelo campeonato, fez uma dezena de jogos ridículos e apostou tudo nessa bobagem de Abu Dhabi. 
Acabou caindo aos pés de Kabangu e morrendo nas mãos de Kidiaba. Que sirva de lição.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vanderlei Luxemburgo: o professor aloprado.
Romário comandava o ataque do Flamengo e o técnico era Evaristo de Macedo. O time tinha uma partida fácil, mas jogava de forma displicente e terminou o primeiro tempo perdendo. Os jogadores desceram para o vestiário antes do treinador, e quando Evaristo entrou Romário estava pagando geral. Evaristo não gostou e falou pro baixinho: “Isso aqui tem comando, e o comandante sou eu. Você vai me deixar fazer meu trabalho, ou posso pegar minhas coisas e ir embora?” Romário percebeu que tinha extrapolado e engoliu o sapo. Depois do jogo, que o Flamengo virou sem dificuldades, foi falar com o treinador: “E aí, chefe, sem ressentimentos?” Evaristo, que todos dizem ter sido um craque, com passagens brilhantes por Flamengo, Seleção Brasileira, Barcelona e Real Madrid, respondeu: “Meu filho, no meu tempo de jogador, teve uma vez em que eu quase saí no tapa com um ponta-direita, por causa de um contra-ataque que ele desperdiçou. Três minutos depois ele me deixou cara a cara com o goleiro, fiz o gol e comemoramos abraçados. Vamos em frente.” 
Não há nada mais chato nas transmissões esportivas pela tevê do que os narradores que ficam escandalizados com discussões entre jogadores do mesmo time. Típico de quem nunca jogou bola na vida. Querem o quê? Depois de um cruzamento malfeito, não dá pro centroavante se dirigir respeitosamente ao lateral e propor: “Será que, na próxima oportunidade, o nobre colega poderia fazer o obséquio de caprichar um pouco mais na execução do lance?” É muito mais fácil e produtivo gritar “cruza essa porra direito, ô filho da puta!”. Até aí, tudo bem. Mas eu tenho me perguntado se a apregoada decadência do Vanderlei Luxemburgo não tem um pouco a ver com a exagerada grosseria que ele exibe durante os jogos. 
Quem teve o desprazer de assistir às últimas partidas do Flamengo pôde perceber. É o tempo inteiro. Vai tomar no cu, Diego. Puta que o pariu, Kléberson. Caralho, Léo. Vai se foder, Deivid. Tá certo que futebol não é missa e que todo xingamento pra esse time do Flamengo é pouco, mas não vejo nenhum outro técnico brasileiro trabalhando à beira do campo com tamanho destempero. Vejo que todos eles reclamam do juiz em todos os lances, vejo palavrões aqui e ali, vejo descontroles esporádicos, mas o único que eu vejo pegando pesado desse jeito é o Vanderlei. 
E aí eu pergunto: será que essa forma de cobrança não atrapalha? Será que as coisas mudaram, e jogadores de futebol não aceitam mais tomar esporro diante das câmeras?  Será que não foi por isso que os últimos resultados de Luxemburgo – no Santos, no Palmeiras, no Atlético Mineiro e até agora no Flamengo –  ficaram abaixo do esperado?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Era muita areia para o caminhãozinho do Goiás.
Quando Wellington Saci (sim, ele) arrancou em velocidade estonteante pela lateral do campo e cruzou na cabeça de Rafael Moura, e quando Rafael Moura (sim, ele) tocou no contrapé do goleiro argentino Navarro com um tempo de bola e uma categoria impressionantes, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e apego à realidade deveria desligar a tevê e dormir. Mas não. Futebol tem algo mesmo de inexplicável, que prende a gente até quando parece que estamos tendo visões. 
O Thomas acertou em cheio no comentário que fez ontem aqui no blog: o time do Independiente é horroroso e o jogo foi um peladão emocionante. No primeiro tempo, porque daí em diante passou a ser só um peladão. Ao Goiás, faltaram camisa e tradição em decisões; ao Independiente, sobraram as vantagens de jogar em casa. É isso que faz com que os gols duvidosos que você marca sejam validados e os gols duvidosos que você leva sejam anulados. Quem não é muito chegado em futebol não consegue entender direito essa história da vantagem de jogar em casa, e costuma perguntar: mas se a torcida não entra em campo, se são onze contra onze, se os gramados têm mais ou menos as mesmas dimensões e a bola é sempre igual, o que é que muda? Pois a decisão de ontem foi um excelente exemplo de como jogar em casa pode mudar tudo. 
Outra coisa que ficou bem clara: toda vez que o jogo for entre um clube brasileiro e um clube argentino, e houver a possibilidade de levar a partida para a prorrogação, pra nós é negócio. O condicionamento físico dos nossos times é sempre muito melhor. No final da história, valeu para o Grêmio, que seria prejudicado por esse casuísmo de tirar a vaga na Libertadores do quarto colocado no Campeonato Brasileiro. E, da mesma forma que aconteceu nas últimas rodadas do Brasileirão, o Flamengo continua cumprimentando com o chapéu dos outros.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A autorreferência do futebol paulista. 
Sou carioca e trabalho em São Caetano do Sul, cercado de corintianos, são-paulinos, palmeirenses e um santista, o solitário Marcus Weber. Pra mim não é difícil perceber como, na maioria das vezes, o futebol paulista é autorreferente. Quando isso se limita aos torcedores, tudo bem: torcedor taí pra isso e é assim em todo lugar. Só que a autorreferência também ataca jornalistas e treinadores, como aconteceu no Brasileirão de 2009. 
Até a reta final do campeonato, era nítido que Palmeiras e São Paulo só se preocupavam um com o outro, pouco ligando para Flamengo, Internacional ou Cruzeiro. Depois da rodada em que os dois, jogando em casa, empataram com Avaí e Coritiba, o então técnico palmeirense Muricy disse mais ou menos o seguinte: “Nosso time não está ganhando os pontos que deveria. A sorte é que olhamos pra trás e não vemos o adversário se aproximar na tabela”. Ora, o adversário que não se aproximava era o São Paulo, porque Flamengo, Inter e Cruzeiro estavam se aproximando sim senhor. E se aproximaram tanto que acabaram o campeonato à frente do Muricy. 
Um jornalista paulista, que eu não sei quem foi, inventou o conceito muito bem sacado, porém falso, do “campeonato dos pontos parados”. Ele não percebeu que, enquanto Palmeiras e São Paulo paravam, os outros seguiam. 
Nos dois jogos finais do Campeonato Paulista desse ano, o Santos era uma tremenda barbada, mas o Santo André quase ficou com a taça. A surpresa gerou barbaridades. Leandro Quesada, por exemplo, escreveu em seu blog no UOL que Santos e Santo André eram os dois melhores times do Brasil. Peraí. O Santos tudo bem, mas o Santo André? E o Inter, o Cruzeiro, nada disso contava? 
Uma possível explicação está no fato de que, no século XXI, a hegemonia paulista no futebol brasileiro é indiscutível. Mas isso tem mudado, e é preciso abrir o olho. Em 2009, os dois primeiros colocados no Campeonato Brasileiro foram um carioca e um gaúcho; na Libertadores, entre os dois primeiros o único brasileiro era mineiro. Agora em 2010, o time brasileiro que chegou à final da Libertadores – e venceu – foi um gaúcho, e os dois primeiros no Brasileirão foram um carioca e um mineiro. São Paulo, neca. Além disso, pela primeira vez em muito tempo, o futebol do estado será representado na primeira divisão do Campeonato Brasileiro por apenas quatro times. 
Já está mais do que na hora de olhar um pouco em volta e esquecer o próprio umbigo.
O Goiás vai ter que ralar.
Pode ser que eu me engane, mas desconfio que o Goiás não vai aguentar o tranco hoje à noite. O time é fraco, claro, do contrário não seria rebaixado, e a vantagem de dois gols não chega a ser grandes coisas. O jogo é no histórico estádio de Avellaneda, o Independiente não fatura um título continental há um bom tempo, a pressão vai ser braba. Torcida, juiz e a indefectível provocação de jogadores que desde o berçário aprendem a perturbar os adversários. É possível, também, que a Conmebol mexa seus pauzinhos, pra não ter que conviver com a saia justa de ver um time da segunda divisão disputando a Libertadores do ano que vem. O bicho vai pegar.
Maior que isso tudo.
Alguém pode desenhar pra mim, por favor, porque eu não entendi esse filme da Nike. O que é maior que isso tudo, a largura do Ronaldo?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pílulas do final de semana.
O Fluminense teve um momento complicado no campeonato, quando Emerson se machucou, Fred permanecia fora, o ataque não funcionava e parecia que o caldo ia entornar. Aliás, entornou, mas o Corinthians desperdiçou a chance de garantir o título com uma série absurda de pontos perdidos no Pacaembu, incluindo um empate com o Ceará e uma derrota para o Atlético Goianiense, o que permitiu ao Fluminense se recuperar. O jogo de ontem, contra o Guarani, lembrou aquele Flamengo e Grêmio da última rodada do campeonato passado: visivelmente mexido com a importância da partida, o Flu entrou em campo carregando uma estranha mistura de apatia com nervosismo. Mas creio que as notícias que chegavam dos outros jogos ajudaram a devolver a tranquilidade ao tricolor. Achei bacana o gol do título ter sido feito pelo Emerson. Um baita atacante que tem mais de trinta anos mas era desconhecido no Brasil até o ano passado, por ter feito toda sua carreira no exterior. É rápido, se movimenta o tempo inteiro, acredita em todas as bolas, não dá sossego à zaga adversária, bate bem com os dois pés, um perigo. E é o único bicampeão brasileiro em 2009/2010, já que participou da campanha do Flamengo no ano passado até o comecinho do segundo turno, formando uma ótima dupla de ataque com Adriano. Várias vezes deixei claro, aqui no blog, que futebol e justiça são como água e azeite. Por isso, falar em título justo é bobagem. Mas não há o que reclamar. O Fluminense foi quem liderou o Brasileirão pelo maior número de rodadas, somou os nove pontos indispensáveis nas três últimas partidas e ontem não deixou de ser campeão em nenhum momento do jogo. Um time que fez várias apresentações excelentes e que, mesmo quando faltou qualidade, soube jogar com determinação. É assim que se ganha um campeonato como esse, em que é impossível manter o nível alto nas trinta e oito rodadas. Quando falta bola, tem que ser na raça. E o Fluminense sempre teve uma ou outra. Lá em cima, meu pai e meu irmão devem estar de porre até agora. 
O Corinthians montou um elenco forte, misturando uma garotada boa (Jucilei, Elias, Bruno César, Dentinho) com caras experientes, mas a sensação que fica é que, na hora da verdade, alguma coisa não deu liga. Como é que um time que quer ser campeão, e tem todas as condições para isso, nas últimas três rodadas perde quatro pontos para duas equipes que terminaram o Brasileirão rebaixadas? É inconcebível. Essa é a hora do campeonato em que você tem que atropelar, passar por cima, sair matando. Mas o Corinthians fez o inverso, e deu mole. Não dá para, justo na reta de chegada, empatar com o Vitória, empatar com o time reserva do Goiás, e depois querer pôr a culpa no São Paulo e no Palmeiras. 
O Botafoguinho deu uma de América. Até meados dos anos setenta, o América – lá do Rio – sempre montava bons times, que nadavam, nadavam e morriam na praia. Sabendo que não dava pra chegar ao título, o Botafogo transformou em alvo a vaga na Libertadores, mas entregou o ouro naquela surpreendente derrota em casa para o desinteressado mistão do Internacional. Jogar contra o Grêmio no Olímpico é sempre um osso duríssimo, e ontem não foi diferente. De qualquer modo, continuo achando que Joel Santana fez aquele elenco chegar bem mais longe do que qualquer um poderia imaginar. E o Grêmio encerrou com brilho a extraordinária campanha no segundo turno. Renato Gaúcho deve estar insuportável, e com razão. 
Depois do título do Fluminense, o grande destaque futebolístico do final de semana foi a atuação do Serginho na disputadíssima pelada na Praia de Pernambuco, na festa de fim de ano da Young. Uma aula de como se joga na zaga. Marcou firme, fechou o golzinho, deu carrinho, se jogou no chão, comeu areia, e ainda saía tocando com a velha categoria de sempre. Segundo ele, foram seis jogos sem levar gol. Esse é o verdadeiro Sérgio Baresi, o rei da praia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bola tratada com carinho.
Costumo desconfiar de jogos de muita rivalidade que terminam em goleadas, porque quase sempre esses placares são mentirosos. Quando dois clubes grandes se enfrentam e o jogo acaba quatro ou cinco a zero, é porque houve o raro caso de um dos times aproveitar todas as oportunidades que surgiram, enquanto tudo dava errado para o outro lado. Acontece no futebol. É óbvio que um placar de cinco a zero não permite contra-argumentos, mas pode ser enganoso. 
Todos sabem que o blog é um hobby. Daí que foi impossível acompanhar Barcelona e Real Madrid ao vivo. Assistir a jogo do Campeonato Espanhol ao vivo, numa segunda-feira às seis da tarde, é justa causa. Como não tinha muito interesse em ver Goiás e Independiente – não dá pra levar a sério uma final com Marcão e Otacílio Neto em campo, certo? –, aproveitei a noite de quarta pra conferir o teipe do clássico espanhol. Já vi diversos times de futebol extraordinários, já vi placares avassaladores, já vi goleadas humilhantes, já vi torcidas envergonhadas, mas poucas vezes vi coisa parecida. 
O Barcelona deu um vareio de bola desde os cinco minutos do primeiro tempo, num genial toque do Messi quase da linha de fundo, encobrindo Casillas e fazendo a bola explodir na trave, até os acréscimos, quando Sérgio Ramos perdeu as estribeiras e desandou a distribuir bordoada. Mas o auge do chocolate aconteceu nos vinte primeiros minutos do segundo tempo, quando o Barça fez o terceiro e o quarto gols e passou a jogar numa movimentação alucinante, com uma troca de passes rigorosamente precisa. Tudo de primeira, de letra, de calcanhar, enquanto o time do Real Madrid e seu técnico José Mourinho pareciam atônitos, sem entender o que estava acontecendo. 
Lembro que, quando éramos crianças, meu pai gostava de nos levar para assistir às apresentações dos Globetrotters no Maracanãzinho, contra times que eram treinados (e ganhavam) para sofrer humilhações. Barcelona e Real Madrid foi bem parecido com aquilo. Além de ter sido um tapa na cara dos que se defendem com dezoito volantes, atacam com um ou no máximo dois abnegados e não param de levantar bolas na área para o tal homem de referência. O meio-campo do Barcelona tem três caras que jogam muita bola (Busquets, Xavi e Iniesta), o time usa três atacantes (Messi, Pedro e David Villa) e fez os cinco gols em jogadas de bola no chão. Homem de referência? Na Catalunha isso deve ser crime sujeito a pena de morte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Nunca consegui explicar por que virei flamenguista. Lá em casa, as pessoas que gostavam de futebol – meu pai, meus dois irmãos e minha irmã mais velha – torciam para o Fluminense. Não havia Campeonato Brasileiro, e o Fluminense era o clube com o maior número de títulos estaduais. Eu tinha vários motivos pra torcer pelo Fluminense, e nenhum pra torcer pelo Flamengo. Também tinha motivos pra torcer pelo Botafogo: era, de longe, o melhor time de futebol da cidade e nós morávamos pertinho da sede de General Severiano, que englobava o acanhado estádio onde o alvinegro treinava e mandava alguns jogos contra clubes pequenos. Cansei de ver treinos do Botafogo. Pra quem gostasse de futebol, era um programão, e de graça. Portões abertos. Os reservas tinham Nei Conceição, Afonsinho e outros bons jogadores, mas entre os titulares estavam Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho, Paulo César Caju. Como se tratavam de treinos, o ritmo era mais tranquilo, a pegada era mais leve e aí não tinha jeito: os titulares ganhavam sempre. Tudo isso pra dizer duas coisas: a primeira é que, embora feliz com a escolha, continuo sem entender por que virei rubro-negro; a segunda é que os jogos entre Palmeiras e Fluminense, na Arena Barueri, e entre Corinthians e Vasco, no Pacaembu, me lembraram treinos coletivos bem leves, que nem aqueles a que eu assistia lá em General Severiano. 
Apesar de Goiás e Guarani já estarem rebaixados, tenho esperança de que os jogos da última rodada serão mais disputados. A mala branca certamente entrará em cena, trazendo com ela uma nova discussão ético-futebolística: será a mala branca a salvação dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro? Será ela a única maneira de gerar interesse nas equipes que não têm mais nada a ganhar ou a perder? Acredito que as partidas do próximo domingo podem ser mais emocionantes do que os treininhos leves que vimos ontem. Por isso, todo poder à mala branca. 
Confirmando a tese do blog, de que a salvação do Flamengo viria muito mais pela incapacidade dos outros do que por méritos próprios, o menguinho perdeu mas escapou do rebaixamento, por uma abençoada combinação de resultados. Até que o time não foi tão mal contra o Cruzeiro, mas não dá pra comparar. O Cruzeiro toca fácil, tem uma saída de bola precisa, ótima ligação do meio-campo para o ataque. Continua sendo – embora sem ganhar nada, sou forçado a admitir – o time brasileiro que eu mais gosto de ver jogar. O Flamengo não tem objetividade, não tem inteligência no meio-campo, falta força no ataque. Com o rebaixamento matematicamente descartado, é hora de reconhecer que dois mil e dez foi um ano feito exclusivamente de erros, e que agora é necessário começar tudo do zero. Mas isso requer humildade, e humildade não é exatamente o forte das pessoas que dirigem o Flamengo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Felipão é copeiro. Mais um mito que cai.
Não sei se isso acontece em todos os países que gostam de futebol, mas aqui no Brasil a gente tem uma dificuldade danada para entender que o futebol acaba. Mais cedo para os jogadores, claro, mas também para os técnicos. Por isso a gente ainda quer ver o Ronaldinho Gaúcho na seleção (tem gente que fala até no Fenômeno!), por isso Gilbertos Silvas, Klébersons etc são convocados mesmo com o prazo de validade vencido há tempos, por isso o Fluminense contrata Belletti, o São Paulo contrata Fernandão e a torcida do Flamengo grita em coro o nome do Pet em todos os jogos do time. Não é fácil para os jogadores perceber a hora de parar, mas a gente gosta de alimentar os mitos. 
Quando começou a lengalenga em torno do novo técnico da seleção, e Felipão liderava as preferências da torcida brasileira, fiz um post aqui no blog em que eu perguntava sobre os títulos de Felipão após a Copa de dois mil e dois. Nenhunzinho. Zero. Nada. Eu não entendia como é que ainda tinha tanto prestígio assim um técnico que não ganha um título sequer há mais de oito anos, e que conseguiu perder a final da Eurocopa, em casa, para o fantástico futebol da Grécia. 
Mas as pessoas enchem a boca pra falar do Felipão. E o que Felipão fez no Palmeiras? Um monte de bobagens. Tem no elenco o melhor lateral-direito do Brasileirão do ano passado, mas desistiu rapidamente dele para improvisar ali um dos bons meias-direitas do Brasileirão do ano passado. Perdeu um lateral, não ganhou outro e, de quebra, ainda perdeu o meia. Repetiu o erro com Kléber: ao tirá-lo de sua verdadeira posição, perdeu o que antigamente chamávamos de ponta-de-lança e não ganhou um centroavante. Em reconhecimento à boa acolhida por parte da cidade, vi alguns jogos do São Caetano quando Luan estava no time. Era um atacante chato, brigão, que dava trabalho e fazia gols. Claro que jogar no São Caetano é uma coisa e jogar no Palmeiras é outra, mas Felipão transformou esse atacante perigoso num esforçado marcador de laterais. 
Aí vem aquela história: mas que culpa tem o Felipão se o Márcio Araújo vai na bola daquele jeito e deixa o contra-ataque armado para o Goiás? Sim, mas se o técnico não tem culpa quando o time erra e perde, também não tem mérito quando o time acerta e ganha. E se não tem nem culpa nem mérito, pra que contratar um técnico ganhando perto de oitocentos mil por mês? 
O time é fraco. Ok. Então, no ano que vem, que se contrate o Fabrício e o Montillo do Cruzeiro, o Emerson e o Conca do Fluminense, o Elias e o Jucilei do Corinthians. Mas aí, com um time desses, volta a pergunta: pra que contratar um técnico ganhando perto de oitocentos mil por mês? Se levarmos em conta a relação custo-benefício, sou mais o Joel Santana. E se for para comparar copeiros, sou mais a D. Inês aqui da agência.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Atendendo um gremista injuriado.
Meu grande amigo e compadre Beto Callage, gaúcho dos bons, no estilão analista de Bagé, daqueles que dizem buenas, se apresentam e já vão puxando a faca, reclama que o blog não tem dado ao Grêmio a atenção que a campanha no segundo turno merece. A reclamação procede. Vi apenas cinco jogos completos do Grêmio no campeonato, embora eu tente acompanhar as novidades do time pelo genial blog da Claudia Tajes (www.saraueletrico.com.br/blogs/claudia). Tirando o jogo contra o Flamengo no Maracanã – ambos foram péssimos, mas o Grêmio do primeiro turno não é mesmo para ser considerado –, no segundo turno não gostei do time contra Flamengo e Fluminense, e gostei muito contra Corinthians e Cruzeiro. 
Contra o Corinthians, no Pacaembu, vitória por um a zero e um dos gols mais bonitos do Brasileirão, feito pelo Douglas. O desempenho do time foi atrapalhado pelo juiz Francisco Nascimento, que no início do segundo tempo inventou um pênalti a favor do Corinthians e, não satisfeito, aproveitou para expulsar o Vílson. Victor pegou o pênalti e o Grêmio teve que passar o resto do jogo se defendendo, mas mostrou equilíbrio e macheza. 
Contra o Cruzeiro, no Olímpico, jogaço e vitória por dois a um, só que aí o árbitro foi a favor: mal assessorado pelo bandeira Fabrício Vilarinho, Paulo César Oliveira anulou um gol legítimo do Wellington Paulista quando o placar ainda estava um a um. Entretanto, o time foi bem e o jogo foi ótimo. 
O Beto me cobra, também, elogios ao Renato Gaúcho. Prefiro esperar. Ainda o considero um técnico falastrão demais e com títulos de menos – que eu me lembre, só ganhou a Copa do Brasil de 2007 pelo Fluminense. E Copa do Brasil, vamos combinar, né? Apesar de ser inegável que o Renato conseguiu injetar confiança nos caras e tirar o melhor de cada um, ocorre o seguinte: é sempre mais fácil reverter situações negativas quando não se tem a cobrança pelo título, como aconteceu com Joel Santana no Flamengo em dois mil e sete e está acontecendo com Dorival Júnior no Atlético Mineiro. Não tô dizendo que seja simples ou que não mereça elogios, mas é muito diferente do técnico que tem a responsa de levantar o caneco. Esse ano, Renato fez um trabalho e tanto. Agora vamos aguardar o ano que vem, pra ver se o time e o treinador têm munição pra disputar o título de verdade. 
Porque, aí sim, o bicho pega.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Pra mim, o Ralf não fez pênalti. Foi um lance muito rápido, em que ele estava girando o corpo pra tentar cortar a jogada, e nesse movimento a bola tocou em sua mão. Não houve intenção, e o resto pouco importa. Aliás, o final de semana foi mais uma vez pródigo em pênaltis inventados. Não sei aonde essa história vai parar, mas é óbvio que ela precisa ser revista. A experiência nos mostra que qualquer mudança significativa nas regras do futebol levam cento e cinquenta anos, mas não é possível continuar desse jeito. Meu filho Lucas levantou uma tese interessante no sábado, mas vou deixar para abordá-la depois que o campeonato terminar. Por enquanto, ficamos assim: semana passada o Corinthians foi beneficiado, essa semana foi prejudicado. E em vez de serem decididos por centroavantes, meias ou laterais, cada vez mais os jogos no futebol brasileiro são decididos pelos árbitros.
Sem Dentinho (suspenso) e Ronaldo (pura ilusão acreditar que ele faria essa sequência completa de jogos até o fim do campeonato, não?), o Corinthians voltou àqueles momentos em que dependia de atuações exuberantes de Jucilei, Elias e Bruno César. Sem Bruno César, também suspenso, e com Jucilei e Elias exauridos pela absurda viagem ao Catar na reta final do Brasileirão somada ao calor soteropolitano, eu nunca imaginei ter que afirmar isso, mas a verdade é que o jogador mais perigoso do Corinthians no jogo de ontem foi o Danilo. Assim, era mesmo inevitável que o Fluminense retomasse a ponta.
Fluminense e São Paulo fizeram um desses jogos típicos de final de campeonato sob o sistema de pontos corridos. Um time brigando pelo título, mordendo a bola, chutando sola, enfiando a cabeça na trave, e o outro doido pra tirar férias. O Fluminense procurou o jogo o tempo todo, Mariano correu uma barbaridade e voltou a jogar muito bem, Conca conseguiu a proeza de participar diretamente dos quatro gols. Por outro lado, o São Paulo se defendeu enquanto não houve necessidade de fazer maiores esforços. Quando precisou de algo mais, que preguiça! Isso não tem nada a ver com entregar ou não entregar o jogo: final de campeonato com pontos corridos é sempre assim. Quem gosta não tem do que reclamar.
Lá em Minas foi parecido. O Cruzeiro ainda com esperança de brigar pelo título e querendo garantir logo sua vaga na Libertadores, e o Vasco sem qualquer interesse em nada. O Cruzeiro atropelou, fez três gols rapidamente e liquidou a fatura, com Roger fazendo grande partida. Mas o maior jogador da rodada foi, mais uma vez, o Neymar. A diretoria do Santos pensa em antecipar as férias dele, já que Neymar deve disputar o Sul-Americano Subvinte em janeiro. A torcida do Flamengo apoia a ideia com entusiasmo.
Terminei o post da última quarta-feira com a seguinte frase, sobre a escalação do Flamengo contra o Guarani: “Após cumprir suspensão automática, o centroavante Deivid deve voltar ao time. Que Deus nos ajude.” Ajudou. Demorou exatos vinte e um minutos, mas ajudou. A demora se explica, pois nosso senhor deve ter ficado um bom tempo pensando: será que eu dou uma força pra esses caras, que elegeram para a presidência a representante de um desses malditos esportes olímpicos que infernizam a vida do Flamengo, abrindo mão de manter no cargo o presidente que levou o clube ao sexto título brasileiro? Que não tiveram a competência de trazer de volta o Emerson e o Zé Roberto, entregando-os de bandeja aos rivais Fluminense e Vasco? Que estavam com o Montillo nas mãos, mas não fecharam o acerto? Que não conseguiram montar uma operação para manter o Vágner Love na Gávea? Que não entenderam a necessidade de blindar o Adriano, como o Corinthians entendeu que era fundamental blindar o Ronaldo? Que primeiro efetivaram Rogério Lourenço e depois convidaram Silas para técnico? Que contrataram Cristian Borja, Leandro Amaral e Val Baiano, como se o Flamengo fosse uma filial do Ipatinga ou do Grêmio Prudente? Depois de pensar sobre todas essas coisas, e provavelmente relevá-las para evitar a gigantesca tristeza que uma derrota no sábado provocaria, aos vinte e um minutos a sabedoria divina fez com que Deivid saísse com o tornozelo machucado. Aleluia. Diego Maurício entrou para fazer o gol que diminuiu bastante as possibilidades do time cair, embora não a ponto de eliminá-las matematicamente. Deus é grande. Mas, pelo menos esse ano, a capacidade que o Flamengo teve de fazer bobagens foi muito maior.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entregar jogo não é tão simples quanto parece.
Meu pai gostava de corrida de cavalo e era um grande contador de histórias. Ele contava uma boa, de dois jóqueis que, com seus cavalos perto da linha de chegada, cabeça com cabeça, freavam os bichos disfarçadamente e gritavam um pro outro: “vai que eu apostei em você”. Obviamente, as mães de ambos eram homenageadas no final da frase. 
No futebol isso é mais difícil. Pode acontecer e acontece, claro, mas é complicado, por envolver muita gente. Se não estiver todo mundo de acordo, a armação mela e vira escândalo. Quando houve o episódio do juiz Edílson Pereira de Carvalho, no Brasileirão de dois mil e cinco, diz a lenda que um dos subornadores teria cobrado do árbitro o resultado de quatro a dois para o Santos na partida contra o Corinthians, já que o jogo estava no esquema. Edílson se defendeu dizendo que, do jeito que o meia-atacante Giovanni jogara, não havia juiz que resolvesse. 
A torcida corintiana acusa o Internacional de ter dado mole para o Goiás na última rodada do Brasileirão de dois mil e sete, quando o Corinthians foi rebaixado. Correm histórias sobre um suposto movimento liderado por Fernandão, incuravelmente revoltado com a perda do título de dois mil e cinco para o Corinthians em circunstâncias sombrias. Tá legal, mas como explicar que, naquele jogo, o goleiro Clemer tenha defendido dois pênaltis seguidos? Paulo Baier bateu o primeiro, Clemer defendeu, o juiz Djalma Beltrami mandou voltar. Paulo Baier bateu pela segunda vez, Clemer defendeu de novo e Beltrami mandou bater novamente. Aí Paulo Baier desistiu e Élson cobrou, fazendo o gol que salvou o Goiás e empurrou o Corinthians pra baixo. Se o Inter queria mesmo entregar, não era mais simples Clemer facilitar as coisas, escolhendo um canto qualquer e pulando um pouquinho antes do chute?
Não acredito que o Corinthians tenha entregado o jogo ao Flamengo no ano passado, mesmo com todas as razões do mundo para preferir que o campeão fosse o rubro-negro carioca, em vez do São Paulo (por motivos óbvios) ou o Inter (pelo motivo acima). Acontece que o Corinthians, que saiu cedo da briga pelo título e tinha a vaga na Libertadores já garantida, se desinteressou completamente pelo Brasileirão. Tanto que, uma ou duas rodadas antes, perdeu no Pacaembu por três a dois para o fraquíssimo e rebaixado Náutico. Desinteresse é uma coisa, entregar o jogo é outra. O mesmo vale para o Grêmio, na rodada final. A diretoria fez o time entrar em campo com um monte de reservas, mas os caras escalados jogaram pra ganhar. 
Voltando ao atual campeonato: se o Palmeiras não teve motivação sequer para enfrentar o Corinthians, como exigir que o time se mate em campo contra o Fluminense? Sem chance. De um jeito ou de outro, essas situações fragilizam os argumentos a favor dos pontos corridos. Eu prefiro uma fase de classificação com pontos corridos e uma fase final com mata-mata. Aí acaba essa história.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Atrasadas, mas aí estão elas: as pílulas do final de semana.
O fim de semana no Rio de Janeiro me impediu de acompanhar a rodada como de costume. Assisti à maior parte de Atlético Mineiro x Flamengo e vi – meio bêbado, reconheço, já que estava no meio de um churrascão – Fluminense x Goiás. Quem acompanha o blog sabe que, pra mim, marcar pênalti na jogada do Gil em cima do Ronaldo é um absurdo. Mas a verdade é que há, no futebol brasileiro, uma espécie de consenso sobre lances semelhantes. Nossos comentaristas costumam achar que aquilo é pênalti, e nossos árbitros costumam marcá-los. Alguns afirmam que esse critério coíbe o antifutebol e aumenta o número de gols nas partidas. Discordo dos dois argumentos. Dar aos zagueiros o direito de marcar firme e chegar junto é muito diferente de estimular o antijogo. Como diz o Mário Sérgio, quem não gosta de choque deve escolher o vôlei, em que cada time fica de um lado da rede. E o fato de uma partida ser cheia de gols não tem nada a ver com futebol de qualidade.
Repito: pra mim não foi pênalti. Entretanto, se o Cruzeiro pode apontar o erro de Sandro Meira Ricci como responsável por sua derrota no jogo, não dá para atribuir a isso a possível perda do título. Campeonatos de pontos corridos não permitem essa avaliação. Se você entra num mata-mata e o juiz marca um pênalti muito do maroto aos quarenta e três do segundo tempo, impedindo qualquer possibilidade de reação, aí a interferência da arbitragem é inquestionável. No campeonato de pontos corridos é diferente. O presidente Zezé Perrela declarou que a derrota para o Corinthians tirou o Cruzeiro da briga. Ok. Mas lá no início do Brasileirão, nas sete rodadas disputadas antes da parada pra Copa do Mundo, em vinte e um pontos possíveis o Corinthians ganhou dezessete, o Fluminense ganhou quinze e o Cruzeiro ganhou apenas nove. E vocês sabem por quê? Por causa dessa maldita obsessão pela Libertadores. Depois fica fácil botar a culpa em quer que seja. Ô praga!
O primeiro tempo do Fluminense contra o Goiás foi terrível. Continuo achando que o jogador que faz mais falta ao time é o Emerson com ele em campo, até o Washington fazia gol. E Muricy errou feio ao começar com Deco e Fred, ambos totalmente sem ritmo de jogo. É óbvio que ele jamais vai admitir, mas tenho a impressão de que, igual a todos os torcedores do Fluminense, Muricy partiu do princípio de que a partida seria uma carne assada. Como ele mesmo gosta de dizer, “a bola pune” esse tipo de pretensão. E, definitivamente, não dá pra contar com jogo fácil nesse campeonato brasileiro.
Como sempre fui péssimo em Matemática, torço para estar errado, mas não consigo concordar com os calculistas da bola: acho que o risco do Flamengo cair é gigantesco. Para o ex-Mengão e atual menguinho (com letrinha bem minúscula) entrar na zona do rebaixamento, basta uma combinação simples de resultados na próxima rodada. O Avaí joga com o Atlético Goianiense em casa, e nada mais lógico do que faturar os três pontos. Mesmo jogando fora de casa, o Atlético Mineiro deve conseguir pelo menos um empate contra o enfadado Palmeiras. Por fim, não é impossível o Guarani derrotar o próprio Flamengo no Engenhão: com o futebol que tem jogado, o Flamengo perde pra qualquer time do mundo em qualquer lugar do planeta. Com esses três resultados, os quatro times somariam quarenta pontos, e o menguinho entraria na zona do rebaixamento por ter o menor número de vitórias. Os flamenguistas já devem ter compreendido que não adianta torcer pelo clube. Sendo assim, resta secar os outros. Essa estratégia vinha dando certo desde que Luxemburgo assumiu o comando do time, mas nas duas últimas rodadas o caldo entornou. Com isso, os rubro-negros estão diante de uma intrincada operação de logística. Pra começar, têm que torcer pelo Goiás contra o Palmeiras na Copa Sul-Americana, pois com o Goiás na final é mais fácil o título ficar com a LDU ou o Independiente. Sem o título brasileiro na Sul-Americana, o G3 do Brasileirão volta a virar G4, reacendendo o interesse do Grêmio, do Atlético Parananese e até do São Paulo pela competição. E isso é fundamental, pois o Grêmio ainda enfrenta o Guarani, o Atlético Paranaense pega o Avaí e o São Paulo encara Atlético Goianiense e Atlético Mineiro. A torcida do Flamengo precisa torcer, ainda, para que Fluminense e Corinthians cheguem ao final do campeonato lutando pelo título, já que o Fluminense encara o Guarani na última rodada. Seria bom, também, que o Vasco surpreendesse o Cruzeiro no próximo domingo, tirando o time mineiro da briga e deixando-o de farol baixo para o jogo da outra semana, justamente contra o Flamengo. A vida não está fácil. Mas pode melhorar um pouco – embora ainda sem garantir nada – se o time ganhar do Guarani neste sábado. Após cumprir suspensão automática, o centroavante Deivid deve voltar ao time. Que Deus nos ajude.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Esse ano começou mais cedo a temporada da falta do que dizer.
O campeonato ainda nem acabou, mas já começaram as informações mirabolantes que tomam conta do noticiário futebolístico no período de recesso. O Flamengo realiza nesta sexta-feira a primeira reunião para tratar da construção do seu estádio. Sei. Daqui a pouco se passa a falar das contratações do time para a próxima temporada. A volta do Vágner Love, e quem sabe a de Adriano, que parece andar meio tristonho no Roma. Riquelme (esse vem todo ano). Ronaldinho Gaúcho (o negócio está muito bem encaminhado). O repatriamento do goleiro Júlio César, prata da casa. E por aí vai. Eu me contentaria com um lateral-esquerdo qualquer pro lugar do Juan, um meia que fizesse a metade do que o Pet fez no ano passado e um centroavante que soubesse dominar a bola. Nem precisa fazer gol: basta não matar na canela.
Jogando as duas últimas partidas fora de casa, contra Avaí e Ceará, o Botafogo somou apenas dois pontos e ficou numa situação difícil para sonhar com qualquer coisa. Jogando as duas próximas partidas em casa, contra o desinteressado Internacional e o rebaixado Grêmio Prudente, deve somar mais seis e parar por aí, porque na última rodada encara a pedreira do Grêmio em Porto Alegre. Portanto, o mais provável é que termine o Brasileirão com sessenta e dois pontos ganhos. Uma campanha excelente, sobretudo para um time que começou o campeonato com a suspeita de que lutaria pra não cair. (Eu mesmo escrevi isso aqui no blog, logo após a conquista do estadual, e errei feio.) O elenco é limitado, alguns jogadores – como Lúcio Flávio e Fahel – já entram em campo vaiados pela torcida, e foi um dos times mais prejudicados pelas contusões. No papel, o Botafogo talvez seja até mais fraco do que o Flamengo. Na tabela, vai acabar com uns vinte pontos a mais. Por que será?
A presidenta-nadadora Patrícia Amorim prometeu a Vanderlei Luxemburgo a contratação de um grande camisa dez. O primeiro a ser sondado foi Alex, ex-Palmeiras, ex-Cruzeiro e atualmente no Fenerbahçe da Turquia. Alex afirmou que não há a menor possibilidade de voltar a jogar no Flamengo enquanto o clube não pagar o que lhe deve desde dois mil e um. É por essas e outras que eu não embarco nessa história de comprar tijolinho. Só entraria nesse tipo de campanha no dia em que fossem devidamente enquadrados os dirigentes que contrataram jogadores a torto e a direito, todos com salários mirabolantes que não eram pagos, se transformavam em gigantescas dívidas trabalhistas e explodiam nas mãos das diretorias seguintes. No dia em que esses caras forem responsabilizados, posso até pensar no tijolinho com meu nome. Se bem que, se esse dia chegar, aí com certeza o Flamengo não vai precisar mais vender tijolinho para otário nenhum.
Louvado seja o Atlético Mineiro, por reconhecer que se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro é muito mais importante do que ganhar a Copa Sul-Americana e garantir uma vaga na Libertadores. Uma postura rara e bacana nesse nosso futebol lamentavelmente dominado pelos ideais bolivaristas. O Galo fez pouco caso da vaga na semifinal, entrou em campo com dez reservas, perdeu como queria e agora pode se concentrar nos quatro jogos decisivos que tem pela frente. O Atlético parece ter compreendido que, se cair pela segunda vez em menos de dez anos, a tendência é que isso deixe de ser visto como consequência de uma temporada infeliz e se transforme em um passo decisivo para o clube deixar de ser grande.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Com Júlio César em dia de Rogério Ceni, Ricardo Oliveira em dia de Washington e Rodrigo Souto em dia de Rodrigo Souto, o jogo de ontem deixou claro que a dificuldade do São Paulo para derrotar o Corinthians já virou uma coisa patológica. Se no post da última sexta-feira escrevi que, quando o time vai bem, o que se destaca no São Paulo é sempre o aspecto coletivo, quando as coisas vão mal não é tão difícil perceber as falhas individuais. Ilsinho é um jogador extremamente gracioso, que passa o pé sobre a bola, faz embaixada, aplica o elástico, dá caneta, mas na hora em que deveria acompanhar o Dentinho, só olhou. Rodrigo Souto é uma nulidade. Eu costumo implicar com o Fernandão, mas não concordei com a sua substituição ontem. Acho até que o Carpegiani encontrou um lugar em que ele pode ser útil, sem ter que correr para marcar, sem precisar de rapidez para concluir e usando sua lucidez e seu toque de bola para largar um companheiro na cara do gol de vez em quando. Como já tinha o Jean jogando no meio e o Corinthians estava todo atrás, armando o bote, Carpegiani poderia ter sacado o Rodrigo Souto para colocar o Marlos. E o cara de pau do Ricardo Oliveira, que queria outro pênalti igualzinho àquele pessimamente marcado contra o Cruzeiro? Todo mundo esteve muito bem no Corinthians, mas dois caras jogaram uma monstruosidade: Júlio César e Jucilei. E mais: com Dentinho na frente, o Corinthians é outro. 
O Atlético Paranaense está longe de ser um grande time, mas é um time. Já o Flamengo não passa de uma piada, que só não é ainda mais sem graça porque os que estão abaixo dele na tabela não conseguem engrenar. Essa rodada foi mais uma a cair do céu para o bando do Vanderlei: dos times que estão atrás do Flamengo, o único vitorioso foi o irrecuperável Grêmio Prudente. O Flamengo está dando uma sorte danada no campeonato e nunca entrou na zona de rebaixamento muito mais pela incapacidade alheia do que por méritos próprios. O jogo de ontem foi outra tristeza, sobretudo no primeiro tempo, e Vanderlei Luxemburgo também tem culpa no cartório. O time jogou os primeiros quarenta e cinco minutos com um a menos, por causa da insistência em escalar o Deivid. Agora não tem mais jeito: como faltam apenas quatro rodadas, Deivid já assegurou o troféu de pior atacante do Brasileirão. Além de ser a maior decepção entre todos os repatriados. O gol do Atlético Paranaense – um pênalti ingênuo e precipitado, cometido pelo experiente e tranquilo Maldonado – teve início numa bola infantilmente perdida por Juan no meio-campo. De novo e como sempre. 
O Atlético Mineiro não tem time para cair. Rever, Diego Souza e Diego Tardelli seriam titulares em qualquer clube do Brasil. Serginho, Daniel Carvalho e Renan Oliveira são bons jogadores. Escrevi outro dia sobre a utilidade do Obina. Apesar da saída patética no segundo gol do Santos, o goleiro Renan Ribeiro promete. Só que, diante da situação complicada, o time tem jogado com uma ansiedade que chega a assustar. Os caras apertam, marcam, correm, dominam, mas acabam perdendo os três pontos nos detalhes. Foi assim contra o Botafogo no outro sábado, foi assim contra o Santos nesse sábado, espero que seja assim no sábado que vem. 
Ontem de manhã, enquanto a casa dormia, vi quinze minutos de Lazio x Roma. (É impossível assistir a mais de quinze minutos do campeonato italiano.) Como o Lazio lidera a competição esse ano e o Roma ficou em segundo lugar no ano passado, me arrisco a dizer que Fluminense, Corinthians, Cruzeiro, Internacional, Santos e São Paulo ganhariam aquele campeonatozinho ordinário com três ou quatro rodadas de antecedência. 
Na condição de candidatos ao título, Cruzeiro e Fluminense entraram em campo como favoritos e fizeram o que tinham que fazer. Com isso teremos um final de campeonato tão sensacional quanto o do ano passado, e com um detalhe importante: times diferentes na briga. Em dois mil e nove, Flamengo, Inter e São Paulo chegaram à última rodada com chances de levar o caneco. Em dois mil e dez, os possíveis campeões são outros: Fluminense, Corinthians e Cruzeiro. Os gramados são ruins, o nível das arbitragens é sofrível, a maioria dos craques está fora do país, mas o Brasileirão é um grande barato. O campeonato mais equilibrado e mais disputado do mundo. 
O estatuto do blog exige que aqui só se fale de futebol, mas abre espaço para certas situações que merecem uma citação rápida. Segundo informações do UOL, Jenson Button escapou de ser assaltado, no sábado, devido à perícia do motorista da Mercedes blindada que levava o piloto. Já os engenheiros da Sauber não tiveram a mesma sorte, e dançaram na mão dos vagabundos. Pra quem vem de uma cidade segura e ordeira, como o Rio de Janeiro, é difícil se acostumar com notícias feito essas. Falar nisso: quem ganhou a corrida, o Nikki Lauda?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um time diferente.
Para nós, brasileiros, que aprendemos a gostar de futebol vendo em campo jogadores de intenso brilho individual, é difícil compreender e gostar do jeito de jogar do São Paulo. Já vi outros times parecidos. O Fluminense, tricampeão carioca no meio da década de oitenta e campeão brasileiro em oitenta e quatro, também tinha esse jeitão. Pouco brilho e muito conjunto. Tinha visto o primeiro tempo de Cruzeiro e São Paulo na quarta-feira, e gostei. Chantageado pelo conselheiro Jaime Agostini, terminei de ver o jogo ontem. Continuei gostando. Rapidez, movimentação, pegada, enfim, uma boa partida de futebol. Aí vem a história: quem jogou muito bem no São Paulo? Dependendo do ponto de vista, ninguém ou todo mundo. É muito difícil analisar o São Paulo individualmente. Rogério Ceni fez pelo menos duas grandes defesas, mas falhou feio em outros dois lances. A única participação digna de registro do Fernandão foi no gol que ele salvou em cima da linha, justamente em uma das falhas do Rogério. Até o Lucas, que fez um golaço, só se mostrou de verdade naquele momento. Mas o São Paulo é assim: ninguém aparece muito, mas todos juntos fazem a coisa funcionar. Quando Miranda falha, Alex Silva conserta. Quando Rodrigo Souto entrega, Rogério Ceni evita. Quando é o Rogério que erra, Fernandão salva. Continuo gostando muito do time do Cruzeiro, por causa da velocidade, da bola no chão e de alguns caras que eu queria muito ver no Flamengo (Fabrício, Henrique e Montillo, por exemplo). Mas falta alguma coisa ali que a gente não consegue definir bem o que é, e não adianta pôr a culpa no Cuca – viu, conselheiro? –, porque com Adílson Batista também era assim. 
Até entendo as dificuldades de escalação do Fluminense, mas não sei não. Acho um risco danado essa estratégia de praticamente abandonar o ataque, deixando tudo por conta dos lampejos do Conca, e apostar num sistema defensivo forte. O time tem jogado com muita dedicação e obediência tática rígida, mas chegou a hora em que é preciso ganhar os jogos. Não fiz um comparativo das dificuldades que cada candidato ao título tem pela frente, e pode ser que Muricy esteja administrando as coisas até o retorno de uma ou outra das suas estrelas nos jogos finais. Ok, tem funcionado – tanto que o time é líder –, mas basta uma escorregadela pra vaca ir pro brejo. Eu tinha prometido a mim mesmo que não falaria mais do Washington, mas o cara tá extrapolando. Não contente em passar onze jogos sem marcar (não é homem de referência? Não é fazedor de gols? Não é o especialista em botar a bola pra dentro?), agora deu para evitar os gols do seu time, como no lance em que Conca acertou uma pedrada da entrada da área e ele impediu que a bola chegasse ao gol de Renan. Francamente.
A atuação do Palmeiras ontem foi lamentável. Não tinha o Kléber e o Valdívia, mas isso não é desculpa. O Botafogo, com um elenco de qualidade bem parecida, vive entrando em campo sem cinco ou seis titulares e tá lá nas cabeças. O Brasileirão é assim e ninguém tem o direito de reclamar de desfalques ou de arbitragem. Parece que Felipão conseguiu o que queria: provar pra todo mundo que o time do Palmeiras é ruim de doer, e que conquistar a Sul-Americana será mérito exclusivamente dele. Quem diria: Felipão, tremendo marqueteiro. 
A melhor coisa que pode acontecer ao Flamengo é esse ano acabar e o time permanecer na primeira divisão, mas sem vaga nenhuma para Sul-Americana. Tem que jogar uma bomba e começar tudo de novo. Até o Marcelo Lomba, coitado, que vinha bem, falhou nos dois gols do Ceará. Mais uma vez, ninguém jogou nada. E o Deivid lá, todo pimpão, consolidando a sua condição de pior atacante do campeonato. Pasmem: pior até do que o Washington.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Faz mais um pra gente ver.
Fio Maravilha foi, na virada da década de sessenta para a de setenta, uma espécie de Obina dos dias de hoje. Os estilos eram diferentes: enquanto Fio atuava como meia-atacante, tinha habilidade e visão de jogo, Obina é um centroavante forte, raçudo e que não dá sossego aos zagueiros. Fio também nunca foi craque, mas estava longe de ser um perna de pau. Só que, ao ser folclorizado – igual ao Obina – viu sua imagem profissional ir pro brejo. Infelizmente, acontece muito no futebol brasileiro. (Escrevi um post mais ou menos sobre isso no dia 30 de março, com o título “A diferença entre jogo emocionante e jogo bom”, em que eu falava do Zinho, um dos mais vitoriosos jogadores da história recente do nosso futebol e que terminou a carreira com o apelido e o estigma de “Enceradeira”, depois de uma gracinha inconsequente de um comentarista obtuso.) 
Mas o Fio apareceu aqui por causa do Neymar. Engraçado como o futebol também vive seus momentos de moda. Nos meus tempos de moleque, cavadinha não era algo tão comum. Agora, qualquer jogadorzinho de série D faz gol de cavadinha. Por outro lado, naquele tempo, quem entrasse livre na área se sentia quase que na obrigação de driblar o goleiro antes de empurrar a bola pra rede. Hoje parece que é proibido. 
No jogo entre Inter e Santos, disputado no último sábado no Beira-Rio, Neymar fez uma tabela rápida com Zé Eduardo e saiu na cara do Renan. Na hora de concluir, ele ameaçou tocar no canto esquerdo do goleiro, que caiu. Não precisava nem driblar: bastava seguir conduzindo a bola, pra tirar Renan do lance e ficar com o gol escancarado. Mas não. Neymar não apenas ameaçou como realmente empurrou a bola no canto anunciado, praticamente atrasando pro goleiro do Inter. 
O holandês Robben cometeu esse mesmo erro duas vezes na final da Copa do Mundo. Tivesse driblado Casillas, a festa seria em outra capital europeia. Ou seja: o tal gol de placa que Fio Maravilha fez num amistoso contra o Benfica e que serviu de inspiração para um dos grandes sucessos de Jorge Benjor, esse tipo de gol a gente não tem visto mais não.
O melhor técnico do Campeonato Brasileiro. 
Mesmo que o Botafogo não consiga sua vaguinha para a Libertadores, nada mais justo do que eleger Joel Santana o melhor técnico do campeonato. Joel é outro que joga no time de Fio Maravilha e Obina: competente, importante para os times onde trabalha, mas que tem seu reconhecimento diminuído por ter se transformado em algo folclórico. 
Mas, e se o Cruzeiro for campeão, por que Joel e não Cuca? Porque Cuca pegou um time muito bem armado pelo Adílson Batista e com uma base que se mantém há muito tempo. 
E se o Corinthians for campeão, por que Joel e não Tite? Porque não dá para apontar como o melhor técnico do campeonato um cara que dirigiu o time em menos de dez rodadas. 
E se o Fluminense for campeão, por que Joel e não Muricy? Porque não há tanto mérito assim em montar um time que faz contratações mirabolantes e paga os mais altos salários do futebol brasileiro. (Dizem que o Deco ganha setecentos e cinquenta mil, e que o Fred belisca mais de seiscentos.) 
Joel pegou um osso duro, e roeu. O Botafogo é um catadão, com jogadores que vinham de retumbantes fracassos em outros clubes. O zagueiro Antônio Carlos foi praticamente enxotado do Atlético Parananense. O outro zagueiro, Fábio Ferreira, formou com Betão e Zelão o inesquecível trio defensivo que ajudou a afundar o Corinthians em 2007. O lateral Marcelo Cordeiro, que apareceu bem no Vitória, foi para o Inter e fracassou. O volante Marcelo Mattos, repatriado pelo Corinthians para reforçar o elenco na Libertadores, idem. Edno saiu da Portuguesa de Desportos para o Corinthians depois de um leilão bastante disputado, e foi outra decepção. Renato Cajá surgiu bem na Ponte Preta, passou uma temporada no exterior, foi repatriado pelo Grêmio e lá não fez nada. O Botafogo parece aqueles países-colônias, formados pela escória deportada pelo colonizador. Mas não é só isso: o elenco não dispõe de reservas para as alas, e quando um dos dois titulares não joga, é preciso improvisar. E a estrela da companhia, o meia-atacante Maicosuel – outro que parece só jogar no Botafogo – se machucou há muito tempo. 
Joel montou um time certinho e está fazendo milagres. Sem falar que, com ele, o time pray very naice, fica forte in the midium, ataca rápido in the raite e também tem jogadas in the léfiti. Pra mim, é o técnico do Brasileirão.
Da série “A língua é o chicote do corpo” – 6.
Jogavam Atlético Mineiro e Botafogo, em Sete Lagoas. Aos vinte e cinco do segundo tempo, Joel Santana tirou o sempre apático Lúcio Flávio e colocou Edno em seu lugar. O comentarista Maurício Noriega, do SporTV, soprou e mordeu. Disse que a substituição do Lúcio Flávio era corretíssima, que ele não estava aparecendo para o jogo, que quando aparecia não dava a velocidade que o time precisava etc. Mas que a opção pelo Edno era equivocada: Renato Cajá seria muito mais útil ao time, por sua visão de jogo, seu toque de bola e sua capacidade de armação. Menos de cinco minutos depois, Edno pegou uma bola já no campo do Atlético e enxergou Loco Abreu entrando livre pela esquerda. O lançamento saiu preciso, o uruguaio invadiu a área e, com uma ausência de egoísmo rara em atacantes, rolou para o próprio Edno, que acompanhava a jogada e fez um a zero. Já nos acréscimos, Edno pegou uma bola ainda na zaga botafoguense, arrancou em velocidade, driblou um adversário e enfiou novamente sob medida para Loco Abreu, que tocou por cima do Renan Ribeiro e matou o jogo. A favor do Maurício Noriega, diga-se que é um cara educado e que não se presta ao papel de dono da verdade. Mas no sábado ele deu um azar danado.
O jogador mais malvestido do Campeonato Brasileiro.
Aos vinte e cinco minutos de Palmeiras e Goiás, o goleiro Deola ainda não tinha aparecido na tela da minha tevê. Nenhuma bola chegara perto da área do Palmeiras, e percebia-se que era só questão de tempo pro time de Felipão decidir a parada. O problema é que, como ensinava Cláudio Coutinho, é preciso aproveitar o momento em que o jogo está fácil para defini-lo, já que dificilmente o jogo permanecerá fácil nos noventa minutos. É verdade que não correu grandes riscos, mas o Palmeiras acabou complicando uma partida que sempre esteve em suas mãos. 
O destaque positivo vai para a bela jogada de Tinga no primeiro gol. O destaque negativo vai para a horrorosa camisa que parece homenagear os povos da floresta, e que é páreo duro com aquela azul e amarela do Flamengo na briga pelo uniforme mais feio do campeonato. Tenho pena do Fabrício. Como ele jogou no último sábado pelo Palmeiras e estava no banco do Flamengo no jogo contra o Vitória pela segunda rodada do primeiro turno, na primeira vez em que o rubro-negro (?) usou a tal camisa pavorosa, vai sair do Brasileirão com a taça de jogador mais malvestido da competição.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Poderia ser um jogo empolgante. Foi meio chatinho.
O primeiro tempo do Flamengo não foi o de um time que flerta com a zona de rebaixamento, e por isso deveria dar sangue a cada minuto. O segundo tempo do Corinthians não foi o de um time que pretende ser campeão. 
Vanderlei Luxemburgo quis inventar, escalando três atacantes, e nada deu certo. O problema não é o número de atacantes em campo: é o nome de cada um deles. E nos quarenta e cinco minutos em que esteve lá, Deivid confirmou o que está no post da última segunda-feira: é um dos piores atacantes do campeonato. 
Outro é o Iarley. É impressionante como ele desperdiça chances, sempre em jogos que o Corinthians termina empatando ou perdendo. Ou seja: esses gols que não aconteceram vão pesar no final. Ontem, quando a falta muito bem cobrada por Bruno César bateu no travessão e voltou para o meio da área, qualquer centroavante razoavelmente confiante teria tocado de primeira e corrido pro abraço. Mas parece que nem o Iarley confia mais nele. Quis matar a bola, tropeçou, se enrolou todo, e o Corinthians saiu do Engenhão com dois pontinhos a menos. 
O Corinthians jogou de um jeito muito parecido com o Flamengo do ano passado. Esperando do meio pra trás e marcando firme, para sair em poucos contra-ataques rápidos e mortais. A marcação funcionou, mas a ideia ofensiva não. Nos lances em que Ronaldo largou Ralf e Elias diante do Marcelo Lomba, a inversão de papéis foi cruel: se em vez de ter lançado, Ronaldo fosse o finalizador, a história das duas jogadas poderia ser outra. Mas para isso o Fenômeno teria que correr, e aí é pedir demais. E quando Tite trocou Iarley e Bruno César por Danilo e Paulinho, assinou embaixo que o empate estava de bom tamanho. Tá certo que o time tinha perdido o meio-campo, mas achei excessivo respeito por um Flamengo que não tem merecido tantos cuidados assim. Quem quer ser campeão precisa ter um pouquinho mais de ousadia.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Talento desperdiçado. Ou, como diria Macunaíma: ai, que preguiça!
Há jogadores que não merecem o talento que têm. Roger é um deles. Na última rodada do primeiro turno, no jogo contra o Palmeiras no Pacaembu, o Cruzeiro perdia por dois a zero quando Roger entrou. O Cruzeiro virou pra três a dois e venceu. No jogo de domingo contra o Atlético MIneiro, ele entrou aos trinta do segundo tempo, quando o Cruzeiro perdia por quatro a um. O time diminuiu pra quatro a três e faltou pouco pra chegar ao empate. Parece aquele personagem do Harvey Keitel em Pulp Fiction, que se classifica como “um resolvedor de problemas”. Só que futebol não é cinema, e nem sempre o problema consegue ser resolvido. Quando Roger está em campo, fica claro que ele é um jogador diferente e acima dos demais, mas que mal aguenta quarenta e cinco minutos. Tá velho? Não: Roger foi assim a carreira inteira. Ídolo no Fluminense, campeão brasileiro pelo Corinthians, teve boa passagem no Grêmio, a torcida do Flamengo gostava dele, enriqueceu, adormece escutando a voz rouca da Deborah Secco, ou seja, é o que se costuma identificar como um jogador de futebol bem-sucedido. Mas é o tipo do cara que teria ido muito mais longe não fosse a preguiça macunaímica. Pena.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pílulas do final de semana.
Ontem, no clássico de Minas Gerais, o placar mostrava quatro a um para o Atlético Mineiro, mas o Cruzeiro tinha finalizado mais de vinte vezes, sendo seis chances reais de gol, enquanto o Galo finalizara apenas cinco vezes. Na Vila Belmiro, o Santos terminou o primeiro tempo ganhando por dois a zero, mas o lanterna do campeonato e virtual rebaixado Grêmio Prudente virou o jogo e venceu. Dois bons exemplos para mostrar por que o futebol é um esporte incomparável. Ou, como diz o Jaime, o único. 
Foi a rodada que o Corinthians pediu aos céus. Dos dez primeiros colocados, só Corinthians e Botafogo venceram, com a diferença de que no Botafogo ninguém ousa pensar em título. Há sonhos de G3, G4, essas coisas, mas todos sabem que até isso já estaria muito acima das possibilidades do time. E além da rodada, foi também o jogo que o Corinthians pediu aos céus, porque o Palmeiras entrou em campo como se estivesse fazendo um amistoso de pré-temporada contra o Mirassol. Não me conformo com o desinteresse de Felipão e do Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, mas os adversários não têm nada com isso. Embora sem jogar grandes coisas, o Corinthians foi muito melhor o tempo todo e só correu algum perigo em dois ou três lances de bola parada do – adivinhem – Marcos Assunção. Mas clássico é sempre clássico, e com ou sem interesse de uma das duas partes, vitórias em clássicos sempre levantam o astral. A boa notícia para o Corinthians é que o Elias voltou a correr muito e a jogar bem. Há más notícias também, mas como o time está na briga, melhor esperar pra não queimar a língua. 
O Cruzeiro e Atlético de ontem foi tão sensacional quanto o São Paulo e Santos da semana passada. Da mesma forma que o Santos, o Cruzeiro perdeu as duas últimas partidas, mas isso não me parece um sinal de declínio: é que o campeonato é dureza mesmo. Tiago Ribeiro e Montillo, por exemplo, jogaram muito. O problema é que alguns momentos de apagão na zaga e o oportunismo do Obina definiram as coisas para o Galo. 
O nome do final de semana, sem dúvida alguma, foi Washington. Depois de ficar oito jogos sem fazer um golzinho sequer, ontem marcou. Contra. E ainda teve que pagar o mico de ver toda a torcida adversária gritar seu nome em coro e em agradecimento. De qualquer forma, o Fluminense reassumiu a liderança, apesar de ter completado cinco jogos sem vitória. E tem mais duas paradas duras por aí: na próxima rodada pega o Grêmio em casa, e na outra encara o Inter fora. Mas agora não tem mais moleza pra ninguém. Que o diga o Santos. 
Já está mais do que provado que futebol e festa são como água e azeite. A torcida do Flamengo deve lembrar a festa que foi feita para comemorar o bicampeonato estadual em 2008 e a despedida de Joel Santana. O problema é que a dupla comemoração aconteceu no campo, um pouco antes do jogo contra o América do México pelas oitavas de final da Libertadores. O Flamengo vencera a primeira partida, fora de casa, por quatro a dois, e podia até perder por dois a zero ou três a um que estaria classificado. O jogo terminou três a zero para o América e o Flamengo deu tchauzinho para a competição. Nada mais justo do que comemorar os setenta anos de Pelé, ainda mais na Vila Belmiro. Só que o Santos está brigando pelo título e tinha tudo para se beneficiar de uma rodada que teria sido extremamente favorável. Deu um bico na chance e fez as coisas ficarem bem mais difíceis. 
Não deu pra entender o Vasco no jogo de ontem. Mostrava firmeza atrás, era pouco ameaçado, atacava com mais perigo e saiu na frente. É verdade que o Flamengo voltou um pouquinho mais animado para o segundo tempo, mas nada que assustasse tanto. De uma hora pra outra, o Vasco começou a mostrar um nervosismo surpreendente, até porque o time está praticamente de férias. Não tem como ser rebaixado, não dá pra ser campeão, não vai chegar na Libertadores. Pra que esse furdunço todo? Felipe tinha faniquitos, Dedé (bom zagueiro) entrou de sola na canela do Williams e ganhou cartão vermelho, PC Gusmão perdeu o controle e também foi expulso. Apesar da crônica incompetência rubro-negra, não havia nada a fazer a não ser empatar o jogo. No time do Flamengo, a única coisa boa foi perceber que o garoto Diego Maurício aos poucos vai se firmando: toda bola que ele pegava, levava perigo. E entre tantas coisas ruins, a pior de todas foi constatar que, mesmo com um golzinho aqui, outro ali, Deivid continua sendo um fortíssimo candidato a pior atacante do campeonato. Haja paciência.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

É campeonato demais, né não?
Faltam só oito rodadas para o final do Brasileirão, e já não é mais forçar a barra afirmar que, caso o campeonato terminasse hoje, estariam rebaixados Grêmio Prudente, Goiás, Avaí e Atlético Mineiro. Se eu fosse obrigado a apostar, não colocaria um centavo na queda do Atlético Mineiro, mas essa é a situação atual. E ela nos aponta uma curiosidade: três dos clubes que estão entre os quatro piores do Campeonato Brasileiro já garantiram suas vagas entre os oito melhores da Copa Sul-Americana. Nesse momento em que vemos um monte de jogadores dos nossos grandes clubes enfrentarem problemas sérios de contusões, cabe a pergunta: será que não estamos com campeonatos demais? Essa mania de macaquear os padrões europeus é uma praga. Se eles têm Liga dos Campeões e Liga da Europa, nós também temos a obrigação de promover dois torneios continentais. Tá. Sei que tem o dinheiro, o patrocínio etc e tal, mas temos times no continente para isso? Alguém aí já viu jogos da Sul-Americana? Alguém viu o tal do Independiente Santa Fé que enfrentou o Atlético Mineiro ou o Universitário de Sucre que encarou o Palmeiras? Além disso, os europeus não têm os nossos combalidos campeonatos estaduais, que servem para manter vivas as rivalidades regionais mas contribuem decisivamente para uma péssima pré-temporada. Até gosto dos estaduais, mas parece claro que, aos poucos, as exigências do profissionalismo irão provocar o fim deles, ou pelo menos deverão fazer com que os grandes clubes não o disputem. No início do ano vi Rogério Ceni afirmar que, por ele, jogaria só o Brasileirão e a Libertadores. Acho que é mais ou menos por aí. Os esperançosos e empolgados torcedores palmeirenses que me desculpem, mas Copa Sul-Americana é dose.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os repatriados: muito mais fama do que proveito.
A dureza dos clubes brasileiros os obriga a essa política de repatriamento em massa. A única maneira de reforçar o time – ou iludir a torcida, dependendo do caso – é buscar no exterior jogadores brasileiros que já ultrapassaram o cabo da boa esperança ou que não acertaram por lá. É óbvio que só voltam pra cá os que já estão perto de parar ou os que têm suas ações em baixa, pelos problemas que a gente conhece: inadaptação ao frio, saudade da feijoada, ausência do pagode etc. Não tem dado muito certo. Deivid melhorou um pouquinho no jogo contra o Inter, mas até então suas atuações no comando do ataque do Flamengo chegavam a provocar constrangimento. Ainda no rubro-negro, até agora Diogo não aconteceu. Mas as decepções com os repatriados têm sido regra no país inteiro, e não apenas na Gávea. Edu e Danilo no Corinthians. Cléber Santana no São Paulo. Ewerthon no Palmeiras. Keirrison no Santos. Belletti no Fluminense. Leandro no Grêmio. Ou demoram séculos para entrar em forma, ou têm graves lesões musculares e saem de cena. Os sucessos são poucos: Roberto Carlos no Corinthians (apesar de ter começado a descer a ladeira nos últimos jogos), Tinga no Inter, Alex Silva no São Paulo (embora tenha desfalcado o time durante muito tempo), Felipe no Vasco (idem). Permanecem em observação Valdívia e Lincoln no Palmeiras, Ricardo Oliveira no São Paulo, Daniel Carvalho no Atlético Mineiro e até mesmo o Deco, que tem mostrado muita categoria, mas um certo estilo blasé que deixa na gente a impressão de que está disputando pelada em Indaiatuba. A nova realidade dos repatriados inverteu o problema da janela europeia: antes nossos clubes sofriam com a saída de jogadores para o exterior; agora sofrem com a chegada, porque apostam todas as fichas em caras que vêm como salvadores e acabam salvando apenas seus belos salários de padrões europeus.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pílulas do final de semana.
Espero que a partida de ontem contra o Santos tenha deixado claro para a torcida do São Paulo a diferença entre jogar com Fernandão e jogar com Ricardo Oliveira. Fernandão não é o clássico “homem de referência”, ou seja, um poste que empurra a bola pra dentro. É inteligente e habilidoso, mas é lento, não sai para as pontas, se movimenta pouco, facilita a marcação e oferece poucas opções ofensivas. Ricardo Oliveira mostrou o que é um centroavante de verdade, e olha que nem fez gol. Outra coisa: o que é que Ricardo Gomes e Sérgio Baresi tinham na cabeça com a insistência em deixar Dagoberto no banco? Pior: em muitos casos – pelo menos no tempo do Ricardo Gomes –, com Washington em campo. Até eu, que carrego a fama de ser um cara calmo e equilibrado, também perderia a cabeça. Além de ter jogado muito, Dagoberto ontem protagonizou uma cena reveladora do novo ambiente no clube. O Santos tinha acabado de empatar, quando o lateral Diogo tocou para o meio da área e Dagoberto enganou toda a zaga, deixando a bola passar por entre as pernas e largando Jean livre, cara a cara com Rafael. O lateral encheu o pé e isolou, perdendo um gol certo num momento crucial da partida. Para surpresa geral, o ranzinza Dagoberto correu pra cima de Jean e o abraçou efusivamente, como se ele tivesse completado pra dentro como deveria. Há muito tempo eu não via o São Paulo jogar assim. Mesmo nas temporadas mais vitoriosas, era um time sempre cheio de zagueiros, de volantes e de bolas levantadas na área. Nunca foi muito divertido, a não ser para os são-paulinos, ver o São Paulo jogar. Contra o Santos foi diferente. As bem-sucedidas mudanças promovidas por Carpegiani, na escalação e no clima, deixam no ar uma intrigante pergunta que os tricolores devem estar se fazendo: será que o São Paulo não estaria brigando pelo título, se Juvenal Juvêncio e Rogério Ceni não tivessem perdido tanto tempo brincando de ser treinadores? Agora é tarde. 
Grêmio e Cruzeiro também fizeram um belo jogo. Impressionante como é diferente uma partida de futebol em que os dois times dispõem de bons meias. É outro esporte. Douglas tem o jeitão clássico de meia com visão de jogo, enquanto Montillo se parece mais um meia-atacante, pela agressividade. Ambos são ótimos. Outra coisa que não parece, mas influi: Grêmio e Cruzeiro têm, hoje, os dois melhores goleiros do Brasil, o que dá muito mais segurança a seus times. Óbvio que ambos podem falhar e falham, mas a gente percebe que os outros dez caras confiam plenamente neles. Será que é possível dizer o mesmo do Corinthians em relação a Júlio César e do Fluminense em relação a Fernando Henrique ou Rafael ou Ricardo Berna? Fábio ontem cometeu uma bobagem que será citada logo aí embaixo, mas fez ótima partida. E Victor é muito firme. 
Não vi o jogo do Palmeiras, mas o time perdeu uma grande chance de dar uma encostadinha na turma da frente. Foi uma rodada em que nenhum dos cinco primeiros (Cruzeiro, Fluminense, Corinthians, Santos e Inter) conseguiu vencer. São Paulo e Grêmio fizeram a parte que lhes cabia, ganhando em casa. Mas o Palmeiras, justo o que tinha a tarefa aparentemente mais fácil, jogou dois pontos fora. 
Jogador brasileiro é malandro demais. E malandro demais se atrapalha. Sábado, contra o Flamengo, o Inter dominava o jogo, apesar de não concluir, e não deixava dúvidas quanto a qual dos dois era mais time. Até que, num lance despretensioso, Juan levantou a bola na área direto para as mãos do goleiro Renan. Malandro, o zagueiro Índio deu um empurrãozinho maroto no Deivid, que não alcançaria aquela bola nem nos tempos em que corria. Mas zagueiro brasileiro é malandro, empurra, segura e cutuca sem ninguém ver e sem que seja necessário. Resultado: pênalti, um a zero Flamengo, e o Inter, que já entrara desinteressado, desistiu de vez do jogo. Melhor assim. 
Teve malandragem também no Estádio Olímpico. O Cruzeiro vencia por um a zero e o primeiro tempo já estava nos acréscimos. Numa bola levantada para a área cruzeirense, o goleiro Fábio saiu e foi levemente tocado por Jonas, coisa de não dar nem pra sentir cócegas. Esperto, malandro e querendo ganhar tempo, Fábio caiu no chão, pediu atendimento médico, valorizou. Quando se levantou, o juiz Paulo César Oliveira deu mais um minuto de acréscimo. O Grêmio retomou a posse de bola, foi à frente e empatou. Vale mais uma vez o ditado: esperteza quando é muita vira bicho e come o dono. 
As arbitragens andaram aprontando. Eu não teria dado pênalti de Índio em Deivid (a não ser por castigo), também não teria dado pênalti de Alex Silva em Neymar (se aquilo é pênalti, zagueiro nenhum pode marcar atacante nenhum dentro da área), o Cruzeiro teve um gol de Wellington Paulista mal anulado quando o placar estava um a um, e ainda houve os dois lances do Ronaldo contra o Guarani. À primeira vista também não achei impedimento, mas vendo melhor pude reparar: o Ronaldo estava em posição legal, mas sua barriga estava mesmo um pouco à frente.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A arte de jogar um título pelo ralo.
Há cerca de um mês eu cruzei com o corintiano Saulo, no corredor aqui da agência, e ele me perguntou, aflito: "Murtinho, quem vai ser o campeão afinal?" Não titubeei: Corinthians. Não apenas porque o time liderava o campeonato, mas por uma série de outros fatores que não vêm ao caso, até porque estão sendo desmentidos a cada rodada. Mas mesmo quem já se impressionara com a queda do Palmeiras no Brasileirão 2009 deve estar surpreso com o declínio corintiano esse ano. Inacreditável. Dos últimos dezoito pontos que disputou, o time ganhou apenas dois. Quando foi entrevistado no "Roda-Viva", Mano Menezes reconheceu que o time com Adílson Batista estava mais rápido e mais insinuante, o que ele atribuía sobretudo ao recesso criado pela Copa do Mundo, quando os jogadores tiveram o tempo necessário para uma boa recuperação. De uma hora pra outra, um bando de gente se machucou, outro bando caiu assustadoramente de produção, a bola do Iarley passou a não entrar nem por creio-em-deus-padre, a defesa que era uma das menos vazadas virou uma peneira. E a apatia? E o desinteresse? No primeiro tempo da partida de ontem, em São Januário, os jogadores pareciam aborrecidos, como se jogar futebol fosse o emprego mais enfadonho do mundo. Entretanto, e apesar de tudo, acho que a torcida corintiana não deve perder a esperança: como a gangorra do campeonato só para de se mexer na última rodada, o Cruzeiro ainda pode cair, o Santos e o Inter podem parar de subir, o Flu pode se abater de vez, o Corinthians pode se reencontrar e tudo pode virar de novo pelo avesso. Mas a verdade é que o Corinthians vem dando um curso intensivo – até mesmo para o Palmeiras do ano passado – de como se joga uma taça pela janela.
A viagem no feriadão para o interior de São Paulo me impediu de acompanhar a rodada do último final de semana. Além do videoteipe de Flamengo e Avaí, a única coisa que vi foi o primeiro tempo de Cruzeiro e Fluminense, e o que pintava ser um jogão acabou sufocado pela temperatura de trinta e cinco graus que fez em Uberlândia. Estranhei a lentidão do Cruzeiro – um time que tem na rapidez sua principal característica – e só compreendi os motivos da lerdeza quando ouvi a notícia sobre o calor. Quanto ao Fluminense, a saída do Deco na metade do primeiro tempo deixou o time com a mesma falta de qualidade percebida contra o Santos. Vale repetir o comentário feito aqui no blog há uma semana: com uma escalação daquelas, não dá pra ganhar de ninguém.
Os renomados economistas Lucas Murtinho, Pedro Saud e Thomas Newlands, que costumam ler o blog, hão de concordar: o futebol é muito mais complexo do que a Economia. Até prova em contrário, Economia é uma ciência que, quanto mais se estuda, melhor se compreende. Já o futebol, por mais que você goste, acompanhe e tente se informar, cada vez você compreende menos. Quem costuma ver o Kléberson jogar não consegue entender como é que ele foi um dos vinte e três representantes do futebol brasileiro na última Copa do Mundo. Quem viu o Atlético Goianiense não dar sequer um chute a gol contra o Flamengo, em Volta Redonda, não consegue entender como aquele time fez quatro no Corinthians, lá no Pacaembu. Mas, digressiono. A comparação com a Economia só entrou aqui porque, também no futebol, a gente pode analisar as partidas por seus aspectos macro e seus aspectos micro. Sob o ponto de vista macro, Flamengo e Avaí foi bem simples: o Flamengo dominou o primeiro tempo, fez dois a zero; o Avaí dominou o segundo, fez dois a dois. Fim de papo. Mas futebol costuma ser decidido nos detalhes, ou seja, no micro, e houve um lance que mudou completamente o andamento do jogo. Juan pegou a bola no meio-campo e resolveu fazer o que não sabe: driblar o adversário. Foi desarmado e, em vez de realizar o prejuízo e cercar o inimigo, tentou operar o juiz, atirando-se escandalosamente no chão. Evandro Roman não caiu na dele, o Avaí contra-atacou com perigo, não fez o gol mas ficou com o escanteio. Na cobrança, barbante. Estávamos no início do segundo tempo, e aquilo alterou tudo. Obviamente, não dá pra garantir se o Avaí chegaria ou não ao empate se não fosse aquela jogada recorrente – acontece em todos os jogos do Flamengo – do Juan. Mas aí teríamos que colocar o “se” em campo, e desde os tempos de Charles Miller a gente sabe que “se” não joga bola.