Pílulas do final de semana.
Nunca consegui explicar por que virei flamenguista. Lá em casa, as pessoas que gostavam de futebol – meu pai, meus dois irmãos e minha irmã mais velha – torciam para o Fluminense. Não havia Campeonato Brasileiro, e o Fluminense era o clube com o maior número de títulos estaduais. Eu tinha vários motivos pra torcer pelo Fluminense, e nenhum pra torcer pelo Flamengo. Também tinha motivos pra torcer pelo Botafogo: era, de longe, o melhor time de futebol da cidade e nós morávamos pertinho da sede de General Severiano, que englobava o acanhado estádio onde o alvinegro treinava e mandava alguns jogos contra clubes pequenos. Cansei de ver treinos do Botafogo. Pra quem gostasse de futebol, era um programão, e de graça. Portões abertos. Os reservas tinham Nei Conceição, Afonsinho e outros bons jogadores, mas entre os titulares estavam Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho, Paulo César Caju. Como se tratavam de treinos, o ritmo era mais tranquilo, a pegada era mais leve e aí não tinha jeito: os titulares ganhavam sempre. Tudo isso pra dizer duas coisas: a primeira é que, embora feliz com a escolha, continuo sem entender por que virei rubro-negro; a segunda é que os jogos entre Palmeiras e Fluminense, na Arena Barueri, e entre Corinthians e Vasco, no Pacaembu, me lembraram treinos coletivos bem leves, que nem aqueles a que eu assistia lá em General Severiano.
Apesar de Goiás e Guarani já estarem rebaixados, tenho esperança de que os jogos da última rodada serão mais disputados. A mala branca certamente entrará em cena, trazendo com ela uma nova discussão ético-futebolística: será a mala branca a salvação dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro? Será ela a única maneira de gerar interesse nas equipes que não têm mais nada a ganhar ou a perder? Acredito que as partidas do próximo domingo podem ser mais emocionantes do que os treininhos leves que vimos ontem. Por isso, todo poder à mala branca.
Confirmando a tese do blog, de que a salvação do Flamengo viria muito mais pela incapacidade dos outros do que por méritos próprios, o menguinho perdeu mas escapou do rebaixamento, por uma abençoada combinação de resultados. Até que o time não foi tão mal contra o Cruzeiro, mas não dá pra comparar. O Cruzeiro toca fácil, tem uma saída de bola precisa, ótima ligação do meio-campo para o ataque. Continua sendo – embora sem ganhar nada, sou forçado a admitir – o time brasileiro que eu mais gosto de ver jogar. O Flamengo não tem objetividade, não tem inteligência no meio-campo, falta força no ataque. Com o rebaixamento matematicamente descartado, é hora de reconhecer que dois mil e dez foi um ano feito exclusivamente de erros, e que agora é necessário começar tudo do zero. Mas isso requer humildade, e humildade não é exatamente o forte das pessoas que dirigem o Flamengo.
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