quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Esse ano começou mais cedo a temporada da falta do que dizer.
O campeonato ainda nem acabou, mas já começaram as informações mirabolantes que tomam conta do noticiário futebolístico no período de recesso. O Flamengo realiza nesta sexta-feira a primeira reunião para tratar da construção do seu estádio. Sei. Daqui a pouco se passa a falar das contratações do time para a próxima temporada. A volta do Vágner Love, e quem sabe a de Adriano, que parece andar meio tristonho no Roma. Riquelme (esse vem todo ano). Ronaldinho Gaúcho (o negócio está muito bem encaminhado). O repatriamento do goleiro Júlio César, prata da casa. E por aí vai. Eu me contentaria com um lateral-esquerdo qualquer pro lugar do Juan, um meia que fizesse a metade do que o Pet fez no ano passado e um centroavante que soubesse dominar a bola. Nem precisa fazer gol: basta não matar na canela.
Jogando as duas últimas partidas fora de casa, contra Avaí e Ceará, o Botafogo somou apenas dois pontos e ficou numa situação difícil para sonhar com qualquer coisa. Jogando as duas próximas partidas em casa, contra o desinteressado Internacional e o rebaixado Grêmio Prudente, deve somar mais seis e parar por aí, porque na última rodada encara a pedreira do Grêmio em Porto Alegre. Portanto, o mais provável é que termine o Brasileirão com sessenta e dois pontos ganhos. Uma campanha excelente, sobretudo para um time que começou o campeonato com a suspeita de que lutaria pra não cair. (Eu mesmo escrevi isso aqui no blog, logo após a conquista do estadual, e errei feio.) O elenco é limitado, alguns jogadores – como Lúcio Flávio e Fahel – já entram em campo vaiados pela torcida, e foi um dos times mais prejudicados pelas contusões. No papel, o Botafogo talvez seja até mais fraco do que o Flamengo. Na tabela, vai acabar com uns vinte pontos a mais. Por que será?
A presidenta-nadadora Patrícia Amorim prometeu a Vanderlei Luxemburgo a contratação de um grande camisa dez. O primeiro a ser sondado foi Alex, ex-Palmeiras, ex-Cruzeiro e atualmente no Fenerbahçe da Turquia. Alex afirmou que não há a menor possibilidade de voltar a jogar no Flamengo enquanto o clube não pagar o que lhe deve desde dois mil e um. É por essas e outras que eu não embarco nessa história de comprar tijolinho. Só entraria nesse tipo de campanha no dia em que fossem devidamente enquadrados os dirigentes que contrataram jogadores a torto e a direito, todos com salários mirabolantes que não eram pagos, se transformavam em gigantescas dívidas trabalhistas e explodiam nas mãos das diretorias seguintes. No dia em que esses caras forem responsabilizados, posso até pensar no tijolinho com meu nome. Se bem que, se esse dia chegar, aí com certeza o Flamengo não vai precisar mais vender tijolinho para otário nenhum.
Louvado seja o Atlético Mineiro, por reconhecer que se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro é muito mais importante do que ganhar a Copa Sul-Americana e garantir uma vaga na Libertadores. Uma postura rara e bacana nesse nosso futebol lamentavelmente dominado pelos ideais bolivaristas. O Galo fez pouco caso da vaga na semifinal, entrou em campo com dez reservas, perdeu como queria e agora pode se concentrar nos quatro jogos decisivos que tem pela frente. O Atlético parece ter compreendido que, se cair pela segunda vez em menos de dez anos, a tendência é que isso deixe de ser visto como consequência de uma temporada infeliz e se transforme em um passo decisivo para o clube deixar de ser grande.


2 comentários:

  1. Jorge, confesso que essa sua última frase sobre o Atlético-MG deixar de ser grande me chamou a atenção. Comecei a matutar por que o Atlético é considerado grande. Resolvi recorrer ao google pois o único título de expressão do Atlético que me veio à cabeça foi o Brasileiro de 71, a beira de completar 40 anos.
    Pois bem, dentre outros dos quais nunca ouvi falar, surgiram: Brasileiro Série B 2006, Conmebol (ou ex-Sul Americana) de 92 e 97. E só.
    Naturalmente, ignorei os campeonatos mineiros (e mesmo assim os 3 últimos foram 2000, 2007 e 2010).
    Conclusão, não sei pq o Atlético é grande. E não, não sou cruzeirense. Aliás, longe disso.

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  2. Thomas, foi mal: estava viajando e só li seu comentário nesta segunda, à noite.
    O jeito de classificar nossos clubes como grandes ou não é mesmo discutível.
    Há um ou dois anos, durante aquele período em que Flamengo e Botafogo só empatavam, eu conversava sobre a sequência de empates com um corintiano aqui do trabalho. Tentando explicar os motivos, mandei: é clássico, tem a rivalidade, dois times grandes etc e tal. Ao que o meu amigo corintiano questionou: mas o Botafogo é grande?
    Quer dizer, pra quem não é do Rio, tem menos de quarenta anos e só viu o Botafogo ganhar um título significativo - o Brasileirão de 95 -, não fazia sentido considerá-lo um clube grande. Tive que argumentar com os dois times históricos (o de Garrincha, Didi e Nílton Santos e o de Gérson, Paulo César e Jairzinho), tive que falar da maciça presença de jogadores botafoguenses nas vitoriosas seleções de 58 e 62. E lembrei de um tremendo piti que o Arthur Dapieve deu na coluna dele, no Globo, quando o ex-craque e atual comentarista Falcão declarou que o Palmeiras era favorito num jogo contra o Botafogo porque tinha mais tradição. Dapieve virou bicho.
    Pra mim, o futebol brasileiro tem doze grandes clubes. Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio e Internacional. Por quê? História, títulos conquistados, hábito de fornecer jogadores para a seleção brasileira (antes da globalização calçar as chuteiras, claro), tamanho da torcida, formação de craques etc.
    Quatro desses doze clubes só venceram o Campeonato Brasileiro uma vez: Atlético Mineiro, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense. Mas me parece injusto fazê-los perder a condição de grandes apenas por isso. O Botafogo tem o que falei acima. O Cruzeiro tem dois títulos da Libertadores (76 e 97), além de ter apresentado ao futebol brasileiro jogadores formidáveis como Tostão, Piazza, Zé Carlos, Natal, Dirceu Lopes, Nelinho, Joãozinho, um monte. O Fluminense tem a tradição, e também uma extensa relação de craques que saíram da sua base. Quanto ao Atlético Mineiro: concordo que títulos do Brasileirão ou da Libertadores são fundamentais, mas não devemos considerar só os títulos. Apesar da divertida mania que a gente tem de tripudiar sobre os vices (falar nisso, você viu a festa que fizeram na Holanda, mesmo depois da derrota para a Espanha?), acho que também devemos levar em conta as grandes campanhas. Até mesmo as que terminam com o desprezível vice-campeonato. O Atlético Mineiro foi vice para o Flamengo, em 80, numa das decisões mais sensacionais da história do nosso campeonato. Já tinha sido vice para o São Paulo, em 77, quando perdeu a final em casa, nos pênaltis. Voltou a ser vice para o Corinthians, em 98. Montou um dos grandes times que o futebol brasileiro já viu jogar, aquele que tinha o zagueiro Luisinho, o meio-campista Toninho Cerezo, o atacante Reinaldo, o meia Paulo Isidoro e o ponta-esquerda Éder. Acho que um clube com esse portfolio merece ser chamado de grande, e não pode deixar de ser visto como grande de uma hora pra outra.
    Abração.

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