quinta-feira, 28 de junho de 2012

Final em um jogo só. 
Não costumo defender a europeização do nosso futebol. Aqui na América do Sul somos diferentes. Nosso continente inteiro fala apenas duas línguas, enquanto só nas quartas de final da Eurocopa tínhamos oito idiomas diferentes em campo. Não temos estudo, plantamos coca, elegemos caudilhos, temos salários mínimos na faixa dos duzentos dólares (um proletário torcedor do Jorge Wilstermann, da Bolívia, ganha mais ou menos isso). E mais: futebol é um esporte de massa, e esporte de massa em país pobre não pode ser encarado da mesma forma que em Munique. 
Quando era moleque e vivia de mesada, cansei de ver jogos na geral do Maracanã, sem enxergar direito as linhas do campo e tendo que ficar embaixo das cabines de rádio, porque se ficasse em outro lugar o pessoal da arquibancada se divertia jogando certos líquidos na cabeça da gente. Aquilo era um lixo, mas era também extraordinariamente divertido. 
Os primeiros minutos da decisão entre Flamengo e Atlético Mineiro, no Campeonato Brasileiro de 1980, assisti pelo basculante de um dos banheiros do Maracanã. Sorte que Nunes abriu o placar logo no começo, e na confusão da comemoração consegui um lugar na arquibancada. Se o negócio é ver jogo instalado numa poltrona de couro de renas russas, num espaço projetado por Philppe Stark, esse ingresso vai custar oitocentos reais. Isso, pra mim, não é futebol. Tá certo que levar copo de mijo na cabeça também é um exagero, mas nem tanto nem tão pouco. 
Bom. Tudo isso pra dizer que, apesar de ser contra a europeização absoluta do nosso futebol, a gente precisa tirar o chapéu pra certas coisas. Uma delas é a decisão da Champions League, realizada em um jogo só e numa cidade definida bem antes do torneio começar. 
Ontem, mais uma vez, ficou claro que final em dois jogos não funciona. Ou temos um primeiro jogo amarrado que não decide nada, ou o resultado do primeiro jogo transforma a segunda partida em amistoso – como aconteceu em 2007, quando o Boca fez três a zero no Grêmio, na Bombonera, e depois foi passear em Porto Alegre. Não dá sequer pra dizer se o resultado de ontem foi bom ou ruim pra um ou pra outro. Sei lá. 
O que teve de bom, de verdade, foi o Romarinho. Não é qualquer um que faz o que ele fez, na hora em que ele fez e do jeito que ele fez.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Coisas que já dá pra dizer nesse início de Brasileirão. 
Os mais novos eu não sei, mas os mais antigos devem estar espantados com a velocidade das partidas. Eu estou. Times mais rápidos que outros sempre existiram, só que isso era visto como uma boa vantagem. Acabou. Hoje todo mundo joga como se estivesse numa prova de cem metros rasos. Sábado eu dei uma espiada nos minutos finais de Atlético Mineiro e Náutico, o Náutico perdia por quatro a um mas, ainda assim, saía da defesa para o ataque com muita velocidade. Um pouco mais cedo, o mesmo acontecera com Vasco e Cruzeiro. Time rápido virou commodity, e não há como jogar futebol atualmente sem condicionamento físico perfeito, pulmões a plena carga e um foguete no rabo. Chega a cansar quem está assistindo. 
Com as atenções voltadas para a Libertadores e – um pouco menos, claro – para a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro tá demorando a engrenar. Entretanto, certas coisas a gente já consegue perceber. Uma: dificilmente o Corinthians vai brigar pelo título. Se ganhar a Libertadores, a justa ressaca vai durar o resto do ano, só vai se falar no jogo com o Chelsea e o Brasileirão não terá qualquer interesse. Se perder, é provável que jogadores fundamentais – Paulinho e Leandro Castán, por exemplo – saiam, e não será tão simples assim rearrumar a casa. Duas: com todos os pontos que deixou de ganhar nas seis primeiras rodadas, por causa da Libertadores, e com Neymar e Ganso na seleção olímpica, o Santos também está fora da briga. Três: o atual time do Flamengo não chega a ser tão ruim quanto o de 2010, mas tem se esforçado pra chegar lá. Pode até melhorar se conseguir contratar os dois ou três caras certos, mas para brigar pelo título precisa de mais do que isso. Como escrevi outro dia, na resposta a um comentário do Johnny, duas ou três contratações bem feitas podem ajustar um time e colocá-lo na briga, mas o que está pintando é uma disputa entre Vasco, Fluminense, Cruzeiro e Inter. Eu talvez devesse incluir aí nessa lista o São Paulo, porque não há como olhar para o Campeonato Brasileiro sem enxergar um time paulista na luta pelo título. Mas tá difícil. 
Perder para o Grêmio no Olímpico não chega a ser um problema. Pelo contrário: é sempre um resultado possível e assimilável. Ainda mais no caso do Flamengo, que definitivamente não combina com o clima do Sul. De 2007 pra cá, foram apenas duas vitórias, contra Paraná e Figueirense, em vinte e sete partidas jogadas em Porto Alegre, Caxias do Sul, Florianópolis e Curitiba. Mas há derrotas e derrotas. Em 2009, por exemplo, o Flamengo perdeu para o Grêmio no Olímpico por quatro a um, só que o goleiro Victor saiu de campo dizendo que aquela tinha sido a melhor atuação de sua carreira. Victor fez quatro ou cinco defesas espetaculares, em lances cara a cara com Adriano Imperador e Emerson Sheik. Agora, perder para o Grêmio do jeito que o Flamengo perdeu no domingo é terrível, porque foi uma dessas derrotas que não deixam esperança, não indicam possíveis dias melhores, não permitem olhar para o futuro. Eu não vi, mas ouvi dizer que o mesmo aconteceu com o São Paulo no jogo com a Portuguesa.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Classificação à la Nélson Rodrigues. 
Ontem de manhã, aqui na agência, o diretor de mídia e são-paulino Manoel Neto chegou junto: “Murta, e hoje, quem leva, Santos ou Corinthians? Mas não dá uma de comentarista não. Quem leva?” Gaguejei, tentei escapulir, mas não houve jeito e mandei: se eu fosse obrigado a apostar em um dos dois, apostaria no Corinthians pela vantagem do empate. 
A gente adquiriu o estranho hábito de desconsiderar a vantagem do empate, por julgá-la traiçoeira – e é. Jogar unicamente em função do empate é suicídio, mas ter essa possibilidade a favor é um privilégio, até por facilitar a estratégia do jogo. 
O Corinthians deu sorte em empatar a partida logo no comecinho do segundo tempo, mas não é errado afirmar que deu azar em levar o gol na única jogada de perigo que o Santos conseguiu armar. Semifinal de Libertadores tem que ser jogo pegado, com muita marcação e poucas chances, mas é inadmissível querer chegar à decisão criando apenas uma oportunidade de gol em noventa minutos. E foi isso que o Santos fez, sem forçar o jogo, sem trabalhar a bola, sem envolver. No segundo tempo, houve lançamento longo do Edu Dracena para o Juan. Quer dizer, tudo errado. 
Só que aí entra a mesma questão que surgiu na semana passada: foi o Santos que não jogou ou foi o Corinthians que não deixou o Santos jogar? Magalha e Rodney têm razão. O Corinthians marcou com muita firmeza e concentração, e os melhores foram os de sempre: Paulinho, Ralf e o surpreendente Leandro Castán, que contrariando todas as expectativas de quando assumiu a quarta-zaga no lugar do ex-capitão William, virou um dos poucos bons zagueiros que temos aqui. No Santos, ninguém jogou nada e só dá pra livrar a cara do goleiro Rafael pela defesa na cabeçada do Jorge Henrique, no finalzinho do primeiro tempo. Como meti o pau no Muricy depois do primeiro jogo, acho desnecessário repetir a ladainha hoje. Mas alguém consegue enxergar alguma coisa parecida com trabalho de treinador nesse time do Santos? 
Entretanto, creio que há algo ainda mais importante que tudo isso. Outro dia, eu e Gobato fomos a uma palestra sobre a atuação de Nélson Rodrigues como cronista esportivo, e uma das coisas ditas pelo Ruy Castro foi que Nélson se lixava para a estratégia, a tática, coisas do gênero. O que apaixonava Nélson era a alma do jogo. O Santos cometeu um erro fatal: ao não conseguir impor seu padrão técnico, deixou que a semifinal fosse decidida apenas com o coração. E nesse quesito é muito difícil ganhar do time do Corinthians.
Certas curiosidades só acontecem no futebol brasileiro. Mais do que boas arbitragens, as primeiras atuações de Leandro Vuaden representaram uma grande esperança pra quem gosta de futebol sem frescura, com choque, zagueiro chegando, atacante malicioso e tal. Do jeito que o jogo é. O cara se destaca justamente por apitar desse jeito, é reconhecido, ganha prestígio e isso o leva a ser indicado para apitar a semifinal da Libertadores. Aí, pronto: o jogo começa e o cara marca falta até em aperto de mão. Não dá pra entender.
Ainda na mesma conversa de ontem com o Mané (é assim que o Manoel Neto lá do primeiro parágrafo é conhecido), alertei quanto às dificuldades que o time dele teria em Curitiba. Ao contrário do São Paulo, que obviamente tem jogadores melhores mas é instável, o Coritiba é acertado e rápido, joga junto e do mesmo jeito há mais de um ano, é difícil de ser derrotado em qualquer lugar e cresce demais em casa, sobretudo numa competição como a Copa do Brasil – a grande esperança dos times médios brasileiros. O São Paulo precisa achar um rumo.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por que será que Luís Fabiano anda tão nervoso? 
Artigo primeiro: mesmo sendo profissional e ganhando rios de dinheiro, jogador de futebol não pode ser obrigado a ter sangue de barata. Se a gente briga até em pelada, imagine em jogo valendo três pontos e com casa cheia. Artigo segundo: uma das bobagens que virou mito no futebol é essa história de que reclamar não adianta. Adianta sim senhor. Juízes não voltam atrás no que marcam, ok, mas pelo tom das reclamações eles sacam se erraram ou não, e tendem a compensar o erro. O problema é que, como quase tudo no futebol, reclamar exige malandragem, e malandragem demais atrapalha. Outro dia escrevi aqui que não vejo mais os juízes marcarem pênaltis no Fred, de tanto que ele se joga e esperneia. Da mesma forma, de tanto reclamar de tudo e de todos, Luís Fabiano também começa a ficar marcado. Acho que ontem ele tinha razão em pedir amarelo pro Ronaldinho – se bem que ele, Luís Fabiano, merecia mesmo era o vermelho pela falta que fizera –, mas perdeu o controle e se mostrou pouco malandro. Apesar de marrento e fominha, tenho a impressão de que em algum lugar bem escondido lá no fundo de sua mente, Luís Fabiano sabe que está devendo e que só pagará a dívida se ajudar o São Paulo a chegar a um título importante. O problema é que ele não pode ajudar o time se não estiver em campo, né? 
O jogo do Corinthians contra a Ponte Preta e o time que o Santos escalou contra o Flamengo deveriam servir como argumentos definitivos para que alguma coisa seja feita, com urgência, no calendário do nosso futebol. A Libertadores tá ficando e vai ficar cada vez mais verde e amarela, os torcedores brasileiros abraçaram a competição pra valer, mas a gente não pode se conformar em ver os melhores times do país desprezarem o campeonato mais importante do país. Argentinos, chilenos, uruguaios, todos disputam simultaneamente, e sem grandes sofrimentos, a Libertadores e seus campeonatos nacionais, o que torna óbvia a constatação de que o que nos empareda são os nossos campeonatos estaduais. Enquanto não repensarmos isto, vamos continuar vendo o Corinthians com um ponto ganho em quinze possíveis e o Santos mandar a campo um assustado bando de garotos imberbes. 
Mais um tema recorrente: a estranheza do Internacional. Sábado, jogando em casa contra o bipolar time do Botafogo, o Inter poderia ter definido a partida tranquilamente no primeiro tempo. Mas não. Logo se instala uma lerdeza, um distanciamento, um tédio. No segundo tempo o Botafogo voltou mordendo e virou o jogo com uma facilidade que, nas décadas de setenta e oitenta, forasteiro algum encontrava no Beira-Rio. O Inter tem um bom elenco, três ou quatro jogadores talentosos, mas essa coisa de se achar o Manchester United dos pampas o transformou num time pedante e frio, de quem ninguém mais tem medo. 
O único assunto aqui é o futebol. Por isso, o blog se recusa a fazer qualquer tipo de comentário a respeito do que houve ontem no Engenhão.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Queremos raça. 
Jaime Agostini terá de engolir suas injúrias e sua arrogância. Ontem acompanhei o jogo entre Boca Juniors e Universidad de Chile, e só mudei para São Paulo e Coritiba quando a partida na Bombonera acabou. E olha, quando saí do Fox Sports e fui pro SporTV, a coisa tava feia. 
O São Paulo não se encontrava, Paulo Miranda tinha sido expulso depois de uma jogada à la Anderson Silva, o Coritiba jogava melhor e a torcida tricolor pedia raça. Não entendi por quê. Outro dia escrevi aqui que não vejo no São Paulo a vontade e a pegada que têm, por exemplo, Corinthians e Vasco. Os tricolores Johnny e Jaime postaram comentários discordando, reclamando de alguns pontos do time mas elogiando o espírito. Ontem concordei com eles e discordei da torcida. 
Aliás, vejo que isso acontece demais em nossos times, e já constatei dezenas de vezes no Flamengo. O time é uma bosta, defesa insegura, ataque inoperante, meio-campo que não liga o nada a coisa nenhuma, entretanto a torcida põe a culpa de tudo numa suposta falta de raça. Creio que o torcedor comum tem uma certa dificuldade em admitir que seu time é ruim. 
Além do Coritiba ser, desde o ano passado, arrumado e difícil de ser batido, tinha um a mais em campo. E do jeito que se corre no futebol atual, não é fácil jogar com um a menos. O São Paulo continuou com os erros de sempre, mas tenho a impressão de que ontem não faltou raça. Agora, é óbvio: se o time precisa ganhar e a bola chega no Denílson, ele não sabe o que fazer com ela. Aí para pra pensar, perde tempo, não enxerga o cara entrando livre no outro lado do campo, toca pro lado, a torcida perde a paciência e grita “raça”. Será? O que falta ali é raça ou qualidade? 
Ao contrário do que costumam reclamar vários são-paulinos, Lucas quis jogo, lutou, correu atrás e fez um grande gol. Mas se o Lucas não fosse um jogador de muita qualidade, aquele gol teria saído apenas na raça? Não misturemos alhos com bugalhos. 
Uma pena que a tabela das duas competições tenha indicado Corinthians x Santos, no Pacaembu, e Coritiba x São Paulo, no Couto Pereira, para o mesmo dia. São os dois jogos que devem ter emoção na semana que vem, porque o Boca – apesar de não ter definido – abriu boa vantagem, e o Palmeiras, mesmo sendo o Palmeiras, me parece que liquidou a parada. 
Sr. Jaime Agostini, trate de se retratar pagando meu almoço: o São Paulo só venceu depois que passei a ver o jogo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não foi só na Vila Belmiro: ontem também faltou luz na cabeça do Muricy. 
Tava na cara. Salvo raríssimas exceções, o primeiro jogo de um mata-mata entre dois times bons e equilibrados é sempre parecido com o de ontem, e termina zero a zero, um a um, um a zero para um lado ou um a zero para o outro. Nada se resolve e a parada fica pra ser decidida no jogo de volta. Neymar tentou muito mas pouco fez, e se o Ganso não estivesse em campo a gente poderia pensar que aquele time era o Flamengo ou o Palmeiras vestido de branco. 
Quando Deivid perdeu o famoso gol contra o Vasco, meu amigo Valois perguntou, aqui na caixa de comentários, se aquilo não era motivo pra demissão por justa causa. Outro amigo, o Jaime, é ainda mais radical e defende até a morte, tal e qual um Diderot da bola, o direito das torcidas espancarem jogadores displicentes e mimados. Pensei nesses dois amigos ontem, enquanto via o Elano jogar. O cara está na semifinal da Libertadores, clássico regional, tremenda expectativa, mas se encosta na lateral do campo, se esconde do jogo com um desinteresse absoluto e não acerta um passe. Ridículo. Justa causa. Espancamento liberado. Se bem que Elano deve estar certo e eu errado: enquanto eu pensava no Valois e no Jaime, provavelmente ele estava pensando na Nívea Stelmann. 
A partir de sua campanha de retorno à primeira divisão, em dois mil e oito, o Corinthians tem montado times com volantes e segundos volantes muito bons. Cristian, Elias, Jucilei, Ralf. Mas o melhor de todos é, disparado, o Paulinho, talvez o mais moderno e eficiente jogador do atual futebol brasileiro. Paulinho não é craque e nunca vai ser, mas foi o cara mais importante na conquista do Brasileirão do ano passado e tem sido o melhor do time na Libertadores. 
Aproveitando que citei o Jaime aí em cima, continuo com a fera. Ontem, durante o jogo ele me mandou mensagem ironizando as variações táticas do Santos. Realmente, o esquema é muito claro: dá no Neymar que ele resolve. No dia em que ele não resolver, roça. Disse várias vezes e repito quantas forem necessárias: técnico não ganha jogo, mas ajuda a perder. Muricy ontem fez um monte de besteiras. Escalar Henrique na lateral direita é uma bobagem inadmissível. Henrique é um segundo volante dinâmico, que corre e marca no campo todo, sai razoavelmente bem com a bola, dificulta a articulação do adversário e dá opção de jogo. Na lateral direita, Henrique não é nada. Se a vontade que o Elano está de jogar é aquela, foi um erro ter liberado o Ibson na reta final da competição. E Alan Kardec é o fim da picada. Mas Muricy é um desses treinadores que nunca viu o Barcelona jogar e não admite entrar em campo sem um centroavante grande e ruim. Óbvio: neguinho cruza, a bola vai na cabeça dele, o cara põe pra dentro. Mas em nome dessa possibilidade, o time passa o resto do jogo atravancado. Muricy ontem se superou e fez tudo que um técnico pode fazer para ajudar seu time a perder. 
Estava querendo falar alguma coisa sobre a Eurocopa, mas o horário dos jogos e as demandas aqui na agência não têm permitido. Além disso, ando meio ressabiado: como falar de um torneio em que a seleção alemã tem um artilheiro chamado Mario Gomez, um goleiro chamado Manuel e um treinador chamado Joaquim?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A disputa de pênaltis na marca do pênalti. 
Não foram exatamente essas as palavras, mas na semana passada o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse que "quando uma partida é decidida nos pênaltis, o futebol perde sua essência". E completou: “Talvez Franz Beckenbauer, com o grupo de trabalho Futebol 2014, apresente propostas de soluções para isso". (Beckenbauer preside uma espécie de comitê que discute ideias para melhorar o esporte.) 
Olha, Mr. Blatter, eu não sou jornalista esportivo, nunca fui dirigente de clube ou federação, jamais me locupletei aprovando verbas de patrocínio ou sedes de Copa do Mundo, mas desconfio que o senhor andou lendo meu humilde blogzinho, mais especificamente um post publicado no dia 23 de fevereiro de 2011. Lá estão duas sugestões bem simples que repito agora, já que Beckenbauer se recusa a atender meus telefonemas. 
Primeira: acabar imediatamente com a disputa de pênaltis e fazer com que a prorrogação dure até que alguém vença. Nada substitui o clássico “primeiro gol acaba” das nossas peladas. Esse papo de que alguém pode morrer em campo (francamente!) é conversa pra boi dormir. Em janeiro desse ano, Djokovic e Nadal ficaram cinco horas e meia seguidas na quadra, disputando a final do Aberto de Tênis da Austrália, e os dois estão aí, vivinhos da silva e esbanjando saúde. O cansaço diminui a capacidade de marcação, aumenta os erros de lado a lado e proporciona chances de gol. 
Ouso afirmar o contrário: com a regra do “primeiro gol acaba”, a maioria das prorrogações duraria menos do que hoje, até porque neguinho não se acomodaria diante da possibilidade de empurrar a decisão para as cobranças. Acho que se poderia pensar em dobrar o número de substituições em jogos que fossem para a prorrogação, mas disputa de pênaltis é mesmo uma aberração que, na linguagem sofisticada da autoridade máxima do futebol, “acaba com a essência do jogo”.
Outra regrinha básica que deveria ser mudada, e esta sem grandes discussões, é a permissão que os goleiros têm de defender com as mãos bolas atrasadas sem intenção. Proponho rigor absoluto: atrasou com o pé, um abraço. Com ou sem intenção, o goleiro que se vire. 
Além dessas, claro, tem a questão do “gol fora vale dois”. Espero que Blatter e Beckenbauer tenham visto os oito jogos das quartas de final dessa Libertadores.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Seleção sonífera. 
O grande Johan Cruijff declarou, recentemente, que o Barcelona joga como a seleção brasileira de antigamente, enquanto o Real Madrid joga como a seleção brasileira atual. Apesar de bem sacada, a frase me parece injusta. Não tenho acompanhado os jogos da nossa seleção – quase todos chatíssimos, pelo que ouço falar –, não vi as vitórias sobre a Dinamarca e os Estados Unidos, mas assisti à derrota para o México. Me lembrou o Flamengo. Defesa exposta, zagueiro fazendo pênalti em atacante de costas para o gol, saída de bola de dar sono, ataque improdutivo e um monte de balõezinhos inúteis no meio-campo – se bem que isso deve diminuir drasticamente no Flamengo a partir de agora. Ou seja: nada tão distante do que eu costumo ver duas vezes por semana. O que muda é que o Flamengo me irrita, enquanto a seleção brasileira não me provoca qualquer reação. (Esse é assunto para outro post: por que a seleção brasileira, que sempre nos apaixonou, hoje virou motivo de indiferença?) Ainda bem que no meio da semana tem Campeonato Brasileiro, pra dar uma quebrada naquele tédio vestido de amarelo. O Flamengo enfrenta a Ponte Preta e, com a deserção do Ronaldinho, Deivid retoma a condição de titular. Que Deus nos proteja.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Uma pena. Um desperdício. 
Adílio. Adriano. Andrade. Athirson. Bebeto. Beto. Bruno. Carpegiani. Edílson. Edinho. Fábio Luciano. Gaúcho. Gilmar. Ibson. Jorginho. Juan (zagueiro). Juan (lateral). Júlio César (goleiro). Júlio César (Uri Geller). Júnior. Júnior Baiano. Kléberson. Leandro. Leandro Ávila. Leonardo. Leonardo Moura. Lico. Marinho. Mozer. Nélio. Nunes. Obina. Petkovic. Raul. Renato Abreu. Renato Augusto. Renato Gaúcho. Rodrigo Mendes. Romário. Ronaldo Angelim. Rondinelli. Tita. Toninho Baiano. Toró. Uidemar. Willians. Wilson Gottardo. Zé Carlos (goleiro). Zico. Zinho. 
Seja pelos títulos conquistados, seja pela identificação com a torcida, seja pelo amor à camisa, de 1980 pra cá o Flamengo teve pelo menos cinquenta jogadores mais importantes para a história do clube do que o Ronaldinho Gaúcho. 
Sim: por incrível que pareça, o lateral Juan foi muito mais importante para a história do Flamengo do que o Ronaldinho Gaúcho. O Obina, o Renato Abreu, o Ronaldo Angelim, o Toró e o Willians foram mais importantes para a história do Flamengo do que o Ronaldinho Gaúcho. 
Saúde para D. Miguelina, vai em paz e seja feliz. Bem longe.