segunda-feira, 31 de maio de 2010

Jucilei acabou com Neymar, Ralf acabou com Ganso e Mano acabou com o Santos.
Mano Menezes pagou o que estava devendo. Armou o time do jeito certo pra matar o Santos, anulando os dois principais jogadores adversários e explorando as inúmeras falhas do sistema defensivo santista, quase sempre disfarçadas pela eficiência do seu ataque. Jucilei e Ralf foram perfeitos na marcação, sendo que Ralf ainda arrumou tempo para ir à frente e fazer um golaço, Roberto Carlos foi muito bem e Bruno César tem pinta de que pode resolver o problema de armação do time. O Corinthians sobrou no jogo. No Santos, é óbvio que Robinho faz muita falta, mas a questão é: será que Robinho volta a jogar pelo Santos? Felipe não é mau goleiro, mas não passa a necessária segurança e falhou naquele gol no comecinho. Bruno César estava com a bola quase colada ao pé esquerdo, o que sempre impede que o chute saia muito forte. Mesmo assim, Felipe soltou, e soltou mal, nos pés de Jorge Henrique. O segundo gol do Corinthians revelou dois problemas graves que o Santos tem na zaga: o time se defende com pouca gente, e os poucos que defendem não são lá grandes coisas. Quando a bola foi levantada para a área, lá estavam quatro atacantes corintianos e apenas três defensores do peixe – o que explica como Bruno César apareceu livre e com tempo para dominar, escolher o canto e bater. Edu Dracena e Durval são zagueiros do tipo xerifão, com muita personalidade e pouca bola. É um estilo que até funciona, desde que o time não se exponha tanto – o que, definitivamente, não é o caso do Santos. Esses problemas e essas falhas não fazem com que a equipe santista deixe de ser empolgante, mas certas coisas precisam ser vistas com calma. Às vésperas da final do Campeonato Paulista, o treinador do Santo André (Sérgio Soares) declarou que era impossível pensar em marcação individual, porque o Santos tinha cinco ou seis jogadores que desequilibravam. Alto lá. Wesley está em ótima forma e André é um centroavante perigoso, mas o Santos tem três jogadores que desequilibram. Não é fácil marcar Robinho, Neymar e Paulo Henrique individualmente, mas eles são o que o Santos tem de diferente. E, claro, tem o conjunto que se acertou e que faz a gente se iludir um pouco, achando que Marquinhos é craque, Madson é craque, Pará é craque – e não é bem assim. Acredito que, nesse momento, o ensurdecedor clamor em torno da convocação de Neymar e Paulo Henrique já começa a diminuir o tom.
O horror. O horror.
Sábado, 29 de maio. Flamengo e Grêmio no Maracanã. Aos dois minutos do segundo tempo, o Flamengo vence por um a zero, Petkovic domina a bola um pouco além do meio-campo e lança sob medida para Vágner Love. O atacante faz, então, a jogada que é sua marca registrada: se enfia em velocidade entra os zagueiros, ganha na corrida, entra livre na área e bate em cima do goleiro. Isso acontece em quase todos os jogos. A partir daí, eu tive que pedir a meu enteado Gabriel, que tem apenas onze anos, que saísse da sala e fosse brincar lá fora, porque o Flamengo passou a encenar um dos maiores festivais de horrores que o velho Maraca já pôde presenciar. Começou logo depois, aos seis. O zagueiro Rodrigo já fez vários gols de cabeça desde que chegou ao Grêmio, inclusive um golaço no primeiro jogo da decisão do Campeonato Gaúcho contra o Inter. Apesar de todo mundo saber disso, houve um escanteio contra o Flamengo e Rodrigo foi marcado por Camacho, um meia-armador esmirradinho, sem cacoete defensivo e que até agora tem tremido feito vara verde com a camisa do time principal. Rodrigo subiu, Camacho não, um a um. Aí virou filme de terror. Bruno dando chutões para o alto, talvez sem perceber que Adriano já foi para o Roma e que Vágner Love deve ter a minha altura. David chutando o vento e descendo a madeira. Léo Moura e Juan errando tudo. Ronaldo Angelim se atrapalhando em todas. Vinícius Pacheco caindo em cada lance. Aliás, eu gostaria de ver um ataque formado por Vinícius Pacheco, Dentinho e Neymar, porque seria uma experiência única na história do futebol: um ataque que joga deitado. Mas o filme continuou, e olha que o roteirista estava inspirado: quando a gente achava que já tinha visto tudo, Ramón entra em campo. Agora não tem mais como piorar, certo? Errado: vem aí Gil. O segundo tempo do Flamengo fez “Atividade paranormal” parecer uma açucarada comédia romântica. E o mais espantoso é que, depois do jogo, o técnico Rogério Lourenço declarou ter percebido uma espécie de evolução no time. This is the end.
PS: Bruno Mezenga já foi emprestado para o Legia Varsóvia, mas ainda faltam sete: David, Vinícius Pacheco, Gil, Ramón, Michael, Fernando e Dênis Marques não podem vestir a camisa de nenhum clube grande do Brasil. Os três últimos não jogaram sábado, mas mantra é mantra.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Talvez não exista nada mais bipolar no mundo do que o torcedor de futebol.
Na tarde de terça, a torcida invade o treino do Vasco. Na noite de quinta, o Vasco volta a ser o time do amor. Pois é. Ontem, em São Januário, certamente inspirado pelas paisagens da Cidade Maravilhosa e pelas mirabolantes arbitragens do futebol carioca, o paranaense Heber Roberto Lopes marcou um pênalti que o vai fazer morrer de vergonha quando puder ver o lance novamente. Pra começo de conversa, se tivesse acontecido algo, teria sido fora da área. Mas não houve rigorosamente nada, o lateral direito Nei sequer tocou em Ernâni – e mesmo que tivesse tocado, lembro aos faltólogos de plantão: futebol tem choque. Aquilo ali não é pênalti nem em jogo de freiras, mas foi bem feito pro Inter. Além dos equivocados critérios de arbitragem, há pouca coisa tão irritante no futebol brasileiro como essa mania que nossos times têm de considerar encerrados jogos com vinte ou trinta minutos do primeiro tempo, só porque fizeram um ou dois gols. Na quarta-feira, o São Paulo quase deixa escapar a vitória em um jogo que estava facílimo. E ontem o Inter entregou os três pontos de bandeja pro Vasco. Com uma atuação caótica no primeiro tempo, a equipe de Celso Roth saiu vaiada e com a torcida esbravejando contra a diretoria – o que vem acontecendo com Roberto Dinamite explica e justifica a enorme relutância do Zico em assumir um cargo qualquer no Flamengo. Mas no segundo tempo a partida se equilibrou, após o belo gol de Élton logo no início e a justa expulsão do lento e supervalorizado Fabiano Eller. (Outra coisa típica do futebol brasileiro: o impressionante poder de atração que determinados jogadores não mais que razoáveis exercem sobre alguns clubes. Fabiano Eller é um deles. O Flamengo quer, o Cruzeiro quer, o Palmeiras quer, todo mundo sempre quer Fabiano Eller. Vai entender por quê.) Phillipe Coutinho bateu bem o pênalti, Nilton fez o gol da vitória com outro bonito chute da entrada da área, a torcida fez as pazes e o Vasco voltou a ser o time da virada, o Vasco voltou a ser o time do amor. Pouco importa que o time da virada, o time do amor não ganhe nada desde 2003, já que, por motivos óbvios, segunda divisão não conta. Para encerrar: haverá em breve uma reunião da Conmebol para decidir que punição será aplicada ao goleiro Abbondanzieri, pela confusão no fim do jogo contra o Estudiantes. Se eu fosse são-paulino, torceria muito pra ele ser absolvido.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma quarta-feira em que deu pena da bola.
Ok: o Flamengo ontem não pôde contar com cinco jogadores de meio-campo (Kléberson, Willians, Fierro, Petkovic e Michael) e não há time no Brasil que consiga manter o nível desfalcado de cinco meio-campistas. Mas vamos ser justos: o Pet não tem jogado mais do que vinte minutos e a ausência do Michael não é um desfalque, é uma benção. Na verdade, o Flamengo jogou com três reservas no meio-campo, o que é absolutamente comum em campeonatos longos como o brasileiro. Qualquer time que se diz grande tem a obrigação de fazer mais do que o Flamengo fez ontem, e aí eu acho que entra a manha do treinador. Está cheio de desfalques? Perde a vergonha, posiciona o time atrás, arma duas linhas defensivas, libera Léo Moura e Juan, deixa só o Vágner Love correndo na frente, sei lá. Não vi nada de Cruzeiro e Botafogo no Mineirão, mas pra terminar só um a zero pro Cruzeiro – e naquelas circunstâncias –, Joel Santana deve ter feito algo semelhante. Fiquei com medo de que, depois do Fla-Flu, Vágner Love pegasse o celular, ligasse pra Rússia e implorasse: me tirem daqui, pelo amor de Deus! Repito (isso vai virar mantra toda vez que tiver jogo do Flamengo): David, Michael, Fernando, Vinícius Pacheco, Bruno Mezenga, Gil, Ramón e Dênis Marques não podem vestir a camisa de nenhum clube grande do Brasil. 
São Paulo e Palmeiras continuaram maltratando a bola. O que o time do São Paulo tem de eficiente, tem também de chato. Faz um a zero e para de jogar. Tá certo que futebol é resultado, mas ontem por muito pouco o resultado não foi pro espaço, contra um Palmeiras tão fraco e desarticulado como o Flamengo tinha sido minutos antes no Maracanã. Não vi o primeiro tempo, mas o segundo tempo do Palmeiras foi de doer. Eu só não entendo por que o juiz se complicou à toa, ao dar um penaltizinho muito do maroto no final da partida. Pra que dar pênalti a favor do Palmeiras? Ewerthon, que tinha sido o único a marcar na lamentável disputa contra o Atlético Goianiense, ontem se redimiu: foi lá e, batata, perdeu.    
Por fim, eu continuo achando que, para um time que joga junto há mais de um ano e é dirigido pelo mesmo treinador há mais de dois, o Corinthians está sem padrão. O time do Grêmio Prudente é horroroso e o jogo foi tão feio quanto, com pelo menos três dos quatro gols saindo de falhas patéticas. O Corinthians melhorou com a entrada do Bruno César, e quase chegou à vitória na base do desespero, da raça, da vontade e do abafa. A questão é que o Corinthians sempre foi assim, com qualquer técnico e qualquer escalação, não? Isso também vai virar um mantra: não tenho nada contra ele, mas Mano Menezes tá devendo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Imperador voltou. O Imperador já vai. Viva o Imperador. 
Existem vários pontos importantes nessa passagem do Adriano pelo Flamengo. Vou tentar costurá-los. 
O primeiro refere-se à síndrome do julgamento. De forma geral, e com as exceções de praxe, parece que os jornalistas esportivos se sentem na obrigação de emitir sentenças morais sobre tudo e sobre todos – como se eles também não tivessem lá suas mazelas, como se fossem todos abstêmios convictos, como se jamais tivessem mirado com olhos gulosos a estagiária bonitinha que entrou na redação semana passada. Pura hipocrisia. Se a maioria da nossa imprensa esportiva adotasse a linha de respeito à privacidade dos jornais franceses, em vez de optar pelo caminho sensacionalista dos tablóides britânicos, todos sairiam ganhando. Clubes, torcedores, jogadores e o próprio jogo. Mas detectar focos de fracasso em pessoas bem-sucedidas sacia a turba e vende mais. Desculpem se o blog exagera nas citações de João Saldanha, mas aí vai outra delas. Sempre que começava um conhecido tipo de campanha contra esse ou aquele craque de personalidade mais inquieta, Saldanha avisava: “Cuidado, gente, jogadores de futebol têm mais ou menos a mesma idade dos nossos filhos e fazem mais ou menos as mesmas coisas que os nossos filhos.” Espero que nenhum de nós tenha filhos fazendo as bobagens do Adriano, mas o alerta do Saldanha é de uma lucidez invejável. 
Segundo ponto: na Copa de 2002, o sério, responsável e evangélico Lúcio falhou feio no gol de Owen, tornando ainda mais difícil o que talvez tenha sido a partida mais encrencada da competição, contra a Inglaterra. Foi preciso o irreverente, sambista e baladeiro Ronaldinho Gaúcho salvar a pátria, com uma jogada genial no gol de empate do Rivaldo e uma surpreendente cobrança de falta pra virar o jogo. Não importa o que o cara faz fora de campo. Afirmar que Adriano está sem mobilidade porque não aparece para treinar é uma coisa; garantir que ele perdeu o pênalti contra o Botafogo porque brigou com a noiva é outra. Treinar faz parte da profissão, ok. Mas o que o cara faz quando não tem treino nem jogo, se gosta de funk ou de música clássica, se frequenta restaurante francês ou churrasco na laje, é problema dele. 
Terceiro ponto: é óbvio que, ao dizer que Garrincha ganhou a copa de 62, Maradona a de 86 e Romário a de 94, estamos fazendo uma simplificação inadequada a um esporte coletivo, mas o que está por trás do raciocínio é correto: se Garrincha não estivesse naquela seleção, provavelmente não seríamos bicampeões – e o mesmo vale para Maradona e Romário. Assim, não é errado concluir que Adriano ganhou o Brasileirão de 2009. Teve o Pet batendo um bolão, Maldonado arrumando a casa lá atrás, Bruno pegando dois pênaltis do Ganso no crucial jogo contra o Santos, mas quem ganhou o campeonato foi Adriano. Dezessete anos depois do último título rubro-negro, e sem que o clube tivesse passado sequer perto disso durante todo esse período. 
Quarto ponto: sou carioca e trabalho em São Caetano do Sul, cercado de corintianos, são-paulinos, palmeirenses e um santista. Pra mim não é difícil perceber como, por motivos plenamente justificáveis, o torcedor paulista passou a menosprezar o futebol do Rio. É compreensível. Até o final do século passado, Rio e São Paulo tinham exatamente o mesmo número de títulos do Brasileirão: onze pra cada lado. De 2002 a 2008, o desequilíbrio ficou evidente: enquanto os paulistas levantaram seis campeonatos brasileiros, os cariocas não conquistaram nenhunzinho sequer. O futebol carioca nunca esteve com a moral tão lá embaixo. Vários exemplos de conversas aqui no trabalho poderiam ilustrar isso, mas escolhi um do meu amigo Biza. Como todo bom são-paulino, ele não queria que o Corinthians ganhasse a Copa do Brasil no ano passado. Aí, Internacional e Flamengo se enfrentaram pelas quartas de final, para decidir quem poderia encarar o Corinthians mais à frente, e o Inter se classificou com um gol no fim do jogo, quando tudo levava a crer que o Flamengo passaria. Com toda a franqueza do mundo, no dia seguinte o Biza me confessou ter torcido muito pelo Inter, porque ele via no time gaúcho chances muito maiores de barrar a trajetória corintiana. Mas agora, nas oitavas de final da Libertadores, a coisa já estava diferente. Não apenas os são-paulinos se mostravam confiantes em torcer para o rubro-negro, como os próprios corintianos demonstravam respeito. O responsável por isso foi Adriano. 
Quinto ponto: a temporada de Adriano pelo Flamengo em 2009 foi, em tudo e por tudo, bem diferente da temporada de Adriano pelo São Paulo em 2008. O tricolor não dependia dele pra nada, porque era um time em alta, ganhador da Libertadores em 2005 e dos Brasileirões de 2006 e 2007. Muito diferente, portanto, do que era o Flamengo quando o Imperador chegou. (E, infelizmente, o que parece que o Flamengo voltará a ser agora que ele vai embora.) 
Sexto e último ponto: se pesarmos os prós e os contras, o que foi e o que poderia ter sido, creio que a torcida do Flamengo deve se sentir feliz com essa rápida passagem do Imperador pelo clube. O que ela tem que fazer é agradecer, desejar boa viagem e torcer para que ele volte logo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Voltando a falar da convocação.
Conhecidos os semifinalistas da Libertadores, os finalistas da Copa do Brasil e o vencedor da Liga dos Campeões da Europa, e com o Brasileirão ainda frio de doer nos ossos, voltemos à seleção brasileira. No post pós-convocação, escrevi que discordava de muitos dos nomes chamados, embora também não concordasse com os nomes mais pedidos. Já falei dos badalados que não foram, agora falo de quem vai. E começo logo com um desafio: façam uma pesquisa junto aos torcedores do Flamengo e do São Paulo, e perguntem se eles topam trocar o Kléberson pelo Hernanes. Creio que a resposta será sim, claro, agora mesmo para a imensa maioria da torcida rubro-negra, e não, de jeito nenhum, tá maluco por toda a torcida são-paulina. Apesar do Kléberson ser bom jogador, com muita movimentação por todos os lados do campo, e apesar do Hernanes ter uma certa dificuldade para acordar no horário dos jogos, não há como comparar um e outro. Felipe Melo começou no Flamengo e foi embora sem deixar saudades. Não posso falar de suas passagens por Cruzeiro e Grêmio, pois não as acompanhei, mas custo a crer nesses caras que saem daqui medianos e se tornam craques na Europa. Ainda que o Felipe Melo tenha melhorado muito, não dá pra chegar perto do que a gente espera de um meio-campista da seleção brasileira. Gilberto Silva – assim como Kléberson – fez uma grande copa em 2002, mas oito anos em futebol é tempo à beça. Hoje é um volante devagar, quase parando. Temos problema na lateral esquerda e precisamos torcer muito para que Michel Bastos entre e resolva. Acho que Gilberto não é mais o caso. Teria sido melhor levar Roberto Carlos? Sim. Mas Roberto Carlos ainda é aquele jogador decisivo e que metia medo no adversário? Não. Quer dizer: melhor seria, mas também não seria o ideal. O ideal não temos. Josué é um jogador tático, porém limitado. Já era assim na sua melhor fase, no São Paulo, não tem como ser diferente na seleção brasileira. Nosso futebol é repleto de gente igual a ele. Gosto do Ramires, que se movimenta tanto quanto Kléberson, mas com duas vantagens: tem um toque de bola mais preciso e aparece melhor para concluir. Só não vejo por que ter dois jogadores como Kléberson e Ramires na reserva, e por isso ficaria apenas com o apoiador do Benfica. A convocação de Doni lembra uma dessas coisas que a gente vê em montagens de equipes de governo: pertence à cota particular do treinador. Não há um argumento sequer para justificar a escolha por um goleiro que ficou na reserva durante toda a temporada. E pior: na reserva de um goleiro brasileiro. Mas a verdade é que Doni deverá ser só a terceira opção e suas chances de participar da Copa são mais ou menos as mesmas da Nova Zelândia ficar com o título. Deixa o Doni pra lá. Nosso maior problema está na falta de alguém talentoso na armação, e acho que o erro grave do Dunga foi não ter garimpado mais, não ter dado mais chances a alguns meias com potencial para encarar a responsa de organizar a seleção brasileira. Alex que foi do Palmeiras, o outro Alex que foi do Inter de Porto Alegre, Wagner que atuou pelo Cruzeiro, esses aí têm pelo menos o jeitão dos nossos tradicionais armadores, que sabem o momento certo de segurar o jogo e o de dar velocidade, que sabem a hora de tocar de lado e a de lançar em profundidade. Não digo que era pegar qualquer um deles, botar lá e tá resolvido. Mas deveriam ter sido testados, tiveram tempo de ser testados (o que não aconteceu com o Ganso, que começou a jogar bola de verdade só esse ano) e poderiam nos ajudar. A opção por um monte de jogadores com o mesmo perfil revela uma confiança cega no esquema tático. E a gente sabe que, no futebol, uma surpresinha de vez em quando é muito bem-vinda.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O título da Liga dos Campeões da Europa fica com o futebol italiano. Italiano?  
Na final da Liga dos Campeões contra o Bayern de Munique, a Inter de Milão entrou em campo com a seguinte escalação: no gol, o brasileiro Júlio César; na zaga, os brasileiros Maicon e Lúcio, o argentino Samuel e o romeno Chivu; no meio-campo, os argentinos Zanetti e Cambiasso, o macedônio Pandev e o holandês Sneijder; na frente, o camaronês Eto’o e o argentino Diego Milito. Tudo bem, o time só tem gringo, mas o treinador, o timoneiro, aquele que traça a estratégia, monta o esquema de jogo e organiza tudo, esse deve ser italiano, certo? Errado: o técnico da Inter de Milão é o português José Mourinho. 
Além de representar uma claríssima e indiscutível vitória da globalização nos gramados de futebol (mais uma vez recomendo o livro “Como o futebol explica o mundo”, de Franklin Foer), a conquista da Inter traz uma lição importante pra nós, brasileiros, que nos viciamos em ver o futebol como um esporte exclusivamente ofensivo. Não se pode creditar o título da Inter ao acaso, à sorte, a erros de arbitragem, nada disso. 
Outro dia vi numa dessas mesas redondas que o Chelsea foi o primeiro time a fazer mais de cem gols no campeonato inglês em quase cinquenta anos. Pois a Inter foi lá e eliminou o Chelsea, vencendo os dois jogos. O Barcelona tem o Messi, o Xavi, o Iniesta, o suposto casal Piquet e Ibrahimovic (esse povo fala demais: eles só estavam se consolando após a eliminação na Liga dos Campeões). Pois o Barça é mesmo um timaço, mas a Inter foi lá e passou por ele. E para completar o serviço, não tomou conhecimento do Bayern de Munique. Tudo isso com um futebol de marcação acima de tudo, clarividência na armação (Sneijder joga muito, olho nele nessa Copa) e bom percentual de aproveitamento das oportunidades. Espetáculo? Nananinanão. Não esperem isso da Inter de Milão. 
Agora, pra quem acha a Libertadores a coisa mais sensacional que existe na face da terra, a decisão de sábado deve ter sido um choque de realidade. Vamos pegar só um exemplo das quartas de final das duas competições: pela Liga dos Campeões da Europa, o Bayern de Munique eliminou o Manchester United jogando no fantástico Old Trafford, em Manchester. Nas quartas de final da Libertadores da América, o Universidad de Chile eliminou o Flamengo no valoroso Estádio Santa Laura. Se quisessem gravar esse último comercial do Itaú-Unibanco lá, acho que não cabia. Santa Laura deve ser a padroeira das peladas, dos gramados horrorosos e dos torcedores que atiram objetos não identificados nas cabeças dos jogadores adversários. 
Voltando à final, o que dizer do Bayern de Munique? Sem Ribéry, é o time de uma nota só: Robben pega a bola na direita e sai cortando pra dentro, até abrir espaço pra finalizar com a perna esquerda. É pouco. O zagueiro Demichelis foi imperdoavelmente desatento no lance do primeiro gol, e seu companheiro Van Buyten revelou enorme ingenuidade no corte que levou de Milito no segundo. 
E pra finalizar: a provável ida de José Mourinho para o Real Madrid demonstra, uma vez mais, o desprezo que os europeus sentem por esse Mundial Interclubes que valorizamos tanto. Aliás, José Mourinho é tudo aquilo que Vanderlei Luxemburgo sempre quis ser na vida, não?
Abre o olho, Flamengo.
Parece um paradoxo, mas a vitória de três a um sobre o Grêmio Prudente pode fazer muito mal ao clube rubro-negro. Ela pode esconder, por exemplo, que jogadores como David, Michael, Bruno Mezenga, Vinícius Pacheco e Fernando não têm a menor condição de jogar em nenhum time grande do Brasil. Sem falar em outros que felizmente não foram a campo ontem, como Gil, Ramón e Dênis Marques, e que Petkovic precisa resolver se vai ser o meia do Campeonato Brasileiro do ano passado ou se vai ser aquele das temporadas que fez no Santos e no Atlético Mineiro. Se decidir pela segunda opção, feliz e merecida aposentadoria pra ele. Apesar do Michael ter se esforçado muito para impedir, o time ontem fez um bom primeiro tempo, mas lembrou o Flamengo do começo do Brasileirão 2009. Aquele time corria, criava, mas como tinha uma deficiência crônica na hora de concluir, se desesperava, se abria, tomava um ou dois gols e perdia jogos relativamente fáceis. Ontem, Camacho, Juan, Vagner Love, Bruno Mezenga, Michael e Fernando desperdiçaram oportunidades incríveis. Além disso, a comparação é obrigatória: enquanto na reta final do Brasileirão o Flamengo levou apenas um gol nas últimas cinco partidas, agora na Libertadores o time levou quinze gols em dez jogos. Vem cá: existe alguma chance de um time ir longe na Libertadores levando quinze gols em dez jogos?
Sei não, mas acho que o Mano tá devendo.
O Corinthians ganhou do Fluminense por um a zero e sem maiores sustos. Apesar disso, eu gostei do que vi no Fluminense e achei pouco o que vi no Corinthians. Não que o time carioca tenha dominado, apertado, pressionado, nada disso, só que existe uma enorme distância no tempo de preparação dos dois times – e isso deveria mostrar resultados diferentes dentro de campo. O Fluminense é um time em processo de montagem, com jogadores novos chegando (Carlinhos estreou ontem, Rodriguinho fez apenas sua segunda partida, Fred e Alan ficaram um bom tempo parados) e o técnico Muricy está lá há pouco tempo. Do Corinthians não se pode dizer o mesmo. Mano Menezes dirige a equipe há mais de dois anos e, na verdade, pelo menos a base do atual time vem treinando desde que acabou a Copa do Brasil no ano passado. Aliás, treinando é a palavra certa, porque a participação no Brasileirão 2009 foi desinteressada e pífia, e no Campeonato Paulista sequer chegou às semifinais. Tudo em nome do sonho da Libertadores. Se a aposta foi certa ou errada é outra história, mas um time que está junto há tanto tempo deveria ter vencido com tranquilidade um adversário muito mais frágil e ainda em fase de experiências. Como teria acontecido com aquele Corinthians de Douglas, Cristian e André Santos, lamentavelmente desmontado.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Desde quando, no futebol, um gol vale mais que o outro? 
Quando eu era moleque, a temporada oficial do futebol carioca era aberta por uma bizarrice chamada Torneio Início. Doze clubes iam para o Maracanã e se enfrentavam em jogos eliminatórios, numa jornada que começava de manhã e terminava no finzinho da tarde. Cada jogo durava vinte minutos, havia muitos empates e aí as partidas eram decididas por um critério muito louco: vencia quem tivesse mais escanteios a favor. Era engraçadíssimo, porque em vez de tentar entrar na área para fazer gols, os times levavam a bola pra linha de fundo e se preocupavam em chutá-la em cima do adversário. Goleiro que espalmasse bola pra fora era quase linchado. 
Quando Denílson surgiu no futebol, lembro que houve um Torneio Rio-São Paulo em que alguns gênios da cartolagem resolveram experimentar esquisitice semelhante: a partir de um determinado número de faltas, todas elas passavam a ser punidas com pênaltis. Aí o Denílson pegava a bola e saía driblando, driblando, driblando sem parar, até sofrer uma faltinha qualquer. Ou seja: os caras inventaram outro esporte, diferente do bom e velho futebol em que o objetivo é colocar a bola dentro do gol adversário, e o jeito mais fácil de conseguir isso é através da troca de passes. 
Nunca entendi exatamente a lógica desse critério de desempate pelo fato de um gol fora de casa valer dobrado. Daqui a pouco inventam que gol de zagueiro vale quatro, gol do meio da rua vale três, gol de cabeça vale meio. Gol é gol. Em casa, fora, do meio-campo, do jeito que for. O gol que o Souza fez contra o Grêmio, empurrando pra dentro uma bola que estava quase sobre a linha e com dois ou três adversários caídos, vale o mesmo que o gol que o Ganso fez contra o Grêmio, com um chute sensacional e indefensável da entrada da área. Esse critério do gol fora de casa é tão ruim, mas tão ruim, que na final da Libertadores ele é abandonado. É como se os caras dissessem: bom, até aqui foi só brincadeirinha, mas agora que chegou a hora da decisão de verdade, teremos prorrogação. 
Disputa de pênaltis, claro, nem pensar. João Saldanha dizia que não a aceitava por não concordar que uma partida fosse decidida por penalidades que nenhuma das equipes cometera. Se tivéssemos prorrogação, e não disputa de pênaltis, não teríamos times jogando como aquele ridículo Universitário de Lima fez contra o São Paulo. 
Passei a maior parte da minha vida participando de peladas que, quando terminavam empatadas no tempo normal, eram decididas na base do “primeiro gol acaba”. Os argumentos contrários ao “primeiro gol acaba” no futebol profissional jamais me convenceram. Vi alguns dramáticos e exagerados cogitarem até a possibilidade de jogadores morrerem em campo. Piada. Jogos de tênis às vezes não se estendem por mais de cinco horas? Jogos de vôlei, sobretudo no tempo em que ainda havia a regra da “vantagem”, não duravam uma eternidade? E outra: o cansaço leva ao erro, e os erros tornam qualquer jogo abarrotado de chances de gol. 
Quanto à eliminação de ontem do Flamengo pelo critério do gol fora de casa, não há o que reclamar: foi com ele que o Flamengo eliminou o Coritnhians, é ele que está valendo, e fim de papo. Mas essas situações são sempre boas pra fazer a gente pensar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Três golaços e um segundo tempo alucinante.
Como a defesa do São Paulo é muito firme e o time voltou a jogar com seriedade e eficiência, achei que aquela vaga para a semifinal estava resolvida e decidi assistir a Santos e Grêmio. Sábia decisão. Em primeiro lugar, porque a estupidez do Kléber serviu para, com um minuto de jogo, confirmar o acerto da escolha. Em segundo, porque Santos e Grêmio foi espetacular. Gosto do Kléber. É um cara que eu queria muito no Flamengo, acho até que merecia ter sido testado na seleção – principalmente em tempos de Grafite –, mas é completamente louco. Um jogador com quem, infelizmente, você não pode contar, e daí que chamar pra seleção seria loucura maior que a dele. O juiz talvez tenha sido excessivamente rigoroso, mas a culpa é do Kléber. Por tudo o que já fez, virou um jogador marcado. E assim como o canalha do Ballack, está colhendo o que plantou. Na Vila, no primeiro tempo, o Grêmio marcou muito bem, Douglas dominou o meio-campo, Neymar não viu a cor da bola e Paulo Henrique errou rigorosamente tudo o que tentou. Robinho era o único do peixe que conseguia jogar. No segundo tempo, parecia que os times tinham ido pra casa, tomado banho, dormido e voltado no dia seguinte, porque o jogo foi outro. O Grêmio não acertou mais a marcação (de novo a história de que ninguém consegue marcar daquele jeito durante os noventa minutos), Douglas passou a errar tudo o que Paulo Henrique errara no primeiro tempo e o Ganso fez um gol sensacional, acertando um lindo chute da entrada da área. Duas coisas não mudaram: Neymar continuou apagado (Dorival Jr. não pode obrigá-lo a baixar a gola daquela camisa não?) e Robinho continuou jogando muito. O segundo gol, de Robinho, foi espetacular, e o terceiro, de Wesley, maravilhoso. A verdade é que está difícil encontrar adjetivos para ser justo com o futebol que o Santos vem jogando. Velocidade, toque de bola, precisão e uma confiança inabalável no jogo ofensivo. A registrar: o carioca Marcelo de Lima Henrique errou no gol do Grêmio (Rafael Marques estava impedido quando Jonas cabeceou), mas foi juiz de futebol. O que é algo raro hoje em dia no futebol brasileiro.
Será que é tão difícil assim ajeitar o Palmeiras?
Por causa de rápidos comentários que ouvi dos dois aqui na agência, desconfio que meus amigos palmeirenses Gobato e Tales irão discordar, mas não acho complicado arrumar o time do verdão. Senão, vejamos. Apesar de meio doidinho, Marcos continua sendo um dos bons goleiros do país. Vítor, que veio do Goiás e estreou há dois jogos, foi um dos três melhores laterais direitos do último Campeonato Brasileiro. Sei que Goiás é Goiás e Palmeiras é Palmeiras, mas ele não pode ter desaprendido. No meio da zaga, Léo, Maurício Ramos, Danilo e Edinho poderiam atuar em qualquer equipe brasileira. Nenhum é craque, mas nenhum faz feio. Reconheço que Armeiro é meio atabalhoado (Muricy que o diga) e que a tentativa com Eduardo não foi bem-sucedida. A lateral esquerda, portanto, precisa ser reforçada, mas não é difícil. Pierre é um volante que não deixa o adversário jogar sossegado, Márcio Araújo fez ótimo Brasileirão pelo Atlético Mineiro, Cleiton Xavier é bom armador, Lincoln sabe jogar. Os problemas do Palmeiras – dentro de campo, frise-se – podem ser resolvidos com a contratação de gente para o ataque. Mas tem que ser gente boa de verdade, e não centroavantes empurrados goela abaixo por empresários. Desde que começou a descer a ladeira no ano passado, e sobretudo após o festival de sopapos entre Maurício e Obina, o verdão não teve mais o cara certo para, ao menos, empurrar a bola pra dentro. Alguns times às vezes dão a impressão de que estão longe de acertar, mas basta que se ajeite uma ou outra peça e pronto: o conjunto engrena e a coisa vai. Enquadro o Palmeiras nesses casos. Só que aí vem o outro lado da história. Nunca fui sócio de clube algum, mas sempre ouvi dizer que a política interna de alguns deles é um saco de gatos. Grupelhos, dissidências, conchavos, intrigas, jogos de interesses. E parece que, no Palmeiras, quando as questões internas não estão bem solucionadas, sempre sobra para técnicos, preparadores físicos, jogadores, e o clube entra num círculo vicioso: se o time vai mal, a política acaba de atrapalhar; quanto mais política, pior vai o time. Aí não sei, mas talvez não haja mesmo centroavante que dê certo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Não seria o caso da FIFA intervir nos critérios da arbitragem brasileira?
Na primeira rodada do Brasileirão, Fluminense e Ceará jogaram em Fortaleza. Aos trinta e cinco do primeiro tempo, houve um lance muito bacana. Geraldo, meia-atacante do time cearense, invadiu a área com a bola dominada, pronto para abrir o placar, mas seguido de perto pelo zagueiro tricolor Cássio. Numa jogada que parecia impossível, Cássio adiantou o corpo, esticou a perna e tocou na bola com extrema consciência e absoluta lisura. Da mesma forma que existe o gol de placa, foi um desarme de placa, um toco exemplar, coisa de fazer qualquer negrão da NBA morrer de inveja. Mas o juiz Paulo César Oliveira achou que não. Viu falta e marcou pênalti. Não satisfeito, expulsou Cássio. E ainda não satisfeito, mandou Geraldo bater o pênalti duas vezes, já que o goleiro Rafael se adiantara quando pegou a primeira. Como diria o presidente Lula, nunca antes na história desse país um juiz de futebol conseguiu cometer tantas barbaridades em tão poucos minutos. Fico pensando: se os clubes decidem se levantar contra os desmandos cometidos por uma determinada federação, a FIFA intervém. Se um clube se recusa a jogar em cidades com mais de dois mil e oitocentos metros de altitude, a FIFA intervém. Por que, então, a FIFA não pode intervir nesse absurdo critério de arbitragem que está tornando o futebol brasileiro insuportável, com faltinhas o tempo inteiro e pênaltis a torto e a direito? O esporte é um só, as regras são as mesmas em todo lugar, há torneios internacionais, é óbvio que a arbitragem tem que seguir um único padrão. Alguém poderia mandar para a FIFA um DVD com o jogo entre Fluminense e Boavista pelo Campeonato Carioca desse ano, quando, em menos de trinta minutos, o celerado soprador de apito Rodrigo Nunes de Sá marcou dois pênaltis a favor do Fluminense e expulsou dois jogadores do Boavista. Junto com o DVD, um bilhetinho curto: senhores, aqui está apenas um dos muitos exemplos que temos para mostrar, porque é assim que se apita jogo de futebol no Brasil. Intervenções, por definição, não costumam ser recomendáveis. Mas nesse caso, não estou vendo outro jeito.
O Chivas, mais uma vez, na conta do chá.
Esse time mexicano tem dupla personalidade: em casa, um leão; fora de casa, um gatinho. Repetiu nas quartas de final, contra o Libertad, exatamente o mesmo desempenho das oitavas de final, contra o Velez Sarsfield. Vitória por três a zero como mandante, derrota por dois a zero como visitante, passando um tremendo sufoco e com seu goleiro Sanchez operando milagres. Não adiantou muito torcer pelo time paraguaio de nome bonito. O Libertad tentou até o fim, com excesso de vontade e carência de qualidade. Chivas nas semifinais. E agora, como nada na Libertadores é do jeito que se espera, vai aguardar as definições de hoje e amanhã para conhecer seu adversário. Se Flamengo e Inter passarem, joga contra o Flamengo. Se passarem Flamengo e Estudiantes, joga contra o Estudiantes (nesse caso, o Flamengo, obrigatoriamente, teria que cruzar com o São Paulo ou o Cruzeiro). Mas o mais provável mesmo – tomara que não, mas temos que ser realistas – é que enfrente o Universidade do Chile.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Depois falam do Campeonato Gaúcho.
Terminou o Campeonato Espanhol. O Real Madri, segundo colocado com três pontos a menos que o bicampeão Barcelona, ficou vinte e cinco pontos à frente do Valência (que foi o terceiro) e trinta e três pontos à frente do Sevilla (que foi o quarto). Se fosse aqui no Brasil, já ia ter um monte de gente querendo acabar com esse campeonatinho vagabundo. Na Inglaterra, deu Chelsea de novo. E se não fosse Chelsea, seria Manchester United. Bidu. Na Itália, Inter pela quinta vez consecutiva. E o mais previsível de todos é o campeonato alemão, que sempre começa com o Bayern de Munique como franco favorito e quase sempre termina com o Bayern de Munique campeão. Não deu outra. Não é ufanismo considerar o Brasileirão o campeonato mais disputado do mundo. Mesmo quando o nível não está lá grandes coisas, temos no mínimo sete ou oito times em situação de equilíbrio e em condições de chegar ao título. Como, provavelmente, teremos esse ano.
Avante, Libertad!
Hoje sai o primeiro semifinalista da Libertadores. O Chivas, que se classificou para as oitavas de final pelo critério da gripe suína, tem boa vantagem sobre o Libertad do Paraguai, pois fez três a zero em casa. Se minha mulher me deixar ver o jogo, vou torcer pelo Libertad. O primeiro motivo é que, entre todas as excentricidades desse torneio muito louco, essa talvez seja a maior de todas: time mexicano que vence a Libertadores não joga o Mundial Interclubes e cede a vaga ao vice-campeão. Vai entender. Acho isso tão absurdo que prefiro torcer para que nunca aconteça. O segundo motivo é que é bacana torcer por um time chamado Libertad, não?
Só vendo pra crer.
Carlos Eduardo Lino, do SporTV, comentando Botafogo e São Paulo no domingo: “Ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando teve que lutar até a última rodada pra não ser rebaixado, esse ano o Botafogo tem time para brigar pelo título.” Será? Continuo achando que, se o clube não trouxer bons reforços, vai terminar o Brasileirão novamente no desespero. A conferir.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jogo duro.
Ontem, em São Januário, o Palmeiras entrou em campo sem olhar a escalação do Vasco e sem conferir o calendário. Não estamos em 1997 e do time vascaíno não constam mais os nomes de Edmundo, Juninho Pernambucano, Evair, Mauro Galvão e Felipe. Na semana passada, li uma reportagem sobre o Vasco em que o título era esse: “Jumar, Léo Gago e Caíque. A nova aposta de Gaúcho no Vasco.” Pensei: tá feia a coisa. Mesmo assim, o Palmeiras abriu mão do seu sagrado direito de atacar e jogou o primeiro tempo todo na defesa. Certas coisas ninguém consegue entender. Por exemplo: a função tática do Vítor. Depois de ter se destacado na lateral direita do Goiás por sua capacidade ofensiva, fazendo dois excelentes campeonatos brasileiros, ontem parecia proibido de ultrapassar a linha do meio-campo. Com a renúncia ao ataque por parte do Palmeiras e a total incompetência do Vasco, tivemos um jogo muito duro. Duro de assistir.
Ainda falta muito pro Brasileirão começar de verdade.
Só será possível avaliar melhor o Campeonato Brasileiro lá pela décima-segunda rodada, quando a competição já terá engrenado após o recesso provocado pela Copa do Mundo e depois de mais uma maldita janela europeia. Até lá, e sobretudo nessas sete rodadas antes da copa, os times ainda estarão se adaptando a um campeonato completamente diferente dos estaduais, da Copa do Brasil e da Libertadores, com muito mais equilíbrio, contusões, cartões, desfalques, surpresas e reviravoltas. O início sempre engana. Que eu me lembre, até a quinta ou sexta rodada do Brasileirão 2009, o Náutico estava entre os primeiros colocados – e acabou sendo um dos quatro que partiram para a segundona. Das equipes consideradas candidatas ao título, nesse momento só o Corinthians tem o Campeonato Brasileiro como prioridade. Tentei utilizar esse critério para escolher o jogo que ia ver às quatro da tarde de ontem, e foi impossível. No Morumbi, o São Paulo enfrentava o Botafogo muito mais preocupado com o Cruzeiro da próxima quarta. No Olímpico, o Grêmio pouco queria saber do Corinthians: só pensava no Santos. Na Vila, o Santos não dava a mínima para o empate com o Ceará, pois tudo o que importa agora é vencer o Grêmio. E no Serra Dourada, o Inter encarava o Goiás com a cabeça voltada para o Estudiantes. Times lotados de reservas, jogadores tirando o pé, frieza, falta de interesse, um saco. Mas, depois da Copa, o campeonato começa.
Multa por burrice.
Alguns clubes multam seus jogadores que levam cartões amarelos por bobagens – e é justo. Como também seria justo se houvesse punição para certos tipos de jogadas inadmissíveis em profissionais. Não reclamo de erros que fazem parte do jogo. Gols perdidos, frangos, falhas de zagueiros, isso acontece até com os craques. Reclamo da displicência, da brincadeira dentro da área, da burrice. No jogo de sábado entre Vitória e Flamengo, disputado no Barradão, o campo parecia o Maracanã naquele primeiro tempo de Flamengo e Corinthians. Como o Flamengo marcou seu gol com menos de três minutos, quando ainda havia um mínimo de condição de jogar futebol, não era tão complicado garantir a vitória, já que ninguém conseguia criar chance alguma. Chutes de fora de área, nem pensar. Era impossível ajeitar a bola, aprumar o corpo e bater, o gramado não permitia e sempre alguém chegava junto. Só dava mesmo pra fazer cruzamentos na área e pedir a Deus que algo acontecesse. Até que, aos quarenta do segundo tempo, o meia Elkesson, do Vitória, tentou entrar na zaga carregando a bola, repetindo uma jogada que já fora feita várias vezes pelos dois ataques, sem qualquer chance de sucesso. Mas num lampejo de ignorância desmedida, Fierro decidiu parar o lance com um carrinho por trás, oferecendo ao time baiano a única possibilidade de chegar ao gol. Falta marcada, cobrança bem feita, um a um no placar. Fierro merecia, no barato, uns quarenta por cento de desconto no salário. Pra deixar de ser burro.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pelé é outro que nunca leu o blog. Mas que também apoia.
Mesmo encantado com o futebol dos meninos da Vila, Pelé é mais um craque – e logo o maior de todos, em todos os tempos – a avalizar a opinião do blog. Quanta honra! Vejam o que disse o Rei: “Realmente, o fato de Neymar e Paulo Henrique não terem sido testados influiu muito. Temos que aceitar que o Dunga está certo.” Além disso, Pelé deixou claro que jogou a Copa de 58 com dezessete anos, sim, mas já tinha sido convocado para a Copa Roca (troféu que era disputado por Brasil e Argentina, e que serviu para adubar a rivalidade) e para as eliminatórias. Em outras palavras: a amarelinha pesa. E só pode entrar numa Copa do Mundo quem já tiver vestido a bichinha.
Raí nunca leu o blog. Mas apoia.
"Em nenhum outro país do mundo surgem três, quatro jogadores da qualidade do Neymar, do Ganso, em tão pouco tempo. O Dunga ficou numa sinuca de bico por ter havido só um amistoso no ano. Tenho certeza de que, se a seleção tivesse mais amistosos em 2010, ele teria chamado mais gente para conhecer." Essa declaração é do Raí, e o blog se orgulha de estar em tão ilustre companhia. Porque, nas entrelinhas, o que ele quis dizer é que não dá mesmo pra levar sem testar (veja o post de 12.05). Se não houve como testar, azar do Neymar, do Ganso, do Dunga e de todos nós, torcedores brasileiros. Tomara que eu me engane, mas creio que teremos uma equipe amarrada, jogando à base de muita marcação, confiando no talento de Robinho e Kaká, e apostando no oportunismo de Luís Fabiano. Qualquer semelhança com o time de 94 está longe de ser mera coincidência. Ontem eu vi o segundo tempo de Inter e Estudiantes, no Beira-Rio. Jogo típico de Libertadores: brigado, tenso, pegada forte, poucas chances de gol, o time argentino recuado, até Cristina Kirchner rebatendo bolas na zaga. Lá pelos vinte minutos do segundo tempo, Taison saiu do banco e entrou no lugar de Walter. Exatamente: Taison estava no banco. Não quero comparar nada e nem ninguém, mas vocês lembram o que era o Taison nessa mesma época do ano passado? Tinha comido a bola no Campeonato Gaúcho, fazia uma Copa do Brasil espetacular, começara muito bem o Campeonato Brasileiro. Um jogador inteligente e habilidoso, dono de muita velocidade e bom chute. Ele e Nilmar faziam uma dupla infernal. Coitado do técnico da seleção brasileira se fizesse uma convocação àquela altura e não levasse o Taison. Pois agora, apenas um ano depois, o cara é reserva do Inter, senta no banco e bate palmas para o ainda desconhecido Walter e o esforçado Alecsandro. Não tem jeito: infelizmente, esse assunto de Neymar e Ganso ainda vai durar muito. E se o Brasil não ganhar a Copa, deve chegar até 2014.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A atuação do São Paulo foi um belo presente de aniversário para o meu amigo Roger.
Eu estava pensando em preparar um post falando da diferença que existe entre um cara que sabe jogar bola e um homem de referência. Mas a estreia do Fernandão tornou o post desnecessário. Não sei se a contratação dele foi tão espetacular assim, porque há muito tempo Fernandão não vem jogando bem: sua última temporada no Inter tinha sido fraca e seu retorno ao Goiás foi decepcionante. Mas é um jogador inteligentíssimo, que pode ajudar a recolocar o tricolor no trilho. Ontem, pela primeira vez na Libertadores e pela primeira vez em 2010, o São Paulo voltou a ser o São Paulo que a gente se acostumou a ver: muito firme na zaga e preciso no contra-ataque. Um time que cansa e irrita o adversário pela solidez defensiva, não cria tantas chances, mas quase sempre aproveita as poucas chances que cria. Até o Pedro Yoshizuka, que sabe tudo de bola e é um crítico ferrenho do Ricardo Gomes, há de reconhecer que a equipe foi muito bem armada. Além disso, o time cresce muito quando algo ou alguém dá uma chacoalhada no Hernanes e ele começa a jogar. Creio que, se não fossem seus constantes e inexplicáveis apagões, ele certamente estaria entre os vinte e três soldadinhos do Dunga. Vale destacar, ainda, que o São Paulo não ganhou do Caracas, do Emelec ou de outro timeco qualquer. O Cruzeiro é um grande time, e por isso acredito que na semana que vem teremos outro jogaço. A torcida do São Paulo pode se animar novamente, mas só deve ter cuidado com essas bobagens de Jason e “o campeão voltou”. A última vez em que ela cantou isso foi no Brasileirão do ano passado e, dezessete anos depois, o campeão acabou voltando mesmo.
Pra fazer isso, era melhor que o Corinthians tivesse seguido.
Quando ficou definido que Corinthians e Flamengo se enfrentariam nas oitavas de final, tive duas conversas diferentes com meus amigos corintianos Alex Borba e Magalha. Borba dizia que o primeiro jogo, no Maraca, estava com pinta de zero a zero. Eu afirmava que era impossível, porque o Flamengo não conseguia sair de campo sem tomar pelo menos um golzinho. Errei. Favorecido pelo gramado inundado no primeiro tempo e pela surpreendente apatia do Corinthians no segundo, o Flamengo não levou gol e ainda achou o seu, num lance de precipitação do Moacir. Minha conversa com Magalha foi outra. Nós dois achávamos que, se o Corinthians passasse pelo Flamengo, daria um grande passo para brigar pelo título. Mas se o Flamengo passasse pelo Corinthians, não iria muito longe. E a explicação era simples: um se preparou, o outro não. O Flamengo tem dois problemas bem nítidos, que já foram apontados várias vezes aqui no blog: o time não sabe jogar Libertadores (ao contrário do São Paulo, por exemplo) e tem uma defesa padrão série C. Além disso, houve erros individuais imperdoáveis: David no primeiro gol, Bruno no segundo, Léo Moura no terceiro e os inacreditáveis gols perdidos por Adriano e Vágner Love no final do primeiro tempo, que fariam a partida virar empatada e poderiam mudar tudo. E vocês sabem quem entrou muito mal no jogo? O Michael. Novidade. Morando em São Caetano fica difícil, mas eu gostaria de assistir a um treino do Flamengo, só pra ver o Michael. Ele deve arrebentar, porque não é possível que ele faça nos treinos a mesma coisa que faz nos jogos – e que, ainda assim, seja escalado. Agora o time precisa vencer por dois gols de diferença em Santiago, e pra isso vai ter que mostrar muito mais do que mostrou até agora. Impossível não é, mas eu não acredito.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Não concordo com a lista do Dunga. Mas também discordo de todo mundo.
Sei que vou desapontar os pouquíssimos e fiéis leitores desse blog, mas eu também não teria convocado os jogadores que todos estão pedindo. Hoje tá muito na onda esse papo de que futebol é alegria, futebol é ser feliz, futebol é cabeça fresca, entra lá e se diverte. Sei. Alguém aí se lembra de Portugal e Holanda na Copa de 2006, considerado por muitos o jogo mais violento da história das copas? Então: entra lá e se diverte que eu quero ver. Seleção é seleção. E Copa do Mundo, nem se fala. Dois exemplos para ilustrar. O primeiro é do grande Maradona. Depois de eliminar a seleção brasileira na Copa de 90, com uma jogada sensacional que terminou no gol de Caniggia, Maradona foi entrevistado. Um dos nossos repórteres perguntou como ele explicava o fato de ter sido anulado pela equipe brasileira um ano antes, na Copa América, e de ter superado a marcação com facilidade no último jogo. A resposta de Maradona foi tão genial quanto a bola que jogava: “Copa do Mundo é Copa do Mundo, Copa América é Copa América.” O segundo exemplo é do Edmundo. Pouco depois da Copa de 98, com toda a confusa e mal explicada história da convulsão de Ronaldo na concentração brasileira, vi o Animal numa mesa redonda confessar que sentiu um frio na barriga, ao receber a notícia de que jogaria a decisão contra a França. Justo o Edmundo, reconhecidamente um cascudo – o que só serve pra reforçar: Copa do Mundo é Copa do Mundo. Se por um lado o talento de Neymar e Paulo Henrique é indiscutível, por outro fica a constatação de que nunca foram testados na seleção brasileira principal. E cá entre nós: quando foram testados nessas subseleções que existem por aí, decepcionaram. Tanto Neymar na sub-17, quanto Paulo Henrique na sub-20. O problema é que eles começaram a arrebentar, de verdade, só esse ano, quando a temporada de amistosos da seleção já terminara. E aí, fazer o quê? Levar pra Copa do Mundo dois caras que nunca vestiram a camisa da seleção principal? Eu não levaria. Isso aconteceu com Maradona em 78, aconteceu com Zico em 74. Tivessem jogado em 2009 o que estão jogando em 2010, com certeza Neymar e Paulo Henrique estariam na lista. Como não jogaram, agora só na próxima. Minha opinião sobre Adriano está em um dos primeiros posts do blog, publicado em 15 de março com o título “Os dois Adrianos”. Resumindo: o Flamengo precisa ter paciência com Adriano; a seleção, não. Todo mundo que gosta de futebol é (ou foi) fã do Ronaldinho Gaúcho. Mas já deu, não? Nessa última temporada, ele até ameaçou. Olhou para um lado e tocou pro outro, dançou, ciscou, deu passes preciosos contra times pequenos, fez gols bonitos em jogos fáceis, mas não ajudou o Milan a chegar a lugar algum e está longe, muito longe de ser vinte por cento do jogador que já foi. O grande problema da lista do Dunga não está nos jogadores esquecidos: ao contrário, está em alguns nomes que foram lembrados. Mas isso é assunto para outro post.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Classificado de emprego: estão precisando de gente para organizar tabela na CBF.
O Campeonato Brasileiro de 2009 terminou no dia 6 de dezembro, e às dezenove horas já se sabia que Flamengo, Inter, São Paulo, Cruzeiro e Corinthians seriam nossos representantes na Libertadores 2010. Mesmo que as datas da Libertadores ainda não tivessem sido divulgadas pela Conmebol, a experiência dos anos anteriores revelava que nas primeiras semanas de maio teríamos as fases de oitavas e quartas de final. Mas o gênio que organiza a tabela do Brasileirão pôs, na primeira rodada, Flamengo e São Paulo se enfrentando no Maracanã. Não satisfeito, fez Inter e Cruzeiro jogarem no Beira-Rio. Tanto o Flamengo quanto o São Paulo entraram em campo com sete reservas, e disputaram um dos grandes clássicos do futebol brasileiro diante de onze mil torcedores, sendo pouco mais de sete mil e quinhentos pagantes. Flamengo e São Paulo no Maraca, pelo Brasileirão, é jogo pra mais de setenta mil pessoas. Inter e Cruzeiro não fizeram diferente: cada um entrou em campo com quatro ou cinco titulares e o jogo teve pouco mais de catorze mil torcedores. Custava ter parado trinta segundos para pensar?
Da série “A língua é o chicote do corpo” (3).
No último domingo, a Globo estreou o programa “Passaporte África”, apresentado por Alex Escobar, e eu lembrei de uma boa dele. Corria a Copa de 2006 e Escobar comentava o jogo entre Inglaterra e Paraguai. O narrador fez uma chamada para o jogo da tarde, Suécia x Trinidad e Tobago, e pediu a opinião do comentarista. Escobar mandou de prima: “Ah, esse é um jogo pra quem gosta de ver gols.” Aí disse que a Suécia era um time muito superior, que tinha o Ibrahimovic, que era forte no jogo aéreo, que isso, que aquilo. Resultado do jogo da tarde: zero a zero, mesmo com Trinidad e Tobago tendo que atuar o segundo tempo inteiro com um a menos. Quem gosta de ver gols ficou a ver navios.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ponto corrido é o antifutebol. 
Começou neste final de semana o campeonato mais difícil do mundo. O líder joga contra o lanterna, e é jogo duro. (No ano passado, o campeão Flamengo tomou um catiripapo de cinco a zero do Coritiba, que acabou rebaixado. Ou seja: tudo pode acontecer.) Mas não gosto do sistema de pontos corridos, e acho que o principal problema é conceitual. 
Seus defensores levantam a bandeira de que só os pontos corridos garantem a justiça, por premiar quem se organiza, quem se planeja, quem é mais profissional. E aí é que entra a questão do conceito: não faz sentido querer associar o futebol à justiça. 
Futebol é um esporte em que você pode ter um time muito melhor que o do seu adversário, você pode massacrar o seu adversário, você pode chutar trinta bolas na trave do seu adversário. Mas se no último minuto o seu adversário arma o contra-ataque, vai lá e faz o gol, você perde o jogo. 
Não há nada mais tolo do que isso que a gente vê a toda hora na tevê: o Fluminense domina a partida e tritura o Madureira, mas nada de balançar a rede. O Madureira dá uma escapada meio sem-vergonha, faz o gol, volta todo pra defesa e ganha o jogo. Aí o narrador pergunta ao comentarista: fulano, foi justo o resultado? E o comentarista responde com uma tolice maior ainda: sim, foi justo porque o Fluminense não teve competência para aproveitar as oportunidades que criou, enquanto o Madureira soube converter a única que teve. Ora, bolas! 
Futebol não tem nada de justiça ou de merecimento: futebol é bola na rede. Você não ganha um jogo de futebol por pontos, como no boxe. Se você jogar muito melhor, mas ficar no zero a zero, é um ponto pra cada time e fim de papo. O jogo é assim, e quem não gostar que invente outro. Defender os pontos corridos em nome da justiça é, portanto, ir contra o preceito básico do futebol. É ir contra uma das características que o fazem ser tão sensacional. 
Outra coisa: claro que as zebras são sempre divertidas, mas o momento sublime do futebol está mesmo é nos grandes clássicos. Nenhum corintiano vai dizer que o jogo da sua vida foi Corinthians e XV de Piracicaba disputado no Parque São Jorge. Vai ser sempre um Corinthians e São Paulo no Morumbi, um Corinthians e Palmeiras no Pacaembu, por aí. Só que, como as partidas entre os grandes costumam ser equilibradas (X ganha de Y que ganha de Z que ganha de X), os campeonatos por pontos corridos acabam decididos pelos jogos contra os pequenos. Aí, quando a gente vai ver, o Cruzeiro não foi campeão brasileiro por ter derrotado o Palmeiras, o Vasco e o Santos: o Cruzeiro foi campeão por não ter perdido pontos para o Figueirense, o Paysandu e o América de Natal. 
Campeonato que se preza tem que ter final. Tem que ter decisão. Pergunte a qualquer gremista sobre quem foi o vice-campeão brasileiro em 81, quando o Grêmio ficou com o título. Todos, sem exceção, vão saber que foi o São Paulo. Pergunte a qualquer são-paulino quem foi o vice-campeão brasileiro em 2006. Pouquíssimos sabem. 
Por fim, há o problema que aconteceu nas duas últimas edições do Brasileiro. Em 2008 o São Paulo liderava e o Grêmio vinha em segundo. O São Paulo tinha um jogo difícil contra o Inter, no Morumbi, e o resultado interessava ao Grêmio. Alegando compromisso importante na Copa Sul-americana, o Inter escalou um time misto, levou um baile e praticamente acabou com as chances do rival gaúcho. Em 2009 veio a forra: sem ter nada a ganhar ou a perder, o Grêmio mandou um time com sete reservas ao Maracanã, perdeu do Flamengo e fez o Inter morrer na praia. 
Para acabar com essa confusão e eliminar qualquer tipo de suspeita, é muito melhor que os jogos decisivos sejam disputados por quem está na briga. Mata-mata já!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O artilheiro sem dentes e o bandeirinha que marcou o que não viu.
O blog exige sacrifícios. Ontem eu vi Universidade do Chile e Alianza de Lima. O time chileno jogava pelo empate, já que tinha vencido a partida de ida no Peru. No primeiro tempo, o centroavante da equipe peruana abriu o placar e, na comemoração, apontava orgulhoso para o lugar onde faltam dentes em sua boca. Juro. No segundo tempo, o bicho pegou. O Universidade do Chile chegou ao empate e parecia que a classificação tava no papo. Mas lá pelos trinta minutos, o técnico argentino que dirige o Alianza de Lima pôs em campo um pesado atacante chamado Montaño. A essa altura, minha mulher estava vendo o jogo comigo. (Vocês pensam o quê? Casamento é assim. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Às vezes eu vejo Viver a Vida, às vezes ela vê os minutos finais de Universidade do Chile e Alianza de Lima.) Pois bem. Quando Montaño entrou, Valéria observou que ele tinha a barriga do Fenômeno e a bunda do Obina. O cara é habilidoso toda vida, mas não é à toa que só joga quinze minutos. Eu sei que, aos quarenta e dois, Montaño fez uma linda jogada pela direita e deixou o centroavante desdentado cara a cara com o goleiro chileno. Dois a um para o Alianza de Lima e o jogo parecia liquidado. Mas aos quarenta e seis, depois de uma engraçadíssima confusão na área, com braços e pernas sobrando pra tudo quanto é lado, e quem gosta de futebol morrendo de pena da bola, o chileno Seymour bateu, um dos zagueiros peruanos desviou de cabeça, o goleiro não pôde fazer nada. Havia dois jogadores do Universidade do Chile em posição de impedimento, mas nenhum dos dois interferiu na jogada. Só que, sem ter visto com certeza em quem a bola tinha batido, o bandeirinha não correu pro meio. O juiz foi lá falar com ele, pressão chilena, pressão peruana, argumentos daqui, argumentos de lá, até que o juiz confirmou o gol. Os caras de pau dos peruanos – que sabiam que a bola tinha sido tocada por seu próprio zagueiro – não se conformaram. Liderados pelo tal treinador agentino, então transtornado, partiram pra cima do juiz, o pau comeu de leve, entrou polícia e o jogo só recomeçou dez minutos depois. Enfim, Libertadores. Universidade do Chile é o adversário do Flamengo nas quartas de final.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Uma pena que um jogo como esse tenha acontecido nas oitavas de final.
O post do dia 26 de abril (“O Santo André tem um bom time. Mas é pouco pro Santos.”) explica um pouco do que aconteceu no jogo de ontem. É absolutamente impossível um time jogar os noventa minutos com a concentração, a disciplina tática e a disposição física que o Corinthians teve no primeiro tempo. O Flamengo simplesmente não existiu, porque o Corinthians não permitiu que o Flamengo existisse. Mas é uma estratégia kamikaze, porque se você não definir o jogo, a casa cai. E o time do Mano cometeu este erro fatal: não matou o jogo. Se faz três, um abraço. Apesar do Flamengo 2010 ser um time cheio de problemas e bem menos eficiente do que o Flamengo 2009, o ataque é forte, não apenas pela velocidade do Vágner Love e a perna esquerda do Adriano, mas porque Léo Moura e Juan apoiam o tempo inteiro. O time se expõe demais, é verdade, mas quase sempre faz gol. Fez. E aí o jogo virou, já que o Corinthians não tinha a menor condição física de jogar no mesmo nível do primeiro tempo. O Corinthians levou a Libertadores muito mais a sério e se preparou muito melhor para ela do que o Flamengo. Mas na hora em que bola rola, pouco importa. Por isso que mata-mata é tão bacana.
Jogão na semifinal da Copa do Brasil.
Santos e Grêmio têm tudo para fazer dois grandes jogos, e quem passar deve ficar com a taça. O Vasco bem que tentou. Correu até o fim, Phillipe Coutinho deu dois belos passes no segundo e no terceiro gols, mas a tarefa era dura. Já a do Fluminense era mesmo impossível. Como ele mesmo gosta de dizer, Muricy vai ter trabalho. E o que foi aquela disputa de pênaltis entre Palmeiras e Atlético Goianiense? Eu, que já tinha ficado impressionado com as cobranças do Universitário contra o São Paulo, custei a acreditar no que vi. Até o Clayton Xavier, bom chutador, talentoso e frio, entregou a bola nas mãos do goleiro Márcio. O Palmeiras tinha tudo pra seguir no torneio, mas o caldeirão explodiu no clube, Diego Souza perdeu a cabeça, ergueu o dedo pra torcida, detonou o clima e não foi pro jogo. Ele faz falta.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Por que a Libertadores mexe tanto com os nervos do futebol brasileiro?
Quanto mais eu assisto aos jogos da Libertadores, menos eu entendo o diabo desse torneio. São Paulo e Universitário é um bom exemplo. Se a gente pegasse o time peruano, com exatamente os mesmos jogadores, o mesmo técnico, a mesma torcida com pinta de que a qualquer hora vai sacar suas flautas e começar a tocar “El Condor Pasa”, se a gente pusesse essa equipe no gramado do Morumbi com a camisa do Ituano e dissesse que o jogo valia pelo campeonato paulista, o São Paulo teria vencido por cinco ou seis a zero, com três ou quatro gols do Fernandinho. Mas como é Libertadores, fica uma tensão, um nervosismo, uma pressa e, consequentemente, uma falta de competência inadmissíveis. Isso talvez explique por que os argentinos têm mais facilidade do que nós para disputar (e ganhar) a Libertadores. Eles jogam com garra, brigam, se entregam, mas fica a impressão de que encaram como uma disputa normal – e por isso conseguem manter seu padrão de jogo. O Estudiantes jogou a primeira partida das oitavas de final, lá no México, com um time misto. Posso imaginar os motivos: o Estudiantes lidera o Campeonato Argentino, deve ter feito algum jogo difícil no fim de semana, a partida contra o San Luís foi na terça-feira seguinte, não pensaram duas vezes: mandaram um mistão e ganharam de um a zero. (Se o Flamengo tivesse feito o mesmo, os resultados dos jogos contra o Universidade Católica e o Botafogo poderiam ter sido diferentes.) Deixa eu perguntar: o São Paulo não sabia que o time do Universitário é de dar dó? O que é que esse pessoal de comissão técnica fica fazendo, que não tem informações detalhadas sobre os adversários? Nem precisa muito trabalho: basta olhar a tabela. Nos sete jogos que disputou, o Universitário empatou quatro deles em zero a zero e marcou apenas cinco gols. O São Paulo já tinha jogado a primeira fora de casa e já sabia que aquele time tem um ataque de riso. Então, pra que Rodrigo Souto protegendo a zaga? Protegendo a zaga de quê? De quem? Não tenho paciência com essa aberração chamada “homem de referência”, mas ontem o Washington tinha que ter entrado de cara. Outra pergunta, agora referente ao Universitário: se um time tem batedores tão horrorosos, por que levar o jogo para a decisão por pênaltis? Ô torneiozinho difícil de compreender! Não vi o jogo todo entre Velez e Chivas, mas o que vi foi emocionante. Os argentinos fizeram o primeiro gol logo aos três minutos (precisavam vencer por quatro a zero), lutaram até o fim, pressionaram o tempo inteiro, perderam uma infinidade de chances, fizeram o segundo no finzinho e saíram de campo eliminados, mas aplaudidos pela torcida. Se bem que não dá pra levar muito a sério uma torcida que incentiva seu time cantando ilá-ilá-ilariê-ô-ô-ô.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Gol anulado do Santo André.
Gosto de conversar sobre critérios de arbitragem, mas acho bobagem discutir lances específicos. Erros de juízes vão existir sempre, e o futebol tem uma dinâmica tão grande que até um lateral invertido pode mudar a história de um jogo. Tenho visto na TV, cada vez com mais constância, um raciocínio extremamente simplista sendo usado para definir quando um juiz interferiu ou não no resultado: o jogo acabou três a dois para o Santo André e o time do ABC teve um gol mal anulado; logo, o jogo teria terminado quatro a dois e o Santo André seria campeão. Ingenuidade, não? O tal gol anulado aconteceu quando o placar ainda estava em um a um, com menos da metade do primeiro tempo, e é óbvio que, caso validado, a história da partida seria bem diferente. Tanto o Santo André poderia mesmo ganhar por quatro a dois, quanto o Santos poderia virar, fazer cinco a três, sei lá. Só sei que o raciocínio é torto. Já vi, sim, erros específicos dos árbitros definirem partidas e até títulos. Houve uma decisão de campeonato carioca, entre Fluminense e Botafogo, em que o Botafogo jogava pelo empate e o Fluminense fez um a zero com um gol de Lula aos quarenta e três do segundo tempo, depois de uma falta escandalosa do lateral Marco Antônio no goleiro Ubirajara. Aí, sim: faltando dois minutos para acabar o jogo e proporcionando o gol decisivo, um erro desses é fatal. Na semana passada, pela Copa do Brasil, a partida no Palestra Itália estava zero a zero e Leonardo Gaciba marcou um pênalti contra o Atlético Goianiense aos quarenta e oito do segundo tempo. Gol de Clayton Xavier, vitória do Palmeiras. Se aquele pênalti tivesse sido mal marcado (acho que foi pênalti mesmo), o erro teria sido determinante para o resultado. Mas não sendo em casos como esses, nada a ver. Não é legal atribuir uma conquista tão bacana como essa do Santos a um erro de arbitragem. E, sobretudo, não há coerência em acusar de favorecimento proposital à equipe santista um juiz que expulsou três jogadores do time.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sim, é possível: ser campeão e jogar bonito.
Vi a decisão entre Santos e Santo André pelo SporTV. Logo após o gol de Branquinho (bom jogador) e pouco antes de terminar o primeiro tempo, o comentarista Maurício Noriega afirmou que “o Santo André tem um baita time”. Desde que acompanho futebol, e bota tempo nisso, devo ter visto no máximo uns quinze baitas times no futebol brasileiro, e é certo que o Santo André não está entre eles. Não compreendo esses exageros em classificar times bonzinhos de “baitas times” ou essa pressa em carimbar como craques jogadores que ainda são promessas. Depois de fazer um excelente primeiro tempo, em que não deu a mínima para o cartaz dos meninos da Vila, o Santo André fez um segundo tempo sem qualquer inspiração. Jogando com um a mais num campo superespaçoso, já que apenas dezessete jogadores corriam atrás da bola em vez dos habituais vinte, o time não teve paciência, não soube virar o jogo de lateral pra lateral e não conseguiu cansar o peixe. Criou pouquíssimo, mal entrou na área santista e teve somente uma boa chance de gol, quando a bola escorada por Rodriguinho bateu na trave. Três a dois para o Santos na primeira partida, três a dois para o Santo André na segunda. O mesmo placar, com uma vitória pra cada lado, deixa claro o equilíbrio, certo? Errado. E nada melhor do que o jogo de ontem pra mostrar isso. Basta imaginar o time do Santos virando do primeiro para o segundo tempo com três a dois a favor, um a mais em campo e aquele espaço todo para trabalhar. Era massacre na certa, coisa pra cinco ou seis. De qualquer modo, não há dúvida de que o Santo André merece aplausos, principalmente pela volta por cima depois da campanha mixuruca que levou o time à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Mas os aplausos mais entusiasmados vão, claro, para o campeão. É muito divertido ver o Santos jogar, embora eu continue a achar que o time precisa de mais equilíbrio entre defesa e ataque, além de resolver três problemas muito claros dos seus principais jogadores. Com a habilidade que tem, Robinho deveria ser bem mais produtivo. Mas isso a gente sabe desde que ele começou, e parece não ter mais jeito. Neymar é um atacante fantástico, mas tem que cair menos. Quando for para a Europa, ou até mesmo se ficar por aqui e tiver que encarar uma Libertadores, vai penar. E a receita pra curar o mal de Paulo Henrique, infelizmente, não pode mais ser ministrada: Telê Santana. O Ganso joga muito, mas é mascarado toda vida. Telê não descansaria enquanto não o enquadrasse e o fizesse perceber que, com um pouco menos de marra, um time tão superior quanto o do Santos não sofreria tanto pra conquistar um título em cima do Santo André.
Grêmio e Atlético, campeões desde a semana passada.
As conquistas do Grêmio e do Atlético Mineiro foram conseguidas no outro domingo, e apenas ratificadas ontem. Agora, se o Inter não passar pelo Banfield no meio da semana (é possível, mas não vai ser fácil), o técnico Jorge Fossati provavelmente voltará a levantar seus títulos no ar rarefeito. Já em Minas, e por mais paradoxal que pareça, a taça do Atlético tem efeito contrário para o prestígio de Vanderlei Luxemburgo: nos últimos anos, Luxa vem deixando marcada sua imagem como técnico de estaduais. Muito pouco para quem já se achou o melhor treinador do mundo.