quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Salve geral.
No post de apresentação, publicado no dia dez de março, eu explicava as razões do lançamento do blog. Mas tem outra coisa importante que não aparece ali. Quase todo dia, aqui na agência, a gente saía para almoçar e futebol era assunto obrigatório. Daí, pensei: se todo dia eu converso sobre futebol, por que não posso escrever sobre futebol duas ou três vezes por semana? Talvez seja divertido. E está sendo. 
Igual a todo mundo que fala de futebol, o blog acertou e errou num monte de coisas, o que não tem nada a ver com entender ou não do assunto. A grande verdade é que ninguém entende de futebol. Melhor: entender de futebol não adianta nada quando se trata de arriscar quem vai ganhar o jogo ou quem vai ser campeão. De futebol não se entende; de futebol se gosta ou não. 
O blog acertou, por exemplo, quando apostou no Fluminense como um dos fortes candidatos ao título do Brasileirão, mas errou ao não incluir o Cruzeiro na briga. (Eu achava que a interdição do Mineirão ia trazer muito mais prejuízos técnicos do que trouxe.) Acertou quando, lá no meio da competição, afirmou que o São Paulo despontava como um dos favoritos para a Copa do Brasil 2011. Errou feio quando viu no time do Palmeiras qualidades que nem mesmo os palmeirenses conseguiam enxergar. Por outro lado, pelo menos até agora o blog tem acertado ao perceber um certo charlatanismo no desempenho do Felipão. 
Depois de assistir ao jogo entre Guarani e Flamengo, ainda no primeiro turno, escrevi um post em que me dizia surpreso por não ver aqueles dois times horrorosos na zona do rebaixamento. Foi só questão de tempo: o Guarani acabou rebaixado e o Flamengo precisou do auxílio luxuoso de terceiros para escapar. Na Copa, o blog acertou em não acreditar na seleção argentina e errou quando alimentou esperanças vãs em relação ao time de Dunga, sobretudo após os enganosos três a zero em cima do Chile. 
Mas a grande vitória do blog foi conseguida junto à rapaziada. É legal ver o Thomas comentando as bizarrices rubro-negras, o Jaime reclamando de tudo e xingando todos, o Beto protestando contra a ausência de elogios ao Grêmio, é legal encontrar a Camilinha no corredor da agência e ela cobrar o post do dia. Ou, como aconteceu num dos últimos textos – que falava sobre a possível vinda de Adriano para o Corinthians –, ouvir do Saulo e da Fernanda que os argumentos do post fizeram com que eles mudassem de opinião. Aí é bem bacana. 
O blog está de férias até a segunda quinzena de janeiro, voltando quando já estiver encerrada a temporada de especulações e com os times mais ou menos definidos. 
Valeu, gente.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Val Baiano e a carne moída com chuchu.
“Perdi meu pai com um ano e quem segurou a onda foi minha mãe. Minha avó também ajudou a sustentar minhas duas irmãs e mais um irmão. Hoje, na minha família, todo mundo depende de mim. Joguei no Poções e fiquei um ano sem receber salário. Depois fui para o Paraná, joguei no Toledo e no Grêmio Maringá, e foram mais de três meses sem receber. Minha mãe ligava, perguntava se estava tudo bem, e eu falava que sim. Mas era difícil. Aquele frio no Sul e eu sem um real pra poder tomar um refrigerante, comendo só aquele cortado de carne moída com chuchu. Agora estou aqui. O Flamengo é meu décimo-quinto clube. Foi um longo caminho”. 
A história de Val Baiano é bastante triste. O problema é que histórias tristes não fazem de ninguém um bom centroavante.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O São Paulo parece ter entendido que precisa repensar seu modelo.
Quando cheguei em São Caetano do Sul, em maio de dois mil e cinco, o São Paulo tinha menos títulos brasileiros do que o Flamengo, o Palmeiras e o Vasco, e o mesmo número de Corinthians e Internacional. Já conquistara duas vezes a Libertadores, o que o igualava a Santos e Cruzeiro. Ou seja: em termos de retrospecto e ranking, estava ali no bolo. 
A partir daquele ano, as coisas começaram a mudar. Com a conquista da Libertadores em dois mil e cinco e do Brasileirão nos três anos seguintes, o clube passou a ser o grande ganhador de títulos do nosso futebol. Colhia os frutos de sua organização e se destacava diante dos quase sempre esculhambados adversários. 
O problema é que, nos dois últimos anos, o São Paulo sequer chegou à final dos três torneios que disputou. A saber: Campeonato Paulista, Corinthians e Santos no ano passado, Santos e Santo André esse ano; Campeonato Brasileiro, Flamengo e Inter no ano passado, Fluminense e Cruzeiro esse ano; Libertadores, Estudiantes e Cruzeiro no ano passado, Inter e Chivas esse ano. Aí, parada obrigatória para pensar. Surpreso com a má performance do time em dois mil e nove e dois mil e dez, cheguei a uma tese que reconheço ser controversa. Mas é uma tese. 
Nem o mais fanático são-paulino olha para seus últimos elencos vencedores e enxerga um só craque que seja. As conquistas se basearam na organização do clube e na solidez do sistema defensivo. Nenhum dos recentes times campeões do São Paulo tinha um cara jogando tanto quanto o Pet jogou no Brasileirão do ano passado ou o Conca e o Montillo no desse ano. Era, sobretudo, a vitória da organização. Só que aí aconteceram dois fatos que mexeram nessa história: a crise econômica mundial de dois mil e oito – não por acaso, o último ano de título tricolor – e a entrada firme de patrocinadores no futebol brasileiro. 
Por um lado, a falta de grana diminuía a farra no mercado europeu; por outro lado, Olympikus, Seara, Unimed etc. injetavam dinheiro pesado em alguns clubes. Foi assim que Adriano desembarcou no Flamengo, Vágner Love no Palmeiras, Roberto Carlos no Corinthians, Fred no Fluminense, foi assim que Robinho voltou para comandar o endiabrado Santos do primeiro semestre desse ano. E aí o São Paulo descobriu que o craque ganha da organização. 
É óbvio, é claro, é evidente, que você precisa ter planejamento, CT, disciplina, estádio etc. Mas quem ganha jogo é o craque. Quando ninguém tem craque e só você é organizado, provavelmente você vai ganhar. Mas quando os craques estão com a camisa adversária e você entra só com a organização, suas chances começam a diminuir. Não é à toa que os sites especializados têm noticiado que o São Paulo anda à procura de um bom meia, e as especulações citam Alex, Wagner e Thiago Neves. Bons nomes, embora eu ache que o Thiago Neves seja mais fama do que proveito. 
De qualquer modo, o São Paulo começa a se movimentar. E dá toda a pinta de que vai realizar um sonho antigo do meu amigo Jaime Agostini: ver o tricolor entrar em campo com um camisa dez de verdade.
Assuntos proibidos.
Os poucos abnegados que acompanham o blog sabem que, aqui, certas matérias são assumidamente vetadas. Me recuso a discutir, por exemplo, o título brasileiro de oitenta e sete. Quem quiser saber mais sobre o assunto pode acessar http://www.trivela.com/Conteudo.aspx?secao=45&id=16544 e conferir o completíssimo texto de Ubiratan Leal, sob o título “Crise, revolução e traição”. Tá tudo lá. Outro tema que jamais vai frequentar o blog é essa história risível de unificação dos títulos brasileiros. A quem quiser perder tempo com essa bobagem, recomendo o ótimo artigo de Emerson Gonçalves, no link http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2010/12/15/por-que-reescrever-a-historia/. Reitero que o blog fala exclusivamente de futebol. Política não entra.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu acho que Adriano deveria ir para o Corinthians.
Já escrevi aqui no blog um longo post pró-Adriano. A torcida do Flamengo tem que ser eternamente grata a ele, o principal responsável pela inesperada conquista do Brasileirão no ano passado. (Quem não leu e quiser ler, o post foi publicado no dia 26 de maio, com o título “O Imperador voltou. O Imperador já vai. Viva o Imperador.”, e foi muito elogiado lá em casa.) Mas depois daquele desinteressado início de dois mil e dez, quando deixou o time na mão diversas vezes, inclusive na Libertadores, acho que Adriano no Flamengo não rola mais não. Vai ter muita patrulha, muita cobrança, muita encheção de saco, e a coisa vai acabar não acontecendo. Apesar da minha amiga Fernanda não concordar, acredito que no Corinthians pode ser diferente, até porque o temperamento inconstante de Adriano o transformou num jogador de tiro curto. É arriscado contar com ele numa competição longa e desgastante que nem o Campeonato Brasileiro, mas como o Corinthians vai disputar a Libertadores – um torneio de no máximo catorze jogos –, dá pra encarar. Acho também que o Fenômeno acerta na mosca quando diz que Adriano tem a cara do Corinthians. Aliás, vejo identificação do Adriano com três clubes brasileiros: Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro. Com os outros, como diria o grande Gobato, o santo não bate. E mais: no Brasileirão desse ano o Flamengo usou doze atacantes, que marcaram ao todo dezenove gols. O mesmo número de gols que Adriano fez, sozinho, no título do ano passado. Aproveito para lembrar aos corintianos que o Iarley e o Souza não brigam em público com a mulher, não faltam a treinos, não queimam o calcanhar na lâmpada do quintal, não frequentam a Vila Cruzeiro. Motivado e compreendido, Adriano resolve.
Bem-feito. 
Não vi Mazembe e Internacional. Não botei pra gravar. Não tenho o menor interesse por um torneio que conta com a presença de um time de Papua-Nova Guiné. Só existe uma chance de acompanhar o Mundial Interclubes: o Flamengo participar. Ou seja, não existe chance. De qualquer forma, bem-feito. 
Em princípio, não tenho nada contra nenhum clube brasileiro. Torço a favor e contra todos, dependendo das circunstâncias. A única exceção foi o Vasco dos tempos de Eurico Miranda, muito menos pelo Vasco e muito mais pelo Eurico. Hoje, nem isso. Mas confesso que gostei da derrota do Inter. 
Entendo que o futebol se profissionalizou, que futebol é negócio, que o Mundial Interclubes dá grana, mas será que o futebol virou apenas isso? Dinheiro, dinheiro, dinheiro? Desde quando, para o Corinthians, é mais importante jogar contra o Jorge Wilsterman da Bolívia do que contra o Palmeiras? Não me conformo. 
O Inter tem um bom elenco e tinha chances enormes de conquistar o Brasileirão – título que, de resto, o clube não ganha há mais de trinta anos. Não se interessou pelo campeonato, fez uma dezena de jogos ridículos e apostou tudo nessa bobagem de Abu Dhabi. 
Acabou caindo aos pés de Kabangu e morrendo nas mãos de Kidiaba. Que sirva de lição.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vanderlei Luxemburgo: o professor aloprado.
Romário comandava o ataque do Flamengo e o técnico era Evaristo de Macedo. O time tinha uma partida fácil, mas jogava de forma displicente e terminou o primeiro tempo perdendo. Os jogadores desceram para o vestiário antes do treinador, e quando Evaristo entrou Romário estava pagando geral. Evaristo não gostou e falou pro baixinho: “Isso aqui tem comando, e o comandante sou eu. Você vai me deixar fazer meu trabalho, ou posso pegar minhas coisas e ir embora?” Romário percebeu que tinha extrapolado e engoliu o sapo. Depois do jogo, que o Flamengo virou sem dificuldades, foi falar com o treinador: “E aí, chefe, sem ressentimentos?” Evaristo, que todos dizem ter sido um craque, com passagens brilhantes por Flamengo, Seleção Brasileira, Barcelona e Real Madrid, respondeu: “Meu filho, no meu tempo de jogador, teve uma vez em que eu quase saí no tapa com um ponta-direita, por causa de um contra-ataque que ele desperdiçou. Três minutos depois ele me deixou cara a cara com o goleiro, fiz o gol e comemoramos abraçados. Vamos em frente.” 
Não há nada mais chato nas transmissões esportivas pela tevê do que os narradores que ficam escandalizados com discussões entre jogadores do mesmo time. Típico de quem nunca jogou bola na vida. Querem o quê? Depois de um cruzamento malfeito, não dá pro centroavante se dirigir respeitosamente ao lateral e propor: “Será que, na próxima oportunidade, o nobre colega poderia fazer o obséquio de caprichar um pouco mais na execução do lance?” É muito mais fácil e produtivo gritar “cruza essa porra direito, ô filho da puta!”. Até aí, tudo bem. Mas eu tenho me perguntado se a apregoada decadência do Vanderlei Luxemburgo não tem um pouco a ver com a exagerada grosseria que ele exibe durante os jogos. 
Quem teve o desprazer de assistir às últimas partidas do Flamengo pôde perceber. É o tempo inteiro. Vai tomar no cu, Diego. Puta que o pariu, Kléberson. Caralho, Léo. Vai se foder, Deivid. Tá certo que futebol não é missa e que todo xingamento pra esse time do Flamengo é pouco, mas não vejo nenhum outro técnico brasileiro trabalhando à beira do campo com tamanho destempero. Vejo que todos eles reclamam do juiz em todos os lances, vejo palavrões aqui e ali, vejo descontroles esporádicos, mas o único que eu vejo pegando pesado desse jeito é o Vanderlei. 
E aí eu pergunto: será que essa forma de cobrança não atrapalha? Será que as coisas mudaram, e jogadores de futebol não aceitam mais tomar esporro diante das câmeras?  Será que não foi por isso que os últimos resultados de Luxemburgo – no Santos, no Palmeiras, no Atlético Mineiro e até agora no Flamengo –  ficaram abaixo do esperado?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Era muita areia para o caminhãozinho do Goiás.
Quando Wellington Saci (sim, ele) arrancou em velocidade estonteante pela lateral do campo e cruzou na cabeça de Rafael Moura, e quando Rafael Moura (sim, ele) tocou no contrapé do goleiro argentino Navarro com um tempo de bola e uma categoria impressionantes, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e apego à realidade deveria desligar a tevê e dormir. Mas não. Futebol tem algo mesmo de inexplicável, que prende a gente até quando parece que estamos tendo visões. 
O Thomas acertou em cheio no comentário que fez ontem aqui no blog: o time do Independiente é horroroso e o jogo foi um peladão emocionante. No primeiro tempo, porque daí em diante passou a ser só um peladão. Ao Goiás, faltaram camisa e tradição em decisões; ao Independiente, sobraram as vantagens de jogar em casa. É isso que faz com que os gols duvidosos que você marca sejam validados e os gols duvidosos que você leva sejam anulados. Quem não é muito chegado em futebol não consegue entender direito essa história da vantagem de jogar em casa, e costuma perguntar: mas se a torcida não entra em campo, se são onze contra onze, se os gramados têm mais ou menos as mesmas dimensões e a bola é sempre igual, o que é que muda? Pois a decisão de ontem foi um excelente exemplo de como jogar em casa pode mudar tudo. 
Outra coisa que ficou bem clara: toda vez que o jogo for entre um clube brasileiro e um clube argentino, e houver a possibilidade de levar a partida para a prorrogação, pra nós é negócio. O condicionamento físico dos nossos times é sempre muito melhor. No final da história, valeu para o Grêmio, que seria prejudicado por esse casuísmo de tirar a vaga na Libertadores do quarto colocado no Campeonato Brasileiro. E, da mesma forma que aconteceu nas últimas rodadas do Brasileirão, o Flamengo continua cumprimentando com o chapéu dos outros.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A autorreferência do futebol paulista. 
Sou carioca e trabalho em São Caetano do Sul, cercado de corintianos, são-paulinos, palmeirenses e um santista, o solitário Marcus Weber. Pra mim não é difícil perceber como, na maioria das vezes, o futebol paulista é autorreferente. Quando isso se limita aos torcedores, tudo bem: torcedor taí pra isso e é assim em todo lugar. Só que a autorreferência também ataca jornalistas e treinadores, como aconteceu no Brasileirão de 2009. 
Até a reta final do campeonato, era nítido que Palmeiras e São Paulo só se preocupavam um com o outro, pouco ligando para Flamengo, Internacional ou Cruzeiro. Depois da rodada em que os dois, jogando em casa, empataram com Avaí e Coritiba, o então técnico palmeirense Muricy disse mais ou menos o seguinte: “Nosso time não está ganhando os pontos que deveria. A sorte é que olhamos pra trás e não vemos o adversário se aproximar na tabela”. Ora, o adversário que não se aproximava era o São Paulo, porque Flamengo, Inter e Cruzeiro estavam se aproximando sim senhor. E se aproximaram tanto que acabaram o campeonato à frente do Muricy. 
Um jornalista paulista, que eu não sei quem foi, inventou o conceito muito bem sacado, porém falso, do “campeonato dos pontos parados”. Ele não percebeu que, enquanto Palmeiras e São Paulo paravam, os outros seguiam. 
Nos dois jogos finais do Campeonato Paulista desse ano, o Santos era uma tremenda barbada, mas o Santo André quase ficou com a taça. A surpresa gerou barbaridades. Leandro Quesada, por exemplo, escreveu em seu blog no UOL que Santos e Santo André eram os dois melhores times do Brasil. Peraí. O Santos tudo bem, mas o Santo André? E o Inter, o Cruzeiro, nada disso contava? 
Uma possível explicação está no fato de que, no século XXI, a hegemonia paulista no futebol brasileiro é indiscutível. Mas isso tem mudado, e é preciso abrir o olho. Em 2009, os dois primeiros colocados no Campeonato Brasileiro foram um carioca e um gaúcho; na Libertadores, entre os dois primeiros o único brasileiro era mineiro. Agora em 2010, o time brasileiro que chegou à final da Libertadores – e venceu – foi um gaúcho, e os dois primeiros no Brasileirão foram um carioca e um mineiro. São Paulo, neca. Além disso, pela primeira vez em muito tempo, o futebol do estado será representado na primeira divisão do Campeonato Brasileiro por apenas quatro times. 
Já está mais do que na hora de olhar um pouco em volta e esquecer o próprio umbigo.
O Goiás vai ter que ralar.
Pode ser que eu me engane, mas desconfio que o Goiás não vai aguentar o tranco hoje à noite. O time é fraco, claro, do contrário não seria rebaixado, e a vantagem de dois gols não chega a ser grandes coisas. O jogo é no histórico estádio de Avellaneda, o Independiente não fatura um título continental há um bom tempo, a pressão vai ser braba. Torcida, juiz e a indefectível provocação de jogadores que desde o berçário aprendem a perturbar os adversários. É possível, também, que a Conmebol mexa seus pauzinhos, pra não ter que conviver com a saia justa de ver um time da segunda divisão disputando a Libertadores do ano que vem. O bicho vai pegar.
Maior que isso tudo.
Alguém pode desenhar pra mim, por favor, porque eu não entendi esse filme da Nike. O que é maior que isso tudo, a largura do Ronaldo?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Pílulas do final de semana.
O Fluminense teve um momento complicado no campeonato, quando Emerson se machucou, Fred permanecia fora, o ataque não funcionava e parecia que o caldo ia entornar. Aliás, entornou, mas o Corinthians desperdiçou a chance de garantir o título com uma série absurda de pontos perdidos no Pacaembu, incluindo um empate com o Ceará e uma derrota para o Atlético Goianiense, o que permitiu ao Fluminense se recuperar. O jogo de ontem, contra o Guarani, lembrou aquele Flamengo e Grêmio da última rodada do campeonato passado: visivelmente mexido com a importância da partida, o Flu entrou em campo carregando uma estranha mistura de apatia com nervosismo. Mas creio que as notícias que chegavam dos outros jogos ajudaram a devolver a tranquilidade ao tricolor. Achei bacana o gol do título ter sido feito pelo Emerson. Um baita atacante que tem mais de trinta anos mas era desconhecido no Brasil até o ano passado, por ter feito toda sua carreira no exterior. É rápido, se movimenta o tempo inteiro, acredita em todas as bolas, não dá sossego à zaga adversária, bate bem com os dois pés, um perigo. E é o único bicampeão brasileiro em 2009/2010, já que participou da campanha do Flamengo no ano passado até o comecinho do segundo turno, formando uma ótima dupla de ataque com Adriano. Várias vezes deixei claro, aqui no blog, que futebol e justiça são como água e azeite. Por isso, falar em título justo é bobagem. Mas não há o que reclamar. O Fluminense foi quem liderou o Brasileirão pelo maior número de rodadas, somou os nove pontos indispensáveis nas três últimas partidas e ontem não deixou de ser campeão em nenhum momento do jogo. Um time que fez várias apresentações excelentes e que, mesmo quando faltou qualidade, soube jogar com determinação. É assim que se ganha um campeonato como esse, em que é impossível manter o nível alto nas trinta e oito rodadas. Quando falta bola, tem que ser na raça. E o Fluminense sempre teve uma ou outra. Lá em cima, meu pai e meu irmão devem estar de porre até agora. 
O Corinthians montou um elenco forte, misturando uma garotada boa (Jucilei, Elias, Bruno César, Dentinho) com caras experientes, mas a sensação que fica é que, na hora da verdade, alguma coisa não deu liga. Como é que um time que quer ser campeão, e tem todas as condições para isso, nas últimas três rodadas perde quatro pontos para duas equipes que terminaram o Brasileirão rebaixadas? É inconcebível. Essa é a hora do campeonato em que você tem que atropelar, passar por cima, sair matando. Mas o Corinthians fez o inverso, e deu mole. Não dá para, justo na reta de chegada, empatar com o Vitória, empatar com o time reserva do Goiás, e depois querer pôr a culpa no São Paulo e no Palmeiras. 
O Botafoguinho deu uma de América. Até meados dos anos setenta, o América – lá do Rio – sempre montava bons times, que nadavam, nadavam e morriam na praia. Sabendo que não dava pra chegar ao título, o Botafogo transformou em alvo a vaga na Libertadores, mas entregou o ouro naquela surpreendente derrota em casa para o desinteressado mistão do Internacional. Jogar contra o Grêmio no Olímpico é sempre um osso duríssimo, e ontem não foi diferente. De qualquer modo, continuo achando que Joel Santana fez aquele elenco chegar bem mais longe do que qualquer um poderia imaginar. E o Grêmio encerrou com brilho a extraordinária campanha no segundo turno. Renato Gaúcho deve estar insuportável, e com razão. 
Depois do título do Fluminense, o grande destaque futebolístico do final de semana foi a atuação do Serginho na disputadíssima pelada na Praia de Pernambuco, na festa de fim de ano da Young. Uma aula de como se joga na zaga. Marcou firme, fechou o golzinho, deu carrinho, se jogou no chão, comeu areia, e ainda saía tocando com a velha categoria de sempre. Segundo ele, foram seis jogos sem levar gol. Esse é o verdadeiro Sérgio Baresi, o rei da praia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bola tratada com carinho.
Costumo desconfiar de jogos de muita rivalidade que terminam em goleadas, porque quase sempre esses placares são mentirosos. Quando dois clubes grandes se enfrentam e o jogo acaba quatro ou cinco a zero, é porque houve o raro caso de um dos times aproveitar todas as oportunidades que surgiram, enquanto tudo dava errado para o outro lado. Acontece no futebol. É óbvio que um placar de cinco a zero não permite contra-argumentos, mas pode ser enganoso. 
Todos sabem que o blog é um hobby. Daí que foi impossível acompanhar Barcelona e Real Madrid ao vivo. Assistir a jogo do Campeonato Espanhol ao vivo, numa segunda-feira às seis da tarde, é justa causa. Como não tinha muito interesse em ver Goiás e Independiente – não dá pra levar a sério uma final com Marcão e Otacílio Neto em campo, certo? –, aproveitei a noite de quarta pra conferir o teipe do clássico espanhol. Já vi diversos times de futebol extraordinários, já vi placares avassaladores, já vi goleadas humilhantes, já vi torcidas envergonhadas, mas poucas vezes vi coisa parecida. 
O Barcelona deu um vareio de bola desde os cinco minutos do primeiro tempo, num genial toque do Messi quase da linha de fundo, encobrindo Casillas e fazendo a bola explodir na trave, até os acréscimos, quando Sérgio Ramos perdeu as estribeiras e desandou a distribuir bordoada. Mas o auge do chocolate aconteceu nos vinte primeiros minutos do segundo tempo, quando o Barça fez o terceiro e o quarto gols e passou a jogar numa movimentação alucinante, com uma troca de passes rigorosamente precisa. Tudo de primeira, de letra, de calcanhar, enquanto o time do Real Madrid e seu técnico José Mourinho pareciam atônitos, sem entender o que estava acontecendo. 
Lembro que, quando éramos crianças, meu pai gostava de nos levar para assistir às apresentações dos Globetrotters no Maracanãzinho, contra times que eram treinados (e ganhavam) para sofrer humilhações. Barcelona e Real Madrid foi bem parecido com aquilo. Além de ter sido um tapa na cara dos que se defendem com dezoito volantes, atacam com um ou no máximo dois abnegados e não param de levantar bolas na área para o tal homem de referência. O meio-campo do Barcelona tem três caras que jogam muita bola (Busquets, Xavi e Iniesta), o time usa três atacantes (Messi, Pedro e David Villa) e fez os cinco gols em jogadas de bola no chão. Homem de referência? Na Catalunha isso deve ser crime sujeito a pena de morte.