quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A autorreferência do futebol paulista. 
Sou carioca e trabalho em São Caetano do Sul, cercado de corintianos, são-paulinos, palmeirenses e um santista, o solitário Marcus Weber. Pra mim não é difícil perceber como, na maioria das vezes, o futebol paulista é autorreferente. Quando isso se limita aos torcedores, tudo bem: torcedor taí pra isso e é assim em todo lugar. Só que a autorreferência também ataca jornalistas e treinadores, como aconteceu no Brasileirão de 2009. 
Até a reta final do campeonato, era nítido que Palmeiras e São Paulo só se preocupavam um com o outro, pouco ligando para Flamengo, Internacional ou Cruzeiro. Depois da rodada em que os dois, jogando em casa, empataram com Avaí e Coritiba, o então técnico palmeirense Muricy disse mais ou menos o seguinte: “Nosso time não está ganhando os pontos que deveria. A sorte é que olhamos pra trás e não vemos o adversário se aproximar na tabela”. Ora, o adversário que não se aproximava era o São Paulo, porque Flamengo, Inter e Cruzeiro estavam se aproximando sim senhor. E se aproximaram tanto que acabaram o campeonato à frente do Muricy. 
Um jornalista paulista, que eu não sei quem foi, inventou o conceito muito bem sacado, porém falso, do “campeonato dos pontos parados”. Ele não percebeu que, enquanto Palmeiras e São Paulo paravam, os outros seguiam. 
Nos dois jogos finais do Campeonato Paulista desse ano, o Santos era uma tremenda barbada, mas o Santo André quase ficou com a taça. A surpresa gerou barbaridades. Leandro Quesada, por exemplo, escreveu em seu blog no UOL que Santos e Santo André eram os dois melhores times do Brasil. Peraí. O Santos tudo bem, mas o Santo André? E o Inter, o Cruzeiro, nada disso contava? 
Uma possível explicação está no fato de que, no século XXI, a hegemonia paulista no futebol brasileiro é indiscutível. Mas isso tem mudado, e é preciso abrir o olho. Em 2009, os dois primeiros colocados no Campeonato Brasileiro foram um carioca e um gaúcho; na Libertadores, entre os dois primeiros o único brasileiro era mineiro. Agora em 2010, o time brasileiro que chegou à final da Libertadores – e venceu – foi um gaúcho, e os dois primeiros no Brasileirão foram um carioca e um mineiro. São Paulo, neca. Além disso, pela primeira vez em muito tempo, o futebol do estado será representado na primeira divisão do Campeonato Brasileiro por apenas quatro times. 
Já está mais do que na hora de olhar um pouco em volta e esquecer o próprio umbigo.

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