segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Nunca consegui explicar por que virei flamenguista. Lá em casa, as pessoas que gostavam de futebol – meu pai, meus dois irmãos e minha irmã mais velha – torciam para o Fluminense. Não havia Campeonato Brasileiro, e o Fluminense era o clube com o maior número de títulos estaduais. Eu tinha vários motivos pra torcer pelo Fluminense, e nenhum pra torcer pelo Flamengo. Também tinha motivos pra torcer pelo Botafogo: era, de longe, o melhor time de futebol da cidade e nós morávamos pertinho da sede de General Severiano, que englobava o acanhado estádio onde o alvinegro treinava e mandava alguns jogos contra clubes pequenos. Cansei de ver treinos do Botafogo. Pra quem gostasse de futebol, era um programão, e de graça. Portões abertos. Os reservas tinham Nei Conceição, Afonsinho e outros bons jogadores, mas entre os titulares estavam Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho, Paulo César Caju. Como se tratavam de treinos, o ritmo era mais tranquilo, a pegada era mais leve e aí não tinha jeito: os titulares ganhavam sempre. Tudo isso pra dizer duas coisas: a primeira é que, embora feliz com a escolha, continuo sem entender por que virei rubro-negro; a segunda é que os jogos entre Palmeiras e Fluminense, na Arena Barueri, e entre Corinthians e Vasco, no Pacaembu, me lembraram treinos coletivos bem leves, que nem aqueles a que eu assistia lá em General Severiano. 
Apesar de Goiás e Guarani já estarem rebaixados, tenho esperança de que os jogos da última rodada serão mais disputados. A mala branca certamente entrará em cena, trazendo com ela uma nova discussão ético-futebolística: será a mala branca a salvação dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro? Será ela a única maneira de gerar interesse nas equipes que não têm mais nada a ganhar ou a perder? Acredito que as partidas do próximo domingo podem ser mais emocionantes do que os treininhos leves que vimos ontem. Por isso, todo poder à mala branca. 
Confirmando a tese do blog, de que a salvação do Flamengo viria muito mais pela incapacidade dos outros do que por méritos próprios, o menguinho perdeu mas escapou do rebaixamento, por uma abençoada combinação de resultados. Até que o time não foi tão mal contra o Cruzeiro, mas não dá pra comparar. O Cruzeiro toca fácil, tem uma saída de bola precisa, ótima ligação do meio-campo para o ataque. Continua sendo – embora sem ganhar nada, sou forçado a admitir – o time brasileiro que eu mais gosto de ver jogar. O Flamengo não tem objetividade, não tem inteligência no meio-campo, falta força no ataque. Com o rebaixamento matematicamente descartado, é hora de reconhecer que dois mil e dez foi um ano feito exclusivamente de erros, e que agora é necessário começar tudo do zero. Mas isso requer humildade, e humildade não é exatamente o forte das pessoas que dirigem o Flamengo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Felipão é copeiro. Mais um mito que cai.
Não sei se isso acontece em todos os países que gostam de futebol, mas aqui no Brasil a gente tem uma dificuldade danada para entender que o futebol acaba. Mais cedo para os jogadores, claro, mas também para os técnicos. Por isso a gente ainda quer ver o Ronaldinho Gaúcho na seleção (tem gente que fala até no Fenômeno!), por isso Gilbertos Silvas, Klébersons etc são convocados mesmo com o prazo de validade vencido há tempos, por isso o Fluminense contrata Belletti, o São Paulo contrata Fernandão e a torcida do Flamengo grita em coro o nome do Pet em todos os jogos do time. Não é fácil para os jogadores perceber a hora de parar, mas a gente gosta de alimentar os mitos. 
Quando começou a lengalenga em torno do novo técnico da seleção, e Felipão liderava as preferências da torcida brasileira, fiz um post aqui no blog em que eu perguntava sobre os títulos de Felipão após a Copa de dois mil e dois. Nenhunzinho. Zero. Nada. Eu não entendia como é que ainda tinha tanto prestígio assim um técnico que não ganha um título sequer há mais de oito anos, e que conseguiu perder a final da Eurocopa, em casa, para o fantástico futebol da Grécia. 
Mas as pessoas enchem a boca pra falar do Felipão. E o que Felipão fez no Palmeiras? Um monte de bobagens. Tem no elenco o melhor lateral-direito do Brasileirão do ano passado, mas desistiu rapidamente dele para improvisar ali um dos bons meias-direitas do Brasileirão do ano passado. Perdeu um lateral, não ganhou outro e, de quebra, ainda perdeu o meia. Repetiu o erro com Kléber: ao tirá-lo de sua verdadeira posição, perdeu o que antigamente chamávamos de ponta-de-lança e não ganhou um centroavante. Em reconhecimento à boa acolhida por parte da cidade, vi alguns jogos do São Caetano quando Luan estava no time. Era um atacante chato, brigão, que dava trabalho e fazia gols. Claro que jogar no São Caetano é uma coisa e jogar no Palmeiras é outra, mas Felipão transformou esse atacante perigoso num esforçado marcador de laterais. 
Aí vem aquela história: mas que culpa tem o Felipão se o Márcio Araújo vai na bola daquele jeito e deixa o contra-ataque armado para o Goiás? Sim, mas se o técnico não tem culpa quando o time erra e perde, também não tem mérito quando o time acerta e ganha. E se não tem nem culpa nem mérito, pra que contratar um técnico ganhando perto de oitocentos mil por mês? 
O time é fraco. Ok. Então, no ano que vem, que se contrate o Fabrício e o Montillo do Cruzeiro, o Emerson e o Conca do Fluminense, o Elias e o Jucilei do Corinthians. Mas aí, com um time desses, volta a pergunta: pra que contratar um técnico ganhando perto de oitocentos mil por mês? Se levarmos em conta a relação custo-benefício, sou mais o Joel Santana. E se for para comparar copeiros, sou mais a D. Inês aqui da agência.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Atendendo um gremista injuriado.
Meu grande amigo e compadre Beto Callage, gaúcho dos bons, no estilão analista de Bagé, daqueles que dizem buenas, se apresentam e já vão puxando a faca, reclama que o blog não tem dado ao Grêmio a atenção que a campanha no segundo turno merece. A reclamação procede. Vi apenas cinco jogos completos do Grêmio no campeonato, embora eu tente acompanhar as novidades do time pelo genial blog da Claudia Tajes (www.saraueletrico.com.br/blogs/claudia). Tirando o jogo contra o Flamengo no Maracanã – ambos foram péssimos, mas o Grêmio do primeiro turno não é mesmo para ser considerado –, no segundo turno não gostei do time contra Flamengo e Fluminense, e gostei muito contra Corinthians e Cruzeiro. 
Contra o Corinthians, no Pacaembu, vitória por um a zero e um dos gols mais bonitos do Brasileirão, feito pelo Douglas. O desempenho do time foi atrapalhado pelo juiz Francisco Nascimento, que no início do segundo tempo inventou um pênalti a favor do Corinthians e, não satisfeito, aproveitou para expulsar o Vílson. Victor pegou o pênalti e o Grêmio teve que passar o resto do jogo se defendendo, mas mostrou equilíbrio e macheza. 
Contra o Cruzeiro, no Olímpico, jogaço e vitória por dois a um, só que aí o árbitro foi a favor: mal assessorado pelo bandeira Fabrício Vilarinho, Paulo César Oliveira anulou um gol legítimo do Wellington Paulista quando o placar ainda estava um a um. Entretanto, o time foi bem e o jogo foi ótimo. 
O Beto me cobra, também, elogios ao Renato Gaúcho. Prefiro esperar. Ainda o considero um técnico falastrão demais e com títulos de menos – que eu me lembre, só ganhou a Copa do Brasil de 2007 pelo Fluminense. E Copa do Brasil, vamos combinar, né? Apesar de ser inegável que o Renato conseguiu injetar confiança nos caras e tirar o melhor de cada um, ocorre o seguinte: é sempre mais fácil reverter situações negativas quando não se tem a cobrança pelo título, como aconteceu com Joel Santana no Flamengo em dois mil e sete e está acontecendo com Dorival Júnior no Atlético Mineiro. Não tô dizendo que seja simples ou que não mereça elogios, mas é muito diferente do técnico que tem a responsa de levantar o caneco. Esse ano, Renato fez um trabalho e tanto. Agora vamos aguardar o ano que vem, pra ver se o time e o treinador têm munição pra disputar o título de verdade. 
Porque, aí sim, o bicho pega.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Pra mim, o Ralf não fez pênalti. Foi um lance muito rápido, em que ele estava girando o corpo pra tentar cortar a jogada, e nesse movimento a bola tocou em sua mão. Não houve intenção, e o resto pouco importa. Aliás, o final de semana foi mais uma vez pródigo em pênaltis inventados. Não sei aonde essa história vai parar, mas é óbvio que ela precisa ser revista. A experiência nos mostra que qualquer mudança significativa nas regras do futebol levam cento e cinquenta anos, mas não é possível continuar desse jeito. Meu filho Lucas levantou uma tese interessante no sábado, mas vou deixar para abordá-la depois que o campeonato terminar. Por enquanto, ficamos assim: semana passada o Corinthians foi beneficiado, essa semana foi prejudicado. E em vez de serem decididos por centroavantes, meias ou laterais, cada vez mais os jogos no futebol brasileiro são decididos pelos árbitros.
Sem Dentinho (suspenso) e Ronaldo (pura ilusão acreditar que ele faria essa sequência completa de jogos até o fim do campeonato, não?), o Corinthians voltou àqueles momentos em que dependia de atuações exuberantes de Jucilei, Elias e Bruno César. Sem Bruno César, também suspenso, e com Jucilei e Elias exauridos pela absurda viagem ao Catar na reta final do Brasileirão somada ao calor soteropolitano, eu nunca imaginei ter que afirmar isso, mas a verdade é que o jogador mais perigoso do Corinthians no jogo de ontem foi o Danilo. Assim, era mesmo inevitável que o Fluminense retomasse a ponta.
Fluminense e São Paulo fizeram um desses jogos típicos de final de campeonato sob o sistema de pontos corridos. Um time brigando pelo título, mordendo a bola, chutando sola, enfiando a cabeça na trave, e o outro doido pra tirar férias. O Fluminense procurou o jogo o tempo todo, Mariano correu uma barbaridade e voltou a jogar muito bem, Conca conseguiu a proeza de participar diretamente dos quatro gols. Por outro lado, o São Paulo se defendeu enquanto não houve necessidade de fazer maiores esforços. Quando precisou de algo mais, que preguiça! Isso não tem nada a ver com entregar ou não entregar o jogo: final de campeonato com pontos corridos é sempre assim. Quem gosta não tem do que reclamar.
Lá em Minas foi parecido. O Cruzeiro ainda com esperança de brigar pelo título e querendo garantir logo sua vaga na Libertadores, e o Vasco sem qualquer interesse em nada. O Cruzeiro atropelou, fez três gols rapidamente e liquidou a fatura, com Roger fazendo grande partida. Mas o maior jogador da rodada foi, mais uma vez, o Neymar. A diretoria do Santos pensa em antecipar as férias dele, já que Neymar deve disputar o Sul-Americano Subvinte em janeiro. A torcida do Flamengo apoia a ideia com entusiasmo.
Terminei o post da última quarta-feira com a seguinte frase, sobre a escalação do Flamengo contra o Guarani: “Após cumprir suspensão automática, o centroavante Deivid deve voltar ao time. Que Deus nos ajude.” Ajudou. Demorou exatos vinte e um minutos, mas ajudou. A demora se explica, pois nosso senhor deve ter ficado um bom tempo pensando: será que eu dou uma força pra esses caras, que elegeram para a presidência a representante de um desses malditos esportes olímpicos que infernizam a vida do Flamengo, abrindo mão de manter no cargo o presidente que levou o clube ao sexto título brasileiro? Que não tiveram a competência de trazer de volta o Emerson e o Zé Roberto, entregando-os de bandeja aos rivais Fluminense e Vasco? Que estavam com o Montillo nas mãos, mas não fecharam o acerto? Que não conseguiram montar uma operação para manter o Vágner Love na Gávea? Que não entenderam a necessidade de blindar o Adriano, como o Corinthians entendeu que era fundamental blindar o Ronaldo? Que primeiro efetivaram Rogério Lourenço e depois convidaram Silas para técnico? Que contrataram Cristian Borja, Leandro Amaral e Val Baiano, como se o Flamengo fosse uma filial do Ipatinga ou do Grêmio Prudente? Depois de pensar sobre todas essas coisas, e provavelmente relevá-las para evitar a gigantesca tristeza que uma derrota no sábado provocaria, aos vinte e um minutos a sabedoria divina fez com que Deivid saísse com o tornozelo machucado. Aleluia. Diego Maurício entrou para fazer o gol que diminuiu bastante as possibilidades do time cair, embora não a ponto de eliminá-las matematicamente. Deus é grande. Mas, pelo menos esse ano, a capacidade que o Flamengo teve de fazer bobagens foi muito maior.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entregar jogo não é tão simples quanto parece.
Meu pai gostava de corrida de cavalo e era um grande contador de histórias. Ele contava uma boa, de dois jóqueis que, com seus cavalos perto da linha de chegada, cabeça com cabeça, freavam os bichos disfarçadamente e gritavam um pro outro: “vai que eu apostei em você”. Obviamente, as mães de ambos eram homenageadas no final da frase. 
No futebol isso é mais difícil. Pode acontecer e acontece, claro, mas é complicado, por envolver muita gente. Se não estiver todo mundo de acordo, a armação mela e vira escândalo. Quando houve o episódio do juiz Edílson Pereira de Carvalho, no Brasileirão de dois mil e cinco, diz a lenda que um dos subornadores teria cobrado do árbitro o resultado de quatro a dois para o Santos na partida contra o Corinthians, já que o jogo estava no esquema. Edílson se defendeu dizendo que, do jeito que o meia-atacante Giovanni jogara, não havia juiz que resolvesse. 
A torcida corintiana acusa o Internacional de ter dado mole para o Goiás na última rodada do Brasileirão de dois mil e sete, quando o Corinthians foi rebaixado. Correm histórias sobre um suposto movimento liderado por Fernandão, incuravelmente revoltado com a perda do título de dois mil e cinco para o Corinthians em circunstâncias sombrias. Tá legal, mas como explicar que, naquele jogo, o goleiro Clemer tenha defendido dois pênaltis seguidos? Paulo Baier bateu o primeiro, Clemer defendeu, o juiz Djalma Beltrami mandou voltar. Paulo Baier bateu pela segunda vez, Clemer defendeu de novo e Beltrami mandou bater novamente. Aí Paulo Baier desistiu e Élson cobrou, fazendo o gol que salvou o Goiás e empurrou o Corinthians pra baixo. Se o Inter queria mesmo entregar, não era mais simples Clemer facilitar as coisas, escolhendo um canto qualquer e pulando um pouquinho antes do chute?
Não acredito que o Corinthians tenha entregado o jogo ao Flamengo no ano passado, mesmo com todas as razões do mundo para preferir que o campeão fosse o rubro-negro carioca, em vez do São Paulo (por motivos óbvios) ou o Inter (pelo motivo acima). Acontece que o Corinthians, que saiu cedo da briga pelo título e tinha a vaga na Libertadores já garantida, se desinteressou completamente pelo Brasileirão. Tanto que, uma ou duas rodadas antes, perdeu no Pacaembu por três a dois para o fraquíssimo e rebaixado Náutico. Desinteresse é uma coisa, entregar o jogo é outra. O mesmo vale para o Grêmio, na rodada final. A diretoria fez o time entrar em campo com um monte de reservas, mas os caras escalados jogaram pra ganhar. 
Voltando ao atual campeonato: se o Palmeiras não teve motivação sequer para enfrentar o Corinthians, como exigir que o time se mate em campo contra o Fluminense? Sem chance. De um jeito ou de outro, essas situações fragilizam os argumentos a favor dos pontos corridos. Eu prefiro uma fase de classificação com pontos corridos e uma fase final com mata-mata. Aí acaba essa história.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Atrasadas, mas aí estão elas: as pílulas do final de semana.
O fim de semana no Rio de Janeiro me impediu de acompanhar a rodada como de costume. Assisti à maior parte de Atlético Mineiro x Flamengo e vi – meio bêbado, reconheço, já que estava no meio de um churrascão – Fluminense x Goiás. Quem acompanha o blog sabe que, pra mim, marcar pênalti na jogada do Gil em cima do Ronaldo é um absurdo. Mas a verdade é que há, no futebol brasileiro, uma espécie de consenso sobre lances semelhantes. Nossos comentaristas costumam achar que aquilo é pênalti, e nossos árbitros costumam marcá-los. Alguns afirmam que esse critério coíbe o antifutebol e aumenta o número de gols nas partidas. Discordo dos dois argumentos. Dar aos zagueiros o direito de marcar firme e chegar junto é muito diferente de estimular o antijogo. Como diz o Mário Sérgio, quem não gosta de choque deve escolher o vôlei, em que cada time fica de um lado da rede. E o fato de uma partida ser cheia de gols não tem nada a ver com futebol de qualidade.
Repito: pra mim não foi pênalti. Entretanto, se o Cruzeiro pode apontar o erro de Sandro Meira Ricci como responsável por sua derrota no jogo, não dá para atribuir a isso a possível perda do título. Campeonatos de pontos corridos não permitem essa avaliação. Se você entra num mata-mata e o juiz marca um pênalti muito do maroto aos quarenta e três do segundo tempo, impedindo qualquer possibilidade de reação, aí a interferência da arbitragem é inquestionável. No campeonato de pontos corridos é diferente. O presidente Zezé Perrela declarou que a derrota para o Corinthians tirou o Cruzeiro da briga. Ok. Mas lá no início do Brasileirão, nas sete rodadas disputadas antes da parada pra Copa do Mundo, em vinte e um pontos possíveis o Corinthians ganhou dezessete, o Fluminense ganhou quinze e o Cruzeiro ganhou apenas nove. E vocês sabem por quê? Por causa dessa maldita obsessão pela Libertadores. Depois fica fácil botar a culpa em quer que seja. Ô praga!
O primeiro tempo do Fluminense contra o Goiás foi terrível. Continuo achando que o jogador que faz mais falta ao time é o Emerson com ele em campo, até o Washington fazia gol. E Muricy errou feio ao começar com Deco e Fred, ambos totalmente sem ritmo de jogo. É óbvio que ele jamais vai admitir, mas tenho a impressão de que, igual a todos os torcedores do Fluminense, Muricy partiu do princípio de que a partida seria uma carne assada. Como ele mesmo gosta de dizer, “a bola pune” esse tipo de pretensão. E, definitivamente, não dá pra contar com jogo fácil nesse campeonato brasileiro.
Como sempre fui péssimo em Matemática, torço para estar errado, mas não consigo concordar com os calculistas da bola: acho que o risco do Flamengo cair é gigantesco. Para o ex-Mengão e atual menguinho (com letrinha bem minúscula) entrar na zona do rebaixamento, basta uma combinação simples de resultados na próxima rodada. O Avaí joga com o Atlético Goianiense em casa, e nada mais lógico do que faturar os três pontos. Mesmo jogando fora de casa, o Atlético Mineiro deve conseguir pelo menos um empate contra o enfadado Palmeiras. Por fim, não é impossível o Guarani derrotar o próprio Flamengo no Engenhão: com o futebol que tem jogado, o Flamengo perde pra qualquer time do mundo em qualquer lugar do planeta. Com esses três resultados, os quatro times somariam quarenta pontos, e o menguinho entraria na zona do rebaixamento por ter o menor número de vitórias. Os flamenguistas já devem ter compreendido que não adianta torcer pelo clube. Sendo assim, resta secar os outros. Essa estratégia vinha dando certo desde que Luxemburgo assumiu o comando do time, mas nas duas últimas rodadas o caldo entornou. Com isso, os rubro-negros estão diante de uma intrincada operação de logística. Pra começar, têm que torcer pelo Goiás contra o Palmeiras na Copa Sul-Americana, pois com o Goiás na final é mais fácil o título ficar com a LDU ou o Independiente. Sem o título brasileiro na Sul-Americana, o G3 do Brasileirão volta a virar G4, reacendendo o interesse do Grêmio, do Atlético Parananese e até do São Paulo pela competição. E isso é fundamental, pois o Grêmio ainda enfrenta o Guarani, o Atlético Paranaense pega o Avaí e o São Paulo encara Atlético Goianiense e Atlético Mineiro. A torcida do Flamengo precisa torcer, ainda, para que Fluminense e Corinthians cheguem ao final do campeonato lutando pelo título, já que o Fluminense encara o Guarani na última rodada. Seria bom, também, que o Vasco surpreendesse o Cruzeiro no próximo domingo, tirando o time mineiro da briga e deixando-o de farol baixo para o jogo da outra semana, justamente contra o Flamengo. A vida não está fácil. Mas pode melhorar um pouco – embora ainda sem garantir nada – se o time ganhar do Guarani neste sábado. Após cumprir suspensão automática, o centroavante Deivid deve voltar ao time. Que Deus nos ajude.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Esse ano começou mais cedo a temporada da falta do que dizer.
O campeonato ainda nem acabou, mas já começaram as informações mirabolantes que tomam conta do noticiário futebolístico no período de recesso. O Flamengo realiza nesta sexta-feira a primeira reunião para tratar da construção do seu estádio. Sei. Daqui a pouco se passa a falar das contratações do time para a próxima temporada. A volta do Vágner Love, e quem sabe a de Adriano, que parece andar meio tristonho no Roma. Riquelme (esse vem todo ano). Ronaldinho Gaúcho (o negócio está muito bem encaminhado). O repatriamento do goleiro Júlio César, prata da casa. E por aí vai. Eu me contentaria com um lateral-esquerdo qualquer pro lugar do Juan, um meia que fizesse a metade do que o Pet fez no ano passado e um centroavante que soubesse dominar a bola. Nem precisa fazer gol: basta não matar na canela.
Jogando as duas últimas partidas fora de casa, contra Avaí e Ceará, o Botafogo somou apenas dois pontos e ficou numa situação difícil para sonhar com qualquer coisa. Jogando as duas próximas partidas em casa, contra o desinteressado Internacional e o rebaixado Grêmio Prudente, deve somar mais seis e parar por aí, porque na última rodada encara a pedreira do Grêmio em Porto Alegre. Portanto, o mais provável é que termine o Brasileirão com sessenta e dois pontos ganhos. Uma campanha excelente, sobretudo para um time que começou o campeonato com a suspeita de que lutaria pra não cair. (Eu mesmo escrevi isso aqui no blog, logo após a conquista do estadual, e errei feio.) O elenco é limitado, alguns jogadores – como Lúcio Flávio e Fahel – já entram em campo vaiados pela torcida, e foi um dos times mais prejudicados pelas contusões. No papel, o Botafogo talvez seja até mais fraco do que o Flamengo. Na tabela, vai acabar com uns vinte pontos a mais. Por que será?
A presidenta-nadadora Patrícia Amorim prometeu a Vanderlei Luxemburgo a contratação de um grande camisa dez. O primeiro a ser sondado foi Alex, ex-Palmeiras, ex-Cruzeiro e atualmente no Fenerbahçe da Turquia. Alex afirmou que não há a menor possibilidade de voltar a jogar no Flamengo enquanto o clube não pagar o que lhe deve desde dois mil e um. É por essas e outras que eu não embarco nessa história de comprar tijolinho. Só entraria nesse tipo de campanha no dia em que fossem devidamente enquadrados os dirigentes que contrataram jogadores a torto e a direito, todos com salários mirabolantes que não eram pagos, se transformavam em gigantescas dívidas trabalhistas e explodiam nas mãos das diretorias seguintes. No dia em que esses caras forem responsabilizados, posso até pensar no tijolinho com meu nome. Se bem que, se esse dia chegar, aí com certeza o Flamengo não vai precisar mais vender tijolinho para otário nenhum.
Louvado seja o Atlético Mineiro, por reconhecer que se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro é muito mais importante do que ganhar a Copa Sul-Americana e garantir uma vaga na Libertadores. Uma postura rara e bacana nesse nosso futebol lamentavelmente dominado pelos ideais bolivaristas. O Galo fez pouco caso da vaga na semifinal, entrou em campo com dez reservas, perdeu como queria e agora pode se concentrar nos quatro jogos decisivos que tem pela frente. O Atlético parece ter compreendido que, se cair pela segunda vez em menos de dez anos, a tendência é que isso deixe de ser visto como consequência de uma temporada infeliz e se transforme em um passo decisivo para o clube deixar de ser grande.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Com Júlio César em dia de Rogério Ceni, Ricardo Oliveira em dia de Washington e Rodrigo Souto em dia de Rodrigo Souto, o jogo de ontem deixou claro que a dificuldade do São Paulo para derrotar o Corinthians já virou uma coisa patológica. Se no post da última sexta-feira escrevi que, quando o time vai bem, o que se destaca no São Paulo é sempre o aspecto coletivo, quando as coisas vão mal não é tão difícil perceber as falhas individuais. Ilsinho é um jogador extremamente gracioso, que passa o pé sobre a bola, faz embaixada, aplica o elástico, dá caneta, mas na hora em que deveria acompanhar o Dentinho, só olhou. Rodrigo Souto é uma nulidade. Eu costumo implicar com o Fernandão, mas não concordei com a sua substituição ontem. Acho até que o Carpegiani encontrou um lugar em que ele pode ser útil, sem ter que correr para marcar, sem precisar de rapidez para concluir e usando sua lucidez e seu toque de bola para largar um companheiro na cara do gol de vez em quando. Como já tinha o Jean jogando no meio e o Corinthians estava todo atrás, armando o bote, Carpegiani poderia ter sacado o Rodrigo Souto para colocar o Marlos. E o cara de pau do Ricardo Oliveira, que queria outro pênalti igualzinho àquele pessimamente marcado contra o Cruzeiro? Todo mundo esteve muito bem no Corinthians, mas dois caras jogaram uma monstruosidade: Júlio César e Jucilei. E mais: com Dentinho na frente, o Corinthians é outro. 
O Atlético Paranaense está longe de ser um grande time, mas é um time. Já o Flamengo não passa de uma piada, que só não é ainda mais sem graça porque os que estão abaixo dele na tabela não conseguem engrenar. Essa rodada foi mais uma a cair do céu para o bando do Vanderlei: dos times que estão atrás do Flamengo, o único vitorioso foi o irrecuperável Grêmio Prudente. O Flamengo está dando uma sorte danada no campeonato e nunca entrou na zona de rebaixamento muito mais pela incapacidade alheia do que por méritos próprios. O jogo de ontem foi outra tristeza, sobretudo no primeiro tempo, e Vanderlei Luxemburgo também tem culpa no cartório. O time jogou os primeiros quarenta e cinco minutos com um a menos, por causa da insistência em escalar o Deivid. Agora não tem mais jeito: como faltam apenas quatro rodadas, Deivid já assegurou o troféu de pior atacante do Brasileirão. Além de ser a maior decepção entre todos os repatriados. O gol do Atlético Paranaense – um pênalti ingênuo e precipitado, cometido pelo experiente e tranquilo Maldonado – teve início numa bola infantilmente perdida por Juan no meio-campo. De novo e como sempre. 
O Atlético Mineiro não tem time para cair. Rever, Diego Souza e Diego Tardelli seriam titulares em qualquer clube do Brasil. Serginho, Daniel Carvalho e Renan Oliveira são bons jogadores. Escrevi outro dia sobre a utilidade do Obina. Apesar da saída patética no segundo gol do Santos, o goleiro Renan Ribeiro promete. Só que, diante da situação complicada, o time tem jogado com uma ansiedade que chega a assustar. Os caras apertam, marcam, correm, dominam, mas acabam perdendo os três pontos nos detalhes. Foi assim contra o Botafogo no outro sábado, foi assim contra o Santos nesse sábado, espero que seja assim no sábado que vem. 
Ontem de manhã, enquanto a casa dormia, vi quinze minutos de Lazio x Roma. (É impossível assistir a mais de quinze minutos do campeonato italiano.) Como o Lazio lidera a competição esse ano e o Roma ficou em segundo lugar no ano passado, me arrisco a dizer que Fluminense, Corinthians, Cruzeiro, Internacional, Santos e São Paulo ganhariam aquele campeonatozinho ordinário com três ou quatro rodadas de antecedência. 
Na condição de candidatos ao título, Cruzeiro e Fluminense entraram em campo como favoritos e fizeram o que tinham que fazer. Com isso teremos um final de campeonato tão sensacional quanto o do ano passado, e com um detalhe importante: times diferentes na briga. Em dois mil e nove, Flamengo, Inter e São Paulo chegaram à última rodada com chances de levar o caneco. Em dois mil e dez, os possíveis campeões são outros: Fluminense, Corinthians e Cruzeiro. Os gramados são ruins, o nível das arbitragens é sofrível, a maioria dos craques está fora do país, mas o Brasileirão é um grande barato. O campeonato mais equilibrado e mais disputado do mundo. 
O estatuto do blog exige que aqui só se fale de futebol, mas abre espaço para certas situações que merecem uma citação rápida. Segundo informações do UOL, Jenson Button escapou de ser assaltado, no sábado, devido à perícia do motorista da Mercedes blindada que levava o piloto. Já os engenheiros da Sauber não tiveram a mesma sorte, e dançaram na mão dos vagabundos. Pra quem vem de uma cidade segura e ordeira, como o Rio de Janeiro, é difícil se acostumar com notícias feito essas. Falar nisso: quem ganhou a corrida, o Nikki Lauda?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um time diferente.
Para nós, brasileiros, que aprendemos a gostar de futebol vendo em campo jogadores de intenso brilho individual, é difícil compreender e gostar do jeito de jogar do São Paulo. Já vi outros times parecidos. O Fluminense, tricampeão carioca no meio da década de oitenta e campeão brasileiro em oitenta e quatro, também tinha esse jeitão. Pouco brilho e muito conjunto. Tinha visto o primeiro tempo de Cruzeiro e São Paulo na quarta-feira, e gostei. Chantageado pelo conselheiro Jaime Agostini, terminei de ver o jogo ontem. Continuei gostando. Rapidez, movimentação, pegada, enfim, uma boa partida de futebol. Aí vem a história: quem jogou muito bem no São Paulo? Dependendo do ponto de vista, ninguém ou todo mundo. É muito difícil analisar o São Paulo individualmente. Rogério Ceni fez pelo menos duas grandes defesas, mas falhou feio em outros dois lances. A única participação digna de registro do Fernandão foi no gol que ele salvou em cima da linha, justamente em uma das falhas do Rogério. Até o Lucas, que fez um golaço, só se mostrou de verdade naquele momento. Mas o São Paulo é assim: ninguém aparece muito, mas todos juntos fazem a coisa funcionar. Quando Miranda falha, Alex Silva conserta. Quando Rodrigo Souto entrega, Rogério Ceni evita. Quando é o Rogério que erra, Fernandão salva. Continuo gostando muito do time do Cruzeiro, por causa da velocidade, da bola no chão e de alguns caras que eu queria muito ver no Flamengo (Fabrício, Henrique e Montillo, por exemplo). Mas falta alguma coisa ali que a gente não consegue definir bem o que é, e não adianta pôr a culpa no Cuca – viu, conselheiro? –, porque com Adílson Batista também era assim. 
Até entendo as dificuldades de escalação do Fluminense, mas não sei não. Acho um risco danado essa estratégia de praticamente abandonar o ataque, deixando tudo por conta dos lampejos do Conca, e apostar num sistema defensivo forte. O time tem jogado com muita dedicação e obediência tática rígida, mas chegou a hora em que é preciso ganhar os jogos. Não fiz um comparativo das dificuldades que cada candidato ao título tem pela frente, e pode ser que Muricy esteja administrando as coisas até o retorno de uma ou outra das suas estrelas nos jogos finais. Ok, tem funcionado – tanto que o time é líder –, mas basta uma escorregadela pra vaca ir pro brejo. Eu tinha prometido a mim mesmo que não falaria mais do Washington, mas o cara tá extrapolando. Não contente em passar onze jogos sem marcar (não é homem de referência? Não é fazedor de gols? Não é o especialista em botar a bola pra dentro?), agora deu para evitar os gols do seu time, como no lance em que Conca acertou uma pedrada da entrada da área e ele impediu que a bola chegasse ao gol de Renan. Francamente.
A atuação do Palmeiras ontem foi lamentável. Não tinha o Kléber e o Valdívia, mas isso não é desculpa. O Botafogo, com um elenco de qualidade bem parecida, vive entrando em campo sem cinco ou seis titulares e tá lá nas cabeças. O Brasileirão é assim e ninguém tem o direito de reclamar de desfalques ou de arbitragem. Parece que Felipão conseguiu o que queria: provar pra todo mundo que o time do Palmeiras é ruim de doer, e que conquistar a Sul-Americana será mérito exclusivamente dele. Quem diria: Felipão, tremendo marqueteiro. 
A melhor coisa que pode acontecer ao Flamengo é esse ano acabar e o time permanecer na primeira divisão, mas sem vaga nenhuma para Sul-Americana. Tem que jogar uma bomba e começar tudo de novo. Até o Marcelo Lomba, coitado, que vinha bem, falhou nos dois gols do Ceará. Mais uma vez, ninguém jogou nada. E o Deivid lá, todo pimpão, consolidando a sua condição de pior atacante do campeonato. Pasmem: pior até do que o Washington.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Faz mais um pra gente ver.
Fio Maravilha foi, na virada da década de sessenta para a de setenta, uma espécie de Obina dos dias de hoje. Os estilos eram diferentes: enquanto Fio atuava como meia-atacante, tinha habilidade e visão de jogo, Obina é um centroavante forte, raçudo e que não dá sossego aos zagueiros. Fio também nunca foi craque, mas estava longe de ser um perna de pau. Só que, ao ser folclorizado – igual ao Obina – viu sua imagem profissional ir pro brejo. Infelizmente, acontece muito no futebol brasileiro. (Escrevi um post mais ou menos sobre isso no dia 30 de março, com o título “A diferença entre jogo emocionante e jogo bom”, em que eu falava do Zinho, um dos mais vitoriosos jogadores da história recente do nosso futebol e que terminou a carreira com o apelido e o estigma de “Enceradeira”, depois de uma gracinha inconsequente de um comentarista obtuso.) 
Mas o Fio apareceu aqui por causa do Neymar. Engraçado como o futebol também vive seus momentos de moda. Nos meus tempos de moleque, cavadinha não era algo tão comum. Agora, qualquer jogadorzinho de série D faz gol de cavadinha. Por outro lado, naquele tempo, quem entrasse livre na área se sentia quase que na obrigação de driblar o goleiro antes de empurrar a bola pra rede. Hoje parece que é proibido. 
No jogo entre Inter e Santos, disputado no último sábado no Beira-Rio, Neymar fez uma tabela rápida com Zé Eduardo e saiu na cara do Renan. Na hora de concluir, ele ameaçou tocar no canto esquerdo do goleiro, que caiu. Não precisava nem driblar: bastava seguir conduzindo a bola, pra tirar Renan do lance e ficar com o gol escancarado. Mas não. Neymar não apenas ameaçou como realmente empurrou a bola no canto anunciado, praticamente atrasando pro goleiro do Inter. 
O holandês Robben cometeu esse mesmo erro duas vezes na final da Copa do Mundo. Tivesse driblado Casillas, a festa seria em outra capital europeia. Ou seja: o tal gol de placa que Fio Maravilha fez num amistoso contra o Benfica e que serviu de inspiração para um dos grandes sucessos de Jorge Benjor, esse tipo de gol a gente não tem visto mais não.
O melhor técnico do Campeonato Brasileiro. 
Mesmo que o Botafogo não consiga sua vaguinha para a Libertadores, nada mais justo do que eleger Joel Santana o melhor técnico do campeonato. Joel é outro que joga no time de Fio Maravilha e Obina: competente, importante para os times onde trabalha, mas que tem seu reconhecimento diminuído por ter se transformado em algo folclórico. 
Mas, e se o Cruzeiro for campeão, por que Joel e não Cuca? Porque Cuca pegou um time muito bem armado pelo Adílson Batista e com uma base que se mantém há muito tempo. 
E se o Corinthians for campeão, por que Joel e não Tite? Porque não dá para apontar como o melhor técnico do campeonato um cara que dirigiu o time em menos de dez rodadas. 
E se o Fluminense for campeão, por que Joel e não Muricy? Porque não há tanto mérito assim em montar um time que faz contratações mirabolantes e paga os mais altos salários do futebol brasileiro. (Dizem que o Deco ganha setecentos e cinquenta mil, e que o Fred belisca mais de seiscentos.) 
Joel pegou um osso duro, e roeu. O Botafogo é um catadão, com jogadores que vinham de retumbantes fracassos em outros clubes. O zagueiro Antônio Carlos foi praticamente enxotado do Atlético Parananense. O outro zagueiro, Fábio Ferreira, formou com Betão e Zelão o inesquecível trio defensivo que ajudou a afundar o Corinthians em 2007. O lateral Marcelo Cordeiro, que apareceu bem no Vitória, foi para o Inter e fracassou. O volante Marcelo Mattos, repatriado pelo Corinthians para reforçar o elenco na Libertadores, idem. Edno saiu da Portuguesa de Desportos para o Corinthians depois de um leilão bastante disputado, e foi outra decepção. Renato Cajá surgiu bem na Ponte Preta, passou uma temporada no exterior, foi repatriado pelo Grêmio e lá não fez nada. O Botafogo parece aqueles países-colônias, formados pela escória deportada pelo colonizador. Mas não é só isso: o elenco não dispõe de reservas para as alas, e quando um dos dois titulares não joga, é preciso improvisar. E a estrela da companhia, o meia-atacante Maicosuel – outro que parece só jogar no Botafogo – se machucou há muito tempo. 
Joel montou um time certinho e está fazendo milagres. Sem falar que, com ele, o time pray very naice, fica forte in the midium, ataca rápido in the raite e também tem jogadas in the léfiti. Pra mim, é o técnico do Brasileirão.
Da série “A língua é o chicote do corpo” – 6.
Jogavam Atlético Mineiro e Botafogo, em Sete Lagoas. Aos vinte e cinco do segundo tempo, Joel Santana tirou o sempre apático Lúcio Flávio e colocou Edno em seu lugar. O comentarista Maurício Noriega, do SporTV, soprou e mordeu. Disse que a substituição do Lúcio Flávio era corretíssima, que ele não estava aparecendo para o jogo, que quando aparecia não dava a velocidade que o time precisava etc. Mas que a opção pelo Edno era equivocada: Renato Cajá seria muito mais útil ao time, por sua visão de jogo, seu toque de bola e sua capacidade de armação. Menos de cinco minutos depois, Edno pegou uma bola já no campo do Atlético e enxergou Loco Abreu entrando livre pela esquerda. O lançamento saiu preciso, o uruguaio invadiu a área e, com uma ausência de egoísmo rara em atacantes, rolou para o próprio Edno, que acompanhava a jogada e fez um a zero. Já nos acréscimos, Edno pegou uma bola ainda na zaga botafoguense, arrancou em velocidade, driblou um adversário e enfiou novamente sob medida para Loco Abreu, que tocou por cima do Renan Ribeiro e matou o jogo. A favor do Maurício Noriega, diga-se que é um cara educado e que não se presta ao papel de dono da verdade. Mas no sábado ele deu um azar danado.
O jogador mais malvestido do Campeonato Brasileiro.
Aos vinte e cinco minutos de Palmeiras e Goiás, o goleiro Deola ainda não tinha aparecido na tela da minha tevê. Nenhuma bola chegara perto da área do Palmeiras, e percebia-se que era só questão de tempo pro time de Felipão decidir a parada. O problema é que, como ensinava Cláudio Coutinho, é preciso aproveitar o momento em que o jogo está fácil para defini-lo, já que dificilmente o jogo permanecerá fácil nos noventa minutos. É verdade que não correu grandes riscos, mas o Palmeiras acabou complicando uma partida que sempre esteve em suas mãos. 
O destaque positivo vai para a bela jogada de Tinga no primeiro gol. O destaque negativo vai para a horrorosa camisa que parece homenagear os povos da floresta, e que é páreo duro com aquela azul e amarela do Flamengo na briga pelo uniforme mais feio do campeonato. Tenho pena do Fabrício. Como ele jogou no último sábado pelo Palmeiras e estava no banco do Flamengo no jogo contra o Vitória pela segunda rodada do primeiro turno, na primeira vez em que o rubro-negro (?) usou a tal camisa pavorosa, vai sair do Brasileirão com a taça de jogador mais malvestido da competição.