Entregar jogo não é tão simples quanto parece.
Meu pai gostava de corrida de cavalo e era um grande contador de histórias. Ele contava uma boa, de dois jóqueis que, com seus cavalos perto da linha de chegada, cabeça com cabeça, freavam os bichos disfarçadamente e gritavam um pro outro: “vai que eu apostei em você”. Obviamente, as mães de ambos eram homenageadas no final da frase.
No futebol isso é mais difícil. Pode acontecer e acontece, claro, mas é complicado, por envolver muita gente. Se não estiver todo mundo de acordo, a armação mela e vira escândalo. Quando houve o episódio do juiz Edílson Pereira de Carvalho, no Brasileirão de dois mil e cinco, diz a lenda que um dos subornadores teria cobrado do árbitro o resultado de quatro a dois para o Santos na partida contra o Corinthians, já que o jogo estava no esquema. Edílson se defendeu dizendo que, do jeito que o meia-atacante Giovanni jogara, não havia juiz que resolvesse.
A torcida corintiana acusa o Internacional de ter dado mole para o Goiás na última rodada do Brasileirão de dois mil e sete, quando o Corinthians foi rebaixado. Correm histórias sobre um suposto movimento liderado por Fernandão, incuravelmente revoltado com a perda do título de dois mil e cinco para o Corinthians em circunstâncias sombrias. Tá legal, mas como explicar que, naquele jogo, o goleiro Clemer tenha defendido dois pênaltis seguidos? Paulo Baier bateu o primeiro, Clemer defendeu, o juiz Djalma Beltrami mandou voltar. Paulo Baier bateu pela segunda vez, Clemer defendeu de novo e Beltrami mandou bater novamente. Aí Paulo Baier desistiu e Élson cobrou, fazendo o gol que salvou o Goiás e empurrou o Corinthians pra baixo. Se o Inter queria mesmo entregar, não era mais simples Clemer facilitar as coisas, escolhendo um canto qualquer e pulando um pouquinho antes do chute?
Não acredito que o Corinthians tenha entregado o jogo ao Flamengo no ano passado, mesmo com todas as razões do mundo para preferir que o campeão fosse o rubro-negro carioca, em vez do São Paulo (por motivos óbvios) ou o Inter (pelo motivo acima). Acontece que o Corinthians, que saiu cedo da briga pelo título e tinha a vaga na Libertadores já garantida, se desinteressou completamente pelo Brasileirão. Tanto que, uma ou duas rodadas antes, perdeu no Pacaembu por três a dois para o fraquíssimo e rebaixado Náutico. Desinteresse é uma coisa, entregar o jogo é outra. O mesmo vale para o Grêmio, na rodada final. A diretoria fez o time entrar em campo com um monte de reservas, mas os caras escalados jogaram pra ganhar.
Voltando ao atual campeonato: se o Palmeiras não teve motivação sequer para enfrentar o Corinthians, como exigir que o time se mate em campo contra o Fluminense? Sem chance. De um jeito ou de outro, essas situações fragilizam os argumentos a favor dos pontos corridos. Eu prefiro uma fase de classificação com pontos corridos e uma fase final com mata-mata. Aí acaba essa história.
Meu caro Murta, você é a grande revelação do futebol, brasileiro.
ResponderExcluirSeu blog é futebol fino e elegante.
Mas tá faltando um comentariozinho sobre a ascensão do Grêmio, que saiu lá do fim da fila e pode pegar uma Libertadores.
Vc fala em técnico revelação e sobre o Renato, nada ?
Abração do amigo beto
Amigo Beto,
ResponderExcluirRapaz, eu me cobro isso o tempo todo, mas ainda não consegui montar um esquema que me permita ver jogos de outras praças sem que a Valéria me expulse de casa.
O que faço? Vejo os do Flamengo, por motivos óbvios, procuro acompanhar os jogos mais importantes aqui de São Paulo, por causa da rapaziada da agência, e escalo um dos times de Minas ou Rio Grande do Sul que esteja nas cabeças - no caso desse ano, o Cruzeiro.
Não há dúvida que o segundo turno do Grêmio foi fantástico, pena o time ter perdido tantos pontos no início do campeonato. (Silas não rola, né? Não rolou aí, não rolou aqui.) Apesar de já ter elogiado o Victor, de quem sou fã, e o Douglas, reconheço que o Grêmio merecia muito mais atenção do blog.
Mas aí eu te pergunto: e meu casamento, cai pra segundona?
Grande abraço.