quinta-feira, 25 de abril de 2013

Barcelona e Real Madrid: uma tese despretensiosa. 
O blog pede a compreensão dos leitores para cair em tentação e praticar o esporte preferido dos comentaristas de futebol: babar regra depois dos resultados. Mas o motivo me parece justo, pois trata-se de defender uma tese e abrir o debate aos dois ou três abnegados que frequentam a caixa de comentários. Vamos lá. 
Todos nós já aprendemos que os campeonatos estaduais não servem de parâmetro para a avaliação dos nossos times. O Paulistinha talvez pudesse ser uma exceção, desde que não fosse disputado ao mesmo tempo que a Libertadores e tivesse um número menor de participantes. Do jeito que está, é tão enganoso quanto qualquer outro. O problema é que, apesar de nunca na história desse país etc e tal, ainda não perdemos o hábito de pagar pau para as coisas lá de fora. (Explicação necessária a quem não é de São Paulo: pagar pau significa, mais ou menos, encher a bola exageradamente de qualquer coisa. Para ficar em alguns exemplos futebolísticos: a imprensa esportiva carioca costuma pagar pau para o enganador do Thiago Neves; a torcida são-paulina paga pau, inexplicavelmente, para o Luís Fabiano, que jamais conquistou um título importante com a camisa do clube; a torcida do Flamengo andou pagando pau, precipitadamente, para o Rafinha. Acho que é por aí.)
Retomando: costumamos pagar pau para os feitos do Barcelona e do Real Madrid, esquecidos de que muitas dessas façanhas são alcançadas às custas do campeonato nacional mais desigual de que já se teve notícia. Sábado passado eu vi o finalzinho de um jogo, na tevê, em que o Barça lutava desesperadamente para fazer um golzinho no tal do Levante. Trinta e cinco do segundo tempo e zero a zero no placar, o que interromperia uma inacreditável série de quarenta e nove partidas consecutivas, na Liga Espanhola, fazendo gol em todas elas. Muito mais do que competência do Barcelona, isso significa fragilidade dos adversários, e a gente sabe que o futebol é um esporte onde a sua qualidade só pode ser testada quando encontra adversários à altura. Peguem o Quissamã, que acaba de cair para a segunda divisão do Campeonato Carioca, e tragam pra jogar contra o nosso time aqui da Y&R. Eles ganham da gente por, no mínimo, quinze gols de diferença. 
Claro: se Barcelona e Real Madrid estivessem no Brasil, seriam campeões brasileiros e da Libertadores ano sim, outro também. Não é isso que está em questão. Mas os cinquenta jogos seguidos marcando gols em todos, os noventa e nove gols do Barcelona só nessa temporada, os recordes e mais recordes quebrados por Messi e Cristiano Ronaldo, tudo isso só é possível pela disparidade descomunal entre os dois clubes e o resto. Por isso – ao contrário do nosso futebol, onde ganhar o Brasileirão é mais difícil que a Libertadores –, o verdadeiro desafio para os clubes europeus está na Champions League, e não nos torneios nacionais. 
A tese é essa: da mesma forma que nossos clubes se beneficiam de estaduais indigentes para se enganar, será que Barcelona e Real Madrid – que são indiscutivelmente dois timaços, e não há goleada ou eliminação que altere isso – não passaram a ter uma visão distorcida de suas próprias forças? 
Ontem teve Brasil e Chile. Vaias, gritos de olé, um treinador superado de um lado, um treinador atualizado do outro. Tudo isso mereceria post, mas é muito difícil pra mim escrever qualquer coisa sobre uma seleção brasileira em que o lateral-esquerdo é André Santos. Reconheço que o futebol está cheio de casos de jogadores que fracassam em determinados times e brilham em outros, mas pra mim não dá. Eu vi André Santos jogar no Flamengo e não quero ver de novo. Se isso vale para o Flamengo, imaginem para a seleção brasileira.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Henrique V do Morumbi. 
Circula com sucesso, no youtube, o rápido e empolgante discurso de Rogério Ceni na porta do vestiário, segundos antes do São Paulo entrar em campo contra o Atlético Mineiro. Virou moda: no mundo pós-internet, toda importante vitória futebolística é seguida por um vídeo emocionante postado logo após o jogo. O curioso é que a gente só vê os vídeos de quem vence. É bastante provável que o capitão do Huachipato tenha feito um discurso semelhante antes da partida com o Grêmio, só que isso ninguém nunca vai saber, porque o Huachipato foi eliminado. E será que Rogério não fez um discurso parecido em 2006, quando o São Paulo perdeu a final da Libertadores para o Inter? Ou em 2007, 2008, 2009 e 2010, quando foi eliminado por Grêmio, Fluminense, Cruzeiro e, novamente, Inter? O maior filósofo futebolístico da Praia de Botafogo, Neném Prancha, dizia que se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado. Com discurso motivacional é meio parecido. 
Não há competição mais surpreendente que a Libertadores. Mesmo depois de ter visto o Arsenal de Sarandi, o Sporting Cristal, o Deportes Iquique, o San José e o lendário Tolima, cada um pior que o outro, eis que na quinta-feira passada fui apresentado ao inacreditável Huachipato. Time sem talento algum, com um goleiro de fazer rir – como são desajeitados os goleiros da maioria dos times da Libertadores! – e que tem como única jogada ofensiva a bola aérea para um centroavante grandalhão e limitado, chamado Braian Rodriguez. Futebol é um negócio do qual ninguém pode dizer que entende. Gosta-se ou não. Acompanha-se mais ou menos. Mas entender, ninguém entende. Porque, entre outras coisas, é impossível entender como o Huachipato ganhou do Grêmio em Porto Alegre e empatou com o Fluminense no Rio, e como Braian Rodriguez foi o artilheiro dessa primeira fase da Libertadores. 
Vanderlei Luxemburgo, que certamente sabia por que estava apanhando, nos fez lembrar Diego Hypólito, que nos faz lembrar Arthur Zanetti, que ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres e agora ameaça competir por outro país. Apesar de ser vizinho em São Caetano – a cidade é tão pequena que aqui todo mundo é vizinho de todo mundo –, nunca tinha ouvido falar em Arthur Zanetti e sua ausência não vai interferir nos meus interesses esportivos. Mas pelo que li, vi e ouvi na última semana, sou capaz de apostar que nosso medalhista irá se estabelecer em Boston. Tem mais brasileiro em Boston do que argentino em Búzios.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A pré-temporada que não acaba nunca. 
Com tanta coisa desimportante acontecendo no fim de semana futebolístico, uma saída para o habitual post de segunda-feira seria apelar para um paragrafozinho básico de abertura, pensar em três ou quatro linhas bem sacadas para o encerramento e rechear o texto com uma receita de miojo. Não teria a originalidade do menino do Enem, mas ao menos ficaria de acordo com o futebolzinho tacanho que vem sendo jogado pelos nossos times, com a já citada exceção – ver post publicado em 9 de abril – do Atlético Mineiro. 
O São Paulo perdeu para o XV de Piracicaba, o Corinthians para o Linense, o Atlético Mineiro para a Caldense, e nada disso teve a menor importância. O Flamengo fez um ótimo primeiro tempo contra o Fluminense, o que também não teve importância alguma. Eu poderia seguir no embalo do “grande momento que vive o Palmeiras”, como ouvi outro dia de um empolgado narrador do SporTV, mas meu ceticismo não permite. Poderia engrossar o coro dos que afirmam, no Rio, que o Botafogo está sobrando. O problema é que, nas três primeiras rodadas do primeiro turno, quem sobrava lá no Rio era o Vasco. Depois, até a semifinal, sobrava o Flamengo. Parece que enquanto não conseguirem resolver a encrenca financeira em que estão metidos, os times do Rio continuarão sobrando e despencando em velocidade espantosa. 
O certo é que, a cada ano, os estaduais se revelam uma brincadeira mais e mais sem graça e dispendiosa, com estádios desertos, times reservas e partidas sofríveis. Até o Santos, que ganhando ou perdendo costumava ser divertido, virou uma chatice. Muricy conseguiu. 
Que venham logo as fases decisivas, o mata-mata da Libertadores e o Campeonato Brasileiro. Por mais que a gente goste de futebol, não há quem aguente quatro meses de pré-temporada.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Jogador de futebol não é barata. 
Quando trabalhei pela segunda vez na Provarejo, uma agência de propaganda maravilhosa que respondia pela conta da finada Mesbla, fiz dupla com um diretor de arte tão talentoso quanto impaciente, Guilherme Tôrres. Belo dia, um redator que trabalhara com o Guilherme e tinha virado diretor de criação em outra agência ligou pra ele, atrás de indicações de nomes para a direção de arte. Guilherme citou três ou quatro caras que ele julgava competentes e ouviu a resposta que o tirou do sério: ah, legal, mas eu tava pensando em alguém com mais bagagem. Atolado de serviço, Guilherme foi curto e grosso: “Olha só, ô Fulano, se é assim, por que você não aproveita a hora do almoço e dá um pulo na rodoviária Novo Rio? Lá tá cheio de gente com um monte de bagagem.” 
Modismos no futebol, como todos os modismos, são sempre irritantes. Encaixar a marcação, o time vem numa crescente, ele tem uma boa leitura do jogo. Saco. Outra coisa que está na moda é essa idiotice de “jogador cascudo”. O cara não é mais contratado por jogar bola, e sim por ser cascudo. Principalmente quando o objetivo é a disputa da Libertadores, um torneio para cascudos. Luís Fabiano é cascudo, faz uma bobagem atrás da outra e deixa o São Paulo na mão quando o time mais precisa dele. Deivid é cascudo e se transformou no centroavante que mais irritou a torcida do Flamengo, pelo menos nos últimos dez anos. O Palmeiras foi rebaixado com os volantes Corrêa e Marcos Assunção, o lateral-esquerdo Leandro, o meia Valdívia, um monte de cascudos. O Seedorf ainda consegue encantar no Botafogo porque joga bola ou porque é cascudo? O Zé Roberto é o cérebro do Grêmio porque joga bola ou porque é cascudo? 
Ontem eu vi mais uma obra-prima de um cascudo. Cris, o zagueiro escolhido a dedo por Vanderlei Luxemburgo para comandar a defesa gremista na Libertadores, se irritou com uma proteção boba de bola feita pelo Rafael Sóbis – num lance isolado, no meio do campo e junto à linha lateral – e saiu bicando o atacante do Fluminense por trás. Foi expulso e quase deixou o Grêmio numa tremenda enrascada quanto à classificação. Mesmo estando fora de casa e sem os principais jogadores do meio pra frente, o Fluminense teve as três melhores chances, com Rafael Sóbis, com Vágner e no gol mal anulado de Rhayner. Para o Grêmio, o empate caiu do céu, permitindo ao time jogar por outro empate contra o Huachipato, na última rodada. Mas o jogo é lá, e fácil não deve ser. 
Por falar no gol do Rhayner: temos o hábito de crucificar nossos árbitros e bandeirinhas, que são de fato muito fracos, mas comecei a relevar certas coisas depois de recentes partidas da Champions League. Ibrahimovic estava impedido no gol que fez contra o Barcelona, Eliseu estava impedido no segundo gol do Málaga contra o Borussia Dortmund, Felipe Santana estava impedido no terceiro gol do Borussia Dortmund que eliminou o Málaga – e por aí vai. A regra do impedimento é genial, mas sempre foi de aplicação complicada. E depois dessa sucessão de lambanças, tenho pensado: será que não está cada vez mais difícil para um bandeirinha perceber quando alguém está ou não impedido? O futebol passou a ser jogado com uma rapidez que cansa até quem assiste, os jogadores agora têm uma velocidade usainboltiana e a missão dos pobres bandeirinhas é cada dia mais árdua. Juntemos a isso o fato de que a maioria deles adota o critério do “perigo de gol” – certamente responsável pela anulação do gol de Rhayner – e o que temos é o horror. 
O blog cumpre o doloroso dever de informar que, para tristeza dos verdadeiros amantes do futebol bem jogado, a gandula do Botafogo casou. Pena. Mas, que seja feliz.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Faltam os títulos. Só. 
Abel Braga. Luiz Felipe Scolari. Muricy Ramalho. Paulo Autuori. Vanderlei Luxemburgo. Em ordem alfabética, pra não deixar dúvidas quanto à imparcialidade do blog, esta é a escalação dos técnicos-top do nosso futebol. Todo fim de ano, quando acaba o Campeonato Brasileiro e começa a temporada de vacas magras para a imprensa esportiva, as especulações se repetem: o São Paulo sonha com Autuori, o Inter faz o que for preciso para ter Abel Braga etc. Nossos grandes clubes estão sempre com essas cartas na manga e esses nomes no bolso. Faz mais de dez anos que é assim. Da mesma forma que demoramos demais para enxergar o declínio de determinados jogadores, e continuamos a tratá-los como se eles pudessem fazer hoje o que faziam há uma década, temos dificuldade para esquecer o passado glorioso dos treinadores e, mesmo reconhecendo e aplaudindo as glórias, entender que elas são exatamente isso: passado. 
Mas há luzes no fim do túnel. E, nesse momento, as luzes atendem pelos nomes simples de Tite e Cuca. Esnobado pela intelligentzia da mídia e dos torcedores, que não viam nele um cara à altura das pretensões do Novo Corinthians, Tite driblou desconfianças e críticas generalizadas, se impôs e conseguiu transformar o mediano grupo de jogadores corintianos num time forte e vencedor. Não quer dizer que Tite seja um gênio, longe disso. Não quer dizer que Tite vá brilhar em todos os outros clubes por onde passar. Mas até os caras mais descrentes em relação ao trabalho e à relevância dos técnicos – entre os quais, me incluo – têm que dar o braço a torcer e admitir a importância de Tite nas recentes conquistas do time. 
Cuca é um caso estranho. Jamais ganhou um título de ponta, mas já vi torcedores do São Paulo o apontarem como o verdadeiro mentor do vitorioso time da Libertadores 2005 e dos Campeonatos Brasileiros de 2006, 2007 e 2008. Sem grandes recursos, pôs em campo, em 2007, um Botafogo que era muito bom de ver jogar. E conseguiu o maior milagre acontecido neste século no futebol brasileiro: livrar o Fluminense do rebaixamento em 2009. Não há como não se empolgar com o atual time do Atlético Mineiro. Existem certas desconfianças, é verdade, e todas compreensíveis: o time também empolgou no Brasileirão do ano passado, mas o Fluminense foi campeão com três rodadas de antecedência; enquanto partia pra cima, intimidava e vencia no Estádio Independência, fora de casa virava um inofensivo gatinho e não ganhava de ninguém. Ou seja: a consistência desse Atlético que está aí ainda não foi devidamente comprovada. E não custa lembrar a incensada campanha do Cruzeiro na primeira fase da Libertadores de 2011, para logo depois ser eliminado em casa pelo Once Caldas. E quem era o treinador do Cruzeiro? Sim, o Cuca. 
A primeira fase da Libertadores engana toda vida e dificilmente um time consegue segurar a onda do início ao fim. Riquelme, por exemplo, costuma dizer que a Libertadores começa de verdade quando começa o mata-mata. Infelizmente, a gente tem o péssimo hábito de esquecer essas coisas e repetir os erros. 
Falta a Cuca o que Tite conseguiu com o Brasileirão de 2011 e ratificou com a Libertadores de 2012: um ou dois títulos de peso. Por isso, tirando os torcedores dos outros clubes brasileiros envolvidos na competição – e os do Cruzeiro, por motivos óbvios –, quem gosta de futebol no Brasil deve torcer para o Atlético ficar com a Libertadores. Assim, teremos mais um dos nossos grandes na lista de campeões (ficarão faltando somente Botafogo e Fluminense) e, de quebra, ganharemos um técnico que, apesar de seu comportamento loser e sua cara de bebê chorão, não tem medo de fazer seu time jogar bem e bonito.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A gente vai lá e crau. 
Dilson Funaro ocupava o cargo de ministro da Fazenda em 1986, na época em que o presidente do país era José Sarney. Quando o índice de inflação mensal beliscou os 15%, o governo decidiu lançar um mirabolante plano econômico, cortando zeros, trocando a moeda de cruzeiro para cruzado e decretando o congelamento de preços. Óbvio que deu tudo errado, mas o plano foi vendido à população como algo que ia contra uma suposta falta de sensibilidade dos empresários e totalmente a favor do povo – que, claro, caiu feito um patinho. O principal porta-voz da churumela era o ministro Dilson Funaro, que rapidamente virou uma espécie de herói nacional. Bom. Diz a lenda que, pouco depois, numa reunião ministerial convocada para avaliar a primeira de muitas dificuldades que surgiriam, alguém sugeriu que o governo fizesse um pronunciamento em rede nacional, para tentar enrolar a rapaziada. Concordando com a proposta, vaidoso e confiante no prestígio que o congelamento de preços lhe conferira, o ministro Funaro teria se oferecido para a tarefa, dizendo mais ou menos o seguinte: “Deixa comigo. Pode deixar que eu vou lá e crau.” Eu não sei não, mas começo a achar que a nova diretoria do Flamengo está abusando do direito de chegar lá e crau. A imensa maioria da torcida rubro-negra apoia a seriedade e os esforços que vêm sendo feitos para começar a arrumar a casa. Eu também. A imensa maioria da torcida rubro-negra concorda com o corte geral nos tais esportes ditos olímpicos. Eu também. Não vejo por que pagar uma fortuna a um nadador que mora nos Estados Unidos, treina nos Estados Unidos e o máximo que faz é aparecer uma vez por ano com um roupãozinho com o escudo do Flamengo. Não vejo por que sustentar um ginasta olímpico que sempre que vai para uma competição importante se esborracha de bunda no chão. O Flamengo tem trinta ou trinta e cinco milhões de torcedores por causa do futebol. Se um dia o futebol estiver bombando, com o time ganhando tudo e o dinheiro entrando a rodo, aí pode-se pensar em incentivar a bola de gude e o pique-bandeira. Por enquanto, esquece. Dorival Jr. não tinha culpa de muita coisa, mas o salário o condenava. E se é para chegar em décimo-primeiro ou décimo-segundo no Campeonato Brasileiro, pra que pagar seiscentos mil reais a um treinador? Apesar de seu atabalhoamento e de sua irregularidade, eu gostava do Vágner Love, mas não a ponto de aceitar o que ele custava ao clube. Tudo isso merece apoio, mas paciência tem limite. O Flamengo não tem como fazer o investimento que alguns dos nossos clubes – Corinthians, São Paulo, Inter, Grêmio, Cruzeiro, Atlético – vêm fazendo, e será uma grande surpresa se chegar entre os dez primeiros do Brasileirão 2013. Mas não precisa e não pode ser tão bagunçado dentro de campo. Tomemos o exemplo do próprio treinador, Jorginho. Em 2011 ele dirigiu o Figueirense e o time fez uma bela campanha no Campeonato Brasileiro, a ponto de perder a vaga na Libertadores somente nas duas ou três rodadas finais. Jogava em bloco, defendia-se com eficiência, tinha um contra-ataque forte. Claro: Flamengo é Flamengo, Figueirense é Figueirense, mas Jorginho tem a obrigação de, no mínimo, montar um time de futebol como aquele. Que não será campeão de nada, que jamais dará espetáculo, que terá mais derrotas do que vitórias nos jogos importantes. Mas que vai ser um time, e não um bando. Do contrário, o apoio e a compreensão da torcida vão pro vinagre, o programa do sócio-torcedor naufraga e, assim como aconteceu com o ministro Dilson Funaro, que se viu forçado a pedir demissão, não vai adiantar nada a nova diretoria chegar lá e crau. 
Logo em meus primeiros dias aqui em São Caetano, em maio de 2005, percebi que o futebol seria um grande aliado na minha sociabilização. Já trabalhei em algumas agências onde o pessoal olhava o futebol meio atravessado, mas aqui não. Quase todo mundo gostava. Entretanto, como dizia o Mestre Ambrósio, “terra alheia, pisa no chão devagar”. Assim, fui pisando devagarinho e uma das primeiras coisas que aprendi foi a necessidade de evitar certas discussões, das quais eu sempre sairia derrotado. Era batata. Quando um jogador que havia feito sucesso no Rio se transferia para São Paulo e fracassava, lá vinha a explicação: ah, mas jogar no Rio é muito mais fácil. E quando o cara tinha sido apenas razoável no Rio, mas começava a brilhar em São Paulo, o argumento era fantástico: também, com aquela bagunça dos clubes cariocas, ninguém consegue mesmo se dar bem lá. Voltei a me lembrar disso ontem, por causa do time que Ney Franco mandou a campo. Se algum torcedor do Botafogo viu o jogo, certamente ficou espantado ao encontrar o Édson Silva, todo pimpão, pagando de titular absoluto na zaga. Vai ver ele nunca jogou nada no Botafogo por causa da falta de estrutura. 
Campeão Brasileiro com o Botafogo em 95, campeão da Libertadores com o Cruzeiro em 97, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes com o São Paulo em 2005, Paulo Autuori é hoje um dos treinadores mais respeitados do futebol brasileiro. Em entrevista publicada ontem pelo jornal O Globo, Autuori denunciou o atraso e a insegurança dos nossos técnicos, perguntou em tom de desafio se alguém podia mesmo duvidar que Guardiola faria um bom trabalho na seleção brasileira, disse poucas e boas. E inflou o ego do blog ao afirmar, com palavras um pouco diferentes, o mesmo que publiquei aqui no post de 11 de março, no tópico que fala do Paulo Henrique Ganso. Autuori garantiu ter ouvido, de jogadores que atuaram com ele no exterior, a seguinte frase: “No Brasil eu jogava bola; aqui eu virei jogador de futebol.” O problema é que, além dos clubes brasileiros, Paulo Autuori trabalhou em Portugal, no Peru, no Japão e no Qatar. Se teve gente que só virou jogador de futebol em Portugal, no Peru, no Japão ou no Qatar, a coisa está bem pior do que pensávamos. Ou então, o que é mais provável, Autuori foi devidamente pego na mentira. 
O pênalti de Rogério Ceni em Alexandre Pato é um desses lances do futebol que nem eletrônica, nem televisão, nem arbitragem computadorizada resolvem. Tem gente que vai morrer dizendo que foi pênalti, tem gente que vai morrer dizendo que não foi. Como o resultado do jogo não tinha importância alguma, a polêmica será menor e o mais importante é a constatação – compreensível, mas preocupante para a torcida do São Paulo – de como Rogério Ceni está com os reflexos lentos. Já no primeiro tempo ele soltara uma bola, numa falta cobrada pelo Paulinho, e demorou séculos para fazer a defesa definitiva, quase dando o gol de bandeja ao Guerrero. No lance do pênalti, a falta de jeito do Rafael Tolói foi total, mas Rogério novamente demorou uma eternidade para chegar. A diretoria e a torcida têm a obrigação de, no final desse ano, preparar uma bela festa de despedida para ele.