quarta-feira, 30 de junho de 2010

Portugal sai, Espanha segue. A bola agradece.
Surpreendentemente, a seleção portuguesa se revelou uma das mais retranqueiras dessa Copa. Tanto que, apesar de contar com um dos mais badalados atacantes do mundo, fez gol em apenas um dos quatro jogos que disputou. Ficou no zero a zero contra o Brasil e a Costa do Marfim, perdeu de um a zero da Espanha, e só conseguiu balançar a rede contra a pobre da Coreia do Norte. Deu muita pancada, marcou forte, deixou claro que seu astro metrossexual é muito mais fama do que proveito. Cristiano Ronaldo conseguiu superar o inglês Rooney na disputa pelo troféu de maior decepção da Copa 2010. No time de Portugal salvaram-se o goleiro Eduardo e o lateral-esquerdo Fábio Coentrão, os dois muito bons. A Espanha fez sua melhor partida na Copa, e ganhou de um a zero. Este tem sido o problema da Espanha: mesmo quando apresenta muito mais volume de jogo do que o adversário, não consegue transferir isso para o placar. É um time com ótima movimentação e fino toque de bola, mas que deixa na gente a impressão de que falta alguma coisa. Não seria o Messi? Apesar do Piqué ser bom zagueiro, a defesa mostra certa fragilidade e até mesmo o Casillas, recentemente considerado um dos três melhores goleiros do mundo, tem passado insegurança. Também, quem não fica inseguro com uma namorada daquelas? É bastante agradável ver a seleção espanhola jogar, mas não creio que ela tenha cacife para encarar equipes que reúnam qualidade e competitividade, como o Brasil e a Holanda. Não deve ter problemas para bater o Paraguai, mas se não resolver em sete dias a questão da falta de objetividade, o mais provável é que naufrague contra Argentina ou Alemanha.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Seriedade, rapidez e objetividade, na melhor atuação da seleção do Dunga.
Toda vez que a gente vê, numa oitava de final de Copa do Mundo, uma seleção ganhar um jogo com extrema facilidade, cabe a pergunta: qualquer um venceria aquela partida sem maior esforço ou foram as qualidades daquela seleção que tornaram o jogo fácil? Ontem eu continuei na dúvida, e lembrei de um episódio curioso que aconteceu há muito tempo na transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Os comentaristas da Globo – Lecy Brandão, Haroldo Costa, etc. – se mostravam exageradamente empolgados com as duas primeiras escolas, que eram escolas pequenas e simples, algo como Unidos do Cabuçu e Unidos do Jacarezinho. Convocados a dar notas para os diversos quesitos, era um tal de dez pra cá, dez pra lá, dez aqui, dez acolá, até que um figurão da emissora percebeu o óbvio: se aqueles caras estavam dando dez para Unidos do Cabuçu e Unidos do Jacarezinho, que nota dariam para Portela, Salgueiro e Mangueira? Eu sei que foi uma tremenda saia justa quando o apresentador Fernando Vanucci teve que dizer que as notas iniciais seriam revistas, devido ao excesso de entusiamo dos comentaristas. Nossos jornalistas esportivos também costumam se empolgar precipitadamente com resultados e exibições da primeira fase da Copa, talvez esquecidos de que, desde que começou a ser disputada por trinta e duas seleções, a Copa do Mundo passou a abrigar algumas bizarrices como os times de Honduras, da Coreia do Norte ou da Grécia. E tome de achar que o Chile pratica um futebol envolvente, que a Coreia do Sul é uma grata surpresa, que a Eslovênia tem um timaço. Na maioria das vezes, a gente embarca. O Chile é um time organizado taticamente e que, por uma questão de filosofia do treinador Marcelo Bielsa, procura jogar de forma ofensiva, com três atacantes e marcação na saída de bola. Bacana. Louvável. Só que futebol não se faz apenas com desenhos táticos, mas principalmente com a qualidade dos jogadores. Tendo bons jogadores à disposição, aplica-se um sistema tático adequado e, aí sim, temos um time que dá gosto ver jogar. (Dorival Júnior, por exemplo, tem conseguido fazer isso no Santos. Mas é óbvio que, antes dele, vem a qualidade dos jogadores de que ele dispõe.) A seleção chilena carece de talento em todos os setores. Suazo é um centroavante que precisa ser vigiado com certo cuidado, Valdívia sabe o que fazer com a bola e, apesar de não ter dado trabalho ontem, Sanchez é bom atacante. Convenhamos: é muito pouco para encarar os gigantes do futebol mundial, como Brasil, Argentina ou Alemanha. Por outro lado, mesmo quando infinitamente superiores, equipes apáticas e desconcentradas tendem a complicar jogos simples. Isso não aconteceu com o Brasil. Nossa seleção jogou com seriedade, foi rápida, não deu chance ao azar e matou o jogo em dois golpes certeiros, seguindo a lição de Cláudio Coutinho sobre a qual falei ontem no post que tratava dos jogos do último sábado. Daniel Alves, Ramires e Robinho correram uma barbaridade, Lúcio e Juan estiveram firmes como sempre, até Michel Bastos e Gilberto Silva melhoraram. Nosso próximo adversário tem mostrado um futebol diferente das seleções holandesas que nos acostumamos a ver: menos brilho, menos talento (apesar da indiscutível qualidade do Sneijder e do Robben), mais equilíbrio, mais competitividade. Vai ser um osso duro. Os três jogos anteriores entre Brasil e Holanda em Copas do Mundo – 1974, 1994 e 1998 – foram sensacionais, e este tem tudo para manter a tradição. Brasil e Holanda na sexta, Argentina e Alemanha no sábado: desses dois grandes jogos deverá sair o vencedor da Copa do Mundo de 2010.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um jogo como deveriam ser todos os jogos da Copa do Mundo.
A vitória de quatro a zero sobre a Austrália, na estreia, não representou nada. Mas ontem não: ontem a coisa foi séria. Abre parêntese: por ser um esporte em que, ao contrário do basquete e do vôlei, é muito mais fácil defender do que atacar – daí os placares apertados –, no futebol lances como o gol não validado de Lampard mudam radicalmente os rumos das partidas. E nada mais ingênuo do que achar que, caso o gol fosse validado, o jogo terminaria quatro a dois para a Alemanha. Não é assim que funciona. Mas como a inacreditável trapalhada da dupla uruguaia Jorge Larrionda (o árbitro) e Mauricio Espinoza (o bandeira) corrigiu outro erro histórico, o da final da Copa de 66, que favoreceu os ingleses e prejudicou os alemães, ficam elas por elas. Fecha parêntese. Além de reclamar da arbitragem, a Inglaterra terá que reconhecer que tomou três gols inadmissíveis até em casados contra solteiros, que dirá em Copa do Mundo. No primeiro, o passe para Klose foi um tiro de meta batido pelo goleiro Neuer. No terceiro, o que é que todo o time inglês fazia na área alemã, se aquela falta frontal certamente seria cobrada direto pro gol? Como o chute de Lampard ficou na barreira, os alemães não tiveram dificuldade para montar o contra-ataque que terminou no gol de Muller. No quarto, Barry saiu bem na frente e chegou muito atrás de Ozil, que só empurrou para mais um gol de Muller. Os alemães estavam num dia abençoado, um desses dias em que tudo dá certo. Mas é bom ficar de olho, porque eles mostraram coisas muito boas. O zagueiro Friedrich é excelente e fez uma partida irretocável. Klose e Podolski não são craques, mas exigem marcação atenta. E a seleção alemã tem uma qualidade que a brasileira, por exemplo, não tem: os quatro jogadores do meio-campo sabem jogar bola. Schweinsteiger, Khedira, Muller e Ozil são ótimos. Como nada é perfeito, Lahm e Boateng são laterais limitados. Em jogos mais truncados, daqueles em que há mais necessidade de jogadas pelas pontas, não creio que a seleção alemã possa contar com eles. Expectativa total agora para Argentina e Alemanha. Tem tudo para ser outro jogaço.
A Argentina ainda não enfrentou ninguém. 
Já nos primeiros quinze minutos do jogo contra o México, alguns dos pontos fracos da seleção argentina ficaram expostos. O goleiro Romero, salvo pelo travessão, ia tomando um frangaço num chute de Salcido lá do meio da rua; o lateral-esquerdo Heinze foi facilmente envolvido pelo ataque mexicano, num lance que Guardado concluiu com um perigoso chute rente à trave; o centroavante Higuaín foi dominar uma bola e apanhou dela, matando na canela. Romero, Heinze e Higuaín são fracos, assim como Demichelis e Burdisso. Máxi Rodrigues é um jogador comum, e tomara que seja efetivado no lugar do grande Verón. Messi é fora de série, Tevez é excelente, Mascherano é ótimo. Sem Verón – ou com Verón longe das condições ideais, o que dá no mesmo –, o que a seleção argentina tem de bom é esse trio. Não acho um time difícil de ser parado. 
Aqui em São Caetano do Sul existe um folclórico restaurante chamado "A Tarantella", mais conhecido pela alcunha de "Dedos no Arroz", devido a um singelo hábito de seu garçom-chefe ao carregar as travessas. Pouco antes da final da última Copa América, fomos almoçar no "Dedos" e alguns dos meus amigos se mostravam extasiados com a seleção argentina, que distribuíra goleadas durante a competição e era franca favorita na decisão com o Brasil. E tome de Riquelme pra cá, Riquelme pra lá e coisa e tal. Eu nunca fui um grande fã do Riquelme. Sabe jogar bola, claro, mas acho que é superestimado. Naquela mesa, só eu desconfiava do favoritismo da Argentina, por achar que não deveríamos levar em conta vitórias arrasadoras contra a Bolívia ou a Venezuela. Além disso, a seleção argentina dependia muito do Riquelme, um jogador que não sabe fugir de marcações rígidas e que, quando bem marcado, sempre se irrita e some. Pra mim, bastava um Mineiro determinado para o Brasil equilibrar o jogo. Minha opinião foi desconsiderada e quase fui obrigado a engolir uma bandeja inteira do arroz batizado pelo Seu Tadeu. 
Como assim? O pequenino Mineiro parar o grande Riquelme? Ficou maluco? Veio o jogo, Mineiro acabou com Riquelme, a Argentina não andou em campo e vencemos por três a zero. 
Messi não é Riquelme, mas a Argentina depende demais dele. E como não há no mundo jogador imarcável – José Mourinho e a Inter de Milão que o digam –, a seleção argentina fica vulnerável. A grande verdade é que, até agora, o time de Maradona ainda não foi devidamente testado.
Mesmo com um futebolzinho muito meia-boca, Uruguai e Gana seguem.
O falecido Cláudio Coutinho, técnico da seleção brasileira na Copa de 78 e dos primeiros títulos do Flamengo de Zico e Júnior, era um teórico que gostava de levar para o futebol conceitos de outros esportes. Do basquete, Coutinho importara a necessidade de fazer a bola sempre passar pelos armadores. Tá lá na ponta-direita, tentou a jogada, não deu certo, não insiste: volta e recomeça com quem tem melhor toque de bola e, sobretudo, mais visão de jogo. No basquete isso é bem claro, no futebol nem tanto. Do boxe, Coutinho procurava adaptar a estratégia do segundo golpe. A não ser que o adversário seja muito forte e equilibrado técnica e psicologicamente, sempre que você faz um gol ele dá uma baqueada. Por isso, o ideal é que você parta pra cima, para tentar fazer outro e "derrubá-lo". Se fossem dirigidas por Coutinho e assimilassem suas ideias, as seleções da Coreia do Sul e dos Estados Unidos poderiam ter mudado a história de seus jogos no sábado. Ambas perdiam por um a zero e conseguiram empatar em momentos de apagão dos adversários, só que em vez de partir para liquidá-los, afrouxaram. Jogaram suas chances no lixo e acabaram castigadas, levando o segundo gol e dando adeus à Copa. Fora isso, as partidas de sábado foram fracas e mostraram seleções que precisarão de um milagre para chegar à final – infelizmente, na semifinal uma delas já está garantida.
Da série "A língua é o chicote do corpo" (4).
Na noite da última quarta-feira, no programa "Seleção SporTV", o âncora Luiz Carlos Junior pediu a opinião dos participantes sobre o jogo do dia seguinte entre Dinamarca e Japão, que definiria o segundo colocado no grupo E. André Rizek e Telmo Zanini deram seus palpites com cautela – "eu acho", "eu acredito", etc. Já Lédio Carmona foi pra cima, com a arrogância que costuma acometer a nossa imprensa esportiva. Disse que não havia dúvida, que ia dar Dinamarca fácil, que a seleção japonesa era fraca e envelhecida, que a Dinamarca era muito melhor, que contava com um atacante excelente – o tal do Rommedahl –, que não tinha erro: era Dinamarca e fim de papo. No dia seguinte, não apenas a Dinamarca perdeu o jogo por três a zero, como tomou um chocolate do Japão. Rommedahl não viu a cor da bola.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Semifinalista de qualidade pra lá de duvidosa.
Já se sabe que o maior e mais importante evento esportivo do mundo terá como semifinalista uma dessas quatro seleções: Uruguai, Coreia do Sul, Estados Unidos ou Gana. Alguma coisa está errada. Capaz de criar ou derrubar mitos, capaz de marcar a testa de craques renomados com o carimbo de fracassados, capaz de abalar a carreira de jogadores acima de qualquer suspeita, o maior torneio de futebol do planeta não pode ter entre os quatro primeiros colocados times tão inexpressivos. No entanto, esse tipo de coisa também contribui para aumentar a fama e o glamour da Copa do Mundo. As quatro seleções citadas não têm culpa de nada. Foram lá, fizeram o que precisavam fazer e, beneficiadas pela deficiência técnica alheia e por inesperadas combinações de resultados, viram cair em seus colos a chance de alcançar uma posição muito além de suas próprias capacidades. A FIFA também não tem culpa. No dia quatro de dezembro do ano passado, quando houve o sorteio dos grupos da Copa, quem poderia prever que a França fosse chegar à África do Sul nessa lama? Ou que a Inglaterra não tivesse capacidade para garantir facilmente a liderança num grupo que reunia Estados Unidos, Eslovênia e Argélia? Bom, melhor pra nós. A seleção brasileira tem tudo para fechar essa fase de classificação em primeiro lugar, e assim manter-se na mesma chave de Uruguai, Coreia do Sul, Estados Unidos e Gana. Caso isto se confirme, vai ser mais difícil passar pelas oitavas (se vier a Espanha) e pelas quartas (contra, muito provavelmente, a Holanda), do que pela semi. Por isso, recomenda-se que o Brasil faça a parte que lhe cabe contra Portugal e garanta a liderança do grupo. Devido à vigília cívica de amanhã, o blog volta na segunda.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Poupando gols.
Ontem falei do tico-tico no fubá que meu pai volta e meia usava, para definir times que trabalhavam bem a bola mas não sabiam concluir. Um pouco mais tarde, depois de ter visto alguns momentos de Argentina e Grécia, lembrei de outra do velho. Fluminense doente, ele não se impressionava quando eu chegava em casa empolgado porque o Flamengo tinha vencido o Bonsucesso por cinco a zero. Meu pai dizia: “Isso, assim que eu gosto. Faz cinco no Bonsucesso, dezoito no São Cristóvão, aí quando chegar o jogo contra o Fluminense, vocês já gastaram os gols todos”. Estou preocupado com o Messi. Em primeiro lugar, porque ele é a única coisa nessa Copa que impressiona. O time do Brasil é forte e pode chegar, acho que o equilíbrio da Holanda faz dela uma boa candidata, mas o que existe de diferente nessa Copa é o Messi. Só. Em segundo lugar, tem a história dos gols. Se meu pai gostava quando o adversário gastava os gols antes da hora, tá dando a impressão de que o Messi está poupando. Não por livre e espontânea vontade, mas simplesmente porque eles não têm acontecido. Só que é irreversível: uma hora vão ter que acontecer. Contra a Nigéria, o goleiro Enyeama fez três grandes defesas em três conclusões do Messi. Contra a Coreia do Sul, um dos gols do Higuaín foi inacreditável: Messi fez toda a jogada pela meia-esquerda, bateu forte, o goleiro rebateu, ele emendou de primeira, a bola tocou na trave e correu quase que sobre a linha do gol, indo ao encontro de Higuaín que apenas a empurrou pra dentro. Ontem, em jogada bem parecida, Messi fez tudo certo, chutou, o goleiro grego rebateu e Palermo aproveitou. É certo que os gols do Messi vão sair. Por isso, vale muito a pena torcer para a Argentina sair antes.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A versão moderna do tico-tico no fubá.
Gostar de futebol costuma ser hereditário, e eu não fujo à regra. Meu pai adorava futebol, chegou a jogar pelo Fluminense no tempo de amadorismo, ia aos jogos, assistia às mesas redondas. E como a mais famosa delas era um show de bom humor e inteligência, com João Saldanha, Nélson Rodrigues, Armando Nogueira e José Maria Scassa, tínhamos no domingo à noite um programa legal até pra quem não ligava pra bola. Lembro de uma expressão que meu pai usava muito para definir um time que tocava, tocava, tocava, mas não conseguia concluir: “esse time não passa de um tico-tico no fubá”. Não sei exatamente o que os tico-ticos fazem sobre um prato de fubá, não tenho a menor ideia de como essa expressão foi transportada para as arquibancadas, mas me lembrei dela ontem vendo a Espanha jogar. Gosto muito de meio-campistas do estilo do Xavi, que deixam qualquer time organizado. Com ele em campo, um time pode ganhar ou perder, pode jogar bem ou mal, mas jamais será um bando correndo desordenadamente pra tudo quanto é lado. Os grandes times da história sempre tiveram um jogador assim, mesmo que ele não fosse a maior estrela da companhia. No Santos de Pelé, por exemplo, esse cara era o Mengálvio. No Botafogo de Garrincha, era o Didi. Antes que o meu amigo Paulo Cézar Huebra comece a esbravejar lá de Campina Grande, esclareço: não estou comparando ninguém com ninguém. É só uma analogia. O problema do time da Espanha é que ele passa a sensação de ser um monte de Xavis em campo. Todo mundo toca, toca, toca, bola pra cá, bola pra lá, e bola dentro que é bom, neca. Quando o gol sai rápido – o que é difícil, porque é só toque, toque, toque –, a coisa se resolve. Mas quando não sai, chega a irritar. Todo mundo fala tão bem da Espanha, que pode ser uma falsa impressão causada por dois jogos infelizes. De repente o Fernando Torres é um jogador de muito mais presença na área, o David Villa é mesmo tudo que os espanhóis pensam que ele é, sei lá. Mas com esse tico-tico no fubá da modernidade, vai ser difícil a seleção espanhola encarar as paradas mais duras que vêm por aí e confirmar todo o oba-oba que foi criado em cima dela.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jogo de Copa é isso. E o Brasil jogou muito.
Uma vez vi Bernardinho, rei absoluto do mau humor, reclamar que aqui no Brasil não se conseguia perceber virtudes nas derrotas, nem defeitos nas vitórias. Ganhou, mil maravilhas; perdeu, nada presta. Quando se trata da seleção brasileira de futebol, aí mesmo é que a coisa piora, porque não basta ganhar. Exigentes e mal-acostumados, achamos que é preciso ganhar de muito e dar espetáculo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: assim como não dá pra querer show de bola toda hora, também não dá para aceitar que a seleção brasileira jogue de forma tão apática e chocha quanto na vitória por dois a um sobre a Coreia do Norte. Não precisa dar chocolate, mas tem que, no mínimo, querer jogar bola. 
Contra a Costa do Marfim foi outra história. E antes que venha aquele surrado papo de “ah, mas quem é Costa do Marfim?”, é bom esclarecer a quem ainda está futebolisticamente nos anos setenta: o mundo mudou, e o futebol mudou com ele. O centroavante Drogba é, de longe, o jogador mais importante do melhor time da Inglaterra. O meio-campista Yaya Touré joga no melhor time do mundo, o Barcelona. Mesmo que ainda consiga passar para as oitavas, a Costa do Marfim não terá chance de chegar ao título. Ok. Mas daí a achar que é fácil ganhar da Costa do Marfim vai uma enorme distância. O Brasil fez o jogo parecer fácil, e isso em Copa do Mundo não é pouca coisa. 
Nossa seleção teve vontade, velocidade, espírito coletivo e bons momentos de brilho individual. Ou seja: tudo o que faltou no primeiro jogo. Rapidez e precisão na triangulação que terminou com o chute perfeito de Luís Fabiano, no lance do primeiro gol. Confiança e malandragem de Luís Fabiano no segundo. A ressurreição da jogada característica de Kaká no terceiro. Maicon percebeu que seria marcado de perto o tempo inteiro e soube jogar pro time. Robinho com intensa movimentação, querendo jogo, não fugindo da raia. Kaká respondendo que não, ele não será em 2010 o mesmo que Raí foi em 94. E Luís Fabiano atuando como um grande centroavante – e não como um poste, que foi o que ele fez na partida da primeira rodada. Lúcio e Juan jogaram muito. Até porque, uma coisa é fechar a entrada da área enfrentando bondes como Crouch ou Anelka, outra é fazer isso contra Eto’o ou Drogba. Segundos antes do gol de Drogba, uma intervenção de Juan valeu por um curso completo de como jogar na zaga. Gervinho arrancou com a bola dominada desde o meio-campo e ganhou de todos na corrida, até chegar diante de Juan, último homem da nossa defesa. Olho fixo na bola, concentração absoluta, técnica e serenidade, Juan deu o bote no único momento possível, tocou a bola e tirou a chance do atacante marfinense. 
O grande erro da seleção brasileira foi cometido pelo técnico Dunga, que deveria ter sido mais firme em sua decisão de substituir Kaká. Era importante pra nossa seleção que Kaká entrasse contra Portugal, em mais um passo para voltar à melhor forma. Dunga é o comandante, tem que ser dele a palavra final, e ele tinha razão. Nossa seleção esteve longe da perfeição, tivemos mais uma demonstração de que dificilmente veremos goleadas e atuações mirabolantes, mas o time mostrou força e equilíbrio entre as linhas, o que no futebol de hoje é fundamental. Ninguém ganha jogo só com o ataque, ninguém ganha jogo só com a defesa. A seleção brasileira provou que pode chegar pra brigar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje é um dia triste pra quem sabe que uma caneta pode fazer muito mais do que humilhar o adversário.
Todo mundo que gosta de escrever – mesmo que seja num blogzinho vagabundo sobre futebol, que nem esse aqui – sabe que hoje de manhã, em Lanzarote, aconteceu algo mais triste do que qualquer derrota por três a zero em final de Copa do Mundo. Todo mundo que gosta de escrever – mesmo que sejam coisas sérias e escritas com muito mais talento do que aqui – tem a obrigação de, antes de ligar o computador, pensar se vale mesmo a pena, já que não existe a menor possibilidade de chegar perto do que ele fazia. Quem leu Levantado do Chão, Memorial do Convento e O Evangelho Segundo Jesus Cristo há de concordar: escrever é aquilo lá. O resto é blog sobre futebol.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ainda não pintou o campeão.
Copa do Mundo é uma competição que jamais é vencida por uma seleção badalada. Brasil em 50, Hungria em 54, Holanda em 74, Brasil e Argentina em 82, Brasil em 2006. Nenhuma delas venceu. A explicação está no próprio conceito do jogo, que permite a vitória do mais fraco, e também do torneio, que a partir das oitavas é eliminatório. Quando um time se destaca, todos ficam de olho, estudam como marcá-lo e sabem que, se conseguirem se superar naqueles noventa minutos, acabam com o bicho-papão. Derrubam o mito. E não há nada mais bacana no futebol do que a queda de um mito. É claro que a Espanha ainda pode ser campeã, mas o mito caiu. O que, para a seleção espanhola, foi um grande negócio: é muito melhor tomar uma chacoalhada na primeira fase, ainda com tempo para se recuperar, do que no mata-mata, quando se perder acaba. Embora não tenha alcançado a badalação da Espanha, a Argentina é outro mito dessa copa. Digamos, um mitinho, que se deve ao craque que realmente é o Messi, ao grande futebol do Verón, aos gols de Milito definindo jogos decisivos da temporada europeia. Mas algo me diz que hoje, no último minuto do primeiro tempo, o mitinho começou a cair: a zaga argentina é muito pior do que a gente pensava. A falha de Demichelis no gol sul-coreano foi bisonha. Ele tem toda a pinta de galã da novela das seis, porte, cabeça erguida, rabo de cavalo, mas um futebolzinho de lascar. Como diz meu amigo Serginho, é um mentiroso. Além disso, Gutierrez é muito fraco, Heinze não dá mais e Samuel, que continua sendo um zagueiro firme, sentiu a coxa e saiu machucado. A verdade é que Maradona não tem defesa, e do jeito que se joga futebol hoje em dia, é quase impossível ganhar a Copa do Mundo só com um bom ataque. Ou alguém acha que a Argentina vai fazer três ou quatro gols contra a Itália, contra a Inglaterra, contra o Brasil? Vai nada – do mesmo modo que o Chelsea e o Barcelona não conseguiram fazer os gols de que precisavam contra a Inter de Milão, na Liga dos Campeões. Espanha e Argentina continuam sendo fortes candidatas, mas estão longe, muito longe, de ser imbatíveis. As coisas ainda estão bastante equilibradas, e acho que a gente precisa ver muito mais o potencial de cada seleção do que os resultados até agora. Por isso, pra mim, só França e Itália estão fora da briga.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Até o jogo de estreia, a seleção do Dunga deve melhorar.
Já vi vários times vencerem jogando com um a menos, mas ontem vi, pela primeira vez, um time vencer jogando com apenas um. Só Robinho jogou bola. Nossa seleção confirmou o que todos sabemos desde que Dunga assumiu o comando: por praticar um futebol mecânico e burocrático, ela tem sempre enorme difculdade para vencer seleções mais fracas. Todo mundo deve lembrar: a pior exibição do Brasil no últimos tempos foi no zero a zero com a Bolívia, ainda nas eliminatórias, no Engenhão. Quando a seleção de Dunga enfrenta bolívias, coreias e uzbequistões, não dá outra: é um drama fazer um golzinho que seja. Contra equipes mais qualificadas, que temem menos e saem mais pro jogo, os espaços aparecem e a seleção rende mais. E é bom mesmo a gente se apegar a essa esperança, porque ontem foi uma lástima. É óbvio que chega a ser ridículo entrar com dois volantes de marcação contra um time que joga com dez atrás, mas Gilberto Silva e Felipe Melo foram os menores dos nossos problemas. Deles não esperamos nada, e eles não nos decepcionaram. Os problemas maiores foram os jogadores dos quais dependemos ofensivamente. Maicon foi eleito, não sei por quem e nem por quais critérios, o melhor em campo, mas eu não gostei. Estava lento, nada incisivo e achou um gol sabe-se lá como, num chute bem dado, é verdade, mas que um goleiro experiente teria defendido sem esforço. Kaká teve desempenho patético e deixou no ar uma pergunta inquietante: será que ele vai repetir, agora em 2010, o que foi Raí em 94? E por fim, Luís Fabiano. Pra jogar preso entre os zagueiros, sem mobilidade e sem conseguir dominar uma bola, era melhor ter levado o Imperador ou o Fenômeno. Pelo menos esses dois impõem respeito. Luís Fabiano pode fazer todos os gols do mundo, mas eu gosto mais do estilo do Nilmar. De qualquer modo, e como a Itália provou em seus títulos de 82 e 2006, o importante nessa fase é se classificar. Por isso, nossa maior preocupação fica por conta da magreza do placar. Portugal e Costa do Marfim, embora também sem qualquer brilho, fizeram um jogo bastante equilibrado. Se conseguirem equilibrar também os jogos contra o Brasil, os saldos obtidos diante da Coreia serão decisivos. Tomara que não seja preciso lamentar aquele golzinho bobo, bobo que a gente tomou no final.

O jogo de uma jogada só.
Portugal e Costa do Marfim fizeram uma partida que não fugiu ao padrão desse início de Copa: muita marcação, poucas chances de gol, raríssimos brilhos individuais. Houve uma bela jogada do Cristiano Ronaldo, com um drible de letra e um chute violento na trave, e nada mais. Aliás, acostumado a jogar com um monte de craques no Manchester United e no Real Madrid, Cristiano Ronaldo está penando ao lado de Coentrão, Pedro Mendes e Danny. É bom pra ele aprender que futebol é um esporte coletivo. Portugal tem um problema que não muda: quando se aproxima uma Copa do Mundo, começam os comentários de que Portugal está com uma seleção muito boa, essa geração é excelente, dessa vez vai, etc e tal. Aí a gente liga a tevê pra ver o jogo de Portugal e quem está lá? Ricardo Carvalho, Deco, Simão, os caras de sempre. Propaganda enganosa. Apesar da pouca inspiração, e certamente prejudicada pelas precárias condições do Drogba, a Costa do Marfim pareceu ser a melhor entre todas as seleções africanas que participam da Copa. Tem um time forte fisicamente, sabe marcar, e se conseguir recolocar Drogba em forma, vai dar trabalho. Não será surpresa se passar para as oitavas.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A ressurreição dos pontas. 
O famoso frasista Neném Prancha, folclórico técnico de futebol da Praia de Botafogo, dizia que “a bola é feita de couro; o couro vem da vaca; vaca não voa, anda pelo chão; portanto, a bola não foi feita para ser chutada pro alto, e sim pra rolar rente à grama”. 
Certamente, Holanda e Dinamarca fizeram o jogo dessa Copa em que a bola ficou por mais tempo rolando no gramado. Movimentação, toques rápidos, triangulações, velocidade. Ocorre que foi, também, uma partida com poucas chances de gol, mas Copa do Mundo é dureza mesmo. Todo mundo correndo muito, jogando sério, marcando firme. 
A Holanda mostrou coisas boas, como os já conhecidos e perigosos Sneijder e Van Persie. É verdade que ninguém arrebentou com o jogo, como Ozil fizera pela Alemanha na partida de domingo contra a Austrália. A diferença é que havia adversário. Ozil – que é muito bom jogador, sem dúvida – comeu a bola contra um time que não ganha nem da seleção de Carapicuíba. 
Do mesmo modo que a Inglaterra, a Holanda merece elogios por ter apresentado uma velha novidade: um atacante que joga bem aberto pela ponta, e que só sai daquela faixa do campo pra receber o salário no final do mês. E o salário de ambos deve ser alto, porque tanto o ponta-direita inglês Lennon quanto o ponta-esquerda holandês Elia são muito bons. Apesar de mostrar problemas no ataque, ficou claro que a Dinamarca sabe jogar o jogo. O que matou o time foi a terrível trapalhada que seus dois defensores fizeram no primeiro gol da Holanda, algo inadmissível numa zaga de Copa do Mundo. 
A Holanda não apresentou tudo o que dizem dela, mas deixou claro que é forte. Vi só o segundo tempo de Japão e Camarões. Infelizmente, a exibição de Camarões serviu para reforçar a queixa feita pelo blog contra a europeização do futebol da África negra. Não tem mais alegria, ginga, surpresa. Agora eles praticam o futebol de resultados. Quer dizer, resultados ruins, já que a Nigéria não viu a cor da bola na derrota para a Argentina e Camarões perdeu do Japão. Gana até que conseguiu vencer a Sérvia, mas jogou feio pra chuchu. Resta a Costa do Marfim, mas essa é do grupo do Brasil. Será que justo ela vai fazer bonito? 
Itália e Paraguai não surpreenderam ninguém: joguinho de doer. Tenho a impressão de que o dinheiro que corre farto no futebol da Itália e da Inglaterra acaba originando um erro muito comum: as pessoas confundem a qualidade dos times que disputam os campeonatos nacionais, cheios de craques estrangeiros, com a qualidade das seleções. A Inter de Milão entrou em campo pra disputar a final da Liga dos Campeões sem um único jogador italiano. Aí a gente vai ver a seleção jogar, e o time é cheio de gente do Udinese, do Cagliari, ou de caras que são reservas em seus clubes. Tem esse papo de tradição, a Itália começa mal e termina bem, é time de chegada e coisa e tal. Mas eu desconfio que a Itália não vai chegar a lugar nenhum.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

As três piores coisas dos três primeiros dias de Copa.
A europeização das seleções da África negra. O frangaço do goleiro inglês Green. A desastrada atuação do centroavante argentino Higuaín. 
Já vimos Camarões, Gana e Nigéria praticando um futebol no mínimo divertido. Velocidade, malemolência, riscos, ofensividade, alegria. Mas agora que todos os jogadores dessas seleções atuam no futebol europeu, dá dó ver Nigéria e Gana jogando como se fossem a Suíça e a Suécia. Não por acaso, a mais bacana das seleções africanas, até agora, foi mesmo a da África do Sul, com seu time formado por jogadores que atuam no próprio país. 
O frango de Green é consequência direta de um futebol em que há excesso de dinheiro. Se pegarmos os seis primeiros colocados do último campeonato inglês, temos o seguinte quadro: o goleiro do Chelsea é da República Tcheca; o do Manchester United é holandês; o do Arsenal é espanhol; o do Tottenham é brasileiro; o do Manchester City é irlandês; o do Aston Vila é norte-americano. Robert Green é goleiro do West Ham United, time que terminou a última temporada em décimo-sétimo lugar. É mais ou menos como se o goleiro titular da seleção brasileira atuasse no Náutico. Pra quem tem dinheiro sobrando, é sempre mais cômodo comprar feito do que formar, e o resultado é que há muito tempo não aparece um grande goleiro nascido na Inglaterra. 
Higuaín vai ser a senha pra falar um pouco mais da seleção Argentina. Gente, o time não é isso tudo não. Tem o Verón, de quem sou fã de carteirinha, mas ele não aguenta mais um jogo inteiro no mesmo ritmo. Tem o Messi, sobre quem não é preciso dizer nada. Tem outros bons jogadores. Mas tem problemas, e como. O goleiro é atabalhoado e não inspira a menor confiança. Também não há novidade em falar na fragilidade dos zagueiros de Maradona. Mesmo contra um time taticamente acuado e tecnicamente pobre, deram mole em vários lances, oferecendo oportunidades de gol a um adversário que não as queria. Carlito Tevez jogou bem, mas estranhei a posição em que foi escalado: armando, indo buscar a bola muito atrás, tendo mais a função de servir os companheiros. Quanto a Higuaín, francamente: sem velocidade e meio grossão, lembrou o nosso Washington em seus piores dias. Ah, mas ele é titular do Real Madrid. E daí? Ah, mas ele pôs Milito no banco. E daí? Por falar em Milito, vale lembrar que ele nunca foi reconhecido na Argentina e que com trinta anos de idade jogava no Genoa, da turma intermediária do futebol italiano. Foi pra Inter de Milão na última temporada e, temos que reconhecer, arrebentou. Só que aí vem a história: em vez da gente olhar para o Milito como um bom atacante que está em boa fase, enxergamos no Milito um centroavante excepcional – que ele nunca foi e não é. A grama do vizinho é sempre mais verdinha, como ensinavam nossas tataravós. É claro que a motivação de jogar contra a Nigéria é uma, e a de jogar contra Brasil, Itália ou Alemanha é outra. Mas vocês já pensaram no cipoal de críticas que tomaria conta da imprensa e no pessimismo que inundaria os cento e noventa milhões de brasileiros, se a nossa seleção ganha do fraco time da Nigéria por apenas um a zero? Pois os argentinos fizeram festa, no campo, na arquibancada e em Buenos Aires. Sou um grande admirador do futebol argentino, não abraço essa ideia de torcer contra a seleção argentina por princípio, mas o time deles não tem nada de bicho-papão.
As três melhores coisas dos três primeiros dias de Copa.
O gol da África do Sul, no jogo de abertura contra o México. A atuação do goleiro Enyeama, da Nigéria, contra a Argentina. O nível das arbitragens. 
O gol de Tshabalala foi futebol do mais alto nível. Participação de três ou quatro jogadores, troca de passes envolvente, velocidade estonteante, conclusão plástica e indefensável. Golaço. 
Enyeama foi uma excelente surpresa, porque não estamos acostumados a ver bons goleiros nas equipes africanas. Só me lembro de um: o camaronês Songo’o, campeão espanhol pelo Deportivo La Coruña. Goleiro costuma ser um dos pontos fracos dos times da África, mas Enyeama mostrou coragem, colocação e elasticidade. Não teve culpa no gol de Heinze e fez cinco excelentes defesas, três em chutes de Messi e duas em finalizações de Higuaín. 
Os juízes, acertadamente, estão deixando o jogo correr, entendendo que o contato físico e a chegada forte fazem parte do futebol. A única exceção foi o mexicano Marco Rodriguez, rigoroso demais no lance da expulsão do australiano Cahill. Um cartão amarelo estava de bom tamanho. De qualquer modo, que diferença para o não-me-toque das arbitragens brasileiras! Minha esperança é que os nossos juízes e, principalmente, os integrantes das nossas comissões de arbitragem, estão todos vendo a Copa. Pode ser que eles se convençam de que futebol é aquilo lá, e não tem nada a ver com esse festival de frescuras que a gente vê por aqui. Aliás, estou convencido de que a responsabilidade nessa história é muito mais das comissões de arbitragem do que dos juízes. Não há outra explicação para o fato de Simon apitar tão bem na Copa e fazer lambanças em cima de lembanças aqui no Brasil.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pontapé inicial.
Minha mulher caiu na besteira de instalar uma Sky HDTV lá em casa. Isto significa que, apesar de minha tevê ainda ser um bom e velho tubão, posso gravar programas. Assim, mesmo com os jogos da Copa acontecendo no horário de trabalho, vai dar pra ver bastante coisa. Às vezes vou escrever antes das partidas, às vezes depois, mas o blog promete não deixar a peteca cair. Escrever antes dos jogos é sempre um risco, pois existe a incontornável tentação de fazer previsões e tenho certeza de que errarei a maioria. Essa é a graça. África do Sul e México é um jogo que, se fosse disputado em qualquer outro lugar do mundo e em qualquer outra ocasião, terminaria com a vitória do México. Fácil. Mas como é na África do Sul e como é abertura da Copa, tudo pode acontecer. Não que o México seja algo maravilhoso, mas é um futebol que vem tendo um – digamos – desenvolvimento sustentável. Não sei se algum dia será campeão do mundo, mas vai dar cada vez mais trabalho. A África do Sul é fraquinha demais, mas a gente tem incontáveis exemplos de que, em copas do mundo, jogar em casa representa uma vantagem considerável. Um pouco mais tarde, França e Uruguai fazem o clássico da decadência. A seleção francesa dá a impressão de que, na verdade, nunca existiu. O que existiu foi um gênio chamado Zinédine Zidane. Teve a geração do Platini e tal, mas nunca chegou lá. Com Zidane, sim, foi campeã em 1998 (em casa, frise-se) e vice em 2006. Sem Zidane, que estava machucado, em 2002 não passou da primeira fase. O futebol uruguaio está em decadência desde 1950. É a praga de Barbosa. Depois daquilo, nunca mais chegou sequer a uma final. Ambas as seleções tiveram que passar por aquela angustiante repescagem para chegar à Copa, mas, de qualquer modo, deve ser um jogo legal. Nada contra a França, mas vou torcer para o Uruguai.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os seis grandes candidatos ao título do Brasileirão 2010.
Dando sequência ao post de ontem, hoje vou falar das minhas apostas para o Campeonato Brasileiro desse ano. Por uma questão de reconhecimento e respeito, começo pelo líder. O Corinthians tem três grandes vantagens e um problemão. Vantagem número um: abriu uma diferença que pode pesar na reta final, embora não tenha sido decisiva no ano passado. (Na metade do segundo turno, o Palmeiras estava nove pontos à frente do Flamengo.) Vantagem número dois: dos seis candidatos, é o único que não encontrará dificuldades com o mando de campo. O São Paulo não terá o Morumbi, o Palmeiras não terá o Parque Antártica, o Inter não terá o Beira-Rio, Flamengo e Fluminense não jogarão no Maracanã – o que, no caso do Flamengo, pode ser mortal. Só o Corinthians continuará jogando em sua casa, o Pacaembu. Vantagem número três: apesar de, provavelmente, ter que se conformar com a perda de dois ou três bons jogadores, o elenco é equilibrado e as reposições não devem ser tão traumáticas. O problemão do Corinthians é que, desde que começou essa história de pontos corridos, ninguém conseguiu vencer o Brasileirão de ponta a ponta. Largar na frente virou maldição. 
O São Paulo é a força de sempre. Ao contrário do que costuma acontecer, contratou mal e sem critério no início do ano, mas foi se ajeitando aos poucos. No entanto, sua participação no Brasileiro vai depender muito da trajetória na Libertadores. Apesar do futebol excessivamente pragmático – e por isso, na maioria das vezes, chato de se ver –, continua sendo o time mais consistente do país. 
Na arrancada que levou o Inter ao vice-campeonato no ano passado, Mário Sérgio provou que um técnico determinado pode fazer o time engrenar. Jorge Fossati foi má escolha e fez o Inter perder tempo. Outra vantagem da equipe gaúcha está no fato de manter os mesmos jogadores do segundo semestre de 2009. Não saiu ninguém, e se todos permanecerem após a janela, esse entrosamento vai acabar contando. 
Em um dos posts de 20 de maio, escrevi que não vejo, na equipe do Palmeiras, problemas tão críticos quanto os próprios palmeirenses costumam apontar. Precisa de um lateral esquerdo e de dois bons atacantes – agora um só, com a volta do Kléber. Como não deve perder ninguém na janela e a ideia é se reforçar ainda mais, posso até ser o único, mas considero o Palmeiras um bom candidato. 
O Flamengo é a incógnita de sempre. Tanto pode fazer tudo certo, quanto se superar nas tolices e absurdos. Quando ninguém esperava nada do time – cheguei a ver o flamenguista Renato Maurício Prado falar em risco de rebaixamento, após a derrota para o Avaí por três a zero, na segunda rodada do segundo turno –, levantou a taça. O Maracanã vai fazer muita falta, mas tudo no Flamengo é imprevisível. Se começar a acertar e os outros derem mole, como aconteceu no ano passado, é um time que tem peso e tradição no Brasileiro. 
Espero que, a essa altura, meu amigo e grande conhecedor de futebol Jaime Agostini já tenha desistido de ler o post. Chegou a hora de falar do Fluminense e elogiar o trabalho de Muricy – que, para os que não sabem, é odiado pelo Jaime. O Fluminense está fazendo tudo direito. Do time que conseguiu a inacreditável recuperação no ano passado, só foi embora o bom atacante Maicon. Os outros estão todos lá. Carlinhos não é nada de excepcional, mas acertou a lateral esquerda, e fala-se de uma lista de reforços que pode tornar o time ainda mais robusto. Dinheiro, parece que há. Acho fracos os dois volantes que vêm jogando, Diogo e Diguinho, mas a verdade é que Muricy deu padrão de jogo ao time, ajeitou a defesa, deixou mais rápida a ligação entre o meio e o ataque, e aumentou em muito a competitividade. Ganhou com sobras do Atlético no Mineirão e do Avaí na Ressacada, não tomou conhecimento do Flamengo, fez o dever de casa contra Atlético Goianiense e Vitória no Maraca, e mesmo nas duas derrotas (Ceará e Corinthians, ambas fora de casa), jogou melhor que seus adversários. Temos o hábito de superestimar o trabalho dos treinadores, que quando não atrapalham já fazem muito, mas é preciso dar a mão à palmatória. Muricy está indo bem à beça, e se continuar nessa pegada o Fluminense pode chegar lá.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Enquanto a Copa não começa.
É óbvio que o Campeonato Brasileiro é mais divertido que a Copa do Mundo. Não há muita graça numa competição em que todos torcem para o mesmo time. Além disso, é duro assistir aos jogos com as mulheres dando gritinhos desesperados até em cobrança de tiro de meta. Minha filha Nina, minhas amigas Dani Squarzoni, Camilinha e outras que gostam de futebol sempre, e não apenas de quatro em quatro anos, não precisam ficar aborrecidas. A carapuça não cabe em vocês. Assim, antes que a Copa comece e não se fale em outra coisa, acho que ainda vale uma tentativa de previsão sobre o que pode acontecer quando o Brasileirão voltar. Até porque a previsão é simples: pode acontecer de tudo. Pelo menos em tese, todo Campeonato Brasileiro começa com doze candidatos ao título – aqueles que são, historicamente, os doze grandes clubes do nosso futebol. Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Pelo que fizeram nas últimas temporadas e pelo que mostraram nas sete primeiras rodadas, tiro da lista desse ano o Atlético Mineiro e o Vasco. Mesmo que se reforcem bastante, não vai dar para pensar em título. Apesar dos bons resultados iniciais e da dedicação de Joel Santana, a fragilidade do elenco botafoguense também exclui a brava equipe da estrela solitária. Já escrevi várias vezes que gosto bastante do futebol jogado pelo Cruzeiro, mas com a saída de Kléber e Adílson Batista o time certamente perderá força e personalidade. Pra mim, tá fora da briga. O Grêmio é forte no papel, embora com uma defesa bem mais vulnerável do que a das últimas campanhas. O problema é que, a exemplo do que ocorreu no ano passado, continua sem vencer fora de casa, e é impossível faturar o Brasileiro ganhando apenas no Estádio Olímpico. Reconheço que a próxima opinião pode ser considerada crime de lesa-futebol, mas, paciência: não acredito em título do Santos. Quer dizer, até acreditaria se os times continuassem os mesmos após a janela, mas como isso não vai ocorrer e o Santos é o mais talentoso de todos, certamente é o que mais vai sofrer. Robinho não deve voltar, Wesley provavelmente saia, é grande a possibilidade do Ganso partir. Se nada disso acontecer, o Santos tem muita chance; se tudo isso acontecer, um abraço. Sobraram seis candidatos. Mas como o post já está enorme e a Copa só começa na sexta-feira, dá tempo de falar sobre eles amanhã.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Paulo Asano, a Jabulani e o direito de resposta.
No dia 12 de abril, fiz um post sobre o jogo entre São Paulo e Santos em que, por vias transversas, comparei o futebol do centroavante Washington ao do meu amigo Paulo Asano. Paulo entende tanto de futebol quanto eu de curling, mas como este é um blog democrático e que cumpre leis, estamos abrindo espaço para que ele exerça o seu inalienável direito de resposta. Portanto, o texto abaixo é do meu amigo Paulo Asano.
“Pronto: agora meu problema tem nome. Desde criança eu tento explicar aos meus colegas de campo, ou melhor, da rua mesmo, que era onde jogávamos nossa pelada diariamente, que o meu problema com futebol não se chamava Paulinho, que todas as furadas, bolas fora e bicudas que eu dava em qualquer direção eram apenas um problema técnico. Da bola. E olha que nem era uma Jabulani! Normalmente de “capotão”, pesada e toda torta, a bola que usávamos era péssima. Não sei como os outros não percebiam. Não me dava a menor chance de mostrar todo o meu potencial, minhas habilidades eram mascaradas a cada jogada. Mas como poderia um garoto, que até então era apenas uma promessa para o futebol europeu, dizer que o problema dele era a bola? Pois é, com direito a trocadilho e tudo, ninguém me dava bola na época, e então fui obrigado a partir para esportes onde as hoje chamadas jabulanis não existiam. Aliás, nem mesmo suas parentes eu queria ver por perto. Sim, qualquer esporte que envolvia uma bola me parecia um tanto estranho. Basquete, vôlei, handebol, enfim, se tinha bola o Paulinho preferia ficar de fora, ou entrava na quadra só pra correr de um lado para o outro, torcendo pra que ninguém lhe passasse a maldita. Enfim, essa Jabulani sempre me pareceu estranha mesmo. De pé e deitada ao mesmo tempo, girando ou parada, na mão ou no pé, o que ela queria mesmo era acabar comigo. Instável demais, enquanto era tratada por meus amigos com todo o carinho, eu olhava pra ela com desconfiança e sabia que, um dia, alguém iria entender do que eu estava falando naquela época. E agora, com todas as principais seleções de futebol a meu favor, espero que meus amigos se retratem e me peçam desculpas por todas as vezes em que fui deixado por último na seleção de times, e saibam que, assim que esse problema com a tal Jabulani for resolvido, o Paulinho voltará aos gramados para pôr todo o seu talento em jogo.”
O surgimento do Bruno César é uma prova do sumiço dos olheiros.
Artigo primeiro, parágrafo único: Bruno César não é craque. Todos de acordo, podemos seguir com o raciocínio. Mesmo não sendo craque, nas poucas partidas que disputou pelo Corinthians ele já mostrou que tem lugar no time. Em um dos posts de 12 de abril, elogiei o então pouco conhecido Bruno César após uma das partidas do Santo André pelo Campeonato Paulista, mas sua afirmação no Corinthians é fundamental, até porque Corinthians é Corinthians e Santo André é Santo André. Peguem o Roger, atual artilheiro do Brasileirão, e o coloquem – como já colocaram – no São Paulo, no Palmeiras, no Fluminense: é um poste vestido com a camisa nove. Ponham o Roger em times como o Sport, o Vitória ou o Guarani: é um gol atrás do outro. Futebol tem dessas coisas. Mas esse post quer tratar do seguinte: por que o Corinthians perdeu tanto tempo, lábia, energia e, acima de tudo, dinheiro, para trazer Tcheco, Danilo, Edu, etc., quando a melhor maneira de cobrir a saída de Douglas estava aqui ao lado? É verdade que Bruno César ainda não atuava pelo Santo André na medíocre campanha do time no último Campeonato Brasileiro, mas jogava por perto e ninguém viu. Houve um tempo em que os grandes clubes brasileiros – todos, sem exceção – tinham olheiros em suas folhas de pagamento. O Flamengo teve um que virou lenda, o Mineiro, mas todos tinham. Esses caras saíam pelo Brasil afora assistindo às mais despretensiosas peladas, checando indicações que raramente se confirmavam, garimpando, filtrando, fazendo um trabalho de abnegação e paciência em que havia muito mais fracassos do que sucessos. Mas os poucos sucessos compensavam. Foi assim que Waldemar de Brito levou Pelé de Bauru para o Santos, foi assim que Celso Garcia levou Zico de Quintino para o Flamengo. Não pode ser simples acaso, mas o fim dos olheiros coincide com o reinado dos empresários no gigantesco negócio em que o futebol se transformou. Ou então, o que é mais provável: os olheiros continuam dando duro por aí, mas não trabalham mais para os clubes. Trabalham para os empresários.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um bom domingo e um triste sábado.
Ontem havia três clássicos no mesmo horário, e era preciso escolher um. Descartei Santos e Vasco, porque achei que era barbada. Tá certo que o Fernando Prass – que é bom goleiro – não precisava ter feito aquela bobagem que facilitou ainda mais a vida santista, mas se não fosse de um jeito seria de outro. Quando vi o Grêmio escalado sem Jonas e Borges, com William e Róberson formando o ataque titular, desisti de São Paulo e Grêmio. Fiquei com Corinthians e Botafogo. Jogo bom de ver. Aliás, quanto mais eu vejo o Botafogo jogar, menos eu gosto do técnico do Flamengo. Se você comparar posição por posição, jogador com jogador, é possível que os onze do Corinthians sejam superiores aos onze do Botafogo. Minha única dúvida é no gol, menos por causa do Felipe, de quem eu gosto, e mais por causa do Jéfferson, de quem eu gosto muito. Aí alguém pode dizer: mas futebol é conjunto. Sim. E a todo momento que a gente olhava pro campo, ficava claro que o Corinthians era mais time, com mais toque de bola, mais consistência, mais controle do jogo. No entanto, foi uma pedreira. Apesar de fraco individualmente, o Botafogo é organizado – o que é uma prova indiscutível do trabalho do treinador. A partida teve vários destaques, tanto positivos quanto negativos, e com gente jogando nas duas. Elias, por exemplo. O passe para o gol de Bruno César foi dificílimo e perfeito. Mas alguma coisa no Elias está diferente, não? Ele não tem sido o jogador dinâmico e explosivo do início do ano passado, que não dava sossego e estava em todo canto do campo. Talvez a arrumação do time com dois meias (no ano passado era só o Douglas) tenha tirado do Elias espaço para atuar. Bruno César também foi do céu ao inferno: fez um ótimo primeiro tempo, e no segundo sumiu, aparecendo somente lá pelos quarenta minutos, com uma bela bola enfiada para Roberto Carlos. É verdade que Ralf errou no gol de Lúcio Flávio, mas a falha maior foi coletiva: pra que o time todo na área do Botafogo, numa falta que certamente seria cobrada com um chute direto? Bom jogo no Engenhão. Em tudo e por tudo, completamente diferente de Flamengo e Goiás, sábado no Maracanã. O Flamengo é um caso raro. Como o esporte é coletivo, a tendência é que os times melhorem a cada partida. O Flamengo só piora. Senão, vejamos. O jogo de estreia, contra o São Paulo, não vale: eram dois times burocráticos e desinteressados, pensando apenas nos compromissos que teriam pela Libertadores. O jogo da segunda rodada, contra o Vitória, também não vale, por não ter acontecido num gramado de futebol, e sim num lamaçal. A partir daí, de zero a dez, o Flamengo levou nota cinco contra o Grêmio Prudente, quatro contra o Fluminense, três contra o Grêmio, dois contra o Palmeiras (apesar da vitória fora de casa, foi de amargar) e nota um contra o Goiás. Precisa mandar muita gente embora, precisa contratar com precisão cirúrgica – o que, de resto, vale para quase todos os times do campeonato –, mas, repito: vendo o Botafogo jogar, aumenta minha certeza de que o problema maior é mesmo de comando. O Flamengo tem hoje, disparado, o pior treinador do futebol carioca. Rogério Lourenço fez, com Gélson Baresi, uma das mais esquecíveis duplas de zaga do clube. Até aí, tudo bem: Vanderlei Luxemburgo não jogava nada, Felipão era grosso toda vida, mas ambos sempre tiveram personalidade. Rogério é um fraco, que continua achando que dirigir o atual campeão brasileiro é a mesma coisa que dirigir um time de juniores. O resultado é que, enquanto o Ceará levou apenas um gol em todo o campeonato, o Flamengo já tomou sete nos cinco jogos que fez no Maracanã. Fora isso, David, Vinícius Pacheco, Gil, Ramón, Michael, Fernando e Dênis Marques não podem vestir a camisa de nenhum clube grande do Brasil.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Hoje à noite tem Michael no Pacaembu.
Nessa fase inicial do Campeonato Brasileiro, que devido à copa tem uma característica meio experimental, há coisas surpreendentes. Hoje e amanhã teremos importantes clássicos do futebol brasileiro. Palmeiras e Flamengo, Cruzeiro e Santos, Corinthians e Inter. No ano passado, Palmeiras e Flamengo fizeram um jogo que acabou sendo fundamental para o resultado do campeonato, enquanto Corinthians e Inter decidiram a Copa do Brasil em duas partidas eletrizantes. A surpresa está em que, se levarmos em conta exclusivamente a situação dos times na tabela, o jogo mais quente da rodada será disputado em Fortaleza, entre Ceará e Avaí. O Ceará está em segundo lugar, o Avaí em quarto. Se caísse uma bomba no país e o campeonato terminasse agora, ambos representariam bravamente o nosso futebol na Libertadores 2011. Quem está aproveitando bem essa fase-laboratório do Brasileirão é o Corinthians. Preparou-se por quase um ano para a Libertadores, foi eliminado por questões circunstanciais – coisas do futebol e de regulamentos discutíveis, conforme o post de 21 de maio – e está livrando uma boa vantagem. É claro que o time sofrerá derrotas inesperadas, diminuirá o aproveitamento em três ou quatro rodadas, enfim, nada de anormal, até porque ninguém consegue liderar um campeonato como esse de ponta a ponta. De qualquer modo, o Corinthians está abrindo uma diferença que pode pesar no final, sobretudo porque, sem dúvida, o time é forte candidato ao título. Por motivos óbvios, hoje eu deixarei Ceará e Avaí de lado para acompanhar Palmeiras e Flamengo. Michael está escalado no meio-campo rubro-negro. Se o blog não estiver de volta na segunda-feira, provavelmente o blogueiro teve um infarto.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A grande culpada. 
No filme “Aprile”, o diretor e ator italiano Nanni Moretti afirma ter perdido a paciência com seus conterrâneos tenistas, que nunca são derrotados por jogar mal, e sempre por causa do juiz ou da quadra ou do vento ou da bola. Se a nossa seleção não ganhar a copa na África do Sul, já sabemos de quem vai ser a culpa. 
Da Jabulani.
Zico voltou. Agora só falta o Júnior, o Leandro, o Adílio, o Mozer e o Tita.
Zico, finalmente, está de volta ao Flamengo. Depois que, por motivos familiares, o Galinho passou a dar preferência a permanecer no Brasil, abrindo mão de sua carreira de treinador no futebol internacional, acho que ele não resistiu a ver coisas terríveis como as que o time mostrou no segundo tempo do jogo de sábado contra o Grêmio. Mesmo sem gostar da ideia de pôr em risco sua imagem de ídolo maior da história do clube, Zico percebeu que essa é a hora de tentar mudar o Flamengo. Acho que ele pode ajudar bastante. Pelo prestígio que tem, talvez consiga abrir portas importantes em termos de contratações e negociações de patrocínio, e é um cara que conhece o tema. Por menos dinheiro que haja, por maiores que sejam as dificuldades, não acredito que Zico fique de braços cruzados ao ver a pobreza do futebol de vários jogadores que hoje infestam o elenco rubro-negro. Todo poder ao Galo. Se ele não der jeito, acho que ninguém mais dá.
Inter: uma boa razão para se mexer em time que está ganhando.
O uruguaio Jorge Fossati não é mais o treinador do Inter de Porto Alegre. Por um lado, não entendo; por outro, aplaudo. O que não consigo compreender: no ano passado o Inter tinha Tite no comando e dezenas de interrogações sobre o seu trabalho. Quando a direção do clube começou a ver ameaçada a tão cobiçada vaga para a Libertadores, Tite caiu. Mário Sérgio foi contratado por um prazo fixo e um objetivo determinado: ficar até a última rodada do Brasileirão e levar o time à Libertadores. Com uma boa campanha na reta final, a meta foi alcançada. Pensando em Libertadores, Libertadores, Libertadores, essa recente e inexplicável paixão nacional, o Inter chamou Jorge Fossati, que conquistara a taça em 2008 dirigindo o mediano LDU. Pois bem: o Inter está nas semifinais da competição, posição alcançada após um heróico duelo contra o Estudiantes, campeão do ano passado. Aí acontece uma derrota muito da sem-vergonha em um jogo muito do sem-importância, contra o Vasco em São Januário, e Fossati é demitido. Se o objetivo era a Libertadores, precisamos reconhecer que o cara estava chegando lá. Entretanto, seguindo ou não na Libertadores, a verdade é que o Inter de Fossati jamais jogou o que seu elenco promete. Kléber, Sandro, Guiñazu, Taison, Giuliano, o time é cheio de bons jogadores – acho o D’Alessandro meio enganador, mas isso entra no rol das minhas implicâncias gratuitas – e tinha que jogar muito mais do que tem jogado. O vice-presidente de futebol Fernando Carvalho é pretensioso e chorão, mas deve ser elogiada a coragem do clube em reconhecer que avançar na Libertadores não é tudo na vida, e que não é possível ver um time com tanto potencial produzir tão pouco. Por isso, aplaudo.