terça-feira, 22 de junho de 2010

A versão moderna do tico-tico no fubá.
Gostar de futebol costuma ser hereditário, e eu não fujo à regra. Meu pai adorava futebol, chegou a jogar pelo Fluminense no tempo de amadorismo, ia aos jogos, assistia às mesas redondas. E como a mais famosa delas era um show de bom humor e inteligência, com João Saldanha, Nélson Rodrigues, Armando Nogueira e José Maria Scassa, tínhamos no domingo à noite um programa legal até pra quem não ligava pra bola. Lembro de uma expressão que meu pai usava muito para definir um time que tocava, tocava, tocava, mas não conseguia concluir: “esse time não passa de um tico-tico no fubá”. Não sei exatamente o que os tico-ticos fazem sobre um prato de fubá, não tenho a menor ideia de como essa expressão foi transportada para as arquibancadas, mas me lembrei dela ontem vendo a Espanha jogar. Gosto muito de meio-campistas do estilo do Xavi, que deixam qualquer time organizado. Com ele em campo, um time pode ganhar ou perder, pode jogar bem ou mal, mas jamais será um bando correndo desordenadamente pra tudo quanto é lado. Os grandes times da história sempre tiveram um jogador assim, mesmo que ele não fosse a maior estrela da companhia. No Santos de Pelé, por exemplo, esse cara era o Mengálvio. No Botafogo de Garrincha, era o Didi. Antes que o meu amigo Paulo Cézar Huebra comece a esbravejar lá de Campina Grande, esclareço: não estou comparando ninguém com ninguém. É só uma analogia. O problema do time da Espanha é que ele passa a sensação de ser um monte de Xavis em campo. Todo mundo toca, toca, toca, bola pra cá, bola pra lá, e bola dentro que é bom, neca. Quando o gol sai rápido – o que é difícil, porque é só toque, toque, toque –, a coisa se resolve. Mas quando não sai, chega a irritar. Todo mundo fala tão bem da Espanha, que pode ser uma falsa impressão causada por dois jogos infelizes. De repente o Fernando Torres é um jogador de muito mais presença na área, o David Villa é mesmo tudo que os espanhóis pensam que ele é, sei lá. Mas com esse tico-tico no fubá da modernidade, vai ser difícil a seleção espanhola encarar as paradas mais duras que vêm por aí e confirmar todo o oba-oba que foi criado em cima dela.

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