A ressurreição dos pontas.
O famoso frasista Neném Prancha, folclórico técnico de futebol da Praia de Botafogo, dizia que “a bola é feita de couro; o couro vem da vaca; vaca não voa, anda pelo chão; portanto, a bola não foi feita para ser chutada pro alto, e sim pra rolar rente à grama”.
Certamente, Holanda e Dinamarca fizeram o jogo dessa Copa em que a bola ficou por mais tempo rolando no gramado. Movimentação, toques rápidos, triangulações, velocidade. Ocorre que foi, também, uma partida com poucas chances de gol, mas Copa do Mundo é dureza mesmo. Todo mundo correndo muito, jogando sério, marcando firme.
A Holanda mostrou coisas boas, como os já conhecidos e perigosos Sneijder e Van Persie. É verdade que ninguém arrebentou com o jogo, como Ozil fizera pela Alemanha na partida de domingo contra a Austrália. A diferença é que havia adversário. Ozil – que é muito bom jogador, sem dúvida – comeu a bola contra um time que não ganha nem da seleção de Carapicuíba.
Do mesmo modo que a Inglaterra, a Holanda merece elogios por ter apresentado uma velha novidade: um atacante que joga bem aberto pela ponta, e que só sai daquela faixa do campo pra receber o salário no final do mês. E o salário de ambos deve ser alto, porque tanto o ponta-direita inglês Lennon quanto o ponta-esquerda holandês Elia são muito bons.
Apesar de mostrar problemas no ataque, ficou claro que a Dinamarca sabe jogar o jogo. O que matou o time foi a terrível trapalhada que seus dois defensores fizeram no primeiro gol da Holanda, algo inadmissível numa zaga de Copa do Mundo.
A Holanda não apresentou tudo o que dizem dela, mas deixou claro que é forte. Vi só o segundo tempo de Japão e Camarões. Infelizmente, a exibição de Camarões serviu para reforçar a queixa feita pelo blog contra a europeização do futebol da África negra. Não tem mais alegria, ginga, surpresa. Agora eles praticam o futebol de resultados. Quer dizer, resultados ruins, já que a Nigéria não viu a cor da bola na derrota para a Argentina e Camarões perdeu do Japão. Gana até que conseguiu vencer a Sérvia, mas jogou feio pra chuchu. Resta a Costa do Marfim, mas essa é do grupo do Brasil. Será que justo ela vai fazer bonito?
Itália e Paraguai não surpreenderam ninguém: joguinho de doer. Tenho a impressão de que o dinheiro que corre farto no futebol da Itália e da Inglaterra acaba originando um erro muito comum: as pessoas confundem a qualidade dos times que disputam os campeonatos nacionais, cheios de craques estrangeiros, com a qualidade das seleções. A Inter de Milão entrou em campo pra disputar a final da Liga dos Campeões sem um único jogador italiano. Aí a gente vai ver a seleção jogar, e o time é cheio de gente do Udinese, do Cagliari, ou de caras que são reservas em seus clubes. Tem esse papo de tradição, a Itália começa mal e termina bem, é time de chegada e coisa e tal. Mas eu desconfio que a Itália não vai chegar a lugar nenhum.
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