segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jogo de Copa é isso. E o Brasil jogou muito.
Uma vez vi Bernardinho, rei absoluto do mau humor, reclamar que aqui no Brasil não se conseguia perceber virtudes nas derrotas, nem defeitos nas vitórias. Ganhou, mil maravilhas; perdeu, nada presta. Quando se trata da seleção brasileira de futebol, aí mesmo é que a coisa piora, porque não basta ganhar. Exigentes e mal-acostumados, achamos que é preciso ganhar de muito e dar espetáculo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: assim como não dá pra querer show de bola toda hora, também não dá para aceitar que a seleção brasileira jogue de forma tão apática e chocha quanto na vitória por dois a um sobre a Coreia do Norte. Não precisa dar chocolate, mas tem que, no mínimo, querer jogar bola. 
Contra a Costa do Marfim foi outra história. E antes que venha aquele surrado papo de “ah, mas quem é Costa do Marfim?”, é bom esclarecer a quem ainda está futebolisticamente nos anos setenta: o mundo mudou, e o futebol mudou com ele. O centroavante Drogba é, de longe, o jogador mais importante do melhor time da Inglaterra. O meio-campista Yaya Touré joga no melhor time do mundo, o Barcelona. Mesmo que ainda consiga passar para as oitavas, a Costa do Marfim não terá chance de chegar ao título. Ok. Mas daí a achar que é fácil ganhar da Costa do Marfim vai uma enorme distância. O Brasil fez o jogo parecer fácil, e isso em Copa do Mundo não é pouca coisa. 
Nossa seleção teve vontade, velocidade, espírito coletivo e bons momentos de brilho individual. Ou seja: tudo o que faltou no primeiro jogo. Rapidez e precisão na triangulação que terminou com o chute perfeito de Luís Fabiano, no lance do primeiro gol. Confiança e malandragem de Luís Fabiano no segundo. A ressurreição da jogada característica de Kaká no terceiro. Maicon percebeu que seria marcado de perto o tempo inteiro e soube jogar pro time. Robinho com intensa movimentação, querendo jogo, não fugindo da raia. Kaká respondendo que não, ele não será em 2010 o mesmo que Raí foi em 94. E Luís Fabiano atuando como um grande centroavante – e não como um poste, que foi o que ele fez na partida da primeira rodada. Lúcio e Juan jogaram muito. Até porque, uma coisa é fechar a entrada da área enfrentando bondes como Crouch ou Anelka, outra é fazer isso contra Eto’o ou Drogba. Segundos antes do gol de Drogba, uma intervenção de Juan valeu por um curso completo de como jogar na zaga. Gervinho arrancou com a bola dominada desde o meio-campo e ganhou de todos na corrida, até chegar diante de Juan, último homem da nossa defesa. Olho fixo na bola, concentração absoluta, técnica e serenidade, Juan deu o bote no único momento possível, tocou a bola e tirou a chance do atacante marfinense. 
O grande erro da seleção brasileira foi cometido pelo técnico Dunga, que deveria ter sido mais firme em sua decisão de substituir Kaká. Era importante pra nossa seleção que Kaká entrasse contra Portugal, em mais um passo para voltar à melhor forma. Dunga é o comandante, tem que ser dele a palavra final, e ele tinha razão. Nossa seleção esteve longe da perfeição, tivemos mais uma demonstração de que dificilmente veremos goleadas e atuações mirabolantes, mas o time mostrou força e equilíbrio entre as linhas, o que no futebol de hoje é fundamental. Ninguém ganha jogo só com o ataque, ninguém ganha jogo só com a defesa. A seleção brasileira provou que pode chegar pra brigar.

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