terça-feira, 29 de junho de 2010

Seriedade, rapidez e objetividade, na melhor atuação da seleção do Dunga.
Toda vez que a gente vê, numa oitava de final de Copa do Mundo, uma seleção ganhar um jogo com extrema facilidade, cabe a pergunta: qualquer um venceria aquela partida sem maior esforço ou foram as qualidades daquela seleção que tornaram o jogo fácil? Ontem eu continuei na dúvida, e lembrei de um episódio curioso que aconteceu há muito tempo na transmissão do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Os comentaristas da Globo – Lecy Brandão, Haroldo Costa, etc. – se mostravam exageradamente empolgados com as duas primeiras escolas, que eram escolas pequenas e simples, algo como Unidos do Cabuçu e Unidos do Jacarezinho. Convocados a dar notas para os diversos quesitos, era um tal de dez pra cá, dez pra lá, dez aqui, dez acolá, até que um figurão da emissora percebeu o óbvio: se aqueles caras estavam dando dez para Unidos do Cabuçu e Unidos do Jacarezinho, que nota dariam para Portela, Salgueiro e Mangueira? Eu sei que foi uma tremenda saia justa quando o apresentador Fernando Vanucci teve que dizer que as notas iniciais seriam revistas, devido ao excesso de entusiamo dos comentaristas. Nossos jornalistas esportivos também costumam se empolgar precipitadamente com resultados e exibições da primeira fase da Copa, talvez esquecidos de que, desde que começou a ser disputada por trinta e duas seleções, a Copa do Mundo passou a abrigar algumas bizarrices como os times de Honduras, da Coreia do Norte ou da Grécia. E tome de achar que o Chile pratica um futebol envolvente, que a Coreia do Sul é uma grata surpresa, que a Eslovênia tem um timaço. Na maioria das vezes, a gente embarca. O Chile é um time organizado taticamente e que, por uma questão de filosofia do treinador Marcelo Bielsa, procura jogar de forma ofensiva, com três atacantes e marcação na saída de bola. Bacana. Louvável. Só que futebol não se faz apenas com desenhos táticos, mas principalmente com a qualidade dos jogadores. Tendo bons jogadores à disposição, aplica-se um sistema tático adequado e, aí sim, temos um time que dá gosto ver jogar. (Dorival Júnior, por exemplo, tem conseguido fazer isso no Santos. Mas é óbvio que, antes dele, vem a qualidade dos jogadores de que ele dispõe.) A seleção chilena carece de talento em todos os setores. Suazo é um centroavante que precisa ser vigiado com certo cuidado, Valdívia sabe o que fazer com a bola e, apesar de não ter dado trabalho ontem, Sanchez é bom atacante. Convenhamos: é muito pouco para encarar os gigantes do futebol mundial, como Brasil, Argentina ou Alemanha. Por outro lado, mesmo quando infinitamente superiores, equipes apáticas e desconcentradas tendem a complicar jogos simples. Isso não aconteceu com o Brasil. Nossa seleção jogou com seriedade, foi rápida, não deu chance ao azar e matou o jogo em dois golpes certeiros, seguindo a lição de Cláudio Coutinho sobre a qual falei ontem no post que tratava dos jogos do último sábado. Daniel Alves, Ramires e Robinho correram uma barbaridade, Lúcio e Juan estiveram firmes como sempre, até Michel Bastos e Gilberto Silva melhoraram. Nosso próximo adversário tem mostrado um futebol diferente das seleções holandesas que nos acostumamos a ver: menos brilho, menos talento (apesar da indiscutível qualidade do Sneijder e do Robben), mais equilíbrio, mais competitividade. Vai ser um osso duro. Os três jogos anteriores entre Brasil e Holanda em Copas do Mundo – 1974, 1994 e 1998 – foram sensacionais, e este tem tudo para manter a tradição. Brasil e Holanda na sexta, Argentina e Alemanha no sábado: desses dois grandes jogos deverá sair o vencedor da Copa do Mundo de 2010.

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