sexta-feira, 29 de abril de 2011

Um time que joga muita bola x Um time que joga muito dinheiro pelo ralo.
Os últimos duelos entre Real Madrid e Barcelona deixam bem claro qual o caminho a seguir. O Real Madrid, do alto de sua arrogante riqueza, compra, compra, compra e tem no seu time titular apenas um jogador feito em casa, o goleiro Casillas. Não sei se menos ou mais rico, mas certamente menos arrogante e mais esperto, o Barcelona prefere formar seus jogadores em casa – do time titular, apenas três não passaram pela base do clube: Daniel Alves, Adriano e David Villa. 
Chega a ser constrangedor ver o caríssimo Real Madrid jogar acuado feito um rato, disputando a semifinal do torneio de clubes mais importante do mundo com um esquema tático à la Mirassol. Vale lembrar que essa época fantástica do Barcelona só começou depois que, tal e qual os valentes pernambucanos do século XVII, o clube catalão se encheu de brios e pôs os holandeses pra correr. Quando o time era dirigido por Louis Van Gaal, na década de noventa, sete holandeses eram titulares. Um bom time, que ganhou títulos importantes mas jamais chegou aos pés do que é o Barça hoje. Talvez faltasse, justamente, identidade. 
Por outro lado, a gente fica com a impressão de que o clube madrilenho gasta muito e mal. Com o dinheiro investido em Kaká, Ozil, Benzema, Adebayor e Higuaín, dava fácil pra passar aqui na xêpa brasileira e levar Neymar, Ganso, Lucas, Elias e Kléber. Como eu implico com o Real Madrid, pelos supostos privilégios obtidos pelo clube durante o longo e lamentável período franquista, torço para que esses falsos galácticos continuem sendo devidamente chocolatados pelo grande Barça, seja no Camp Nou, seja no Santiago Bernabeu.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tirando o atraso (2): Argentinos Juniors x Fluminense.
Mesmo em fases chochas e mornas, toda semana a gente tem exemplos de como o futebol é sensacional. Argentinos Juniors e Fluminense empatavam em dois a dois e o Flu passava por seu pior momento na partida, dando toda a pinta de que não teria forças pra buscar mais uma vantagem depois de ceder o empate duas vezes. O técnico-interino, Enderson Moreira, decidiu mexer no time, tirando Rafael Moura para a entrada de Tartá, mas quando o quarto árbitro levantou a placa para indicar quem entrava e quem saía, houve um escanteio a favor do Fluminense e o treinador pediu a Tartá que aguardasse a cobrança. Conca levantou a bola na área, Valência cabeceou, o goleiro deu rebote, Rafael Moura dominou e mandou pra rede. Ali, o jogo começou de novo pro Fluminense. 
Da mesma forma que Flamengo e Cabofriense fizeram a partida mais desagradável da atual temporada, Argentinos Juniors e Fluminense fizeram a mais sensacional. Teve um belo voleio de Fred para uma grande defesa de Navarro, teve um tijolaço de Fred na cobrança de falta para um estranho frango de Navarro, teve bicicleta do argentino Niell que bateu na trave, teve chute de Fred que bateu na trave, teve a marcação de dois pênaltis inexistentes, um pra cada lado, teve pixotadas das duas defesas, teve bico pro alto, teve pancadaria generalizada. O jogo ficou devendo em matéria de qualidade – coisa que só veremos a partir das quartas de final, porque ainda tem muito time meia-boca que conseguiu passar –, mas foi emocionante. 
Atrás de um dos gols, a torcida do Argentinos Juniors pregou uma faixa imensa com o seguinte texto: “Fábrica Argentina de Jugadores de Exportación”. Uma pena, porque não deveria ser motivo de orgulho o que não passa de algo lamentável: o fato de nós, latino-americanos, não termos a menor condição de manter em nossos clubes os craques que produzimos. Por outro lado, a verdade é que aquele time que entrou em campo contra o Fluminense pode, quando muito, exportar jogadores para a Bolívia, para a Guatemala e para o Vietnã.
Tirando o atraso (1): Flamengo x Horizonte.
Quando aconteceu o famoso debate entre Collor e Lula, no segundo turno da eleição presidencial de oitenta e nove, Millôr Fernandes se deu ao trabalho de contar o número de erros de português cometidos pelos candidatos. Lula tinha errado muito mais, mas em sua coluna publicada no dia seguinte no saudoso Jornal do Brasil, Millôr defendeu a tese de que, pelas oportunidades que a vida proporcionara a cada um dos dois, deveríamos considerar que Lula castigara menos o idioma. A quilômetros de distância da inteligência e da verve de Millôr, o blogueiro ousa afirmar que no jogo entre Flamengo e Horizonte, disputado quarta-feira passada no Engenhão, ocorreu mais ou menos a mesma coisa. Houve bola no travessão em chute do Léo Moura, bola na trave em chute do Williams, importantes defesas do goleiro Alex, mas pelo que Flamengo e Horizonte representam no futebol brasileiro, temos que reconhecer que o Horizonte foi melhor. O que, antes de tudo e acima de qualquer outra coisa, é profundamente constrangedor e totalmente lamentável.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O sofrimento dos times pequenos.
Meu falecido e divertido irmão Carlos Eduardo, que tinha o apelido de Briguinha, usava uma frase genial para definir certas situações que aconteciam não só no esporte, mas na vida de modo geral: pau na bunda dos injustiçados. E o que parecia preconceito e desprezo, coisas que não cabiam naquela personalidade bonachona, era na verdade finíssima ironia. 
Se tivesse assistido ao jogo de ontem, entre Palmeiras e Mirassol, certamente ele teria usado a frase mais uma vez. Na metade do primeiro tempo, o zagueiro palmeirense Danilo deu um chute sem bola na coxa do adversário Serginho, que estava caído. Covardão toda vida, o juiz Guilherme Ceretta de Lima mostrou cartão amarelo, quando teria sido melhor fingir que não viu: se viu, tinha que dar o vermelho. Não satisfeito, aos treze do segundo tempo mostrou o segundo cartão amarelo ao meia Xuxa, do Mirassol, depois de uma falta absolutamente normal, e deixou o time do interior com um a menos. 
Se Briguinha estivesse vivo, mandaria na lata: pau na bunda dos injustiçados. Saudade!
Semifinais surpreendentes.
Para completo espanto de todos, as semifinais do Campeonato Paulista serão disputadas por Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Isto significa que estava equivocado quando anunciei, semana passada, que agora era pra valer. Que nada. Até ontem continuamos na pré-temporada, e pra valer mesmo só no fim de semana que vem. 
Com perseverança e estoicismo, consegui assistir aos quatro jogos e vi como são fracos os times que se classificaram para enfrentar os grandes. Os pobres-coitados lutam com valentia, se defendem do jeito que dá, mas sua capacidade ofensiva é pífia. Quem deu um pouquinho mais de trabalho foi o esforçado time da Portuguesa de Desportos, curiosamente o único a perder por mais de um gol de diferença. E como eu ainda não tinha visto a Portuguesa jogar esse ano, foi um prazer rever o Domingos em campo. Um líder nato, um lord, um gentleman, estilo clássico, saída de bola precisa, habilidade, fairplay. 
Não cheguei a ver Nílton Santos jogar, mas por tudo o que dizem, deveria ser parecido.
Pra mim, o Campeonato Carioca acabou.
Na Libertadores do ano passado, quando o Flamengo eliminou o Corinthians nas oitavas de final, o são-pauliníssimo pai da Lara me disse que, independentemente do que viesse a ocorrer, ele considerava o Flamengo campeão moral do torneio. A vitória de ontem sobre o Fluminense, obtida nos pênaltis, me deixou em posição parecida: pouco importa o que vai acontecer agora. 
Há menos de quinze dias escrevi que só torcia contra o Flu no Campeonato Estadual, e que era fundamental preservar a hegemonia que demorou mais de cem anos pra ser conquistada. Com a eliminação do tricolor a hegemonia está garantida, mesmo que o campeão seja o Vasco. Além disso, é preciso constatar que, apesar de futebol e merecimento funcionarem como água e azeite, o Fluminense não merecia a chance de brigar pelo título: foi o único dos quatro grandes a não vencer um clássico sequer durante o campeonato. Jogou uma vez com o Botafogo, perdeu; jogou uma vez com o Vasco, empatou; jogou duas vezes com o Flamengo, empatou ambas, perdendo a de ontem nos pênaltis. 
Falar nisso, o time de guerreiros precisa deixar um pouco de lado a sofisticada arte da guerra e se dedicar a coisinhas mais simples. Cobranças de pênaltis, por exemplo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Acabou a brincadeira.
Ontem, às quatro da tarde, estavam em campo os oito grandes clubes do Rio e de São Paulo. Entretanto, só um dos jogos talvez viesse a ter alguma importância: Olaria e Vasco, disputado em Macaé. Quaisquer que fossem os resultados dos jogos de São Paulo, nada ou muito pouca coisa mudaria. No Rio, Vasco e Flamengo entravam já classificados para a semifinal do turno e desinteressados, Fluminense e Botafogo só não venceriam seus jogos se o mundo viesse abaixo e a única novidade estaria numa improvável não-vitória do Vasco, que tiraria o Botafogo da briga pelo título. Como o Vasco empatou, o Botafogo se pirulitou. Semana que vem começa o Campeonato Paulista de verdade, e o Carioca também entra na fase em que ninguém mais pode perder. Ou seja: agora anima. Mas não precisava ter demorado tanto. 
Pra continuar sonhando com o título estadual, os grandes clubes de São Paulo contaram com o vacilo do São Caetano. Se o time aqui da cidade tivesse passado, o bicho ia pegar. Deixou chegar, o couro come. Bobeou, nóis entorta. Imagino que tenha rolado mala branca recheada para o Linense, porque Palmeiras, São Paulo, Santos e Corinthians deviam estar morrendo de medo. Essas duas útlimas rodadas foram a cara do São Caetano, um esquadrão capaz de ganhar do Corinthians no Pacaembu e, na semana seguinte, perder em casa para o quase rebaixado Linense. Ô Renato Martorelli: timinho vagabundo esse aqui da nossa terra, hein?
Dando um bico grotesco em sua origem europeia, o árbitro Philip Georg Bennett marcou um pênalti que só existe em terras verde-amarelas, no último minuto de Flamengo e Macaé. Ronaldinho Gaúcho – que errara todos os últimos passes tentados durante o jogo, com exceção do escanteio que Jean cabeceou para o meio da pequena área e um afobado macaense empurrou pra dentro – fez uma das cobranças mais bisonhas dos últimos tempos, isolando a bola por cima do travessão. No mais, o Flamengo foi o de sempre nessa ilusória invencibilidade em dois mil e onze: desarrumado, sem padrão tático, com falhas individuais constrangedoras e Vanderlei Luxemburgo insistindo em queimar uma substituição por jogo, teimando em escalar o Cagalhão Parrudo e tendo que substituí-lo por total incompatibilidade com a bola. Até quando? 
Destaques da rodada: 1) O São Paulo entrar em campo com Rodrigo Souto e Cléber Santana. Não vi (alguém viu?), mas deve ter sido engraçado. 2) O pênalti que Ronaldinho Gaúcho bateu à la Roberto Baggio. 3) Outra quicando pro Thomas: o atacante do Macaé que fez o gol de empate contra o Flamengo tem o nome de Hyantony. 4) O rebaixamento do Grêmio Prudente e do Santo André, duas barrigas de aluguel. Como deixei claro no post de quinta-feira passada: que ardam no quinto dos infernos. 5) A valentia do Olaria para arrancar um empatezinho do Vasco e chegar à semifinal do segundo turno – da qual não deverá passar, mas pouco importa. 6) A lamentar, o rebaixamento do tradicional Noroeste, para tristeza e desencanto do grande bauruense Elói Carrara.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As duas faces da Libertadores.
Comecemos pelo óbvio: ser campeão da Libertadores é muito difícil. Os estádios são ruins, os gramados são péssimos, a arbitragem é bem diferente da nossa (embora, nesse caso, os errados somos nós), a pressão da torcida é pesada. Ontem, no jogo do Grêmio, um torcedor do Oriente Petrolero arremessou uma dessas pets de água de um litro e meio – cheia – no árbitro auxiliar, que precisou se esquivar com malemolência. E ai de quem vier com essa conversa mole de perder mando de campo. É recebido a bala.
Por outro lado, a qualidade da maioria dos times participantes beira a indigência. Dos trinta e dois que disputam essa primeira fase, acredito que, no Brasileirão, pelo menos vinte brigariam pra não cair.
Ontem, todo mundo embarcou na onda da possível ou provável eliminação do Santos. Mas quando a partida começou, foi fácil perceber que o Cerro Porteño não faria jogo duro nem com o Nova Iguaçu ou o Botafogo de Ribeirão Preto. Sem ter nada a ver com isso, Ganso deu chapéu, desarmou, armou, tocou pra cá, tocou pra lá, botou Maikon Leite na cara do gol e pôs o jogo no bolso. Como joga!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Olha aí, Thomas: o Santo André tem um meio-campista chamado Wallax.
Jaime tentou tocar o terror com os fantasmas de dois mil e quatro, mas evidentemente era brincadeira. O Santo André daquele tempo era um time em ascensão, enquanto o de agora é um time em extinção. Os santo-andreenses que não me queiram mal, mas é um castigo merecido. Já disse aqui no blog que não tenho antipatia por clube algum – torço contra ou a favor de acordo com o momento –, mas desejo que Americana, Grêmio Prudente, Santo André e todos esses times que se transformaram em barrigas de aluguel ardam no quinto dos infernos. Agentes gananciosos e empresários-donos-de-jogadores estão em todos os times, ok, mas a fórmula que esses aí seguiram é um absurdo completo. É a morte do futebol do jeito que a gente aprendeu a gostar dele. O Santo André – com Wallax e tudo – está na segundona do Brasileiro, acaba de cair para a segundinha do Paulista e sequer chegou perto de assustar o Palmeiras ontem. Parece claro que a fórmula tá errada, não? 
Mesmo levando em conta a fragilidade dos adversários, tanto nos estaduais quanto na Copa do Brasil, seria injusto não reconhecer que Palmeiras e Vasco melhoraram bastante em relação à última temporada. Claro que lá eles enfrentavam Cruzeiro, Inter, São Paulo, e agora têm enfrentado Linense, Náutico e Duque de Caxias, mas dá para perceber avanços. Embora muito longe de ser um grande time, o Palmeiras tem se mostrado ajeitadinho, se defendendo bem e saindo com rapidez. O problema é que a qualidade está cem por cento nos pés do Valdívia, que parece ter a saúde de um senhor de oitenta e quatro anos. O Vasco também dá toda a pinta de estar mais firmão, embora eu ache o Felipe uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que enxerga o jogo como poucos, atrasa demais as jogadas. É verdade que os testes pra valer só vão começar agora, mas quem torce para esses dois times tem visto coisas mais agradáveis do que aquela mediocridade do ano passado. 
E o Neneca? Azarado é pouco. O cara pega dois pênaltis e toma dois gols na sequência. E o Jaime ainda tem coragem de dizer que eu é que sou pé-frio.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mais um fim de semana de futebol sem graça.
Pra falar da rodada do Paulistinha, basta dar Control C / Control V num dos itens do post de vinte e um de março e fazer pequenos ajustes. Vamos lá: o Palmeiras ganha em casa, o São Paulo vence em Bauru, o Santos empata em Americana e o Corinthians perde no Pacaembu pro valoroso time aqui da terra. E nada muda. Ainda bem que na semana que vem acaba essa pasmaceira e a coisa começa a esquentar um bocadinho. 
No Campeonato Carioca, mais um penaltizinho meia-boca chegou pra salvar o Vasco, outro daqueles que João Saldanha adorava. É verdade que o goleiro Flávio, do Cabofriense, fez coisas que até Deus duvida, e quando Flávio não fez milagres a trave resolveu. Engraçado como o futebol pode ser enxergado de jeitos diferentes: no lance do pênalti, Renato Maurício Prado (que é rubro-negro doente, como todos sabemos) viu duas faltas em sequência. Pois eu não vi nem meia. 
Quando eu acreditava que estava livre dessa praga, quem é que me aparece ostentando a camiseta vermelha e preta com o número nove às costas? Ele, o Tinhoso. Esteve em campo durante sessenta minutos, não se movimentou, não viu a cor da bola, não ajudou em absolutamente nada. Diego Maurício entrou por volta dos quinze do segundo tempo, e tudo o que fez foi sofrer uma falta que valeu um cartão amarelo ao zagueiro botafoguense Antônio Carlos. Pois fiquem sabendo que isso bastou para que o Drogbinha fizesse mais do que o Cagalhão Parrudo. A coisa chegou a um ponto que ele não pode ser barrado. Tem que ser barrado, deportado para a Turquia e processado por propaganda enganosa. 
Com o futebol sensaborão do fim de semana, o melhor parece ter ficado com as pérolas dos nossos narradores e comentaristas. Cláudio Uchôa, que costuma apresentar os gols no SporTV, disse que Rogério Ceni bateu o pênalti no ângulo. Logo depois, disse que Conca bateu a falta no ângulo. Por que é que nossos narradores insistem em dizer que foi no ângulo toda bola que entra no alto? Ângulo é ângulo, é lá onde a coruja dorme, do jeito que está ilustrado na camiseta que o Lucas me deu de presente no aniversário do ano passado. Esses caras esquecem que não são narradores de rádio, e que apenas reforçam o que a gente está vendo. Se tiverem dúvida, deem uma olhada no gol de falta do Petkovic em cima do Hélton, na final do Carioca de dois mil e um. Aquilo lá é ângulo. 
Quando Araújo fez o quarto gol do Fluminense, o comentarista Raul Quadros (outro rubro-negro que só fala bobagem) disse que Araújo deu um bonito drible de corpo no zagueiro do Americano e deslocou o goleiro com categoria, mostrando o verdadeiro craque que é. Sei. Araújo é craque. E eu sou o redator de propaganda mais bem pago do Brasil. 
No mais, o blogueiro pede licença para desejar à melhor filha do mundo tudo de bom nesses próximos seis meses em Nova York. Que as coisas corram exatamente do jeito que ela imagina, mas nem pensar em mais de seis meses, ok?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quartas-feiras emocionantes x domingos chochos.
A diferença entre os jogos eletrizantes do meio de semana e aquelas chatices que temos visto aos domingos tem nome: mata-mata. Falar em cima de suposições é fácil, mas me atrevo a dizer que, se fosse uma rodada perdida lá no meio de um campeonato por pontos corridos, o São Paulo teria enfiado uns cinco ou seis no Santa Cruz. Só que, no mata-mata, a coisa muda. A possibilidade de uma só noite de superação se transformar numa jornada histórica dá a jogos aparentemente despretensiosos um caráter épico. Mesmo nessa primeira fase da Libertadores, que ainda é por pontos corridos mas por ser muito curta não permite mais do que um erro grave, o bicho já começa a pegar. E que não me venham falar de planejamento, estrutura, CT e o cacete. Futebol é emoção e surpresa, quem gosta de resultados previsíveis deve acompanhar basquete ou vôlei. 
Futebol é isso: até os seis minutos do segundo tempo, o Santos dava um show de bola; daí em diante, passou a dar um show de imaturidade e falta de comando. A situação ficou complicada. Levando em conta que o Colo-Colo deve ganhar do fraquíssimo Deportivo Táchira em casa, se o Santos perder para o Cerro Porteño tá fora, empate é mau resultado e vencer sem Neymar, Elano e Zé Eduardo não vai ser fácil. Acho bom a torcida santista não encher muito a paciência do Ganso, porque agora a esperança está toda naquela genial canhotinha dele. 
Quando o Fluminense empatou em zero a zero com o Nacional de Montevidéu, no Engenhão, escrevi aqui no blog que o Boavista (da surfista cidade de Saquarema) era melhor que o time uruguaio. Reitero. O Nacional é horroroso, mas para o Fluminense jogar um futebol horroroso ainda tá faltando muito. Por falar em Fluminense, deixa eu esclarecer. Apesar de toda a rivalidade que sempre envolveu a dupla Fla-Flu, por motivos familiares eu não torço contra o Fluminense em campeonato algum, a não ser no Estadual – o que se explica por quase meio século de trauma. Até o último tricampeonato rubro-negro, o Fluminense era o clube com maior número de títulos cariocas. O Flamengo podia armar o time que fosse, obter vitórias inesquecíveis, levantar canecos memoráveis, mas sempre tinha um tricolor pra falar: é, mas quem é que tem mais estaduais? Com o último tricampeonato, essa história acabou. Entretanto, como a disputa permanece bastante parelha, a hegemonia nos estaduais ainda preocupa. O que me faz pensar seriamente que talvez seja melhor perder esse jogo contra o Botafogo no próximo domingo. 
A partir do momento em que se viu desfalcado de seu artilheiro Rodrigo Souto, o Santa Cruz entendeu que não teria a menor chance de fazer gol no São Paulo, e entrou em campo valentemente decidido a segurar o zero a zero. Correu como nunca, lutou pra caramba, bateu pra valer, mas não tinha como. De qualquer forma, conseguiu fazer uma partida que, repetindo o parágrafo de abertura desse post, só é possível num mata-mata. Antes que os são-paulinos reclamem: achei injusta a expulsão do Lucas – embora também tenha achado muito rigorosa a expulsão do zagueiro pernambucano que fez o pênalti. 
Não é apenas nos campeonatos estaduais que os pequenos sofrem. O pênalti contra o ABC foi maroto toda vida, e foi ele que tirou o Vasco do sufoco. Um daqueles pênaltis que, no tempo em que João Saldanha comentava os jogos na Rádio Globo e era interrompido para uma informação vinda de São Januário, ele dizia mais ou menos assim: “sei, deve ser pênalti a favor do Vasco, naquele gol que fica à esquerda das cabines de rádio, ali onde é meio escurinho, onde ninguém vê direito o que acontece.” Quase sempre acertava.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Regozijai-vos!
Há mais ou menos quinze anos, passeava com minha amiga-irmã Angèle pelo centro de Lisboa, quando vi numa banca a manchete do jornal A Bola: “Regozijai-vos! Está a jogar o João Pinto”.
João Pinto era um meia-atacante habilidoso, temperamental e muito querido pela torcida do Benfica, que ficara fora do time durante muito tempo, por contusão, e voltaria a jogar naquela semana. Pra mim, entretanto, o mais importante era a formulação da retumbante manchete. Me deu uma inveja danada dos redatores de propaganda e jornalistas portugueses, que podem explorar a infinita riqueza do idioma e não precisam trabalhar sob o jugo da linguagem coloquial. Deve ser uma delícia.
Mas vamos deixar de digressões e voltar à vaca fria. Seguinte: hoje, regozijemo-nos todos! Rubro-negros, corintianos, cruzeirenses, gremistas, vascaínos, palmeirenses, atleticanos, colorados, botafoguenses, santistas, tricolores das Laranjeiras e, sobretudo, os tricolores do Morumbi, porque nesse final de semana chegou a maravilhosa notícia de que Jaime Agostini vai ser pai.
E o blog já começa a campanha para que, se for menino, o nome do moleque seja Arthur, numa justa homenagem a Zico. E o padrinho bem que poderia ser o Rodrigo Souto.
Parabéns, Jaime. Parabéns, Amanda. E tudo de bom para ele ou para ela, que com certeza vem com tudo.