sexta-feira, 30 de abril de 2010

O futebol carioca de volta à realidade.
Seria bacana ver as semifinais da Copa do Brasil reunindo quatro grandes clubes dos nossos quatro maiores centros futebolísticos. Como aconteceu no Brasileirão 2009, que terminou com Flamengo, Inter, São Paulo e Cruzeiro nos primeiros lugares. Mas acho que não vai dar. Após expressivas vitórias contra o Friburguense, o Macaé, o Duque de Caxias e outras potências, o futebol carioca começa a voltar à realidade. E olha que nem precisou o Campeonato Brasileiro pra isso: já na Copa do Brasil, fracasso. O Botafogo foi eliminado pelo Santa Cruz, que luta pra chegar à terceira divisão. O Fluminense perdeu em casa por três a dois e só vira por milagre, já que não tem time pra isso. É verdade que jogou sem Fred e Conca – que, aliás, é bom jogador, mas também não é tudo que dizem – e encarou o forte time do Grêmio. Mas, e daí? Quem joga em casa tem que chegar junto. Não é só o Grêmio que é forte. O Corinthians também é. O Cruzeiro. O Santos. O São Paulo. O Inter. E o Fluminense vai perder pra todos eles? O Vasco vai ter muita dificuldade pra ganhar do Vitória por três gols de diferença. O mais provável, portanto, é que o futebol do Rio não compareça às semifinais da Copa do Brasil. Ao contrário do Palmeiras, que deve seguir em frente. O Atlético Goianiense até que é arrumadinho, toca bem a bola etc e tal, mas é outro papo. A gente começa a ver o jogo e lá estão os mesmos caras que vivem rodando por times médios e nunca acontecem. Tiago Feltri, Ramalho, Rodrigo Tiuí. Por outro lado, parece que existe um problema sério de incompatibilidade entre o Palmeiras e o Palestra Itália. Ontem a encrenca foi com Diego Souza. Saiu vaiado e xingado, xingou torcedores e mostrou o dedo, a confusão promete. Depois de Ewerton perder um gol inacreditável e de São Marcos fazer milagre, Lincoln descobriu Paulo Henrique livre e houve o pênalti. No último minuto. Quem acompanha o blog sabe que eu raramente concordo com os pênaltis marcados por nossos juízes, mas acho que o de ontem foi. Paulo Henrique estava com a bola dominada, de frente pro gol e na marca do pênalti. Não tinha por que simular. Mas, como é um atacante brasileiro, não tenho tanta certeza. A grande definição vai ficar mesmo por conta de Atlético Mineiro e Santos. O Santos se classifica com um a zero ou dois a um. É favorito, mas algo me diz que não vai ser fácil não.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ao expulsar Michael, o bom juiz paraguaio ajudou o Flamengo.
O velho chavão do “jogo de cento e oitenta minutos” ontem precisou ser revisto. Flamengo e Corinthians vão definir quem passa para as quartas de final da Libertadores num jogo de cento e trinta e cinco minutos, já que o primeiro tempo não existiu. Aquilo não é futebol. E faz a gente pensar se não há um jeito de amenizar o problema. Claro que não falo de cobertura retrátil ou qualquer outra dessas soluções tão sensacionais quanto impraticáveis em estádios mais velhos do que eu. Mas será que não dá pra cobrir o gramado com duas lonas gigantes, uma para cada metade do campo, que seriam retiradas dez minutos antes das partidas? O segundo tempo deixou claro que a drenagem do velho Maraca é boa, mas não há sistema de drenagem que resista a horas e horas de chuva brava. A lona seria simples, barata e reduziria bem o problema. Quando o jogo começou de verdade – no segundo tempo, portanto – tive a impressão de que o Corinthians entrara em campo para se aproveitar do efeito contrário que às vezes a torcida rubro-negra provoca no time, fazendo-o atacar desordenadamente e se expor demais. Ao se descobrir com um jogador a mais e vendo o Flamengo montar duas rígidas linhas defensivas, inclusive com o Vágner Love voltando até a intermediária, o Corinthians ficou sem saber o que fazer. Não gosto do Michael. Não é jogador para o Flamengo. O cara saiu do Botafogo porque brigou com o técnico Estevam Soares, que o colocara na reserva. Jogador que fosse pra reserva naquele time do Botafogo não tinha que brigar com o técnico: tinha que mudar de profissão. Mas não há nada que um bom empresário não resolva. A expulsão do Michael aumentou o sentido de marcação do time e fez todo mundo correr mais – Vágner Love, Williams e Juan foram os melhores exemplos. Acho que a torcida corintiana pode continuar otimista. A derrota de ontem não muda o fato de o time estar numa fase melhor e ter se preparado com muito mais seriedade para a Libertadores. E se o time for adiante, vai ter que pagar um bicho extra ao Júlio César, pela defesa na cabeçada do Adriano. Quanto à torcida do Flamengo, vale lembrar que as duas melhores atuações do time no ano passado aconteceram fora de casa: dois a zero sobre o Palmeiras no Palestra Itália e três a um sobre o Atlético no Mineirão. O time esse ano é outro, mas, sabe lá?
Libertadores é isso aí.
Só pude ver uma pequena parte do primeiro tempo de São Paulo e Universitário. Vi Miranda dando chutão, vi Alex Silva dando bico pro alto, vi coisa feia, mas vi seriedade. Consegui assistir ao segundo tempo inteiro, e não foi muito diferente. Mesmo ciente da sua indiscutível superioridade em relação ao time peruano, o São Paulo não admitiu correr riscos, pra não dar chance ao azar e, sei lá, de repente tomar um daqueles gols malucos de Libertadores, em que o lateral dá um balão pro meio da área, a bola bate em um, bate em outro, chega um cabeçudo lá e manda pra rede. O São Paulo controlou o jogo inteiro, sem deixar o Universitário incomodar em momento algum. E no final, quando o time peruano já se conformara com as próprias limitações, o tricolor ainda deu uma blitz em que o gol não saiu por muito pouco. Não é agradável ver o São Paulo jogar. Mas é assim que se disputa uma Libertadores. E o Richarlyson, hein? Quanta brabeza! Quanta macheza! Madame Satã de chuteiras.
O futebol vive derrubando mitos. Mas a gente não aprende.
A futebolança de ontem começou bem, com a eliminação do Barcelona. Depois que li “Como o futebol explica o mundo”, um grande livro de Franklin Foer, passei a admirar mais ainda o Barça e o Inter de Milão, mais ou menos na mesma proporção em que costumo torcer contra o Real Madri e o Milan. Achei legal a eliminação do Barcelona porque, apesar de gostar muito de ver um time jogar bonito, eu gosto mesmo é quando o futebol derrota mitos. O time que não perde, o ataque que faz não sei quantos gols por jogo, a defesa inexpugnável, o jogador que ninguém consegue parar. É futebol, gente. E no futebol essas coisas não existem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O meião do Roberto Carlos. 
Várias vezes, minhas opiniões sobre futebol me deixam meio desconfortável, porque acabo discordando de todo mundo – e não é possível que todos estejam errados e só eu esteja certo. Paciência. 
Vou aproveitar uma entrevista do Zico, no Bola da Vez da ESPN Brasil, para falar de uma delas. O âncora do programa elogiou a campanha do Fenerbahçe na Champions League, quando Zico era o treinador e o time turco chegou pela primeira e única vez às quartas de final da competição. Aí o Galinho garantiu que o Fenerbahçe só não foi adiante porque o lateral Roberto Carlos, que segundo ele estava jogando muito, se machucou. Alêm disso, Zico afirmou não ver, no momento, ninguém melhor que o Roberto Carlos para a lateral esquerda da nossa seleção. 
Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas aí vai: eu talvez seja o único torcedor brasileiro a achar que o Roberto Carlos não teve culpa alguma naquele gol do Henry em 2006. 
No tempo do meu pai, os goleiros brasileiros eram fracos e os argentinos eram ótimos. Meu pai dizia que a diferença entre os dois era essa: sempre que uma bola cruzava a área, o goleiro brasileiro gritava “vai que é sua”. Já o argentino gritava “sai que é minha”. Revi o gol de Henry recentemente. O cruzamento de Zidane foi quase frontal, não foi uma daquelas bolas traiçoeiras que vêm do fundo, saindo do goleiro e pegando o atacante de frente. Não. Veio de frente e caiu no meio da pequena área. Do mesmo jeito que o Roberto Carlos estava ajeitando a meia, o Ronaldinho Gaúcho talvez estivesse amarrando a bandana, o Fenômeno talvez estivesse coçando a próspera barriga, o Lúcio talvez estivesse de mãos postas orando a Deus. 
Qualquer coisa poderia estar acontecendo naquele momento, porque aquela bola era toda do Dida, só dele e de mais ninguém.
Ruins de bola, bons de brio.
Antes que comecem as oitavas de final da Libertadores, acho que ainda vale um último postzinho sobre a primeira fase. Os times que ficaram de fora são fracos demais, mas pelo menos mostraram que têm vergonha na cara. Caracas, Emelec e Cerro Porteño, apesar de eliminados, jogaram a última partida como se decidissem um título. Fechadinhos, marcando muito e cientes da responsabilidade que tinham quanto à classificação final. Bacana. Os três seguiram o belo exemplo do Goiás nas rodadas decisivas do último Brasileiro: mesmo sem ter nada a ganhar ou a perder, o time goiano jogou sério toda vida contra Flamengo e São Paulo. Empatou em zero a zero com o rubro-negro no Maraca, ganhou do tricolor por quatro a dois no Serra Dourada. E o futebol agradece.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Parecia impossível, mas o Flamengo conseguiu se superar.
Nossa nadadora continua firme no objetivo de afogar o futebol rubro-negro. Quando a gente pensava que o estoque de bobagens cometidas pelo clube em 2010 tinha se esgotado (ver post de 15.04, “Flamengo ladeira abaixo”), veio a obra-prima. Essa de deixar o time sem técnico às vésperas do primeiro jogo com o Corinthians foi insuperável. Concordo que algo precisava ser feito pra tentar arrumar a casa, mas o ideal teria sido uma mexida no início da temporada. O problema é essa bobagem institucionalizada em nosso futebol de que não se mexe em time que está ganhando. Como quase toda frase feita, é uma tolice. No entanto, já que não fizeram antes, por que fazer justo agora? O trabalho da comissão técnica do Flamengo, esse ano, vinha sendo triste, mas se era inevitável a demissão de dois ou três ali, incluindo o falastrão Marcos Brás e o caladão Andrade, é claro, é óbvio, é evidente que o clube só poderia fazer isso com outro técnico na manga. Mas aí entra, como sempre, a tal história da soberba: a diretoria do clube deve ter pensado que o maior sonho da vida de qualquer profissional de futebol é estar no Flamengo. Pouco importa o compromisso de Joel com o Botafogo ou o de Muricy com o Fluminense ou o de Luxemburgo com o Atlético. Às favas com a ética: a gente chama, eles vêm correndo. Pois nenhum foi. E em relação ao caso específico da Libertadores, faltando menos de uma semana pro jogo com o forte time do Corinthians, só dava para encarar essa rebordosa com um técnico motivador, desses com discurso pra levantar defunto. Joel Santana, Vanderlei Luxemburgo, Felipão. O próprio Muricy, que trabalha sério mas não faz o gênero motivacional, não serviria. Parreira também não. Tinha que ter esse jeitão. Em vez disso, o Flamengo vai para um jogo importantíssimo lotado de problemas, e dirigido por um técnico abúlico e sem história. Ah, sim: ele é prata da casa. Tá resolvido.
Por que o nível da arbitragem não melhora no Brasil.
Apesar da malice absoluta do Galvão, vi ontem boa parte do “Bem, amigos”, por causa da presença do Romário. Em determinado momento, falava-se de Santos e Santo André, mostrou-se o lance em que Neymar acabou ferindo o olho e foi feita uma enquete rápida: foi pênalti do Toninho em Neymar? Renato Maurício Prado, Alberto Helena Jr., Paulo César Vasconcellos e Luís Roberto, todos com pinta de jamais ter feito três embaixadinhas na vida, disseram que sim. Romário e Caio, que já estiveram lá dentro, conhecem as manhas e não embarcam em qualquer uma, disseram que não. Há vários motivos para a arbitragem brasileira ser tão ruim e tão cheia de frufrus. O despreparo da nossa imprensa especializada certamente é um deles.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Santo André tem um bom time. Mas é pouco pro Santos.
O que aconteceu ontem no Pacaembu, eu cansei de ver no início da década de oitenta no Maracanã. O Flamengo era, então, o time de quem todo mundo queria ganhar. Os adversários – sobretudo aqueles indiscutivelmente mais fracos, times pequenos, times em crise etc – entravam firmes, atentos, cem por cento concentrados na marcação. E a torcida rubro-negra se impacientava, porque com vinte, trinta minutos, o jogo permanecia duríssimo. Mas daqui a pouco vinha o óbvio: ninguém consegue jogar noventa minutos cem por cento concentrado, sem dar espaços e sem errar. E quando os erros aconteciam, o Flamengo não perdoava. O Santo André não me surpreendeu: vi o time jogar na derrota para o São Paulo e gostei. Mas para o Santo André encarar este Santos numa final, não pode errar. Como errou o centroavante Nunes, quando perdeu o gol feito que deixaria o placar em dois a zero. Como erraram os três defensores que ficaram olhando Paulo Henrique fazer o que fez no lance do gol de empate do André. Errou, um abraço: este Santos também não perdoa. A lamentar, somente a volta, na comemoração do terceiro gol, da dispensável dancinha. Em breve ela será tema de post.
Grêmio nas cabeças.
O São Paulo A caiu nas semifinais do Campeonato Paulista, mas o São Paulo B está bem perto de beliscar o Gauchão. Com gols de cabeça dos ex-sãopaulinos Rodrigo e Borges, o Grêmio fez dois a zero em cima do Inter no Beira Rio. E a sagrada picanha dominical virou festa, na casa do meu bom amigo e compadre Beto Callage.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

As massas desunidas.
Não poderia haver nada melhor para o Corinthians do que pegar o Flamengo. Não poderia haver nada melhor para o Flamengo do que pegar o Corinthians. Mas, como Highlander, só um sobreviverá. Pegar o Flamengo é bom, porque é a grande chance do time corintiano se afirmar na Libertadores, depois dessa primeira fase em que ficou num grupo fraquíssimo e não foi devidamente exigido. É o jogo que pode fazer o coringão seguir firme rumo à maior façanha da história do clube: ganhar a Libertadores no ano do centenário. Pegar o Corinthians é bom, porque é a grande chance do time rubro-negro recuperar o prestígio que escoou ralo abaixo nesses primeiros quatro meses de 2010. Corinthians e Flamengo gostam de jogos grandes. Se o Brasileirão do ano passado fosse disputado apenas por esses cinco clubes que estão na Libertadores, ainda assim o Flamengo chegaria na frente. No entanto, o time tomou duas cipoadas das boas de times que acabaram rebaixados: quatro a dois pro Sport e inacreditáveis cinco a zero pro Coritiba. Eu me arrisco a dizer que, se o Flamengo enfrentasse na próxima fase um Alianza de Lima ou um Universitário, não passava. Sendo o Corinthians, pelo menos tem mais cara de jogo que o Flamengo gosta de jogar. O Corinthians tem perfil parecido. Mesmo fazendo mil experiências e parecendo desinteressado em todo o último brasileirão, o Corinthians ganhou do São Paulo, ganhou do Inter e ganhou do Cruzeiro – interferindo decisivamente, portanto, na decisão do título. Dos outros três brasileiros, acredito que as maiores dificuldades serão enfrentadas pelo Inter, principalmente por ainda estar envolvido na disputa do título gaúcho com o Grêmio. E a gente sabe: o Inter pode enfiar dez a zero no Banfield, no Estudiantes, no Barcelona, no Chelsea. Se perder a final do Campeonato Gaúcho pro Grêmio, o mundo acaba. Isso pode atrapalhar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Papelão anunciado.
O Flamengo ganhou do Caracas por um motivo simples: é impossível não ganhar do Caracas. Mas bem que o time tentou. Com atuações risíveis de Vinícius Pacheco e Michael (como se fosse possível esperar outra coisa dos dois) e sentindo a ausência do Adriano – sim, porque se um atacante joga noventa minutos contra o Caracas e participa de apenas duas jogadas com perigo de gol, podemos considerar que ele não entrou em campo –, o time foi de novo o bando de desesperados que temos visto ultimamente. O que mais espanta é como o elenco que conseguiu o maior feito do clube nos últimos dezessete anos é capaz de, menos de cinco meses depois, produzir tamanha vergonha. E não teve janela europeia, não teve perda de jogador imprescindível, não teve nada disso. Mesmo levando em conta a fabulosa partida do Cruzeiro contra o Vélez Sarsfield (três a zero no Mineirão) e a combinação de leveza com eficiência do Santos na temporada, esse time do Flamengo é o mesmo que protagonizou os quarenta e cinco minutos mais empolgantes do ano, na sensacional vitória de cinco a três sobre o Fluminense, depois de virar o primeiro tempo perdendo por três a um. Como é que esse time joga três vezes com o Botafogo, empata uma e perde duas? Como é que esse time leva gol nos acréscimos, entregando de bandeja a vitória sobre o Universidade do Chile no Maracanã? Como é que esse time toma gol com um minuto de jogo contra o Universidade Católica em Santiago? O pior de tudo é que ainda é possível o Flamengo passar para a próxima fase. Vai ser difícil o Racing do Uruguai vencer por mais de três gols de diferença. Joga fora de casa, e depois de noventa e dois jogos da Libertadores já disputados, não houve uma vitória sequer fora de casa por mais de três gols de diferença. Além disso, meu amigo Alex Borba me confidenciou que o time do Racing é ruim de doer. O problema está no grupo do Inter, que é um bolo só. Se o Cerro do Uruguai ganhar por três gols de diferença do Emelec – o que não seria nada demais, já que o Cerro joga em casa –, o Flamengo tá fora. Independentemente do resultado de Cerro e Emelec, se Inter e Deportivo Quito empatarem em Porto Alegre, o Flamengo tá fora. Mas, pensando bem, o Flamengo está fora dessa Libertadores há muito tempo. Só falta sair.
Fica para a próxima fase.
Roger, Alê e os meus demais amigos são-paulinos que me desculpem mais uma vez, mas não deu pra ver o jogo do São Paulo por motivos óbvios.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Um post em homenagem à Paraíba. 
Recebi um e-mail do Paulo Cezar Huebra, de Campina Grande, elogiando o blog. Isto significa que o jorgemurtinhofc já ultrapassou as divisas de São Paulo e do Rio de Janeiro, e avança, célere, para tentar dominar o mundo. 
Paulo Cezar morou muito tempo no Rio e frequentou assiduamente o Maracanã, de novembro de 53 a fevereiro de 76. Tricolor dos bons, ele conta que deixou de ir ao estádio quando o Flamengo montou aquele timeco que tinha Zico, Júnior, Andrade, Carpegiani etc. Paulo Cezar fez bem: ir ao Maraca torcer contra aquele Flamengo era pagar pra sofrer. 
Pois bem. Em 1980, um pouco antes de levantar o primeiro título brasileiro da história do clube e iniciar uma temporada de conquistas que incluiria mais dois brasileiros (foram três em quatro anos), a Libertadores e o Mundial Interclubes, o Flamengo entrou em campo numa noite de quarta-feira para enfrentar o Botafogo da Paraíba. Coitado do Botafogo da Paraíba. Estava ali um time pronto para ser massacrado. Para servir de escada a mais uma apresentação de gala do esquadrão da Gávea. Para ver seu goleiro Hélio cansar de buscar a bola no fundo da rede. Era essa a expectativa. Só que, quando o jogo acabou, estava lá no placar: Botafogo da Paraíba dois, Flamengo um. No Maracanã. Diante de quase trinta mil torcedores. E o pior de tudo: eu era um deles. 
Abração, Paulo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Santo André na final. Será que foi bom negócio?
Meu amigo Jaime pode ficar tranquilo: a partir de agora, o Santo André será acompanhado com toda atenção. Cheguei a ver alguns momentos do jogo contra o Grêmio Prudente, e deu para perceber que foi muito disputado. A dúvida é: será que valeu a pena lutar tanto, pra ter que encarar o Santos na final? Mas amanhã pretendo publicar um post em homenagem à Paraíba, que também poderá servir de esperança à equipe do ABC.
Neymar, Robinho e Wesley jogaram muito.
Enquanto o Campeonato Carioca era decidido na base da bola aérea, o Santos continuava sua bela caminhada fazendo ela rolar bem redondinha no chão. O time é rápido, tem jogadores abusadamente habilidosos e joga bonito, com grande senso de conjunto. É lógico que, quando a partida está definida, Robinho começa a fazer as gracinhas que a gente conhece e Neymar estica a gola da camisa no pescoço, mas enquanto o jogo ainda não está ganho, os caras correm, tocam, se deslocam e partem pra cima o tempo inteiro. Não há descanso. Não dão refresco. Não tem uma jogada do Neymar que não seja voltada para o gol. Algumas delas poderiam ter um pouco menos de preciosismo, mas a intenção é sempre o gol. O curioso é que, quando um time tem Neymar, Robinho e Paulo Henrique, o futebol dos outros também melhora. Ou alguém aí vai me dizer que Pará, Durval, Marquinhos, todos são craques? Dá gosto ver o Santos jogar. O São Paulo persiste num erro que começou com Muricy, e que Ricardo Gomes não conseguiu resolver: o posicionamento do Hernanes. Jogando de segundo volante, ele é extraordinário; jogando de meia-atacante, é comum. Além disso, o tricolor perdeu a solidez defensiva que marcou as conquistas de 2005, 2006, 2007 e 2008. Sofrendo sete gols em dois jogos, o time deixou escapar o título do Brasileirão do ano passado. Levou quatro do Corinthians recentemente e agora mais três do Santos em cada um dos dois jogos. Este é um São Paulo que a gente não conhecia.
A vitória do feijão com arroz bem feitinho.
Botafogo e Flamengo fizeram um jogo muito ruim, que só mesmo um juiz horroroso conseguiria piorar. Gutemberg de Paula Fonseca conseguiu. Passei os três meses de Campeonato Carioca inconformado com os critérios de arbitragem no Rio, mas ontem os absurdos chegaram ao auge. Que fique bem claro: não foi por causa do juiz que o Botafogo ganhou o jogo e não foi por causa dos juízes que o Botafogo ganhou o campeonato. Eles erraram o tempo inteiro, a favor e contra todos. E, sobretudo, contra o futebol. Não são desonestos: são ruins mesmo. Muito ruins. O Botafogo ganhou, o jogo e o campeonato, porque a partir da chegada de Joel Santana passou a jogar um feijãozinho com arroz bastante simples, mas suficiente pra chegar ao título. O Vasco se iludiu com o enganoso sucesso obtido na sofrível segunda divisão. O Fluminense se iludiu com a heroica arrancada que livrou o time do rebaixamento. E o Flamengo caiu por causa da soberba de sempre – a mesma que fez o time ser eliminado das duas últimas Libertadores que disputou, em 2007 e 2008. O Botafogo do Joel joga fechadinho atrás, se defendendo de tudo quanto é jeito, e força faltas nos lados do campo, pra levantar bolas na área. Nada contra. Futebol é assim. Quem sabe jogar com a bola no chão, joga; quem tem um bom cobrador de faltas, cava faltas na meia-lua; quem tem bons chutadores de meia distância, bate muito de fora. O time do Joel cruza bolas. O mais bacana foi o título ser sacramentado com a defesa do Jéfferson no pênalti do Adriano. Ele foi, de longe, o melhor jogador do Botafogo no campeonato. Quanto ao Flamengo, nenhuma surpresa. Sem inspiração (a pouca inspiração que o time tem só entrou em campo aos trinta e oito do segundo tempo) e sem pernas (por que será, hein, comissão técnica do Flamengo?), foi vencido pela disposição física e pela disciplina tática alvinegra. Mas a torcida do Botafogo que não se engane: sem três ou quatro bons reforços – não me venham com ednos e sandros silvas – o time vai, uma vez mais, lutar desesperadamente pra não cair no Brasileiro.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Botafogo: a poucos dias da glória, a alguns meses do sufoco.
O goleiro Jéfferson é ótimo e o garoto Caio dá trabalho. Fora isso, o time do Botafogo é bem ruinzinho. Zaga insegura, laterais instáveis, meio-campo que não cria e dois atacantes destrambelhados – que às vezes até obtêm sucesso exatamente por seu destrambelhamento. Entretanto, esse time tem enormes chances de levar o título carioca. Isto se explica pela fraqueza generalizada de um campeonato em que os pequenos são praticamente proibidos de incomodar os grandes e tudo conduz a semifinais reunindo Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Aí, as rivalidades regionais pesam, os times se superam e os jogos são sempre disputados no limite da dedicação. Foi assim, jogando no limite, que o Botafogo ganhou do Flamengo e do Vasco, conquistando o primeiro turno. E nem precisa ganhar o jogo de domingo: se empatar e depois vencer a disputa por pênaltis (não há prorrogação, o que é apenas mais um absurdo), leva o caneco. Além disso, o alvinegro tem as ciências matemáticas a seu lado. É como aquela regrinha básica dos cassinos: se você vai pra roleta, aposta no vermelho e perde, você não pode dobrar sua aposta no vermelho infinitamente, porque é óbvio que uma hora você vai ganhar. Não é possível que o Botafogo passe o resto da vida perdendo a final do estadual para o Flamengo. A parte ruim dessa história só vai chegar lá em novembro, nas rodadas finais do Brasileirão, quando muito provavelmente a equipe estará lutando pra não cair. Porque no Campeonato Brasileiro não há times pequenos, com a exceção de um Ipatinga aqui, um América de Natal ali, essas coisas que aparecem devido a um critério de rebaixamento e subida do qual eu também discordo, e que vai ser tema de post quando o Brasileirão começar. Daí, o óbvio: como os jogos são quase todos contra clubes grandes, não há como disputar um campeonato inteiro no limite. Voltando ao estadual, só há um problema grave no fato de o Botafogo ser campeão: nesse caso, o bravo Santa Cruz, do meu amigo Heitor Pontes, poderá reivindicar o título de campeão moral do Rio de Janeiro no ano de 2010.
Da série “A língua é o chicote do corpo” (2).
Peço benção à D. Vera, mãe do Roger e rainha absoluta do bife acebolado, que batizou a série com o magnífico ditado que dá título a esse post. Terça-feira, na Bandsports, eu ouvi o comentarista Henrique Guilherme afirmar, categórico, que no dia seguinte o Internacional de Porto Alegre iria golear o Emelec, lá no Equador. Disse mais: que o Emelec seria “um filé mignon, um churrascão para o Inter”. Errou na mosca. Resultado do jogo no dia seguinte: Emelec zero, Internacional zero.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Flamengo ladeira abaixo. 
Muitas vezes, no futebol, um clube faz tudo certo e, mesmo assim, perde. Mas não é por isso que se vai fazer tudo errado. 
Esse ano, o Flamengo fez tudo errado. Começou errando na armação do elenco. Nada podia ser feito para impedir a saída do Aírton, ok, mas acredito que antecipação e habilidade gerencial teriam ajudado a manter o Zé Roberto. 
Não se percebeu o que estava na cara: a defesa é fraca demais. Apesar da longa lista de bons serviços prestados, Ronaldo Angelim é um zagueiro em decadência. Sempre compensou a baixa estatura e a fragilidade física com agilidade, boa impulsão e ótimo tempo de bola. Envelheceu, perdeu reflexos e virou um defensor que não se impõe. Pior: acharam que o substituto do Angelim poderia ser o Fabrício. Aliás, essa é uma velha mania rubro-negra: pensar que basta o cara ter pertencido às divisões de base para entrar e resolver. Isso funcionou com Zico e Júnior. Não tem como funcionar com o Fabrício. 
Os problemas de elenco continuam no ataque. A comissão técnica tinha a obrigação de prever os recorrentes períodos de instabilidade do Adriano, e não podia deixar o time sem back-up. Como escrevi num dos primeiros posts do blog, a conquista do Brasileirão já valeu a vinda de Adriano, mas o clube precisava se preparar para suas crises e ausências. É óbvio que não dá para ter outro jogador do mesmo nível no elenco, mas o que se fez foi manter dois atacantes inúteis (Gil e Dênis Marques) e negociar um que, mesmo com todo o seu folclore, poderia ajudar – Obina. 
Outro dia perguntei ao meu amigo palmeirense Gobato que tal esse Michael. A resposta foi uma cara de huuummm, não sei não. Jogador do tipo huuummm, não sei não é muito bom pro Goiás, pro Avaí, pra Portuguesa de Desportos. Não pro Flamengo, pro Corinthians, pro São Paulo. 
Houve falhas graves também na fase de preparação, como a demora e o desgaste na renovação de contratos (Andrade e Ronaldo Angelim, por exemplo) e reapresentações tardias (Petkovic). Não tenho religião, mas respeito as convicções e escolhas de cada um. No entanto, se a religião do Pet faz com que ele só possa voltar da Sérvia na metade de janeiro, lamento, mas o cara não pode jogar no Brasil. Aí volta cheio de fé mas fora de forma, demora a pegar o jeitão e ainda cria caso ao ser substituído, quebrando o clima de companheirismo e acabando com o encanto que o time tinha. 
Também faltou planejamento, mas isso o Flamengo nunca teve. É uma esculhambação que às vezes dá certo. E mais até do que planejamento, faltou coragem para eleger uma das duas competições, se dedicar a ela e não ter medo de enfrentar as cobranças caso o título não viesse. (Como o Corinthians terá que fazer, se não levar a Libertadores.) É uma mistura de despreparo com arrogância querer encarar, ao mesmo tempo e com o mesmo empenho, a Libertadores e o estadual. Tanto que não foi só o Corinthians: São Paulo, Cruzeiro, Inter, nenhum deles fez isso. 
A pergunta agora é: ainda dá para o Flamengo sair dessa? Sim. Primeiro, porque o nome do jogo é futebol. E depois, se Adriano e Pet voltarem a jogar bola, tudo é possível. Mas tá difícil. Como o clube não teve peito para definir o que queria, está com toda a pinta de que vai acabar sem nada.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Defendendo uma heresia.
Ninguém vai concordar comigo, mas, paciência. Eu acho que, para o Flamengo, perder o tetra estadual teria um peso muito maior do que ser eliminado na Libertadores. O futebol carioca tem um claríssimo divisor de águas: a inauguração do Maracanã, em 1950. Sessenta anos depois, jamais um time conseguiu ser campeão estadual quatro vezes seguidas. Se não aproveitar agora, o Flamengo desperdiçará uma oportunidade que, possivelmente, nenhum clube do Rio voltará a ter. Guardadas as devidas proporções, seria mais ou menos o que aconteceu com o São Paulo no Brasileirão 2009. Libertadores tem todo ano. O Flamengo não participa sempre, eu sei, mas o time esteve presente em três das quatro últimas edições. Ou seja: ganhar a Libertadores no futuro, pode ser; ter outra chance de conquistar o tetracampeonato carioca, acredito que nunca mais. A tese herética é essa: acho que o Flamengo deveria se preocupar muito menos com a Libertadores e apostar todas as fichas nas finais do estadual. Mas esse é o caso específico do Flamengo, por causa da história do tetra, e não vale pros outros. Para São Paulo, Internacional e Cruzeiro, ganhar ou perder o estadual será apenas um a mais ou um a menos. Já o Corinthians está seguindo à risca o que planejou, e hoje é, dos cinco brasileiros na Libertadores, o único que não está mais se desgastando na disputa regional. Faz sentido, sobretudo porque o time fechou o foco desde a conquista da Copa do Brasil no ano passado. No início do Brasileirão ainda houve uma conversa de tríplice coroa e tal, mas o discurso foi logo abandonado – inclusive pelo Mano Menezes – quando ficou claro que, no Campeonato Brasileiro, o buraco era bem mais embaixo. E no Campeonato Paulista desse ano, o time só não se poupou nos três clássicos. O Corinthians está treinando e descansado. Isso pode ser decisivo na reta final.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dois esportes bem diferentes.
Meu irmão Mário, que de vez em quando aparece aqui no blog, foi um ótimo jogador de vôlei. Excelente levantador, chegou a uma dessas seleções cariocas sub-15 ou sub-16, mas teve que parar de jogar porque parou de crescer. Mesmo assim, Mário manteve alguns amigos ligados ao vôlei, e eu me lembro de dois deles, os irmãos Cid e Felipe, que atuavam pelo Botafogo e iam à Praia do Leme com a gente. Cid e Felipe só jogavam vôlei de praia quando a temporada na quadra terminava. Eles diziam que tudo era diferente: tempo de bola, velocidade das jogadas, regras etc. Se eles jogassem na praia, isto certamente atrapalharia o rendimento na quadra. Na Libertadores acontece o mesmo. Nem tanto pelas viagens, já que no Brasileirão também se viaja à beça, mas porque o jogo é outro. Os estádios, os campos, a bola, os critérios de arbitragem, a marcação mais dura, a pressão da torcida. E o pior é que nós não ajudamos: nossos grandes clubes não enfrentam mais os pequenos em seus antigos alçapões, nossos árbitros são tarados por faltas, pênaltis e cartões amarelos, enfim, em vez de nos aproximar, aprofundamos as diferenças. Aí, não dá outra: quando chega a Libertadores, a gente se estrepa. Domingo, qualquer esbarrão é pênalti. Quarta-feira, o pau come e ninguém vê. E como os torneios acontecem ao mesmo tempo, a dificuldade só aumenta. Já que os torcedores de todos os clubes do Brasil desenvolveram essa obsessão pela Libertadores, talvez fosse o caso de rever o que temos feito, para que os nossos times possam disputá-la com chances maiores. Até porque, ao contrário do que pregam alguns dos nossos românticos comentaristas, futebol é muito mais aquilo lá do que isso que a gente tem visto aqui.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maluco não rasga dinheiro. Mas fala bobagem.
Acho divertido o Propaganda Futebol Clube, da Bandsports. Como os caras não são jornalistas, com exceção do bom âncora Mauro Betting, eles não precisam fazer média, não tem esse papo de que o XV de Jaú merece todo o nosso respeito etc. Eles vão lá, falam o que o torcedor tem vontade de falar e pronto. Outro dia esteve no programa o César Maluco, um ótimo centroavante que jogou no Flamengo, brilhou naquele timaço do Palmeiras que tinha Ademir da Guia, Luís Pereira e Leivinha, e esteve na Copa de 74. Falar bobagem sobre futebol é fácil. Basta fazer previsões, dar palpites e achar que jogos do passado têm alguma influência nos resultados de jogos futuros. Nunca têm. Num jogo totalmente atípico e acidental – todo clássico que termina seis a zero é atípico e acidental –, o Vasco goleara o Botafogo. César Maluco aproveitou e assegurou que vinha mais goleada por aí. Segundo ele, não em cima do Fluminense, um bom time, mas certamente em cima do Flamengo, o pior conjunto entre os seis primeiros colocados do último campeonato brasileiro. Detalhe: o Flamengo foi campeão e o Fluminense chegou em décimo-sexto. Mas como costumava dizer o baixinho Romário, quem tem boca fala o que quer. Hoje, Botafogo e Flamengo continuam na briga, enquanto Vasco e Fluminense não podem mais ser campeões estaduais em 2010. Quanto ao jogo de ontem, em mais uma pérola da arbitragem carioca, a partida acabou decidida por um desses pênaltis que, assim como o Pão de Açúcar, o Corcovado e o biscoito Globo, só existem no Rio de Janeiro.
Grêmio Prudente e Santo André.
Bom, no dia em que eu escrever sobre Grêmio Prudente e Santo André, por favor, me internem. É claro que não vi o jogo, mas devo fazer justiça: vi o Santo André contra o São Paulo e gostei. É um time rápido, ofensivo, tem dois meias (Branquinho e Bruno César) que se movimentam muito e trabalham bem a bola, Rodriguinho é perigoso. O problema é que, numa final, camisa costuma pesar.
Três a dois muito bom.
Santos e São Paulo terminou com o mesmo placar de Fluminense e Botafogo, mas foi um jogaço. Duas coisas ficaram claras: a primeira é que o time do Santos é mesmo muito bom; a segunda é que o time do Santos não é imbatível. O São Paulo continua forte, mas tem sofrido de problemas terríveis. A síndrome de Carpegiani (ver post da última sexta-feira), a síndrome do homem de referência (o time melhora toda vez que o Washington sai) e a síndrome de Ricardo Gomes, que não consegue ganhar clássicos. E eu acho que ontem ele errou. Ricardo Gomes foi um excelente zagueiro, conhece o jogo e sabe que, numa partida equilibrada, só há um jeito de um dos times começar o segundo tempo perdendo de dois a zero, com um jogador a menos, e ainda assim conseguir empatar: é se matar em campo. Entretanto, se matar cansa, e o São Paulo cansou. A maior prova disso foi a quantidade de faltas que Miranda fez no finzinho do jogo, chegando atrasado e exausto nos lances. Ricardo Gomes errou nas substituições. É bem verdade que a entrada do Cicinho no lugar do Washington melhorou a equipe, mas isso aconteceria até se o Paulo Asano entrasse no lugar do Washington*. Mas quando pôs Fernandinho e Marcelinho Paraíba, Ricardo Gomes deveria optar por manter o empate, e não por tentar a vitória. Cléber Santana, Léo Lima (não sei quem estava no banco) ou até mesmo um terceiro zagueiro teriam sido escolhas melhores. Jogando em casa, em princípio o empate não seria um bom resultado pro São Paulo, mas as circunstâncias do jogo mudaram isso. E não custa lembrar que o Palmeiras ganhou do Santos lá na Vila.
*Pra quem não conhece: Paulo Asano é um excelente diretor de arte, que trabalhou aqui na Y&R com a gente e participava das peladas às segundas-feiras. Um dia o Paulo comentou: “Eu não sei por que vocês me passam a bola. Eu não tenho a menor ideia do que fazer com ela.”
Três a dois muito ruim.
Fluminense e Botafogo fizeram um jogo disputado, cheio de gols e bem ruinzinho. No gol do Loco Abreu, ele estava muito mal marcado e teve que se abaixar para cabecear. Fred empatou também com um gol de cabeça, e também sem sair do chão. Fahel fez um gol todo esquisito, mais carregando a bola com o pé esquerdo do que chutando. Para arrematar o festival de erros, o juiz Péricles Bassols marcou um pênalti absurdo contra o Botafogo (que Fred desperdiçou, batendo no travessão) e errou ao validar o gol da vitória alvinegra: impedido, Herrera não tocou na bola, mas fez o corta-luz que matou o goleiro Rafael. Sua participação no lance foi decisiva. O que teve de bom, pelo lado do Fluminense, foi o segundo gol: boa jogada do Alan com bela conclusão do Fred, apesar da passividade da zaga botafoguense. O que teve de bom, pelo lado do Botafogo, foi o de sempre: o goleiro Jéfferson.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A lição do Carpegiani.
Não pude ver Flamengo e Universidade do Chile. Foi às quatro da tarde e meu chefe lê o blog de vez em quando. Comentar o jogo em detalhes significaria botar a batata do blogueiro para assar. Mas dá pra falar sobre algumas coisas que estão muito claras no time, que sem dúvida não é o mesmo do ano passado. A defesa, que terminou o Brasileirão jogando com muita firmeza e sofrendo apenas um gol nas últimas quatro partidas, virou uma peneira e já levou cinco na Libertadores. Kléberson é bom jogador, mas a volta dele desarrumou o meio-campo. Está custando a acertar. Adriano (que não jogou ontem por contusão) tinha muito mais vontade no ano passado do que nesse ano. E o Pet tem que jogar. No lugar de qualquer um. Até do Bruno. Além disso, em 2009 havia um espírito de equipe bacana, os caras demonstravam alegria em jogar juntos. Parece que isso não tem mais não. Apesar de tudo, que fique bem claro: o empate de ontem não foi bom, mas também não foi o fim do mundo. As chances de classificação continuam sendo grandes, e a partir da próxima fase tudo pode acontecer. Ainda mais em um torneio onde equipes de um grupo competem com equipes de outros grupos, e que enfrentam outros adversários. Genial. Mas há mais coisas para comentar: Andrade pegando cacoete de técnico e começando a querer inventar, elenco mal montado e uma dificuldade crônica em entender como se disputa a Libertadores. No final da década de setenta, houve um Flamengo e Vasco que terminou com a vitória rubro-negra por dois a um. Na mesa redonda do final da noite, um dos participantes provocou o Carpegiani, então meio-campista do Flamengo, perguntando sobre uma discussão que houvera entre ele e o Tita. Carpegiani explicou mais ou menos o seguinte: “O jogo estava dois a um pra gente, mais de quarenta do segundo tempo, não tem nada que arriscar jogada de ataque. Clássico, casa cheia, dois a um a favor, mais de quarenta do segundo tempo, pra mim esse jogo acabou.” Simples, né? Por que será que tem gente que não aprende?
PS: Vi hoje de manhã que o São Paulo está arrecadando doações para enviar pro Rio de Janeiro. A torcida do Flamengo adoraria se eles mandassem o Miranda.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A agonia dos estaduais.
Quando vi o comentário do Valois em cima do post de ontem, eu estava justamente dando uma olhada na tabela do Campeonato Paulista, para escrever algo sobre os estaduais. Percebo duas grandes diferenças entre o paulista e o carioca. A primeira é a grana, já que os clubes pequenos de São Paulo têm muito mais condição do que os do Rio. Exemplo: apesar de já se aproximar do final da carreira, não existe a menor chance de um jogador com a qualidade do Marcos Assumpção atuar num pequeno do Rio. A realidade é outra. A segunda diferença é que essa história de os pequenos do Rio não fazerem mais seus jogos contra os grandes em casa acaba com a graça. Quando eu era moleque, lembro do sufoco que os grandes passavam pra ganhar do Olaria na Rua Bariri, do Bonsucesso em Teixeira de Castro, do Campo Grande em Ítalo del Cima. Se eu não estiver enganado, o único time pequeno que jogou em casa contra os grandes no atual campeonato foi o Volta Redonda. Aí os jogos ficam chochos. Apesar de alguns absurdos (o Santo André mandar seu jogo contra o São Paulo em Piracicaba, com outros clubes interessados no resultado, é totalmente antiesportivo, não?), os pequenos de São Paulo costumam jogar em casa. É bem verdade que isso só dura durante a fase de classificação, porque a final é sempre no Morumbi ou no Pacaembu. Ou seja: no Campeonato Paulista, os pequenos têm o direito de chegar às finais, mas não o de ser campeões. No Campeonato Carioca, nem isso. Outro problema é que, provavelmente por falta de estrutura para manter divisões de base, os pequenos deixaram de ser clubes formadores. Didi começou no Madureira, Gérson no Canto do Rio, Dadá Maravilha no Campo Grande, Ronaldo Fenômeno no São Cristóvão. Hoje os pequenos revelam pouco e costumam montar seus elencos com o que sobra dos grandes. O que parece indiscutível é que, tanto no Rio quanto em São Paulo, os campeonatos sofrem de inchaço. O carioca deveria ter no máximo dez clubes, e o paulista doze. Isso proporcionaria muito mais equilíbrio. Querem um exemplo? Se o Campeonato Paulista fosse disputado pelos times que terminaram a fase de classificação nos doze primeiros lugares, esse monte de goleadas que o Santos tem aplicado se reduziria a uma: cinco a zero sobre o Grêmio Prudente, e mesmo assim lá na quarta rodada, quando o ex-Barueri ainda se rearmava. A campanha do Santos continuaria sendo excelente e o time teria boa vantagem sobre os demais, mas não haveria essa quantidade de massacres que temos observado. Entretanto, ao contrário do Valois, eu não gostaria que os estaduais acabassem. Tradição e rivalidades regionais são muito importantes e precisam ser levadas em conta. Mas é óbvio que esses campeonatos têm que ser revistos e repensados. Com menos clubes na disputa e os pequenos voltando a jogar em casa para aumentar as surpresas e as emoções, acho que ainda há espaço para eles.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma seleção só com jogadores que atuam aqui.
Acredito que a Copa do Mundo tenha surgido para confrontar estilos. O jogo é um só, as regras são as mesmas, mas o jeitão de jogar varia de lugar pra lugar. Os ingleses gostam de bolas altas na área. Os argentinos tocam e se vão. O que os alemães têm de pragmáticos, os brasileiros têm de inventivos. Aí alguém teve a ideia de botar esses estilos todos se enfrentando, para ver qual deles traduzia melhor o jogo. Obviamente, quando a globalização chegou ao futebol, isso foi pro brejo. O time-base do Dunga tem apenas um jogador que atua no Brasil, o que significa que esta seleção não pode ser considerada uma legítima representante do estilo de jogo que a gente vê no país. Pelo contrário: muitas vezes, bons jogadores locais deixam de ser convocados sob o argumento da falta de experiência internacional. E outros, até menos talentosos, são chamados única e exclusivamente por isso. (O melhor exemplo do momento é o Felipe Mello: no Flamengo, no Cruzeiro e no Grêmio, era um apoiador lento e de estilo clássico; na Europa, virou um volante brigão.) A seleção argentina que vai à África do Sul também terá no máximo três ou quatro que atuam na Argentina. E por aí vai. A Copa do Mundo deixou de ser um torneio que confronta estilos, e isso é irreversível. Só que, no caso brasileiro, a gente poderia ter um critério diferente. É muito ruim essa distância entre jogadores e torcedores. Até pouco tempo, você ia ao estádio e via em ação os caras da seleção. Tanto os do seu time quanto os dos outros. Hoje você passa os olhos na lista de convocados e se depara com um Afonso, um Hulk. Não está se discutindo aqui a qualidade do jogador, mas a falta de identificação: é estranho torcer por um cara que você nunca viu jogar. O Campeonato Espanhol tem um clube, o Atlético de Bilbao, que só aceita no elenco quem tiver origem basca. Critério. Como o Brasil é um país com inesgostável capacidade de produzir bons jogadores, não seria legal adotar o critério de só levar pra nossa seleção os que atuassem aqui? Deem uma olhada nesse time: Vitor (Grêmio); Jonathan (Cruzeiro), Alex Silva e Miranda (São Paulo), Roberto Carlos (Corinthians); Sandro (Internacional), Hernanes (São Paulo), Elias (Corinthians) e Paulo Henrique (Santos). Robinho (Santos) e Kléber (Cruzeiro). Essa escalação saiu sem parar pra pensar e sem qualquer jogador do Flamengo, pra ninguém acusar o blogueiro de parcialidade. Agora, comparem com a seleção titular do Dunga e vejam quem está lá e faz falta de forma indiscutível no time que escalei aqui. Pra mim, só o Kaká. Isto não seria uma punição aos jogadores que atuam fora. De jeito nenhum. Todo mundo tem o direito de trabalhar onde quiser, e nada mais justo do que o cara querer ganhar melhor, receber em dia e exercer sua profissão em lugares com mais estrutura. Entretanto, seria uma questão de escolha: quer jogar fora, vai, beleza, mas para a seleção brasileira só iriam os que decidissem ficar por aqui. Claro que essa ideia nunca será proposta e, se for, jamais será adotada. Patrocinadores, FIFA, etc, hoje tem dinheiro grosso na parada. Mas seria bem bacana.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Enganos da pré-temporada.
Quem acompanha o blog sabe que ele é muito mais conceitual do que factual. Mas é sempre bom quando temos fatos para ilustrar conceitos. Fato: na última quarta-feira, no jogo entre Goiás e São José de Macapá pela Copa do Brasil, Rafael Moura fez quatro gols, sendo um deles de letra. Os torcedores do Corinthians e do Fluminense, que tiveram o desprazer de ver Rafael Moura comandando o ataque de seus times, sabem o que isso significa. Nada. Para os outros, fica claro – ou deveria ficar – que precisamos ser cuidadosos antes de emitir opiniões sobre times e jogadores nessa fase dos estaduais e da Copa do Brasil que antecede as semifinais. Até lá, tudo é apenas pré-temporada. Jogos que parecem treinos e equipes que não fariam feio se disputassem torneios de várzea. Mas a roda tem que continuar a girar, a bola tem que continuar a rolar, é preciso insuflar os torcedores, e aí surgem essas tolices de dizer que times com duas vitórias em duas rodadas são times “cem por cento”, jogadores elevados à categoria de craques com três ou quatro boas atuacões contra Ituano, Tigres do Brasil, Ituiutaba e Avenida. A sorte do Dunga é que todas as atenções e os pleitos se voltaram para Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Paulo Henrique. Não fosse isso, ia ter gente querendo o Rodriguinho do Santo André e o Ricardo Bueno do Oeste na seleção brasileira. Não são eles os artilheiros do Campeonato Paulista? Outros pediriam o Philippe Coutinho do Vasco. O Caio do Botafogo. E o Wagner Love, que esse ano fez catorze gols em quinze jogos? Seleção, claro. E o Dodô, que fez três nos seis a zero do Vasco em cima do Botafogo? Se vai o Dodô que fez três, por que não o Fernandinho que fez quatro? E o que dizer do Obina, que fez cinco? Faça uma experiência: pegue o carro no fim de semana e estacione em frente a qualquer campinho fuleiro de pelada. Você vai ver lençóis, canetas, dribles da vaca, gols por cobertura, gols de letra. O gol de letra do Robinho não foi bacana por ter sido de letra: foi bacana por ter sido feito diante de uma defesa que tem o Miranda e em cima de um goleiro como o Rogério Ceni. Por isso, é bobagem comparar o gol de Messi contra o Getafe com o gol de Maradona contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo. E também é bobagem achar que o gol mais bonito da carreira do Fenômeno foi aquele contra o Compostela. Se o que vale é só a plasticidade, os mais belos gols do mundo são os do Bola Cheia, que o Tadeu Schmidt apresenta aos domingos com seu humor de pré-primário. Só que não basta ser bonito: tem que ser, também, em cima de gente boa. Futebol é um esporte em que o seu talento só pode ser avaliado quando encontra adversários com capacidade para neutralizá-lo. Este é o conceito.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Jogo feio no México, show de bola no Mineirão.
Outro dia eu escrevi que nem todo jogo que termina zero a zero é ruim. Pois o de ontem foi horroroso. Em partidas assim, João Saldanha costumava dizer que, se em vez de jogar noventa minutos os times jogassem noventa dias, nem desse jeito o gol ia sair. O São Paulo porque não queria, o Monterrey por não saber. Foi feio. Quem fez bonito foi o Cruzeiro. Não apenas pelos três a zero, mas, principalmente, porque o domínio foi absoluto e o Vélez não assustou em momento algum. Aliás, o Cruzeiro é o time brasileiro que eu mais gosto de ver jogar. Bom goleiro, bons laterais, meio-campistas que tocam muito bem a bola (inclusive os volantes) e na frente tem o Kléber, que é um dos atacantes mais chatos do mundo, ao lado do Thiago Ribeiro, que ontem fez tudo o que prometia fazer quando apareceu no São Paulo. O Cruzeiro só não foi mais longe no último Brasileirão por ter perdido pontos demais enquanto disputava a Libertadores. Mesmo assim, ainda chegou nas cabeças. É um time que joga bonito e com objetividade. Pena ter afinado na final da Libertadores do ano passado: depois de eliminar o São Paulo no Morumbi, o Grêmio no Olímpico e empatar o primeiro jogo contra o Estudiantes em La Plata, deu mole, abrindo o placar e deixando os argentinos virarem no Mineirão. O que talvez possa ser explicado por um dos posts de ontem: o Cruzeiro tinha, e tem, um belo time. Mas o Estudiantes tinha, e tem, Juan Sebastián Verón.