quinta-feira, 15 de abril de 2010

Flamengo ladeira abaixo. 
Muitas vezes, no futebol, um clube faz tudo certo e, mesmo assim, perde. Mas não é por isso que se vai fazer tudo errado. 
Esse ano, o Flamengo fez tudo errado. Começou errando na armação do elenco. Nada podia ser feito para impedir a saída do Aírton, ok, mas acredito que antecipação e habilidade gerencial teriam ajudado a manter o Zé Roberto. 
Não se percebeu o que estava na cara: a defesa é fraca demais. Apesar da longa lista de bons serviços prestados, Ronaldo Angelim é um zagueiro em decadência. Sempre compensou a baixa estatura e a fragilidade física com agilidade, boa impulsão e ótimo tempo de bola. Envelheceu, perdeu reflexos e virou um defensor que não se impõe. Pior: acharam que o substituto do Angelim poderia ser o Fabrício. Aliás, essa é uma velha mania rubro-negra: pensar que basta o cara ter pertencido às divisões de base para entrar e resolver. Isso funcionou com Zico e Júnior. Não tem como funcionar com o Fabrício. 
Os problemas de elenco continuam no ataque. A comissão técnica tinha a obrigação de prever os recorrentes períodos de instabilidade do Adriano, e não podia deixar o time sem back-up. Como escrevi num dos primeiros posts do blog, a conquista do Brasileirão já valeu a vinda de Adriano, mas o clube precisava se preparar para suas crises e ausências. É óbvio que não dá para ter outro jogador do mesmo nível no elenco, mas o que se fez foi manter dois atacantes inúteis (Gil e Dênis Marques) e negociar um que, mesmo com todo o seu folclore, poderia ajudar – Obina. 
Outro dia perguntei ao meu amigo palmeirense Gobato que tal esse Michael. A resposta foi uma cara de huuummm, não sei não. Jogador do tipo huuummm, não sei não é muito bom pro Goiás, pro Avaí, pra Portuguesa de Desportos. Não pro Flamengo, pro Corinthians, pro São Paulo. 
Houve falhas graves também na fase de preparação, como a demora e o desgaste na renovação de contratos (Andrade e Ronaldo Angelim, por exemplo) e reapresentações tardias (Petkovic). Não tenho religião, mas respeito as convicções e escolhas de cada um. No entanto, se a religião do Pet faz com que ele só possa voltar da Sérvia na metade de janeiro, lamento, mas o cara não pode jogar no Brasil. Aí volta cheio de fé mas fora de forma, demora a pegar o jeitão e ainda cria caso ao ser substituído, quebrando o clima de companheirismo e acabando com o encanto que o time tinha. 
Também faltou planejamento, mas isso o Flamengo nunca teve. É uma esculhambação que às vezes dá certo. E mais até do que planejamento, faltou coragem para eleger uma das duas competições, se dedicar a ela e não ter medo de enfrentar as cobranças caso o título não viesse. (Como o Corinthians terá que fazer, se não levar a Libertadores.) É uma mistura de despreparo com arrogância querer encarar, ao mesmo tempo e com o mesmo empenho, a Libertadores e o estadual. Tanto que não foi só o Corinthians: São Paulo, Cruzeiro, Inter, nenhum deles fez isso. 
A pergunta agora é: ainda dá para o Flamengo sair dessa? Sim. Primeiro, porque o nome do jogo é futebol. E depois, se Adriano e Pet voltarem a jogar bola, tudo é possível. Mas tá difícil. Como o clube não teve peito para definir o que queria, está com toda a pinta de que vai acabar sem nada.

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