segunda-feira, 5 de abril de 2010

Enganos da pré-temporada.
Quem acompanha o blog sabe que ele é muito mais conceitual do que factual. Mas é sempre bom quando temos fatos para ilustrar conceitos. Fato: na última quarta-feira, no jogo entre Goiás e São José de Macapá pela Copa do Brasil, Rafael Moura fez quatro gols, sendo um deles de letra. Os torcedores do Corinthians e do Fluminense, que tiveram o desprazer de ver Rafael Moura comandando o ataque de seus times, sabem o que isso significa. Nada. Para os outros, fica claro – ou deveria ficar – que precisamos ser cuidadosos antes de emitir opiniões sobre times e jogadores nessa fase dos estaduais e da Copa do Brasil que antecede as semifinais. Até lá, tudo é apenas pré-temporada. Jogos que parecem treinos e equipes que não fariam feio se disputassem torneios de várzea. Mas a roda tem que continuar a girar, a bola tem que continuar a rolar, é preciso insuflar os torcedores, e aí surgem essas tolices de dizer que times com duas vitórias em duas rodadas são times “cem por cento”, jogadores elevados à categoria de craques com três ou quatro boas atuacões contra Ituano, Tigres do Brasil, Ituiutaba e Avenida. A sorte do Dunga é que todas as atenções e os pleitos se voltaram para Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Paulo Henrique. Não fosse isso, ia ter gente querendo o Rodriguinho do Santo André e o Ricardo Bueno do Oeste na seleção brasileira. Não são eles os artilheiros do Campeonato Paulista? Outros pediriam o Philippe Coutinho do Vasco. O Caio do Botafogo. E o Wagner Love, que esse ano fez catorze gols em quinze jogos? Seleção, claro. E o Dodô, que fez três nos seis a zero do Vasco em cima do Botafogo? Se vai o Dodô que fez três, por que não o Fernandinho que fez quatro? E o que dizer do Obina, que fez cinco? Faça uma experiência: pegue o carro no fim de semana e estacione em frente a qualquer campinho fuleiro de pelada. Você vai ver lençóis, canetas, dribles da vaca, gols por cobertura, gols de letra. O gol de letra do Robinho não foi bacana por ter sido de letra: foi bacana por ter sido feito diante de uma defesa que tem o Miranda e em cima de um goleiro como o Rogério Ceni. Por isso, é bobagem comparar o gol de Messi contra o Getafe com o gol de Maradona contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo. E também é bobagem achar que o gol mais bonito da carreira do Fenômeno foi aquele contra o Compostela. Se o que vale é só a plasticidade, os mais belos gols do mundo são os do Bola Cheia, que o Tadeu Schmidt apresenta aos domingos com seu humor de pré-primário. Só que não basta ser bonito: tem que ser, também, em cima de gente boa. Futebol é um esporte em que o seu talento só pode ser avaliado quando encontra adversários com capacidade para neutralizá-lo. Este é o conceito.

Um comentário:

  1. Alguns times são tão ruins e os jogos tão chatos que o Júnior, comentarista da Tv Globo, disse em uma entrevista à Revista de Domingo, do Globo, o seguinte: "Às vezes tenho que me desdobrar para que o telespctador tenha interesse". Depois os analistas reclamam que os jogos não tem público. O que eles querem?

    ResponderExcluir