sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Os votos de sempre.
Mais ou menos como o time do Flamengo, o blog chega a mais um final de ano aos trancos e barrancos. A diferença é que o Flamengo ainda tem esperança de melhorar, com a nova e supostamente competente diretoria (RIP, Patrícia Amorim), enquanto o blog, no ano que vem, continuará sob a responsabilidade desse pobre blogueiro. Mas vamos à luta. 
Quem gostou está automaticamente convidado a voltar em 2013. E pra quem não gostou, sou franco: pode desistir, pois não há chance de, a essa altura do campeonato, o blogueiro melhorar o jeito de pensar e de escrever. 
Agradeço a quem leu e apareceu na caixa de comentários, a quem leu e comentou pessoalmente e também a quem leu mesmo sem falar nada. Quando voltar, aviso pelo twitter e pelo facebook. 
Repito o mantra: um Natal tranquilo, se é que isso é possível, e um Ano Novo bem bacana pra todo mundo. Beijos e abraços.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As coisas inexplicáveis que o futebol faz com a gente. 
No finzinho do expediente da agência, na última sexta-feira, eu e o corintiano Marcelo Diniz conversávamos sobre as estranhas coisas que o futebol faz com a gente e a importância que ele tem na nossa vida. Creio que nunca escrevi sobre isso aqui, mas aprendi a ler, sozinho, por causa do futebol. Comecei a namorar Mônica, mãe dos meus filhos Lucas e Nina, na primeira partida da final da Libertadores de 81, entre Flamengo e Cobreloa. Às vezes fico parecendo o personagem que Nick Hornby utilizou para se autorretratar no livro “Febre de bola”, um cara que associa o futebol e os jogos do Arsenal a todos os momentos importantes da sua vida. 
Uma das coisas mais prazerosas do universo do futebol é você ligar a tevê pra ver um jogo reunindo dois bons times, sem torcer por nenhum deles. Apenas porque é sempre bacana ver um grande jogo. Foi com esse espírito que acordei ontem e foi assim que comecei a ver Corinthians e Chelsea, mais ou menos como vi, sei lá, Inglaterra e Alemanha na Copa de 2010. Entretanto, lá pela metade do primeiro tempo a tranquilidade já tinha saído de campo, substituída pela tensão, e mandei a imparcialidade pro espaço. 
O que houve de mais legal ontem foi que o Corinthians jogou o jogo. É o que eu não me canso de defender: futebol você ganha ou perde jogando feio ou bonito, brigando ou se acovardando. Então, vamos ao jogo, e de forma honrada. Não é por estar diante de um milionário time europeu que colocaremos dezoito zagueiros e catorze volantes, que esqueceremos tudo o que fizemos no resto da temporada e tudo o que o futebol brasileiro já fez e é capaz de fazer. 
Não sou ufanista, detesto ufanismo, mas beira a traição um time brasileiro ganhar a Libertadores e entrar na final do Mundial Interclubes tremendo de medo. Ontem o Corinthians foi melhor em boa parte, correu sério perigo em outra, ou seja, jogou o jogo. O Corinthians enfrentou o Chelsea – que, precisamos reconhecer, está longe de ser o Barcelona – do mesmo jeito que a gente vê o Corinthians enfrentar o Grêmio ou o Fluminense ou o São Paulo ou o Atlético Mineiro. Não mudou o jeito de jogar só porque o adversário era um europeu rico, coisa, aliás, que não anda muito na moda. 
O Corinthians não é um timaço. Tem jogadores exclusivamente táticos, como o Jorge Henrique, de quem eu não gosto, e o Danilo, que é muito pouco surpreendente para um meia de ligação. Chicão é lento e fraco no jogo aéreo. Alessandro e Fábio Santos são medianos. O abuso da linha do impedimento coloca o Corinthians constantemente em risco. Mas o conjunto funciona, os caras sabem o que fazer em campo e se comportam como um time. 
Não seria idiota a ponto de pedir o reconhecimento de são-paulinos, santistas e palmeirenses, mas o jeito como o Corinthians ganhou o Mundial Interclubes ontem deve servir de lição para os nossos técnicos e foi um bom exemplo para o futebol brasileiro.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

E o pior é que a gente não aprende. 
O mundo não vai acabar em 2012, mas parece que o futebol argentino sim. Primeiro foi a bisonha atuação do Boca na final da Libertadores. Depois veio o triste episódio da falta de luz na cidade de Resistência, que impediu a realização daquele Brasil x Argentina. E agora essa absoluta novidade, pelo menos pra mim, de um time não voltar para o segundo tempo numa partida de futebol. O futebol argentino acabou, e não me venham falar de Messi. Claro que o cara é fera, nasceu lá, defende a seleção argentina, mas é um jogador de formação profissional rigorosamente espanhola. Catando aqui e ali, eles ainda conseguem armar boas seleções, mas o futebol dos clubes argentinos, esse já era. 
Não acompanhei o noticiário sobre a brigalhada no intervalo do jogo de ontem, e a verdade completa provavelmente jamais será conhecida. O que sei é que não há santo nem bonzinho nessa história, e vejo dois lados. 
Comecemos pelo lado um. Título não se contesta. A não ser que ele seja conquistado com uma ajuda decisiva e incontornável da arbitragem – o maior exemplo de todos talvez seja o gol da Inglaterra contra a Alemanha, em que a bola não entrou, já na prorrogação da final da Copa de 66 – ou algo semelhante. Fora isso, título é título, independentemente do grau de dificuldade da competição, da duração do torneio etc. O que não se deve fazer é tentar enxergar numa conquista significados que ela não tem, como aconteceu recentemente com o Palmeiras: o título da Copa do Brasil pode ter deixado a falsa impressão de que o time era bom, ou no mínimo não tão ruim a ponto de cair, e deu no que deu. 
Sempre que um time de futebol entra numa competição, deve brigar até o fim para vencê-la. E se o título vier, a torcida tem o dever de festejar. O time do São Paulo fez o que precisava ser feito: jogou sério e ganhou a taça. A torcida do São Paulo fez o que devia fazer: lotou o estádio e comemorou com entusiasmo. Entretanto, isso não afasta uma realidade que só não vê quem não quer: os grandes clubes brasileiros não têm absolutamente nada o que fazer na Copa Sul-Americana. Times sofríveis, estádios vagabundos, partidas desprestigiadas até pelos próprios participantes. 
Apesar da gigantesca distância que ainda nos separa dos centros mais poderosos do futebol europeu, nosso futebol já está numa posição muito acima da dos demais países da América Latina. É claro que a melhor explicação para isso vem da famosa frase de James Carville: é a economia, estúpido! Mas não importa. O que importa é que São Paulo, Corinthians, Fluminense, Cruzeiro, Inter, até aquela bagunça institucionalizada que atende pelo nome de Flamengo, enfim, os grandes do nosso futebol só têm a perder numa competição desse nível. 
Já defendi aqui, várias vezes, que criar um ranking seria muito bom para o futebol brasileiro. Se isso fosse feito, nossas vagas na Copa Sul-Americana ficariam sempre com a turma intermediária. Coritiba, Atlético Paranaense, Sport, Náutico, Bahia, Vitória, Goiás, pra esses times a Sul-Americana seria uma bênção. Para os grandes, é andar pra trás. 
O segundo lado da história é o seguinte. Conhecendo o padrão de preparo das nossas polícias privadas, não é difícil partir do princípio de que os seguranças do Morumbi tenham mesmo enchido os jogadores argentinos de porrada. Há antecedentes. Lembro que, na semifinal do Brasileirão de 81, contra o Botafogo, o São Paulo abusou de artifícios extracampo – segurança intimidando, gandula irritando, maqueiros derrrubando jogadores botafoguenses da maca – para eliminar o adversário. Essa lenda de aristocracia, fidalguia etc., tudo papo furado. Mas todos nós estamos cansados de ver jogos do São Paulo no Morumbi, em decisões, em semifinais, contra rivais brasileiros, contra adversários do continente, e ninguém nunca viu jogador apanhando. Se os argentinos apanharam ontem, com certeza eles sabem perfeitamente por quê.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mais uma vez, ele: o maldito marketing da classificação para a Libertadores. 
Velhice é o diabo. O sujeito vai ficando velho e, é automático, fica também mais ranzinza. 
O Atlético Mineiro jogou o futebol mais bacana de se ver no último brasileiro, e essa campanha pode marcar o retorno do time ao elenco dos grandes do nosso futebol. Ok. Mas a vibração ensandecida pelo segundo lugar no campeonato, com Ronaldinho Gaúcho dando socos no ar feito Pelé e batendo peito com Jô no estilo NBA, após a notícia do empate do Grêmio, francamente, aquilo foi patético. 
Custei a me dar por vencido com todo esse frenesi em torno da Libertadores, mas não vou discutir com o país inteiro. Além disso, a Libertadores acabou virando uma extensão do Brasileirão disputada em mata-mata – exatamente o que eu defendo. (Existe algo mais sem graça do que os jogadores do Fluminense sendo avisados pelos repórteres que acabaram de ser campeões brasileiros?) Futebol tem que ter decisão, tem que ter estádio lotado na final. Essa tensão a Libertadores tem, e como ela já se transformou numa competição vencida por brasileiros, fica parecendo o Brasileirão do jeito que eu gostaria. 
Aí entra o óbvio: da mesma forma que só perde pênalti quem bate, a condição primordial para ganhar a Libertadores é disputá-la. Mas não dá pra comemorar a vaga para um torneio que acontece todo ano com o mesmo entusiasmo que a Venezuela irá comemorar – se um dia isso acontecer – sua primeira classificação para a Copa do Mundo. E outra: aquela festa toda era porque, com o segundo lugar confirmado, o Atlético pulou a fase pré-grupos? Isso é medo do Tolima? Ou daquele time boliviano que enfrentou o Flamengo no ano passado, o tal do Real Potosí? Se for para temer adversários como esses, é melhor jogar a Copa do Brasil. 
Nada contra o marketing, até porque não posso cuspir no prato em que como, mas não dá para engolir esse marketismo barato que tomou conta do nosso futebol. Um técnico como Vanderlei Luxemburgo, que já foi cinco vezes campeão brasileiro, tentando nos convencer que o objetivo é chegar entre os quatro primeiros. Um jogador como Ronaldinho Gaúcho, que ganhou Copa do Mundo, ganhou Champions League e foi eleito duas vezes o melhor do planeta, dando socos no ar por não ter que enfrentar o Jorge Wilstermann. 
De novo e para encerrar: francamente.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. 
Como seu currículo não tem nada demais, tudo indica que, após a tentativa malsucedida com Muricy, Mano Menezes tenha virado técnico da seleção brasileira por motivos políticos. Daí que ninguém pode reclamar por ele ter sido demitido pelos mesmos motivos. Mano tem títulos da segunda divisão, o que faz do técnico do Goiás, Enderson Moreira, um forte candidato a herdar o cargo; tem um vice da Libertadores, quando a gente sabe que aqui no Brasil há pouca diferença entre ser vice e ser penúltimo; tem um título estadual e um da Copa do Brasil. Em termos de portfolio, é bem pobrezinho, e fica muito perto do que já conseguiu, por exemplo, Dorival Jr., campeão da segundona com o Vasco, estadual e da Copa do Brasil com o Santos. Se fosse uma indicação por saber notório e títulos conquistados, Mano seria o sexto ou sétimo da fila. De qualquer modo, com política ou sem política, o presidente da CBF não cometeria a tolice de demitir o técnico se o nosso time estivesse batendo um bolão, e há poucas coisas mais chatas no atual futebol brasileiro do que ver a seleção jogar. Além disso, a invencionice e a teimosia dos nossos treinadores criam armadilhas para eles próprios. Assisti a um monte de jogos do Fluminense esse ano e só vi uma grande partida do Thiago Neves – na vitória de dois a um sobre o Vasco, na última rodada do primeiro turno do Brasileirão. Aí o Mano cisma que Thiago Neves pode jogar na seleção. Fellype Gabriel sequer é titular do Botafogo, mas vem sendo convocado. E quando são chamados jogadores que atuam no estrangeiro, a coisa piora. Mano convocou Jádson, que hoje a gente sabe que, apesar de não ser mau jogador, está longe de ser um cara de seleção brasileira. Mano convocou Renato Augusto, que também não é mau jogador, mas é agenciado por Carlos Leite, apenas por acaso o mesmo empresário do técnico. Mano convocou Jucilei, que foi vendido para o exterior e, com o job cumprido, não voltou a ser chamado. Entretanto, repito: nada disso seria capaz de derrubar o treinador se o time jogasse o fino. Não lamento a queda do Mano, mas confesso não ver claramente quem possa assumir o lugar dele e fazer nossa seleção jogar futebol de verdade. Muricy? Felipão? Abel Braga? Tite? Vanderlei Luxemburgo? De todos esses, Luxemburgo foi o que conseguiu montar times mais próximos do que a gente gosta de ver, mas acho que já deu. E as atuações de Ronaldinho Gaúcho pelo Atlético Mineiro, nesse Brasileirão, provam que a teimosia do Luxa – ela, sempre ela – muitas vezes o faz errar feio. Outro cara que consegue organizar times que jogam bonito e pra frente é o Cuca, mas não dá pra pensar naquele perdedor chorão ocupando o posto de técnico da seleção brasileira. Até porque, não haverá jogos no Estádio Independência na Copa de 2014. Conclusão: estamos diante da clássica história do se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Minha opinião: se é pra continuar convocando Afonso, Gladstone, Morais, Daniel Carvalho, Dudu Cearense (todos chamados em algum momento por Dunga) ou Rhodolfo, Casemiro, Elkeson, Renato Abreu, Cícero (convocados por Mano Menezes), acho que poderíamos institucionalizar a bagunça e indicar para o cargo o insuperável Joel Santana. É a cara do Brasil, né não? 
Honrando o fato da cidade ficar relativamente perto de Santos, o São Caetano nadou, nadou e morreu na praia. Em campeonatos como esse, com pontos corridos em trinta e oito rodadas, não dá pra ficar pensando no que aconteceria se tivesse vencido aquele jogo ou se não tivesse sido desatento naquele outro. Todos os times têm histórias assim, e como dizia meu falecido pai, “se” não joga futebol. “Se” o Hernane fosse do Santos e “se” o Neymar fosse do Flamengo, o rubro-negro estaria disputando o título. Mas erros e descuidos nas rodadas decisivas são imperdoáveis. No caso do São Caetano, a conta tem que ser paga pelo meia Aílton, que cobrou um pênalti nas mãos do longevo goleiro Harlei aos quarenta e dois minutos do segundo tempo, quando a partida com o Goiás estava um a um, na penúltima rodada. O São Caetano terminou em quinto lugar, com o mesmo número de pontos do Atlético Paranaense e do Vitória, mas uma vitória a menos. O consolo é que, no ano que vem, estaremos todos lá no Anacleto Campanella para assistir ao grande clássico que irá dividir a colônia italiana – maioria absoluta na cidade.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Além de todas as que a gente já leu e ouviu, mais três explicações para o rebaixamento do Palmeiras. 
Todo mundo já disse um monte sobre os motivos da queda. Política interna, falta de profissionalismo na administração do futebol, descontrole financeiro, incapacidade para suportar pressão, torcida quebrando o Pacaembu e levando mandos de campo pra longe da capital etc. Tudo isso é fato e é indiscutível, mas o que mantém esse humilde blog vivo é a persistente mania de olhar as coisas de um jeito diferente. Repito aqui o que respondo a quem às vezes me cobra: pô, você não falou nada do título do Fluminense, da vitória do São Paulo e tal. Ora, para escrever seis parágrafos sobre o merecimento do Fluminense ou para postar que aos vinte e seis do segundo tempo Lucas fez boa jogada, Luís Fabiano foi empurrado na área, o juiz deu pênalti e Rogério Ceni converteu, se for pra isso o blog perde a razão de existir. No post de apresentação, publicado em 10 de março de 2010, escrevi que uma das coisas que me animou a lançar o blog foi o incentivo do meu filho, que se divertia com minhas opiniões pouco convencionais sobre futebol. Elas continuam me acompanhando. Nessa história do naufrágio palmeirense, não há como negar os motivos acima, mas vejo três coisas pouco citadas. 
Primeira: é absoluta a responsabilidade do Felipão. Discordo radicalmente de quem afirma que, se com Felipão foi ruim, sem ele teria sido pior ainda. Felipão ficou dois anos à frente do clube, sempre alimentando a lengalenga de que o elenco era fraco, que ia ver o que dava pra fazer, que os juízes prejudicavam, que havia dedo-duro no grupo etc. Tá. Bota o time pra jogar e não enche o saco. Contrata direito e não enche o saco. O elenco é fraco sim, mas não foi ele que indicou aberrações como o zagueiro Fabrício (que eu e a torcida do Flamengo conhecemos muito bem), Chico, Max Pardalzinho, Fernandão, Gerley, Ricardo Bueno, Betinho e mais um caminhão de cabeças de bagre? Ah, não tem dinheiro. Ok. Mas ninguém me convence que o Corinthians investiu uma fortuna no Leandro Castán, no Ralf e no Paulinho. Ou o Vasco no Dedé. Ou o Fluminense no Bruno. Um treinador experiente, e com tantos poderes quanto os que Felipão reuniu nesses dois anos de Palmeiras, tinha a obrigação de enxergar melhor e de dizer: não, gente, Fernandão, não. Nem de graça. Tudo o que Felipão conseguiu foi fazer do Palmeiras, no campo psicológico, um time inseguro, tenso e frágil. E no campo tático, um time de uma nota só: levantar bola na área e rezar pra dar certo. 
Segunda: a torcida palmeirense fez coisa bem pior do que quebrar cadeiras do Pacaembu. A torcida palmeirense acreditou nas mentiras que os dirigentes contaram e a mídia encampou. Uma delas: Felipão é um treinador top – pode ter sido, mas não é mais há muito tempo. Outra: Valdívia é craque – o que é óbvio que nunca foi. Mais uma: conquistar a Copa do Brasil é prova de que o time é forte – jamais, pois ganhar a Copa do Brasil talvez seja até mais fácil do que vencer os desanimados campeonatos estaduais. Aqui em São Paulo existe um grupo chamado “Eternos Palestrinos” que tem um princípio bacana: ajudar o Palmeiras independentemente de interesses políticos, de quem está na presidência, de quem é o diretor disso ou daquilo. São palmeirenses e fim de papo. Contribuem com ideias, às vezes fazem uma vaquinha, põem uma grana aqui ou ali e vão tentando colaborar. Pois bem. Quando li, em 2010, que os “Eternos Palestrinos” estavam ajudando a captar dinheiro pra trazer de volta o Valdívia, pensei: engraçado como certos jogadores se transformam em ídolos por tão pouco. É bem verdade que a idolatria injustificada atinge todas as torcidas do futebol brasileiro, sem exceção, mas o rebaixado foi o Palmeiras, né? Então, é dessa torcida que a gente tem que falar. Torcedor tem o dever de apoiar, claro, mas também tem a obrigação de desconfiar, de fazer movimento, de cobrar. E já está mais do que na hora das nossas torcidas – repito: todas elas – aprenderem a separar o joio do trigo e deixarem de acreditar nas manchetes em letras garrafais do Lance. Aquilo está lá para vender jornal pra trouxa, e muita gente embarca. 
Terceira: Marcos Assunção. Pois é. E pra falar do Marcos Assunção, pego um exemplo muito acima dele e só não me arrisco a ser vítima de um desses violentos ataques que estão na moda aqui em São Paulo porque ninguém lê mesmo o blog. Falo do Ronaldo Fenômeno. Ronaldo se transformou num dos maiores ídolos de toda a história do Corinthians e teve papel fundamental na recuperação da autoestima corintiana. Tá certo que houve, como continua havendo, uma pequena ajuda do nosso Excelentíssimo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva – em quem eu votei em todas as cinco eleições presidenciais das quais ele participou, faço questão de esclarecer pra não pensarem que se trata de muxoxo tucano. Mas voltemos a Ronaldo. Não se pode dizer uma vírgula dele sem ser jurado de morte pela torcida corintiana, mas a verdade é que, dentro de campo, o que Ronaldo fez pelo Corinthians foi muito pouco. Participou de sete competições pelo clube, e só ganhou as duas mais fáceis e menos importantes: um estadual e uma Copa do Brasil. Brasileirão que é bom, nada. Libertadores que era o grande sonho, neca. O Corinthians só foi ganhar esses títulos depois que Ronaldo parou. Ah, peraí, Murtinho, pirou? A bola caía no pé do cara, era barbante. Sim. Mas muitas vezes o futebol é mais complexo do que parece. Pra bola cair no pé do Ronaldo e ele definir, era preciso que o time todo jogasse em função disso. Era quase que como jogar com um a menos. As oportunidades que ele tinha eram aproveitadas, mas sua falta de mobilidade fazia com que o time produzisse muito menos chances. Quando ele saiu e entraram Liédson e Emerson, dois atacantes rápidos e de muita movimentação, o Corinthians virou outro time e os títulos importantes vieram. Não foi coincidência. Baixando a bola e passando de Ronaldo Fenômeno para Marcos Assunção (que os deuses do futebol me perdoem), penso o seguinte: a presença do Assunção no time do Palmeiras muitas vezes salva, mas na maioria das vezes atrapalha. Salva quando se ganha o título da Copa do Brasil, atrapalha quando se cai para a segundona do Brasileiro. Valeu a pena? Claro que não. Com Marcos Assunção o time é lento, a marcação fica frouxa, os zagueiros se expõem, há um desgaste violento dos laterais e dos outros caras do meio-campo. Além disso, joga-se de uma forma irritante. Basta o Palmeiras chegar ao campo adversário e pronto: tudo é feito de forma a que alguém provoque o choque e o árbitro marque falta. Aliás, outro dia alguém disse – creio que foi o Mauro Cézar Pereira, da ESPN – que Marcos Assunção é um cara que só tem espaço no futebol brasileiro, por causa da enorme quantidade de faltas inexistentes que nossos árbitros insistem em marcar. Concordo. 
Ontem, dois dias depois do rebaixamento, li que o presidente do Palmeiras garantiu a presença de Barcos, Valdívia e Marcos Assunção no ano que vem. Para a segunda divisão, dá e sobra – aquilo ali é triste, viu –, mas se estão pensando em usar a Libertadores pra começar a grande virada, lá vai a torcida ser enganada de novo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Palmeiras e Fluminense. Agonia e glória. 
É só intuição, mas creio que, ontem, todo mundo que gosta de futebol e não tinha interesse no resultado do jogo acabou torcendo pelo Palmeiras. O time do Palmeiras luta do início ao fim, tenta de todos os jeitos, corre tanto que tropeça nas próprias pernas, bate cabeça, erra demais, acerta pouquíssimo, mas não desiste. É um time que não pode ser acusado de nada, exceto, claro, de ruindade. O técnico Gilson Kleina montou uma escalação para surpreender o forte e inabalável Fluminense, e a maior surpresa era o Corrêa. Convenhamos. Mas ali não há muito o que um treinador possa fazer, embora nada justifique a equivocada decisão de deslocar o Wesley para a lateral-direita. O Palmeiras melhorou quando ele foi pro meio, mas perdeu do mesmo jeito. Ainda há esperança, já que a Portuguesinha vem mostrando nesse final de campeonato sua irresistível vocação para se apequenar. E como o Flamengo não tem mais chance de ser rebaixado, declaro a quem interessar possa que na semana que vem, no jogo entre Flamengo e Palmeiras, vou torcer para o Palmeiras. 
O Fluminense sabia que uma vitória ontem em Presidente Prudente anteciparia a conquista do título, porque o time do chorão não ganha fora de casa. No Estádio Independência, em Belo Horizonte, a torcida sufoca o adversário, o árbitro quase sempre expulsa alguém do outro lado, eles chegam junto o tempo inteiro e se impõem feito leões. Fora de casa, parecem a Cristal e o José, o casal de gatinhos lá de casa. O título do Fluminense é aquilo que está em todos os sites e jornais: pontuação recorde, maior número de vitórias, apenas três derrotas, ataque mais positivo, defesa menos vazada, artilheiro, melhor goleiro do campeonato. Não há o que dizer. É entregar a taça e bater palmas. 
Estranha a anulação daquele gol do Vasco. Existe na regra um negócio chamado “atitude aintiesportiva”, que torna ilegal quando alguém grita “deixa!” para iludir um adversário. Ok. Mas a repetição do lance mostra claramente que o grito de “deixa!” do Wendel foi para seu companheiro Felipe. E aí é complicado, porque se você não pode gritar “deixa!” para um companheiro de time, também não vai poder gritar dá, toca, cruza, bate no gol, etc. Acho que o juiz Elmo Alves Resende Cunha se enganou ali, e acabou de se embananar todo ao marcar aquele pênalti muito do maroto a favor do Atlético. 
Para o elenco que possui, o Flamengo vem fazendo um final de campeonato auspicioso. Quando o time tinha trinta e seis ou trinta e sete pontos e faltavam sete rodadas, eu fazia contas simplesmente desconsiderando os jogos contra São Paulo, Atlético Mineiro e Náutico, que julgava perdidos. Pra mim, a permanência na primeira divisão teria que ser assegurada nas partidas contra Figueirense, Palmeiras, Vasco e Botafogo, todas no Rio. Mas o time passou a jogar de forma disciplinada e compacta, tem sofrido poucos gols e nos últimos seis jogos foram três vitórias e três empates. Não há mais qualquer possibilidade de cair, e já pode começar a pensar no muito que precisa ser feito para o ano que vem. Porque, mesmo com a vitória sobre o Náutico no Estádio dos Aflitos – coisa que, nesse campeonato, apenas o Fluminense e o Coritiba haviam conseguido –, o Flamengo não pode terminar uma partida, como terminou a de ontem, com Paulo Sérgio, Hernane, Bottinelli e outros do gênero em campo, além do zagueiro Wellinton no banco. Porque, se ele está no banco, significa que pode entrar a qualquer momento.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Uma explicação simples para as falhas dos nossos zagueiros. 
Não tem mistério. Se o cara domina bem, tem categoria, visão de jogo e bom toque de bola, vai jogar no meio-campo. Se tem velocidade e fôlego, joga de ala ou lateral. Se é rápido e habilidoso, vai ser atacante pelos lados do campo. Se tem facilidade pra se mexer na entrada da área, bom senso de colocação, chuta com os dois pés e é bom no cabeceio, tem tudo pra ser um bom centroavante. Agora, se o cara não sabe fazer nada disso, ele vira zagueiro. As falhas de Maurício Ramos nos dois gols do Botafogo, a falha de Rafael Tolói no gol do Fluminense e a imensa bobagem do Gum no gol do São Paulo só aconteceram porque, muitas vezes, nossos zagueiros se esquecem dos motivos que os fizeram ser zagueiros. Alguém precisa, constantemente, lembrá-los. 
Futebol não é só qualidade e disputa por título ou posições no alto da tabela. Futebol também envolve drama, e por isso preferi acompanhar Palmeiras x Botafogo a ver São Paulo x Fluminense. Antes da rodada, e da derrota do Atlético Mineiro para o Coritiba, já considerava o Brasileirão definido e acho essa história de G4 uma tremenda enganação. Assim, e mesmo ciente de que a qualidade estaria no Morumbi, escolhi Araraquara. E lá o que não faltou foi drama, a começar pelo gol de Lodeiro, na bola que bateu na trave e voltou, no meio de um bolo de jogadores do Palmeiras, na cabeça do uruguaio. Chute do Maikon Leite na trave, gols inacreditáveis perdidos por Luan e Patrick Vieira, Márcio Azevedo salvando bola em cima da linha, com o goleiro Jefferson batido, e muito mais. Na arquibancada, marmanjos e mulheres choravam – choro que certamente aumentava a cada vez que o serviço de som do estádio anunciava um gol do Sport contra o Vasco. E que atingiu o auge mais tarde, com todos já em casa para a santa pizza dominical, com a derrota da Portuguesa para o Bahia. O time do Palmeiras briga muito dentro de campo, mas o problema é que briga mais ainda com a bola. E o engraçado é que em alguns jogos – como no de ontem – surgem inúmeras chances de gol, mas não dá pra dizer que o time as criou. A bola é rifada, bate em um, bate no outro, sobra na frente, jogadores se chocam, é uma confusão dos diabos. Criar chance de gol é outra coisa, o que coloca o Palmeiras numa condição inédita no futebol: é um time que consegue perder gols sem criar as chances. Quem já viu o Palmeiras jogar três ou quatro vezes, ou quem viu o jogo de ontem, sabe do que estou falando. 
Sábado, depois da derrota para o Flamengo, o goleiro Wilson deu uma grande lição aos felipões, abéis bragas, cucas e outros chorões de sempre. Ao ser entrevistado, Wilson disse que lamentava a anulação de dois gols do Figueirense em lances discutíveis, mas que não seria justo pôr a culpa nisso. Admitiu que o clube fizera muitas besteiras durante o ano – como, por exemplo, ter quatro técnicos em dez meses –, que todos no Figueirense tinham errado demais e que a culpa era deles mesmos e de mais ninguém. Muito mais digno, muito mais bonito e muito mais esportivo do que fez o Cuca na última quarta-feira, reclamando de um pênalti que não houve e procurando desculpa esfarrapada para o fato de seu time não ter conseguido vencer, em casa, um adversário com vinte pontos a menos na tabela e que jogou o segundo tempo inteiro com um a menos. Fez papel de bobo, pra variar. 
A arbitragem errou ao marcar impedimento nos dois gols de Júlio César, do Figueirense. Apesar de ter visto os lances várias vezes, continuei na dúvida se havia impedimento ou não, e aí a conclusão me parece óbvia: se vendo várias vezes pela tevê a gente continua na dúvida, é claro que os gols deveriam valer. Elementar. Quanto ao gol de Hernane, que deu a vitória ao Flamengo, ele está para a história do futebol da mesma forma que aquele gol de Denílson, do São Paulo, na recente vitória sobre o Palmeiras: nunca mais. 
Os gols mal anulados do Figueirense serviram de pretexto pra que eu fizesse uma pesquisinha rápida, apenas para confirmar o que quase todo mundo já sabe: reclamar de arbitragem no Campeonato Brasileiro é coisa de torcedor cego ou de técnico chorão. Peguei o Flamengo como exemplo, já que, por motivos óbvios, foi o time que mais vi jogar. Desconsiderei as partidas em que, mesmo sendo prejudicado, o Flamengo venceu, assim como aquelas em que, mesmo sendo beneficiado, perdeu. Ou seja: levei em conta apenas os jogos em que erros de arbitragem interferiram claramente no resultado. O Flamengo foi beneficiado nas vitórias sobre o Santos (não houve pênalti em Ibson), sobre o Bahia (idem), sobre o Coritiba (o primeiro gol, de Vágner Love, foi feito em impedimento) e sobre o Figueirense (que teve os tais dois gols mal anulados). E foi prejudicado nas derrotas para o Palmeiras (Barcos estava impedido quando fez o gol do jogo) e para o Fluminense (o juiz deveria ter dado a lei da vantagem, já que Cléber Santana fez o gol na sequência do lance em que foi marcado pênalti em Wellington Silva, e que acabou desperdiçado por Bottinelli), e também nos empates com o Cruzeiro (Liédson fez um gol mal anulado, no finalzinho do jogo) e com o Atlético Mineiro (apesar do choro de Cuca, se teve alguém prejudicado ali foi o Flamengo: ao contrário do que alega o técnico, o pênalti em Ronaldinho Gaúcho não aconteceu, e a expulsão de Wellington Silva foi injusta, porque no lance em que ele recebeu o primeiro cartão amarelo sequer houve falta). Moral da história: ficam, mais ou menos, elas por elas. 
Sábado, deu pena. O Cruzeiro entrou com uma dupla de zaga – Rafael Donato e Mateus – capaz de deixar a torcida rubro-negra orgulhosa de seu zagueiro Wellinton. E do outro lado estava, apenas, o Neymar. Foi um massacre. Eu nunca tinha visto, num jogo entre dois clubes grandes brasileiros, o time da casa ser goleado e sua torcida gritar em coro o nome do principal jogador adversário. O Cruzeiro faz um campeonato muito ruim, mas a pior notícia de todas vai, coitada, para a torcida do Palmeiras: Montillo recebeu o terceiro cartão amarelo e não enfrenta o Bahia na próxima rodada. Urubu quando tá de azar, o de baixo caga no de cima.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Perder faz parte do jogo. Mas não é por isso que a gente vai gostar. 
Nessa rodada quebrada e confusa, o único jogo que vi por inteiro foi, justamente, o que estão querendo anular. Igual a um monte de outras coisas do mundo moderno, o futebol periga ficar chato por causa de interferências externas em nome do politicamente correto. Não sou contra o uso de tecnologia, desde que ela seja instantânea. O chip na bola é um bom exemplo do que pode ser usado. Ultrapassou a linha do gol, algo apita no ouvido do juiz e pronto. Claro que logo se instalará a indústria dos avisos sonoros, o que fará com que os árbitros possam baixar toques diferentes para a sinalização do chip. Alguns ouvirão refrões de música sertaneja (Lelelê / Lelelê / Se eu te pegar / Você vai ver), outros ouvirão Oswaldo Montenegro (Quando voa o condor / Com o céu por detrás), a maioria deverá optar por louvores (Vem comigo dando glória / Vem comigo dando glória / O senhor já revelou / E o negócio é forte), mas isso é outro papo e o blogueiro digressiona. O que importa é que a utilização do chip seria algo imediato e possível, porque é uma chatice o que existe em outros esportes, que interrompem o jogo e se socorrem de imagens recuperadas para decidir o que deve ser marcado. Não dá. Da mesma forma, acho um saco essa moda de o STJD punir jogadores por jogadas que não foram percebidas pelos árbitros. Tudo bem que precisamos nos adaptar à evolução das coisas, mas essas inovações fariam com que Pelé – simplesmente ele – ficasse mais tempo suspenso do que em campo. Pelé seria punido por cotoveladas na surdina, por entradas tão discretas quanto maldosas, por provocar erros dos juízes com aquela história de encaixar o braço no braço do zagueiro adversário, cavando pênaltis. O chileno Figueroa, capitão do grande time do Inter bicampeão brasileiro em 75 e 76, era famoso pelas cotoveladas que intimidavam e mantinham os atacantes adversários longe da área colorada. Os juízes dificilmente viam os cotovelaços de Figueroa, mas hoje o STJD se encarregaria de abreviar a carreira do ótimo zagueiro chileno. E aí, temos um problema: ou vale pra tudo, ou não vale pra nada. Antigamente a coisa era simples: valia o que o juiz relatava na súmula, e fim de papo. O STJD condena um jogador que fez algo fora do lance, sem que juiz, bandeirinha, quarto árbitro e quem quer que seja tenha visto. Mas, e o pênalti marcado a favor do Fluminense contra a Ponte Preta, que o próprio árbitro Nielson Nogueira Dias admitiu dois dias depois ter sido equivocado? E se a Ponte cai para a segunda divisão por causa de três pontos, como é que fica? Entretanto, há algo que deve intrigar a todos nós nessa história do Palmeiras querer a anulação da partida. O que o Palmeiras quer? Perder de novo? 
Vi o primeiro tempo de Sport e São Paulo. Lucas acabou com o jogo e pôs um pouquinho mais de fermento na receita de que certos são-paulinos o acusam: será ele, realmente, um jogador que só brilha em jogos fáceis? Se isso for verdade, Lucas vai se deliciar naquela tremenda enganação que é o campeonato francês. Do lado do Sport, não dá para entender como é que o goleiro de um time que luta desesperadamente pra não cair toma um gol daqueles. Todo mundo tem o direito de errar, mas não naquela hora. Não daquele jeito. 
Resolvida a parada no Recife, me transferi para Salvador, pra ver o segundo tempo de Bahia x Grêmio. Um jogo horroroso. Aroveito para propor: já que o gol de Barcos reacendeu a questão sobre uso de tecnologia, interferência externa, STJD etc, não custa nada estudarmos uma aberração a mais: a criação de uma comissão de notáveis para avaliar os jogos. No caso de Bahia x Grêmio, em vez de cada um ganhar um ponto na tabela, ambos perderiam dois. 
Antes de tudo isso, na quinta-feira vi o segundo tempo de Fluminense e Coritiba. Ao contrário de Bahia e Grêmio, foi ótimo. Por ter virado perdendo, em mais um erro risível do previsível Deivid, o Coritiba partiu pra cima e fez um segundo tempo muito bom. O Flu, na sua toada de sempre, esperava o adversário pra dar o bote e fazer o segundo gol. Conseguiu, mas o Coritiba não se entregou, continuou brigando, marcou seu golzinho e,  pela oitava ou nona vez no campeonato, transformou o final da partida em um inferno para a torcida do quase campeão. O Fluminense tem várias coisas boas – goleiro em grande fase, defesa que joga sério e firme, lucidez do Deco, oportunismo do Fred –, mas quem está desequilibrando é o Wellington Nem. 
Está dando certo a estratégia de torcer contra quem está embaixo, e a rodada foi muito boa para o Flamengo. Nenhum dos seis times atrás do Fla conseguiu fazer mais de um ponto, o que deixou o Menguinho numa situação relativamente confortável para perder pro Atlético em Belo Horizonte. Nos últimos cinco jogos, quatro serão no Rio. E vai ser preciso superar toda a imensa capacidade de fazer besteiras – que no Flamengo é infinita – para desperdiçar a vantagem de sete pontos em relação ao primeiro na zona do rebaixamento. Que sorte, hein, Dona Patrícia?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Foi empolgante. Mas não foi a melhor partida do campeonato.
Já vi diversos jogos do Atlético Mineiro no Estádio Independência, e eles costumam ser muito corridos e vibrantes. Ontem não foi diferente. Entretanto, acho exagero cravar o rótulo de melhor partida do campeonato num jogo que foi um massacre. O Atlético fez três gols, mandou três bolas na trave e Ronaldinho Gaúcho – jogando uma barbaridade – cansou de deixar os atacantes na cara de Diego Cavalieri, que fez pelo menos meia dúzia de defesas difíceis. O Fluminense chegou apenas três vezes na área mineira: no gol de Wellington Nem, no gol de Fred e no gol que Thiago Neves perdeu e mataria a partida, quando o placar estava um a zero para o Flu. Parecia que, mais uma vez, o Fluminense seria recompensado por sua estratégia de suportar pressão e aproveitar contra-ataque, mas Thiago Neves deu uma de suas clássicas amareladas e perdeu a chance de enfiar a faixa no peito ontem mesmo. Tudo indica que vai dar Fluminense, mas será preciso esperar um pouquinho mais. 
Depois do Fla-Flu que o Fluminense venceu com aquele golaço do Fred, Thomas Newlands postou um comentário aqui reclamando de falta do Digão no lance, e citou outra jogada semelhante: Gum empurrando a barreira do Vasco, numa cobrança de falta do Thiago Neves. Eu discordei. Houve carga tanto do Digão quanto do Gum, mas eu não teria marcado falta em nenhum dos dois lances. O que Leonardo Silva fez ontem, na falta cobrada por Ronaldinho Gaúcho, foi bastante parecido – só que ontem o juiz deu. E para atestar a rigorosa falta de coerência deste blog, penso que ontem a falta deveria mesmo ter sido marcada. Porque ontem foi acintoso. Ontem foi um exagero. Leonardo Silva não teve a malandragem e a discrição de Digão e Gum, e isso faz toda a diferença. 
Havia, lá no Rio, um comentarista de arbitragem extremamente popular, chamado Mário Vianna. Quando o juiz não ia bem, ele o chamava de “soprador de apito”. Bandeirinha que vacilava virava “gandula privilegiado”. Em todo lance discutível, as pessoas que iam de rádio para o estádio – nunca entendi muito bem esse hábito, mas enfim – aumentavam o volume para ouvir a opinião do Mário Vianna. Certa vez o juiz marcou um pênalti inexistente, o goleiro defendeu a cobrança e, a partir daí, Mário Vianna inventou um esdrúxulo bordão: pênalti mal marcado não entra. Óbvio que isso é uma bobagem completa – até Copa do Mundo já foi decidida por um pênalti mal marcado –, mas quando dava certo, Mário Vianna berrava no microfone: “Não adianta! Pênalti mal marcado não entra!” Na boa: vocês acharam pênalti aquilo que houve ontem no Engenhão? 
Estava com toda a pinta de que a partida seria como quase todas as mais recentes do Flamengo. O time jogando de modo aceitável, marcando com firmeza, não deixando Lucas e Osvaldo desenvolverem suas jogadas em velocidade, anulando Jádson, mas, apesar de tudo isso, sem conseguir vencer. Entretanto, González acabou fazendo o gol que vem ensaiando há algum tempo e o São Paulo parece ter desistido de vez do jogo quando pôs em campo Cícero e Willian José. Faltaram apenas o Maicon e o Casemiro, para declarar oficialmente aberto o Congresso Tricolor da Preguiça. 
Eu sempre gostei de zagueiro que desarma o adversário e, imediatamente, toca a bola para alguém do meio-campo trabalhar a jogada. Um dos caras que vi fazer isso com mais simplicidade e eficiência foi o Ricardo Gomes – não por acaso, indicado por Romário o zagueiro mais difícil que ele enfrentou na carreira. Pois o time do Flamengo, revolucionando o futebol de forma indiscutível, inverteu o processo: o jogador de meio-campo pega a bola, não sabe o que fazer com ela, se coloca de costas para o campo adversário e entrega pro zagueiro. Ele que se vire. 
A coisa não anda boa pro lado do Palmeiras. Mesmo quando o time consegue se ajudar, os outros não colaboram. As vitórias de Ponte Preta, Flamengo e Sport foram péssimas, o empate entre Náutico e Portuguesa não foi exatamente bom, e menos mal que o Corinthians não permitiu que o Bahia marcasse três pontos. Vi o jogo contra o Cruzeiro, e o time não foi nada bem. As melhores chances foram do time mineiro – duas oportunidades com Ancelmo Ramón, no primeiro tempo – e pela enésima vez a jogada de bola parada salvou a pátria. O Palmeiras apresentou um meia chamado Patrick Vieira que me lembrou demais o Vinícius Pacheco, jogador da mesma posição revelado pelo Flamengo. Quem torce para o Flamengo sabe do que estou falando.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Noite de gala no Anacleto. 
Gobato, Dani França, Fausto, eu, Magalha, Paulo Asano, Rafael, Saulo e Kride. Esta foi a delegação que, ontem à noite, partiu do centro de São Caetano para o estádio Anacleto Campanella, e que lá chegando recebeu dois reforços luxuosos: o pequeno pé-quente Tomás Asano, filho do Paulo, e Luís, padrinho do Saulo. Palmeirenses, corintianos, são-paulinos e eu, flamenguista, esquecidos de eventuais rivalidades e unidos para empurrar o São Caetano de volta à primeira divisão. Apoiamos o time. Perturbamos o quarto árbitro. Ajudamos o técnico Leão a corrigir os defeitos da equipe. Xingamos o treinador adversário. Pedimos a entrada do Somália. Imploramos pela saída do Somália. Aplaudimos o bandeirinha que não confirmou o que seria o gol de empate do Ceará – parece que a bola entrou. Cumprimentamos o Excelentíssimo Senhor Prefeito eleito, Dr. Paulo Pinheiro, que prometeu substituir o velho alambrado por algo semelhante àquela proteção de acrílico da Vila Belmiro. Vimos Marcelo Costa abrir o placar logo no início e Marcone, com um chutaço de fora da área, definir o jogo que estava ficando ruim pro nosso lado. Saímos de alma lavada. Com trinta rodadas disputadas, o São Caetano segue entre os quatro primeiros e cada vez mais firme na briga para voltar à divisão de elite do futebol brasileiro. Há muito tempo um jogo de futebol não fazia eu me divertir tanto. O que deve ser atribuído, em grande parte, ao atual time do Flamengo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FDP 
Semana passada escrevi que o Fluminense tem conseguido vencer até as partidas menos prováveis – mas tem vencido por inegável competência. Futebol é bola na rede, e se um time combina força defensiva para suportar pressões com talento para matar a partida quando a chance aparece, nada a reclamar. Assim é o jogo. No mesmo texto, entretanto, eu deixava a ressalva de que não dava pra garantir que isso fosse acontecer até o final do campeonato, e ontem já foi bem diferente. Inspirado pela mística de São Januário, estádio reconhecido por seus pênaltis inexistentes e salvadores a favor do dono da casa, o soprador de apito Nielson Nogueira Dias inventou um pênalti absurdo contra a Ponte Preta, quando o Flu perdia por um a zero e, sem Deco e Thiago Neves, jogava de forma atabalhoada e irreconhecível. Não satisfeito com a invenção do pênalti que empatou o jogo, Nielson Nogueira Dias inverteu a falta que se transformou no segundo gol do Fluminense. Não adianta vir com esse papo de que o Flu não precisa, que o time é equilibrado, que mesmo se perdesse continuaria com folga na liderança. Tudo isso é verdade, mas ontem ficou feio. Canso de dizer aqui que reclamar de arbitragem num campeonato como o Brasileiro é bobagem, porque quem é prejudicado no domingo costuma ser beneficiado no meio da semana e as coisas se equilibram. Mas é desagradável demais ver essas arbitragens covardes e que “pensam grande”, ou seja, estão sempre prontas a dar uma boa mão aos clubes maiores e a operar os pequenos. Duvido que aquele pênalti de ontem fosse marcado contra o Corinthians ou o Vasco ou o Grêmio ou o São Paulo ou o Flamengo. É o tipo de pênalti que só se marca contra Ponte Preta, Figueirense, Atlético Goianiense. Apesar de adorar futebol, não tenho muita paciência para mesas redondas e entrevistas coletivas, e vejo poucas vezes. Ontem não vi nada disso, mas desconfio que Abel Braga não reclamou da arbitragem, como de costume. 
Antes que alguém possa pensar que haja algum ranço de rivalidade regional no comentário acima, esclareço mais uma vez: não torço contra o Fluminense, da mesma forma que não torço contra o Vasco ou contra o Botafogo. Torço contra ou a favor em função das circunstâncias. Ontem, por exemplo, era muito melhor para o Flamengo que a Ponte Preta perdesse o jogo, pra ter mais um ali na briga dos ainda não libertos. A questão é que, pra qualquer pessoa que goste de futebol, é muito chato ver um time mais fraco e valente perder por causa de uma arbitragem covarde. Como costumava dizer, repleto de ironia, meu falecido irmão Briguinha: pau na bunda dos injustiçados. 
Por falar em juiz, uma dica pra quem tem os canais HBO: a série “FDP”, ficção que tem como personagem principal o árbitro Juarez Gomes da Silva. Não é nada do outro mundo (nada que se compare, por exemplo, a “Filhos do Carnaval”), mas vale a pena dar uma conferida. Destaque absoluto para o genial Paulo Tiefenthaler, do “Larica total”, no papel de Carvalhosa, um bandeirinha competente, cínico, putanheiro e cafajeste. Esse é craque. 
Já tô de saco cheio de escrever a mesma coisa sobre o time do Flamengo: correu, brigou, mas não teve qualidade, errou passes de meio metro, vacilou na defesa, não soube fazer os gols e por isso não venceu. Que esse ano futebolístico termine o mais rápido possível, que o time consiga – sabe Deus como – se manter na primeira divisão, que a nossa presidenta receba das urnas rubro-negras a mesma lição que recebeu das urnas cariocas e que em 2013 se comece tudo do zero. Amém. (Oração para ser lida, com fé e fervor ainda maiores, pelos meus amigos palmeirenses. Porque ali tá parecendo que a vaca já foi mesmo pro brejo.)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Brincadeira de bobinho. 
Quando completou oitenta anos, Carlos Drummond de Andrade foi obrigado a conceder uma interminável bateria de entrevistas. Numa delas, o jornalista perguntou ao poeta o que significava fazer oitenta anos. Resposta de Drummond: significa que você pode dar uma banana pro mundo. Ainda estou longe de poder dar uma banana pro mundo, mas acho de bom tom ter um pouco mais de cuidado com o que posto aqui, pra não dar bandeira. Pensando bem, bobagem. Não há o que esconder, a data está lá no facebook pra quem quiser ver e vida que segue. Então, vamos dar bandeira. Tinha treze anos nas eliminatórias pra Copa de setenta, e fui aos jogos da seleção brasileira, então dirigida por João Saldanha, no Maracanã. O sistema era diferente, as seleções eram divididas em grupos e o Brasil venceu os seis jogos contra Colômbia, Paraguai e Venezuela. Nas partidas disputadas em casa, uma das atrações que encantava a torcida era o bobinho que os reservas organizavam no intervalo. Rivellino – que só passaria a titular um pouco antes do embarque para o México, com Zagallo de treinador – comandava a brincadeira e levava o Maraca ao delírio, com seus elásticos, seus toques surpreendentes, sua imensa habilidade. Quem viu não esquece. Quarta-feira passada, tudo o que pudemos ver de um programado jogo da seleção brasileira foi o bobinho. Só que, ao contrário da sensacional brincadeira liderada por Rivellino em 1969, o bobinho de quarta-feira passada foi uma tristeza só. 
Andei elogiando aqui Dorival Jr. e Gílson Kleina, e foi o que bastou para ambos fazerem grandes bobagens. Mas deixa eu corrigir: não é questão de elogiar, e sim de compreender. Não é nada mole ser técnico do Flamengo e do Palmeiras com os elencos que eles têm, mas isso só aumenta a responsabilidade dos dois, que não podem cometer tolices. No empate com o Bahia, Dorival Jr. escalou mal, desperdiçou os primeiros quarenta e cinco minutos e faltou pouco para perder o apoio que a torcida vem dando. Correu um risco enorme e desnecessário. 
Na derrota para o São Paulo, Gílson Kleina cometeu um erro inadmissível para um técnico de time grande. O futebol atual está tão corrido que cansa até quem assiste pela tevê, e não dá para escalar Marcos Assunção e Daniel Carvalho juntos no meio-campo. Ainda mais quando o adversário tem caras rápidos feito o Lucas e o Osvaldo. Diferentemente do que tinha sido Corinthians e Palmeiras – um jogo equilibrado até a expulsão do Luan –, São Paulo e Palmeiras foi um massacre até a expulsão do Artur. A partir daí virou um treino uniformizado. Rogério Ceni só apareceu quando atravessou o campo pra bater uma falta; Lucas, Osvaldo e Luís Fabiano transformaram a vida da zaga palmeirense num pandemônio; Denílson fez um gol que nunca mais vai fazer na vida e até o Paulo Miranda jogou muito bem na lateral-direita. Palmeiras: já tava bastante complicado, só ficou um pouco mais. 
O Fluminense tem um relacionamento pouco profissional com seu patrocinador, que interfere mais do que deveria e comete alguns desvarios. Mas é tanto dinheiro que ele bota no time, que não há como não fazer as coisas acontecerem. Depois de seis anos com apenas dois títulos de importância menor – o estadual de 2005 e a Copa do Brasil de 2007 –, depois da frustração com o vice na Libertadores em 2008 e depois da quase queda para a segundona em 2009, a partir de 2010 as coisas engrenaram. O Fluminense vem perdendo pouquíssimos jogadores nas janelas de transferência, tem se reforçado com qualidade, foi campeão brasileiro em 2010, ficou em terceiro no ano passado e esse ano é o time que faz a campanha mais equilibrada, conseguindo vencer até as partidas menos prováveis. Na semana passada o Flamengo jogou mais que o Fluminense, mas o Flu ganhou. No último sábado o Botafogo jogou mais que o Fluminense, mas o Flu ganhou de novo. Não dá pra dizer que isso vai acontecer até o fim, mas é um time que se defende bem e tem um ataque que não perdoa os vacilos do outro lado. Deco arma, Wellington Nem alvoroça e Fred bota pra dentro. É fatal. 
jorgemurtinhofc.blogspot.com também é política. Acompanhando a cobertura das eleições feita ontem pela Globo News, cheguei a uma conclusão interessante. Quando as pesquisas de boca de urna apontavam que haveria segundo turno em Curitiba, com Ratinho Jr. enfrentando o atual prefeito Luciano Ducci, os jornalistas começaram a pontear. Os integrantes da mesa – Gérson Camarotti, Cristiana Lôbo e o previsível acadêmico Merval Pereira – deram um show de conhecimento político e passaram a destacar a derrota dos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, principais articuladores do apoio do PT curitibano à candidatura do pedetista Gustavo Fruet. Deitaram o cabelo. Lembraram que Fruet fora figura de destaque na CPI dos Correios, que Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann poderiam pagar caro pela aposta equivocada e pela derrota, e deixaram nas entrelinhas até a possibilidade de ameaças aos cargos de ambos no Governo Federal e a seus futuros políticos. Muito bem. Veio o resultado oficial, a pesquisa de boca de urna errou mais que o Gílson Kleina e Gustavo Fruet foi para o segundo turno, ultrapassando Luciano Ducci. As elaboradas análises políticas da trinca foram todas pro cacete, mas alguém pensa que eles se abalaram? Alguém pensa que eles perderam a pose? Que nada. Puseram a culpa na pesquisa e foram em frente, continuando a desfilar sua incomparável inteligência e suas certeiras projeções. Conclusão: espreme daqui, espreme dali, o Brasil é um país onde todos se comportam como se fossem comentaristas de futebol. Bando de picaretas.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Será que Gilson Kleina ajudará a desmascarar o Felipão? 
Torço com entusiasmo por toda situação que nos faça enxergar o quanto nossos superestimados treinadores são picaretas e nós somos trouxas. Outro dia li que o time do Santos, com Neymar em campo, tem aproveitamento superior ao do líder Fluminense, enquanto que, sem Neymar em campo, o aproveitamento é inferior ao do lanterna Atlético Goianiense. O que faz o técnico do Santos, o queridinho da mídia Muricy Ramalho, além de gritar “dá no Neymar que ele resolve”? O que fez Felipão em mais de dois anos à frente do Palmeiras? Por favor, tenham o bom senso de não falar em Copa do Brasil. Por isso, seria muito bacana – e muito bom para o futebol brasileiro – que, com o semidesconhecido Gílson Kleina substituindo o superastro Felipão, o Palmeiras conseguisse escapar do rebaixamento. Claro que seria um passo ainda pequeno, pois sempre haverá um bando de neófitos no estádio, em jogo da seleção brasileira, pra gritar “Volta, Felipão”. Mas seria um passo. 
É preciso ser justo. Como já acontecera no Fla-Flu do primeiro turno, o Flamengo não jogou mal contra o Fluminense. E como já tinha acontecido nas últimas quatro partidas – Santos, Grêmio, Atlético Goianiense e Atlético Mineiro –, o Flamengo voltou a jogar bem ontem. Ganhar ou perder faz parte, e até mesmo a pouco racional torcida do Flamengo compreendeu isso, mas independentemente de resultados e classificação, nas cinco últimas rodadas o Flamengo teve um time de futebol em campo. Não pode desperdiçar tantas chances de gol, claro, mas perto do que a gente viu na imensa maioria das vezes esse ano, isso aí já é um tremendo avanço. 
Em 2011 o Flamengo reclamou por não ter um penaltizinho sequer marcado a seu favor em todo o Campeonato Brasileiro. A reclamação procede: não dá para acreditar que, em mais de três mil e quinhentos minutos de bola rolando, não tenha acontecido uma só falta dentro da área nos atacantes rubro-negros. Agora, tá explicado. Depois dos pênaltis perdidos por Vágner Love no domingo passado e por Bottinelli ontem, marcar pênalti a favor do Flamengo pra quê? 
Completando a história acima: não entendi a opção pelo Bottinelli. Não sou fã do Renato Abreu, mas já o vi cobrar pelo menos uma dezena de pênaltis no Flamengo, e nunca o vi perder nenhum. Até este Fla-Flu, só tinha visto o Bottinelli bater dois – fez um, perdeu outro. Ontem perdeu mais um, aos quarenta do segundo tempo. Esse pontinho pode fazer falta. 
O Fla-Flu foi excelente. E mesmo que não tivesse sido, o gol do Fluminense já valeria a assinatura do pay-per-view. O cruzamento-passe de Deco foi perfeito, Fred teve muita esperteza para se livrar da marcação e o voleio deve ter matado Bebeto de inveja. Golaço. Entretanto, creio que o Flu deu uma certa acomodada. Teve tempo e espaço para matar o jogo no contra-ataque, mas mostrou pouco apetite. Não vi a vitória sobre o Náutico na semana passada – ouvi dizer que foi no sufoco e com uma decisiva ajuda da arbitragem –, mas o time parece ter mesmo adotado a estratégia de vencer sem convencer e sem encantar. Em princípio, não há grandes problemas nisso: o próprio Fluminense em 2010 e o Corinthians em 2011 foram campeões sem jogar bem nas quatro ou cinco últimas rodadas. A questão é que ainda faltam onze, e aí o risco é grande. 
Nos jogos de ontem pelo Campeonato Brasileiro, respeitou-se um minuto de silêncio em homenagem à apresentadora Hebe Camargo. Nada contra. Mas como eu nunca assisti aos programas apresentados por ela e li várias coisas muito boas do Autran Dourado – “O risco do bordado”, “Ópera dos mortos”, “A barca dos homens”, etc. –, fiz de conta que aquele minuto de silêncio era pra ele.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Eleições e primeira divisão. 
São Caetano do Sul é uma cidade com pouco mais de cento e cinquenta mil habitantes. Não tem emissora de tevê com programação própria. Não tem, pelo menos que eu saiba, rádio local. Daí que a campanha eleitoral acontece toda nas vias públicas, com carros de som o dia inteiro em nossos ouvidos e dezenas de cavaletes espalhados pelas ruas, o que transforma a ida de casa para o trabalho – trajeto que faço a pé, em menos de dez minutos – numa ingrata corrida de obstáculos. 
Um desses cavaletes traz o candidato a vereador Cabo Dias, que lembra Mr. Bean e usa um slogan genial: Cabo Dias. Dias melhores virão. Outro candidato a vereador tem o poético nome de Flávio Bochetti. O número do Bochetti é 11.111, e o slogan vai na mosca: Só tem um. Se eu fosse redator da campanha, proporia algo mais agressivo: Vote Bochetti. O vereador que jamais será pego com a boca na botija. 
Mas esse é um blog sobre futebol e, além da acirrada disputa entre os dois candidatos principais à prefeitura, outro assunto que tem apaixonado a cidade é a possibilidade concreta do São Caetano voltar à primeira divisão. O Vitória está praticamente garantido, o Criciúma está muito bem encaminhado e a briga pelas duas últimas vagas segue bonita, com Goiás, São Caetano, Atlético Paranaense e Joinville na parada. 
Eu e o palmeirense Kride, recém-chegado de uma biboca na Vila Mariana para um amplo três quartos com vista para a linha do trem, estamos planejando uma ida ao Anacleto Campanella, a fim de prestigiar a equipe da cidade onde ganhamos o pão nosso de cada dia. 
Pra não entrar no jogo inteiramente cru, dei uma espiada na vitória sobre o CRB, no último sábado. Temos um atacante perigoso, o Danielzinho. Somália é o centroavante. Eli Sabiá toma conta da nossa área com zelo e vigor. E o maestro do time, toques precisos e cabeça erguida no melhor estilo Falcão, é o incompreendido Moradei, amparado por seu fiel escudeiro Augusto Recife. Dois monstros no meio-campo. 
Como faltam apenas doze rodadas, eu e Kride temos seis chances – os seis jogos em casa – para cumprir a penitência. Aguardem. Depois eu conto aqui como foi.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Agora sim, o Fluminense é líder de verdade. 
Até ontem, toda vez que alguém olhava a ponta da tabela do Brasileirão tinha que dar um desconto, por causa do bendito jogo adiado entre Atlético Mineiro e Flamengo. Quando o Atlético era líder, o comentário a ser feito era esse: o Atlético é líder e ainda tem um jogo por fazer. Quando o Fluminense ultrapassou o Galo, sempre vinha a ressalva: sim, o Flu é líder, mas se o Atlético ganhar do Flamengo recupera a liderança. Depois desse fim de semana, com o Fluminense chegando a cinquenta e seis pontos e o Atlético a cinquenta e dois, o tricolor sai da vigésima-sexta rodada na condição de líder incontestável do Campeonato Brasileiro, situação que vai continuar mesmo que o Atlético vença o Flamengo depois de amanhã – o que deve acontecer. Futebol é futebol, o Flamengo está um pouco mais animadinho, mas é óbvio que o Galo é o favorito. 
Tenho gostado de ver o Atlético Mineiro jogar, sobretudo lá no Independência. O estádio é apertado, os adversários sentem o bafo da torcida no cangote, o juiz é pressionado, os caras botam uma tremenda correria e caem pra dentro. É bem legal. Entretanto, continuo achando o que já disse aqui algumas vezes: não dá pra manter aquela pegada o campeonato inteiro, e o time já sentiu. Vai ser dificílimo o Atlético ficar com o título. 
O problema do Grêmio é outro. É um time firme na defesa, tem dois bons volantes (Fernando e Souza) e um contra-ataque perigoso, mas quando o jogo é quente pra valer, como foi o de ontem e como deve ser a maioria deles daqui pra frente, Elano e Zé Roberto põem meio metro de língua pra fora e precisam ser substituídos por Marquinhos e Léo Gago. Aí o time vai do vinho à tubaína, e não há quem aguente. 
Como já disse aí em cima, o Flamengo está mais animadinho, não jogou mal em nenhuma das três últimas partidas, mas não passa a menor firmeza. Diante do formidável leque de nulidades de que dispõe, o pobre-coitado do Dorival Jr. não tem muito o que fazer, a não ser adotar a tática do tentativa e erro. Foi assim que, depois de algumas rodadas como titulares absolutos, Thomas agora sequer senta no banco e Negueba quase foi parar num time da segunda divisão sem chances de subir pra primeira – castigo que eu pedi aqui no blog para ele e Wellinton, depois da derrota para o Coritiba. O cara que foi destaque na conquista da Copinha em 2011, e era visto como uma das grandes revelações da Gávea, virou troco do Cléber Santana. 
No mais, sai técnico, entra técnico, e só Marcos Assunção salva.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A entrevista do Fernandão. 
O consolidado desinteresse geral pelos jogos da seleção brasileira – quem diria! – abre espaço pra gente falar um pouco da entrevista do Fernandão, ex-atacante, ex-diretor de futebol e atual treinador do Internacional de Porto Alegre. 
Falar sobre futebol é algo que sempre permite exercícios antropológicos. Como o jogo é, acima de tudo, surpreendente, costumamos ficar contentes quando vemos nossas opiniões e palpites se confirmarem. Aquela velha história do “eu não disse?”. Até aí, tudo bem. As coisas se complicam quando passamos a torcer freneticamente por determinadas situações ou resultados, apenas para ver confirmado aquilo que defendemos. Coisas do ser humano. 
Tudo o que Fernandão falou do time do Inter, depois do empate em casa com o Sport, no último domingo, já foi dito aqui várias vezes. É um time frio, petulante e desinteressado, que a gente nunca vê jogar nem cinquenta por cento do que todos imaginam ser possível. (Ao contrário, por exemplo, do Corinthians e do Vasco no ano passado, times que jogavam bem acima de suas possibilidades.) 
Fernandão usou uma expressão que está na moda, a zona de conforto. Segundo ele, “existe muita zona de conforto no Internacional”. Não que ele esteja errado, mas é difícil compreender. Zona de conforto por quê? Porque estão num dos poucos clubes organizados do futebol brasileiro? Porque ganham muito bem e recebem em dia? Porque não há cobrança da diretoria? Porque não existe uma torcida apaixonada e que pressione? Porque já ganharam tudo e acabou a motivação? Não tem explicação. 
Nos últimos anos o Internacional vem investindo pesado e montando elencos fortes, mas a gente vê o Inter em campo e não sente a menor firmeza. A tal da zona de conforto parece que passou a fazer parte do DNA. Não sei se é o Fernandão quem vai resolver isso, mas por ter abandonado o insuportável ar blasé que impregnou o clube e por ter soltado o verbo, ele pode ter dado o primeiro passo para ajudar o Inter a voltar a ser um time de verdade, e não um grupo de escoteiros sempre alertas, obedientes e felizes com a classificação para a Libertadores.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Só no Campeonato Brasileiro acontece isso. 
Quando era técnico do São Paulo, Ricardo Gomes costumava ser acusado de jamais ter brilhado em seus trabalhos anteriores aqui, o que era verdade, e de não conhecer suficientemente o futebol brasileiro. Ricardo respondia às provocações sempre com educação e inteligência. Numa dessas vezes, depois de uma partida do São Paulo pelo Brasileirão de 2009, Ricardo Gomes tirou um sarro dos repórteres que participavam da entrevista coletiva. Para enfatizar o equilíbrio do campeonato, perguntou se alguém ali também o acusaria de não conhecer o futebol europeu – ele que vivera mais de quinze anos na Europa – e garantiu: o Brasileiro é o único campeonato do mundo em que é possível o líder jogar em casa com o lanterna e perder. Sábado, Fluminense 1 x Atlético Goianiense 2 mostrou que Ricardo Gomes tinha razão. 
Apenas para confirmar meu reconhecido pé-quente, sobretudo quando se trata de jogos do São Paulo, sábado assisti à vitória do tricolor sobre a Portuguesa. Lucas deu muito trabalho, a defesa vacilou como sempre e o jogo foi assim-assim. Mas o que importa é o seguinte: eu estava lá em frente à tevê, firme e forte, e meu irmão Mário é testemunha.
Mesmo disputando o campeonato com boa dose de desinteresse, o Corinthians não perdeu uma de suas características principais: é, disparado, o time brasileiro que mais e melhor dá botes. Sem puxar muito pela memória, lembro que Flamengo, Fluminense e São Paulo tomaram gols corintianos em saídas de bola abafadas. Na condição em que se encontra, era obrigação do Palmeiras levar isso em conta e passar noventa minutos de concentração absoluta ontem no Pacaembu. Não compartilho da opinião generalizada de que o rebaixamento palmeirense é irreversível, porque ainda falta muita coisa, mas o jogo de ontem era especial. Uma vitória no clássico poderia dar ao Palmeiras a força e a moral de que o clube tanto precisa para reagir. A imperdoável bobeira do Juninho no gol de Romarinho desestabilizou o time, que não estava jogando mal, e pôs tudo a perder. 
Uma pergunta: tá certo que o empurrão do Obina no Paulo André, no gol anulado do Valdívia, foi escandaloso, mas vocês não estão de saco cheio desse negócio de bandeirinha marcar falta o tempo inteiro? Bandeirinha está lá pra fazer três coisas: indicar quando a bola sai pela lateral, apontar se é tiro de meta ou escanteio e marcar os impedimentos que existirem. Tem nada que ficar coapitando o jogo. 
Não houve post no meio da semana passada – trabalho pra cacete aqui na agência –, mas até que o Flamengo não jogou mal de todo na derrota para o Santos. Teve, inclusive, uma grande chance de vencer a partida, mas Vágner Love meteu na trave a bola do jogo. Eram quase quarenta do segundo tempo, com zero a zero no placar. Aliás, uma das explicações para o que vem acontecendo com o time passa pela fase do Love. Senão, vejamos: desde que Dorival Jr. chegou, o Flamengo só venceu três vezes. Dois a zero no Figueirense, dois a zero no Náutico e um a zero no Vasco. Cinco gols do Vágner Love. Quando Love começou a jogar mal e sua bola parou de entrar, o time não ganhou mais de ninguém. Como já acontecera contra o Santos, o Flamengo também não foi mal ontem. Levou um gol em falha geral de marcação, mas aquela foi a única chance do Grêmio. Houve seriedade, disposição e até superioridade no jogo, contra um adversário bastante consistente. O problema é que, como bem disse o Johnny aqui na agência outro dia, não é mais hora de jogar bem e não vencer. Isso vale no início do campeonato, quando ainda tem toda água pra rolar e derrotas ou empates, com o time evoluindo, não significam muita coisa. Agora, não. Agora, é preferível jogar mal e ganhar. E a gente sabe que Flamengo é Flamengo: chega semana que vem, faz um monte de bobagens em Goiânia, toma um chocolate do Atlético Goianiense e o desespero renasce. Vamos torcer – pelo menos eu vou – pra que não.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A diferença entre o Flamengo e o Palmeiras. 
Abro o post dessa segunda lembrando um comentário antigo do Casagrande e outro, recente, do ex-lateral Jorginho. Há algum tempo ouvi o Casagrande dizer que, apesar dos títulos importantes e das vitórias inesquecíveis, a geração de Zico deixara um legado perverso para o Flamengo: qualquer molecote jeitoso que vestia a camisa do time achava que era craque. Ano passado, quando era treinador do Figueirense, Jorginho repreendeu o bom lateral-direito Bruno, hoje no Fluminense: lá na frente você faz o que quiser, mas aqui atrás trate de jogar sério. Sábado, logo nos primeiros minutos de Coritiba e Flamengo, o ataque rubro-negro construiu uma rara jogada coletiva que terminou com Negueba na cara do gol. Cheio de pose, Negueba atrasou a bola pro goleiro. No segundo tempo, depois de interceptar um ataque adversário com uma estilosa matada no peito, Wellinton foi driblar na entrada da área e o Flamengo tomou o gol que liquidou a partida. Se Negueba não enfeitasse e fizesse aquele gol no início, o Flamengo venceria? Se Wellinton não enfeitasse e desse um bico pra lateral, o Flamengo empataria? As respostas são: não e não. O Flamengo perderia aquele jogo de qualquer jeito, mas Negueba e Wellinton deveriam ser afastados e emprestados a um desses times de segunda divisão sem chances de subir. Lá eles podem brincar à vontade. 
Internacional e Fluminense fizeram mais um jogo como muitos que têm acontecido no Campeonato Brasileiro: primeiro tempo amarrado e chato, segundo tempo muito mais solto e divertido. Wellington Nem sobrou na turma. Fez toda a jogada do gol de Fred, fez outra bem parecida que só não terminou em gol por detalhe e sofreu os dois agarrões que determinaram a expulsão do lateral Nei. O Inter continua sendo aquele time que, quando a gente pensa que vai engrenar, refuga. É o Baloubet du Rouet do futebol brasileiro. 
Meu amigo Alê Santos costuma dizer que, não satisfeito em jogar feio, o Palmeiras tem o dom de fazer com que seus adversários joguem feio também. É fato. Isso aconteceu no primeiro tempo do jogo de ontem. Mas logo que o segundo tempo começou, ficou claro que o Atlético Mineiro voltara para decidir a parada e que não tinha como o time de Felipão aguentar o tranco. O Atlético tem alguns pontos muito fortes, sendo o principal deles o setor esquerdo ofensivo, com Ronaldinho e Bernard. Cheguei a ver algumas grandes partidas do Ronaldinho pelo Flamengo, mas nunca o vi atuar do jeito que deveria ser: como um maestro, arrumando o time, controlando o jogo, ditando o ritmo. No Atlético ele tem feito isso. Há uma distribuição mais equilibrada do elenco, há um grande goleiro, há uma defesa muito mais firme, há o endiabrado Bernard, não há os conhecidos encantos da Cidade Maravilhosa, mas alguma coisa me diz que nessa história toda o mérito maior é do Cuca, enquanto o demérito precisa ser dividido entre Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana. 
O Flamengo tem sete pontos a mais e um jogo a menos que o Palmeiras, mas há uma grande diferença entre os dois. Ambos são ruins, só que o Palmeiras joga sério. Thiago Heleno ia entregando o ouro logo no início do jogo de ontem por deficiência técnica, e não por falta de responsabilidade. Leandro Amaro falhou no terceiro gol porque é fraco mesmo, e não porque foi fazer gracinha na entrada da área. Isso não serve de consolo aos amigos palmeirenses – e nem quero parecer um pessimista incorrigível em relação ao Flamengo –, mas essa diferença pode ser decisiva para ajudar na recuperação do Palmeiras e para provocar o naufrágio rubro-negro.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os torcedores do Flamengo que não se iludam: o time está sim na briga pra não cair.
Sábado o Palmeiras foi mais uma vez beneficiado pela inconsequência de um jogador adversário. Já acontecera contra o Flamengo, quando Ibson foi tolamente expulso aos vinte e nove minutos do primeiro tempo, Barcos fez um golzinho logo depois e o time garantiu os três pontos. Na partida contra o Grêmio, o idiota da vez foi – um doce pra quem adivinhar –, claro, o Kléber, expulso com apenas dezessete minutos. Com um a mais o Palmeiras caiu pra dentro, mas perdeu muito tempo levantando bolas na área, que é a pior coisa que qualquer time pode fazer quando tem onze contra dez. O Grêmio fez o que era possível e mostrou um espírito de luta que, estranhamente, a gente só costuma ver em nossos times quando eles se veem com um a menos em campo. Além disso, jogou com uma disciplina defensiva que nunca foi o ponto forte do técnico Vanderlei Luxemburgo. Pode parecer contraditório, e é, mas a coisa funciona mais ou menos assim: o Grêmio não chega a ser um time bom, mas é um time forte. Já o Palmeiras é fraco, mas não é mais fraco do que o Náutico, o Flamengo, a Portuguesa, a Ponte Preta ou o Bahia. A pressão e a ansiedade podem custar caro. 
Faz parte da gloriosa tradição rubro-negra levar pelo menos uma goleada anual na região sul do país. Como o Flamengo vencera o Figueirense em Florianópolis e perdera para o Grêmio em Porto Alegre por apenas dois a zero, a partida contra o Inter era um jogo de cartas marcadas. E quatro a um foi muito pouco. Vou repetir o que escrevi várias vezes aqui no início do Brasileirão: a reconhecida fraqueza do elenco e a inexplicável autossuficiência de certos jogadores continuam fazendo do Flamengo um sério candidato ao rebaixamento. Apesar de todas as tentativas e dos indiscutíveis esforços de Dorival Jr., os oito pontos que separam o clube da zona fatal podem rapidamente cair para três ou quatro, e aí, junto com a ruindade generalizada e a autossuficiência de dois ou três caras que se recusam a jogar sério, também vão entrar em campo a mesma pressão e a mesma ansiedade que tanto têm atrapalhado o Palmeiras. 
Durante muito tempo, quando não havia o televisionamento maciço dos jogos como temos hoje, adquirimos o péssimo hábito de analisar as partidas ou a qualidade dos jogadores sob a ótica dos Gols do Fantástico. Nada mais enganoso. E nada mais injusto com os goleiros, que muitas vezes faziam milagres no jogo inteiro, tomavam um mísero golzinho numa bola defensável e levavam fama de frangueiros. Vejo isso acontecer, por exemplo, com o Fábio do Cruzeiro. É um dos melhores goleiros do Brasil, mas pelo menos aqui em São Paulo é tido como frangueiro. Eu não sei se os Gols do Fantástico mostraram que, no primeiro gol do Inter, apesar da falha ridícula do Ramón – como é ruim o Ramón, ave-maria! – a jogada começou numa dividida em que o autossuficiente Léo Moura entrou com pezinho de moça. Não sei se os Gols do Fantástico mostraram que, no terceiro gol do Inter, a jogada começou com uma falsa malandragem do autossuficiente Ibson, que quis bater uma falta propositalmente em cima de um adversário e acabou armando o contra-ataque. Depois vai pro banco – e olha que é preciso muito esforço para ir pro banco nesse time do Flamengo – e fica fazendo beicinho. 
Apesar de ter reclamado das falsas impressões provocadas por programas como os Gols do Fantástico, vou seguir o fluxo e cair na tentação. A única coisa que vi de Bahia e São Paulo foi o gol de Gabriel – e só vi depois que o jogo já tinha acabado, registre-se – e lembrei que, apesar da vitória do São Paulo sobre o Corinthians na semana passada, Jaime Agostini não abdicou de seu direito de esculhambar o Rhodolfo, por querer fazer o que não sabe e entupir o time de riscos. Não deu outra. Ontem ele quis sair jogando pelo meio, entregou o ouro e o São Paulo tomou o gol. Cansei de ouvir essa frase do meu pai: errar é humano, mas insistir no erro é burrice.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Aceito propostas para nunca mais ver jogos do São Paulo. Quem se habilita?  
Quarta-feira, Corinthians e Fluminense foi chato. Cheguei a dar umas cochiladas. Tá certo que tem o inaceitável estado do gramado do Engenhão, tem o fato de o Corinthians estar no Brasileirão a passeio, mas o principal motivo da monotonia foi que os quatro caras responsáveis pela armação – Douglas e Danilo no Corinthians, Wagner e Thiago Neves no Fluminense – não jogaram nem pedra em santo. Pra falar a verdade, Wagner foi quem começou, de um jeito bisonho, o lance que terminou com o gol de Emerson, e Thiago Neves levantou a bola pra área no gol de empate do Fred, em mais uma linha de impedimento mal executada pela defesa do Corinthians (ver post publicado na última segunda-feira, 27 de agosto). Era um jogo que prometia, mas que acabou igual à minha conta no banco antes do dia trinta. Devendo. 
Surpresa alguma na goleada do São Paulo sobre o Botafogo. O São Paulo veio animado com a quebra do tal tabu no Pacaembu e o Botafogo sofre de indigência ofensiva crônica. No iníco do ano, o time tinha não sei quantos atacantes – Loco Abreu, Herrera, Caio, Maicosuel, Elkeson. Sobrou o Elkeson. Fica difícil. Mas o real motivo da vitória do São Paulo foi outro: a partida aconteceu na mesma hora do jogo do Flamengo. Essa é a fórmula para o São Paulo sair da seca. 
O que o futebol tem de mais bacana são, exatamente, as coisas inexplicáveis. Certos jogos, inexplicavelmente, podem mudar a história de um campeonato. Por exemplo: se o São Paulo ganhar o Brasileirão 2012, esse jogo certamente terá sido o do último domingo, contra o Corinthians no Pacaembu. A mesma coisa acontece com cada partida: uma jogada é capaz de alterar seu rumo. Ontem, em Volta Redonda, com quinze minutos de jogo o Flamengo vencia por um a zero e, apesar de muito cedo, o Sport já parecia conformado. Mas aí o Marllon, que todos sabemos ser um zagueiraço, da estirpe de um Luís Pereira, de um Amaral, de um Mozer, de um Ricardo Gomes, decidiu sair jogando pelo meio. Errou, como era de se esperar, o Sport empatou e o time de Dorival Júnior retornou aos piores tempos de Joel Santana. O Flamengo não tem quem arme as jogadas. Além disso, Negueba e Thomas, que vem cumprindo suas funções táticas de forma razoavelmente satisfatória, não têm agressividade alguma, não têm o mínimo de capacidade de conclusão, não assustam ninguém. Ou seja: quando o time faz um gol, isso precisa ser valorizado ao extremo. Quando o time consegue uma vantagem no placar, isso precisa ser encarado como a glória suprema. Não pode o zagueirinho jogar a vantagem no lixo do jeito que o Marllon fez ontem.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Clássicos mentem. 
Ainda bem que só há duas rodadas como a de ontem por ano, porque elas abalam qualquer casamento. Clássico é sempre clássico e dá vontade de ver tudo. Entretanto, apesar de quase sempre ser tenso e emocionante, um clássico normalmente não é o melhor indicador pra gente saber se um time está melhor ou pior, se agora engrenou de verdade. A rivalidade e a pressão fazem com que todos se superem e joguem de um jeito como não conseguem jogar nas demais partidas. Consegui assistir a quatro jogos. Tecnicamente, o melhor foi Corinthians e São Paulo. O mais emocionante foi Cruzeiro e Atlético. E o mais fraco foi Botafogo e Flamengo. 
Fluminense e Vasco fizeram um primeiro tempo ruim e um segundo tempo muito bom. Não adianta tapar o sol com a peneira: o Vasco segue sendo um time organizado e combativo, mas a perda de quatro jogadores importantes tirou muito da força que o time tinha no final do ano passado e no começo desse Brasileirão. Fágner, Rômulo e Diego Souza eram titulares absolutos, Allan era uma espécie de reserva-titular. A queda de produção era previsível, e não podia ser diferente. 
Botafogo e Flamengo tiveram muita vontade e pouca capacidade. Mais de noventa minutos com apenas uma oportunidade verdadeira de gol: a cabeçada de Liédson no travessão, já no finalzinho. Só. O time do Botafogo é mais hábil que o do Flamengo, Seedorf sobra, mas parece mesmo que Dorival Júnior conseguiu dar ao rubro-negro um padrão que só não se transforma em resultados melhores por causa das limitações individuais. 
O lance capital do jogo entre Corinthians e São Paulo aconteceu aos treze minutos do primeiro tempo, naquela bola que sobrou para o Emerson livre no meio da área e o chute só não entrou porque bateu num bolo de jogadores caídos quase na linha do gol e foi para escanteio. Dois a zero, ali, destruía o São Paulo e matava a partida. O resto a gente tá cansado de saber: começando o jogo daquele jeito, se você não mata, morre. Depois de vinte minutos apertado e assustado, o São Paulo soube pôr a bola no chão e foi muito bem. Lucas e Luís Fabiano são muito perigosos e o Corinthians se arriscou demais em sua aposta na linha do impedimento. Há muito tempo o Corinthians joga assim, e o bom uso da linha do impedimento ajudou o time a conquistar o Brasileirão do ano passado e a Libertadores desse ano. Portanto, nada a reclamar. Mas é preciso ficar esperto: Alessandro é um jogador com prazo de validade bem próximo do fim; Chicão é lento e há muito tempo tem sido salvo pela excelente dupla de volantes à sua frente. Perder um jogo ou outro por erro na aplicação da linha do impedimento é normal, e as conquistas recentes não dão ao torcedor corintiano o direito de reclamar, mas é bom começar a pensar em outra opção. 
O Campeonato Brasileiro é mesmo sensacional, mas esse ano ele tem apresentado um certo surrealismo. Semana passada tivemos o inacreditável gol validado mesmo com três lances consecutivos de impedimento. Ontem, acreditem, Leandro Guerreiro do Cruzeiro e Bernard do Atlético Mineiro foram expulsos depois de uma briga por causa de um pedaço de bolo. Juro. No futebol, volta e meia a gente fala que “aquele foi um jogo brigado”. Cruzeiro e Atlético foi uma briga jogada. Tenso toda vida, todo mundo chegando junto o tempo todo, e a torcida cruzeirense lembrando os mais complicados instantes da Libertadores. Em certo momento, se lixando para uma possível punição do clube quanto a mandos de campo futuros, os caras começaram a atirar coisas no gramado. Além de um monte de copinhos de água, teve relógio, celular e até um pedaço de bolo. Assim que a guloseima pousou ao lado da linha lateral, Bernard correu para recolhê-la, a fim de entregá-la ao juiz e pressioná-lo. Mas Leandro Guerreiro se antecipou e pisou na apetitosa fatia, destruindoa-a em pedaços. Um caiu por cima do outro, os dois se embolaram, foram separados e, sem se dar por vencido, Bernard ainda saiu catando as migalhas, para oferecê-las ao quarto árbitro. 
Uma rodada de gols bonitos. O primeiro gol do Fluminense contra o Vasco foi uma jogada coletiva muito bem construída. Uma aula de contra-ataque, coisa pra quem gosta de futebol bem jogado. Todo mundo esperando o lance ser armado para a conclusão do Fred e em nenhum momento ele tocou na bola, mas teve muita importância pela movimentação. E a conclusão de Thiago Neves acabou saindo no melhor estilo Bebeto. Golaço. Os dois gols de Luís Fabiano foram bem bacanas, mas eu ainda prefiro o primeiro. (No segundo, acho que ele esticou demais a bola na meia-lua em cima do Cássio e ficou meio sem-jeito para concluir. Deu sorte por ninguém do Corinthians ter chegado a tempo – a tal lentidão que eu falei aí em cima.) Mas no primeiro gol a jogada do Lucas foi perfeita e a conclusão foi de uma precisão admirável. Conheço dezenas de atacantes que, naquela situação, teriam dado uma pancada sem olhar, com grande chance de consagrar o goleiro. O chute de Leonardo Silva no primeiro gol do Atlético contra o Cruzeiro foi difícil e supreendente, e o gol de Ronaldinho foi maravilhoso, dominando na linha do meio-campo, arrancando em velocidade e terminando com um corte seco e a bola conscientemente rolada fora do alcance do goleiro. Lembrou Barcelona. 
Semana passada, Tite e Paulo André reclamaram muito de Neymar. Falaram que ele simula faltas o tempo inteiro, que se joga demais, que provoca desnecessariamente, e Tite chegou a dizer que “Neymar é um mau exemplo para o meu filho” – filho lá dele, Tite. Concordo com tudo, menos com essa bobagem referente ao exemplo pro filho, mas fiquei sem entender uma coisa: Tite é técnico do Corinthians e Paulo André é zagueiro do Corinthians. Em que time joga o Jorge Henrique? 
Andei ouvindo por aí que a Fifa finalmente confirmou o Palmeiras como campeão mundial de 1951. O Palmeiras é o único time de futebol do mundo que, quanto mais perde, mais títulos conquista.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A pergunta que não quer calar: será que o Atlético aguenta essa pegada até o fim? 
Nesse final de semana, resolvi prestigiar minhas origens e fiz o que não fazia há tempos: vi os quatro times do Rio em ação. Sábado o Fluminense teve muita dificuldade pra vencer o Sport, porque Magrão repetiu o que fizera contra o São Paulo e fechou o gol. Mas do mesmo jeito que nada podia ser feito naquele gol de Ademílson no Morumbi, não dava para impedir o gol de Samuel em Volta Redonda. Magrão e sua triste sina: mais uma vez, o melhor em campo; mais uma vez, derrota na bagagem. 
Eu não entendo por que o Abel Braga, um homenzarrão daquele tamanho, chora tanto. Pode ser que eu não tenha acompanhado o lance devidamente, mas sábado houve um choque feio entre o lateral-esquerdo Willian Rocha, do Sport, e o lateral-direito Wallace, do Fluminense, em que ambos foram pra dividida com muita velocidade e muita força, e Wallace levou a pior. Entrevistado na volta do intervalo, Abel perdeu a linha, disse que Wallace fora agredido, que era caso pra B.O., que o Willian Rocha é um jogador maldoso. Um chororô totalmente dispensável. 
Na hora de escolher o jogo das quatro da tarde de ontem, algo me dizia que o imprevisível Botafogo poderia aprontar pra cima do bicho-papão do campeonato. Faltou pouco. Parece que Santos e Corinthians foi mesmo bem legal, mas a decisão por Atlético Mineiro e Botafogo não me causou arrependimento. Jogaço. Eu tinha visto, na semana passada, o Atlético apertar o pescoço do Vasco e Ronaldinho comer a bola, mas ontem o Botafogo conseguiu ser mais cerebral e organizado em grande parte do jogo. Só que não há time que resista a uma defesa tão problemática. Seedorf e Andrezinho jogaram muito, mas isso foi insuficiente para barrar a velocidade, o entusiasmo, a competência e a sorte do Atlético. A questão é que, no Brasileirão, ninguém consegue ser veloz, entusiasmado, competente e sortudo do início ao fim. A conferir. 
Acho que os poderes de um técnico vão até certo ponto, mas preciso enfiar a viola no saco e reconhecer que Dorival Júnior tem feito coisas especiais com esse elenco do Flamengo. O time tem limitações individuais que não há treinador que resolva, mas está mais compacto, mais solidário e jogando com mais seriedade, apesar de inevitáveis recaídas do Léo Moura e do Renato Abreu. Não dá pra querer que o Flamengo vá muito além da faixa intermediária da tabela, mas pelo menos agora o que tem entrado em campo é um time de futebol. Fraquinho, é fato, mas um time. 
Esse ano eu já tinha visto, duas vezes, o Flamengo sair na frente do Vasco com gols do Vágner Love e tomar viradas em bolas espalmadas pelo goleiro Felipe para o meio da área. Estava na hora da forra, e ontem foi a vez do Fernando Prass. Acontece. 
Costumo reclamar muito dos nossos critérios de arbitragem, mas não gosto de falar de erros pontuais. Em campeonatos longos e equilibrados como o Brasileiro, erros pontuais ocorrem para um lado e para o outro, no domingo você é prejudicado, na quarta-feira você é beneficiado, e reclamar de um pênalti aqui ou de um impedimento ali é perda de tempo. Mas juro que não me lembro de ter visto um banderinha deixar de marcar três impedimentos seguidos – e fáceis, já que não foram bolas tão rápidas assim – numa mesma jogada. Ou o tal do Emerson Augusto de Carvalho é muito ruim, ou estava imperdoavelmente desatento.