Brincadeira de bobinho.
Quando completou oitenta anos, Carlos Drummond de Andrade foi obrigado a conceder uma interminável bateria de entrevistas. Numa delas, o jornalista perguntou ao poeta o que significava fazer oitenta anos. Resposta de Drummond: significa que você pode dar uma banana pro mundo. Ainda estou longe de poder dar uma banana pro mundo, mas acho de bom tom ter um pouco mais de cuidado com o que posto aqui, pra não dar bandeira. Pensando bem, bobagem. Não há o que esconder, a data está lá no facebook pra quem quiser ver e vida que segue. Então, vamos dar bandeira. Tinha treze anos nas eliminatórias pra Copa de setenta, e fui aos jogos da seleção brasileira, então dirigida por João Saldanha, no Maracanã. O sistema era diferente, as seleções eram divididas em grupos e o Brasil venceu os seis jogos contra Colômbia, Paraguai e Venezuela. Nas partidas disputadas em casa, uma das atrações que encantava a torcida era o bobinho que os reservas organizavam no intervalo. Rivellino – que só passaria a titular um pouco antes do embarque para o México, com Zagallo de treinador – comandava a brincadeira e levava o Maraca ao delírio, com seus elásticos, seus toques surpreendentes, sua imensa habilidade. Quem viu não esquece. Quarta-feira passada, tudo o que pudemos ver de um programado jogo da seleção brasileira foi o bobinho. Só que, ao contrário da sensacional brincadeira liderada por Rivellino em 1969, o bobinho de quarta-feira passada foi uma tristeza só.
Andei elogiando aqui Dorival Jr. e Gílson Kleina, e foi o que bastou para ambos fazerem grandes bobagens. Mas deixa eu corrigir: não é questão de elogiar, e sim de compreender. Não é nada mole ser técnico do Flamengo e do Palmeiras com os elencos que eles têm, mas isso só aumenta a responsabilidade dos dois, que não podem cometer tolices. No empate com o Bahia, Dorival Jr. escalou mal, desperdiçou os primeiros quarenta e cinco minutos e faltou pouco para perder o apoio que a torcida vem dando. Correu um risco enorme e desnecessário.
Na derrota para o São Paulo, Gílson Kleina cometeu um erro inadmissível para um técnico de time grande. O futebol atual está tão corrido que cansa até quem assiste pela tevê, e não dá para escalar Marcos Assunção e Daniel Carvalho juntos no meio-campo. Ainda mais quando o adversário tem caras rápidos feito o Lucas e o Osvaldo. Diferentemente do que tinha sido Corinthians e Palmeiras – um jogo equilibrado até a expulsão do Luan –, São Paulo e Palmeiras foi um massacre até a expulsão do Artur. A partir daí virou um treino uniformizado. Rogério Ceni só apareceu quando atravessou o campo pra bater uma falta; Lucas, Osvaldo e Luís Fabiano transformaram a vida da zaga palmeirense num pandemônio; Denílson fez um gol que nunca mais vai fazer na vida e até o Paulo Miranda jogou muito bem na lateral-direita. Palmeiras: já tava bastante complicado, só ficou um pouco mais.
O Fluminense tem um relacionamento pouco profissional com seu patrocinador, que interfere mais do que deveria e comete alguns desvarios. Mas é tanto dinheiro que ele bota no time, que não há como não fazer as coisas acontecerem. Depois de seis anos com apenas dois títulos de importância menor – o estadual de 2005 e a Copa do Brasil de 2007 –, depois da frustração com o vice na Libertadores em 2008 e depois da quase queda para a segundona em 2009, a partir de 2010 as coisas engrenaram. O Fluminense vem perdendo pouquíssimos jogadores nas janelas de transferência, tem se reforçado com qualidade, foi campeão brasileiro em 2010, ficou em terceiro no ano passado e esse ano é o time que faz a campanha mais equilibrada, conseguindo vencer até as partidas menos prováveis. Na semana passada o Flamengo jogou mais que o Fluminense, mas o Flu ganhou. No último sábado o Botafogo jogou mais que o Fluminense, mas o Flu ganhou de novo. Não dá pra dizer que isso vai acontecer até o fim, mas é um time que se defende bem e tem um ataque que não perdoa os vacilos do outro lado. Deco arma, Wellington Nem alvoroça e Fred bota pra dentro. É fatal.
jorgemurtinhofc.blogspot.com também é política. Acompanhando a cobertura das eleições feita ontem pela Globo News, cheguei a uma conclusão interessante. Quando as pesquisas de boca de urna apontavam que haveria segundo turno em Curitiba, com Ratinho Jr. enfrentando o atual prefeito Luciano Ducci, os jornalistas começaram a pontear. Os integrantes da mesa – Gérson Camarotti, Cristiana Lôbo e o previsível acadêmico Merval Pereira – deram um show de conhecimento político e passaram a destacar a derrota dos ministros Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, principais articuladores do apoio do PT curitibano à candidatura do pedetista Gustavo Fruet. Deitaram o cabelo. Lembraram que Fruet fora figura de destaque na CPI dos Correios, que Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann poderiam pagar caro pela aposta equivocada e pela derrota, e deixaram nas entrelinhas até a possibilidade de ameaças aos cargos de ambos no Governo Federal e a seus futuros políticos. Muito bem. Veio o resultado oficial, a pesquisa de boca de urna errou mais que o Gílson Kleina e Gustavo Fruet foi para o segundo turno, ultrapassando Luciano Ducci. As elaboradas análises políticas da trinca foram todas pro cacete, mas alguém pensa que eles se abalaram? Alguém pensa que eles perderam a pose? Que nada. Puseram a culpa na pesquisa e foram em frente, continuando a desfilar sua incomparável inteligência e suas certeiras projeções. Conclusão: espreme daqui, espreme dali, o Brasil é um país onde todos se comportam como se fossem comentaristas de futebol. Bando de picaretas.
Murta, meu pai me disse ontem algo parecido: "Caramba, o Fluminense não joga tão bem, mas sempre ganha, sempre 1x0, 1x0...2x1... não tem um resultado maior que isso, mas sempre ganha" Ai eu disse, Por isso, com certeza vai ser campeão. Acho que essa virou uma das características do campeonato pontos corridos: O campeão geralmente é um time equilibrado, com um defesa boa, nunca dá show, não goleia, não impressiona. Mas tá sempre somando pontos de algum jeito.
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