Perder faz parte do jogo. Mas não é por isso que a gente vai gostar.
Nessa rodada quebrada e confusa, o único jogo que vi por inteiro foi, justamente, o que estão querendo anular. Igual a um monte de outras coisas do mundo moderno, o futebol periga ficar chato por causa de interferências externas em nome do politicamente correto. Não sou contra o uso de tecnologia, desde que ela seja instantânea. O chip na bola é um bom exemplo do que pode ser usado. Ultrapassou a linha do gol, algo apita no ouvido do juiz e pronto. Claro que logo se instalará a indústria dos avisos sonoros, o que fará com que os árbitros possam baixar toques diferentes para a sinalização do chip. Alguns ouvirão refrões de música sertaneja (Lelelê / Lelelê / Se eu te pegar / Você vai ver), outros ouvirão Oswaldo Montenegro (Quando voa o condor / Com o céu por detrás), a maioria deverá optar por louvores (Vem comigo dando glória / Vem comigo dando glória / O senhor já revelou / E o negócio é forte), mas isso é outro papo e o blogueiro digressiona. O que importa é que a utilização do chip seria algo imediato e possível, porque é uma chatice o que existe em outros esportes, que interrompem o jogo e se socorrem de imagens recuperadas para decidir o que deve ser marcado. Não dá. Da mesma forma, acho um saco essa moda de o STJD punir jogadores por jogadas que não foram percebidas pelos árbitros. Tudo bem que precisamos nos adaptar à evolução das coisas, mas essas inovações fariam com que Pelé – simplesmente ele – ficasse mais tempo suspenso do que em campo. Pelé seria punido por cotoveladas na surdina, por entradas tão discretas quanto maldosas, por provocar erros dos juízes com aquela história de encaixar o braço no braço do zagueiro adversário, cavando pênaltis. O chileno Figueroa, capitão do grande time do Inter bicampeão brasileiro em 75 e 76, era famoso pelas cotoveladas que intimidavam e mantinham os atacantes adversários longe da área colorada. Os juízes dificilmente viam os cotovelaços de Figueroa, mas hoje o STJD se encarregaria de abreviar a carreira do ótimo zagueiro chileno. E aí, temos um problema: ou vale pra tudo, ou não vale pra nada. Antigamente a coisa era simples: valia o que o juiz relatava na súmula, e fim de papo. O STJD condena um jogador que fez algo fora do lance, sem que juiz, bandeirinha, quarto árbitro e quem quer que seja tenha visto. Mas, e o pênalti marcado a favor do Fluminense contra a Ponte Preta, que o próprio árbitro Nielson Nogueira Dias admitiu dois dias depois ter sido equivocado? E se a Ponte cai para a segunda divisão por causa de três pontos, como é que fica? Entretanto, há algo que deve intrigar a todos nós nessa história do Palmeiras querer a anulação da partida. O que o Palmeiras quer? Perder de novo?
Vi o primeiro tempo de Sport e São Paulo. Lucas acabou com o jogo e pôs um pouquinho mais de fermento na receita de que certos são-paulinos o acusam: será ele, realmente, um jogador que só brilha em jogos fáceis? Se isso for verdade, Lucas vai se deliciar naquela tremenda enganação que é o campeonato francês. Do lado do Sport, não dá para entender como é que o goleiro de um time que luta desesperadamente pra não cair toma um gol daqueles. Todo mundo tem o direito de errar, mas não naquela hora. Não daquele jeito.
Resolvida a parada no Recife, me transferi para Salvador, pra ver o segundo tempo de Bahia x Grêmio. Um jogo horroroso. Aroveito para propor: já que o gol de Barcos reacendeu a questão sobre uso de tecnologia, interferência externa, STJD etc, não custa nada estudarmos uma aberração a mais: a criação de uma comissão de notáveis para avaliar os jogos. No caso de Bahia x Grêmio, em vez de cada um ganhar um ponto na tabela, ambos perderiam dois.
Antes de tudo isso, na quinta-feira vi o segundo tempo de Fluminense e Coritiba. Ao contrário de Bahia e Grêmio, foi ótimo. Por ter virado perdendo, em mais um erro risível do previsível Deivid, o Coritiba partiu pra cima e fez um segundo tempo muito bom. O Flu, na sua toada de sempre, esperava o adversário pra dar o bote e fazer o segundo gol. Conseguiu, mas o Coritiba não se entregou, continuou brigando, marcou seu golzinho e, pela oitava ou nona vez no campeonato, transformou o final da partida em um inferno para a torcida do quase campeão. O Fluminense tem várias coisas boas – goleiro em grande fase, defesa que joga sério e firme, lucidez do Deco, oportunismo do Fred –, mas quem está desequilibrando é o Wellington Nem.
Está dando certo a estratégia de torcer contra quem está embaixo, e a rodada foi muito boa para o Flamengo. Nenhum dos seis times atrás do Fla conseguiu fazer mais de um ponto, o que deixou o Menguinho numa situação relativamente confortável para perder pro Atlético em Belo Horizonte. Nos últimos cinco jogos, quatro serão no Rio. E vai ser preciso superar toda a imensa capacidade de fazer besteiras – que no Flamengo é infinita – para desperdiçar a vantagem de sete pontos em relação ao primeiro na zona do rebaixamento. Que sorte, hein, Dona Patrícia?
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