quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

E o pior é que a gente não aprende. 
O mundo não vai acabar em 2012, mas parece que o futebol argentino sim. Primeiro foi a bisonha atuação do Boca na final da Libertadores. Depois veio o triste episódio da falta de luz na cidade de Resistência, que impediu a realização daquele Brasil x Argentina. E agora essa absoluta novidade, pelo menos pra mim, de um time não voltar para o segundo tempo numa partida de futebol. O futebol argentino acabou, e não me venham falar de Messi. Claro que o cara é fera, nasceu lá, defende a seleção argentina, mas é um jogador de formação profissional rigorosamente espanhola. Catando aqui e ali, eles ainda conseguem armar boas seleções, mas o futebol dos clubes argentinos, esse já era. 
Não acompanhei o noticiário sobre a brigalhada no intervalo do jogo de ontem, e a verdade completa provavelmente jamais será conhecida. O que sei é que não há santo nem bonzinho nessa história, e vejo dois lados. 
Comecemos pelo lado um. Título não se contesta. A não ser que ele seja conquistado com uma ajuda decisiva e incontornável da arbitragem – o maior exemplo de todos talvez seja o gol da Inglaterra contra a Alemanha, em que a bola não entrou, já na prorrogação da final da Copa de 66 – ou algo semelhante. Fora isso, título é título, independentemente do grau de dificuldade da competição, da duração do torneio etc. O que não se deve fazer é tentar enxergar numa conquista significados que ela não tem, como aconteceu recentemente com o Palmeiras: o título da Copa do Brasil pode ter deixado a falsa impressão de que o time era bom, ou no mínimo não tão ruim a ponto de cair, e deu no que deu. 
Sempre que um time de futebol entra numa competição, deve brigar até o fim para vencê-la. E se o título vier, a torcida tem o dever de festejar. O time do São Paulo fez o que precisava ser feito: jogou sério e ganhou a taça. A torcida do São Paulo fez o que devia fazer: lotou o estádio e comemorou com entusiasmo. Entretanto, isso não afasta uma realidade que só não vê quem não quer: os grandes clubes brasileiros não têm absolutamente nada o que fazer na Copa Sul-Americana. Times sofríveis, estádios vagabundos, partidas desprestigiadas até pelos próprios participantes. 
Apesar da gigantesca distância que ainda nos separa dos centros mais poderosos do futebol europeu, nosso futebol já está numa posição muito acima da dos demais países da América Latina. É claro que a melhor explicação para isso vem da famosa frase de James Carville: é a economia, estúpido! Mas não importa. O que importa é que São Paulo, Corinthians, Fluminense, Cruzeiro, Inter, até aquela bagunça institucionalizada que atende pelo nome de Flamengo, enfim, os grandes do nosso futebol só têm a perder numa competição desse nível. 
Já defendi aqui, várias vezes, que criar um ranking seria muito bom para o futebol brasileiro. Se isso fosse feito, nossas vagas na Copa Sul-Americana ficariam sempre com a turma intermediária. Coritiba, Atlético Paranaense, Sport, Náutico, Bahia, Vitória, Goiás, pra esses times a Sul-Americana seria uma bênção. Para os grandes, é andar pra trás. 
O segundo lado da história é o seguinte. Conhecendo o padrão de preparo das nossas polícias privadas, não é difícil partir do princípio de que os seguranças do Morumbi tenham mesmo enchido os jogadores argentinos de porrada. Há antecedentes. Lembro que, na semifinal do Brasileirão de 81, contra o Botafogo, o São Paulo abusou de artifícios extracampo – segurança intimidando, gandula irritando, maqueiros derrrubando jogadores botafoguenses da maca – para eliminar o adversário. Essa lenda de aristocracia, fidalguia etc., tudo papo furado. Mas todos nós estamos cansados de ver jogos do São Paulo no Morumbi, em decisões, em semifinais, contra rivais brasileiros, contra adversários do continente, e ninguém nunca viu jogador apanhando. Se os argentinos apanharam ontem, com certeza eles sabem perfeitamente por quê.

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