segunda-feira, 1 de abril de 2013

A gente vai lá e crau. 
Dilson Funaro ocupava o cargo de ministro da Fazenda em 1986, na época em que o presidente do país era José Sarney. Quando o índice de inflação mensal beliscou os 15%, o governo decidiu lançar um mirabolante plano econômico, cortando zeros, trocando a moeda de cruzeiro para cruzado e decretando o congelamento de preços. Óbvio que deu tudo errado, mas o plano foi vendido à população como algo que ia contra uma suposta falta de sensibilidade dos empresários e totalmente a favor do povo – que, claro, caiu feito um patinho. O principal porta-voz da churumela era o ministro Dilson Funaro, que rapidamente virou uma espécie de herói nacional. Bom. Diz a lenda que, pouco depois, numa reunião ministerial convocada para avaliar a primeira de muitas dificuldades que surgiriam, alguém sugeriu que o governo fizesse um pronunciamento em rede nacional, para tentar enrolar a rapaziada. Concordando com a proposta, vaidoso e confiante no prestígio que o congelamento de preços lhe conferira, o ministro Funaro teria se oferecido para a tarefa, dizendo mais ou menos o seguinte: “Deixa comigo. Pode deixar que eu vou lá e crau.” Eu não sei não, mas começo a achar que a nova diretoria do Flamengo está abusando do direito de chegar lá e crau. A imensa maioria da torcida rubro-negra apoia a seriedade e os esforços que vêm sendo feitos para começar a arrumar a casa. Eu também. A imensa maioria da torcida rubro-negra concorda com o corte geral nos tais esportes ditos olímpicos. Eu também. Não vejo por que pagar uma fortuna a um nadador que mora nos Estados Unidos, treina nos Estados Unidos e o máximo que faz é aparecer uma vez por ano com um roupãozinho com o escudo do Flamengo. Não vejo por que sustentar um ginasta olímpico que sempre que vai para uma competição importante se esborracha de bunda no chão. O Flamengo tem trinta ou trinta e cinco milhões de torcedores por causa do futebol. Se um dia o futebol estiver bombando, com o time ganhando tudo e o dinheiro entrando a rodo, aí pode-se pensar em incentivar a bola de gude e o pique-bandeira. Por enquanto, esquece. Dorival Jr. não tinha culpa de muita coisa, mas o salário o condenava. E se é para chegar em décimo-primeiro ou décimo-segundo no Campeonato Brasileiro, pra que pagar seiscentos mil reais a um treinador? Apesar de seu atabalhoamento e de sua irregularidade, eu gostava do Vágner Love, mas não a ponto de aceitar o que ele custava ao clube. Tudo isso merece apoio, mas paciência tem limite. O Flamengo não tem como fazer o investimento que alguns dos nossos clubes – Corinthians, São Paulo, Inter, Grêmio, Cruzeiro, Atlético – vêm fazendo, e será uma grande surpresa se chegar entre os dez primeiros do Brasileirão 2013. Mas não precisa e não pode ser tão bagunçado dentro de campo. Tomemos o exemplo do próprio treinador, Jorginho. Em 2011 ele dirigiu o Figueirense e o time fez uma bela campanha no Campeonato Brasileiro, a ponto de perder a vaga na Libertadores somente nas duas ou três rodadas finais. Jogava em bloco, defendia-se com eficiência, tinha um contra-ataque forte. Claro: Flamengo é Flamengo, Figueirense é Figueirense, mas Jorginho tem a obrigação de, no mínimo, montar um time de futebol como aquele. Que não será campeão de nada, que jamais dará espetáculo, que terá mais derrotas do que vitórias nos jogos importantes. Mas que vai ser um time, e não um bando. Do contrário, o apoio e a compreensão da torcida vão pro vinagre, o programa do sócio-torcedor naufraga e, assim como aconteceu com o ministro Dilson Funaro, que se viu forçado a pedir demissão, não vai adiantar nada a nova diretoria chegar lá e crau. 
Logo em meus primeiros dias aqui em São Caetano, em maio de 2005, percebi que o futebol seria um grande aliado na minha sociabilização. Já trabalhei em algumas agências onde o pessoal olhava o futebol meio atravessado, mas aqui não. Quase todo mundo gostava. Entretanto, como dizia o Mestre Ambrósio, “terra alheia, pisa no chão devagar”. Assim, fui pisando devagarinho e uma das primeiras coisas que aprendi foi a necessidade de evitar certas discussões, das quais eu sempre sairia derrotado. Era batata. Quando um jogador que havia feito sucesso no Rio se transferia para São Paulo e fracassava, lá vinha a explicação: ah, mas jogar no Rio é muito mais fácil. E quando o cara tinha sido apenas razoável no Rio, mas começava a brilhar em São Paulo, o argumento era fantástico: também, com aquela bagunça dos clubes cariocas, ninguém consegue mesmo se dar bem lá. Voltei a me lembrar disso ontem, por causa do time que Ney Franco mandou a campo. Se algum torcedor do Botafogo viu o jogo, certamente ficou espantado ao encontrar o Édson Silva, todo pimpão, pagando de titular absoluto na zaga. Vai ver ele nunca jogou nada no Botafogo por causa da falta de estrutura. 
Campeão Brasileiro com o Botafogo em 95, campeão da Libertadores com o Cruzeiro em 97, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes com o São Paulo em 2005, Paulo Autuori é hoje um dos treinadores mais respeitados do futebol brasileiro. Em entrevista publicada ontem pelo jornal O Globo, Autuori denunciou o atraso e a insegurança dos nossos técnicos, perguntou em tom de desafio se alguém podia mesmo duvidar que Guardiola faria um bom trabalho na seleção brasileira, disse poucas e boas. E inflou o ego do blog ao afirmar, com palavras um pouco diferentes, o mesmo que publiquei aqui no post de 11 de março, no tópico que fala do Paulo Henrique Ganso. Autuori garantiu ter ouvido, de jogadores que atuaram com ele no exterior, a seguinte frase: “No Brasil eu jogava bola; aqui eu virei jogador de futebol.” O problema é que, além dos clubes brasileiros, Paulo Autuori trabalhou em Portugal, no Peru, no Japão e no Qatar. Se teve gente que só virou jogador de futebol em Portugal, no Peru, no Japão ou no Qatar, a coisa está bem pior do que pensávamos. Ou então, o que é mais provável, Autuori foi devidamente pego na mentira. 
O pênalti de Rogério Ceni em Alexandre Pato é um desses lances do futebol que nem eletrônica, nem televisão, nem arbitragem computadorizada resolvem. Tem gente que vai morrer dizendo que foi pênalti, tem gente que vai morrer dizendo que não foi. Como o resultado do jogo não tinha importância alguma, a polêmica será menor e o mais importante é a constatação – compreensível, mas preocupante para a torcida do São Paulo – de como Rogério Ceni está com os reflexos lentos. Já no primeiro tempo ele soltara uma bola, numa falta cobrada pelo Paulinho, e demorou séculos para fazer a defesa definitiva, quase dando o gol de bandeja ao Guerrero. No lance do pênalti, a falta de jeito do Rafael Tolói foi total, mas Rogério novamente demorou uma eternidade para chegar. A diretoria e a torcida têm a obrigação de, no final desse ano, preparar uma bela festa de despedida para ele.

5 comentários:

  1. Murta, mas afinal, para vc foi penalti ou não foi? Sem ficar no muro pô! rs

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  2. O Rafael Toloi q volte pra escola de futebol e aprenda q aquilo não pode ser feito... o Rogério q se aposente e monte um escolinha pra ensinar o Toloi...

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  3. Perfeito, como sempre.
    Só acredito que o Rogério ainda está em plenas condições de ser titular do tricolor, pra quem é são paulino e acompanha todos os jogos, sabe da importância e das boas defesas que ainda faz, mas somos extremamente intensos, uma grande defesa vira rotina, uma falha um grande desastre, se não fosse por ele, nossa zaga atrapalhada já tinha nos desclassificado da libertadores, pergunte a qualquer tricolor.
    Abraço.

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  4. O Toloi foi o grande vilão do lance, mas o Ceni não imaginou que o Pato fosse chegar a tempo e fez o penalti sim. Embora seja corinthiano concordo com o Pedro. Se não fosse ele a vaca já tinha ido pro brejo na Libertadores, mas que o Rogério tem que pensar em parar isso tem, mas acho que o problema é o substituto, que não há.

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