O São Paulo parece ter entendido que precisa repensar seu modelo.
Quando cheguei em São Caetano do Sul, em maio de dois mil e cinco, o São Paulo tinha menos títulos brasileiros do que o Flamengo, o Palmeiras e o Vasco, e o mesmo número de Corinthians e Internacional. Já conquistara duas vezes a Libertadores, o que o igualava a Santos e Cruzeiro. Ou seja: em termos de retrospecto e ranking, estava ali no bolo.
A partir daquele ano, as coisas começaram a mudar. Com a conquista da Libertadores em dois mil e cinco e do Brasileirão nos três anos seguintes, o clube passou a ser o grande ganhador de títulos do nosso futebol. Colhia os frutos de sua organização e se destacava diante dos quase sempre esculhambados adversários.
O problema é que, nos dois últimos anos, o São Paulo sequer chegou à final dos três torneios que disputou. A saber: Campeonato Paulista, Corinthians e Santos no ano passado, Santos e Santo André esse ano; Campeonato Brasileiro, Flamengo e Inter no ano passado, Fluminense e Cruzeiro esse ano; Libertadores, Estudiantes e Cruzeiro no ano passado, Inter e Chivas esse ano. Aí, parada obrigatória para pensar. Surpreso com a má performance do time em dois mil e nove e dois mil e dez, cheguei a uma tese que reconheço ser controversa. Mas é uma tese.
Nem o mais fanático são-paulino olha para seus últimos elencos vencedores e enxerga um só craque que seja. As conquistas se basearam na organização do clube e na solidez do sistema defensivo. Nenhum dos recentes times campeões do São Paulo tinha um cara jogando tanto quanto o Pet jogou no Brasileirão do ano passado ou o Conca e o Montillo no desse ano. Era, sobretudo, a vitória da organização. Só que aí aconteceram dois fatos que mexeram nessa história: a crise econômica mundial de dois mil e oito – não por acaso, o último ano de título tricolor – e a entrada firme de patrocinadores no futebol brasileiro.
Por um lado, a falta de grana diminuía a farra no mercado europeu; por outro lado, Olympikus, Seara, Unimed etc. injetavam dinheiro pesado em alguns clubes. Foi assim que Adriano desembarcou no Flamengo, Vágner Love no Palmeiras, Roberto Carlos no Corinthians, Fred no Fluminense, foi assim que Robinho voltou para comandar o endiabrado Santos do primeiro semestre desse ano. E aí o São Paulo descobriu que o craque ganha da organização.
É óbvio, é claro, é evidente, que você precisa ter planejamento, CT, disciplina, estádio etc. Mas quem ganha jogo é o craque. Quando ninguém tem craque e só você é organizado, provavelmente você vai ganhar. Mas quando os craques estão com a camisa adversária e você entra só com a organização, suas chances começam a diminuir. Não é à toa que os sites especializados têm noticiado que o São Paulo anda à procura de um bom meia, e as especulações citam Alex, Wagner e Thiago Neves. Bons nomes, embora eu ache que o Thiago Neves seja mais fama do que proveito.
De qualquer modo, o São Paulo começa a se movimentar. E dá toda a pinta de que vai realizar um sonho antigo do meu amigo Jaime Agostini: ver o tricolor entrar em campo com um camisa dez de verdade.
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