Vanderlei Luxemburgo: o professor aloprado.
Romário comandava o ataque do Flamengo e o técnico era Evaristo de Macedo. O time tinha uma partida fácil, mas jogava de forma displicente e terminou o primeiro tempo perdendo. Os jogadores desceram para o vestiário antes do treinador, e quando Evaristo entrou Romário estava pagando geral. Evaristo não gostou e falou pro baixinho: “Isso aqui tem comando, e o comandante sou eu. Você vai me deixar fazer meu trabalho, ou posso pegar minhas coisas e ir embora?” Romário percebeu que tinha extrapolado e engoliu o sapo. Depois do jogo, que o Flamengo virou sem dificuldades, foi falar com o treinador: “E aí, chefe, sem ressentimentos?” Evaristo, que todos dizem ter sido um craque, com passagens brilhantes por Flamengo, Seleção Brasileira, Barcelona e Real Madrid, respondeu: “Meu filho, no meu tempo de jogador, teve uma vez em que eu quase saí no tapa com um ponta-direita, por causa de um contra-ataque que ele desperdiçou. Três minutos depois ele me deixou cara a cara com o goleiro, fiz o gol e comemoramos abraçados. Vamos em frente.”
Não há nada mais chato nas transmissões esportivas pela tevê do que os narradores que ficam escandalizados com discussões entre jogadores do mesmo time. Típico de quem nunca jogou bola na vida. Querem o quê? Depois de um cruzamento malfeito, não dá pro centroavante se dirigir respeitosamente ao lateral e propor: “Será que, na próxima oportunidade, o nobre colega poderia fazer o obséquio de caprichar um pouco mais na execução do lance?” É muito mais fácil e produtivo gritar “cruza essa porra direito, ô filho da puta!”. Até aí, tudo bem. Mas eu tenho me perguntado se a apregoada decadência do Vanderlei Luxemburgo não tem um pouco a ver com a exagerada grosseria que ele exibe durante os jogos.
Quem teve o desprazer de assistir às últimas partidas do Flamengo pôde perceber. É o tempo inteiro. Vai tomar no cu, Diego. Puta que o pariu, Kléberson. Caralho, Léo. Vai se foder, Deivid. Tá certo que futebol não é missa e que todo xingamento pra esse time do Flamengo é pouco, mas não vejo nenhum outro técnico brasileiro trabalhando à beira do campo com tamanho destempero. Vejo que todos eles reclamam do juiz em todos os lances, vejo palavrões aqui e ali, vejo descontroles esporádicos, mas o único que eu vejo pegando pesado desse jeito é o Vanderlei.
E aí eu pergunto: será que essa forma de cobrança não atrapalha? Será que as coisas mudaram, e jogadores de futebol não aceitam mais tomar esporro diante das câmeras? Será que não foi por isso que os últimos resultados de Luxemburgo – no Santos, no Palmeiras, no Atlético Mineiro e até agora no Flamengo – ficaram abaixo do esperado?
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