Voltando a falar da convocação.
Conhecidos os semifinalistas da Libertadores, os finalistas da Copa do Brasil e o vencedor da Liga dos Campeões da Europa, e com o Brasileirão ainda frio de doer nos ossos, voltemos à seleção brasileira. No post pós-convocação, escrevi que discordava de muitos dos nomes chamados, embora também não concordasse com os nomes mais pedidos. Já falei dos badalados que não foram, agora falo de quem vai. E começo logo com um desafio: façam uma pesquisa junto aos torcedores do Flamengo e do São Paulo, e perguntem se eles topam trocar o Kléberson pelo Hernanes. Creio que a resposta será sim, claro, agora mesmo para a imensa maioria da torcida rubro-negra, e não, de jeito nenhum, tá maluco por toda a torcida são-paulina. Apesar do Kléberson ser bom jogador, com muita movimentação por todos os lados do campo, e apesar do Hernanes ter uma certa dificuldade para acordar no horário dos jogos, não há como comparar um e outro. Felipe Melo começou no Flamengo e foi embora sem deixar saudades. Não posso falar de suas passagens por Cruzeiro e Grêmio, pois não as acompanhei, mas custo a crer nesses caras que saem daqui medianos e se tornam craques na Europa. Ainda que o Felipe Melo tenha melhorado muito, não dá pra chegar perto do que a gente espera de um meio-campista da seleção brasileira. Gilberto Silva – assim como Kléberson – fez uma grande copa em 2002, mas oito anos em futebol é tempo à beça. Hoje é um volante devagar, quase parando. Temos problema na lateral esquerda e precisamos torcer muito para que Michel Bastos entre e resolva. Acho que Gilberto não é mais o caso. Teria sido melhor levar Roberto Carlos? Sim. Mas Roberto Carlos ainda é aquele jogador decisivo e que metia medo no adversário? Não. Quer dizer: melhor seria, mas também não seria o ideal. O ideal não temos. Josué é um jogador tático, porém limitado. Já era assim na sua melhor fase, no São Paulo, não tem como ser diferente na seleção brasileira. Nosso futebol é repleto de gente igual a ele. Gosto do Ramires, que se movimenta tanto quanto Kléberson, mas com duas vantagens: tem um toque de bola mais preciso e aparece melhor para concluir. Só não vejo por que ter dois jogadores como Kléberson e Ramires na reserva, e por isso ficaria apenas com o apoiador do Benfica. A convocação de Doni lembra uma dessas coisas que a gente vê em montagens de equipes de governo: pertence à cota particular do treinador. Não há um argumento sequer para justificar a escolha por um goleiro que ficou na reserva durante toda a temporada. E pior: na reserva de um goleiro brasileiro. Mas a verdade é que Doni deverá ser só a terceira opção e suas chances de participar da Copa são mais ou menos as mesmas da Nova Zelândia ficar com o título. Deixa o Doni pra lá. Nosso maior problema está na falta de alguém talentoso na armação, e acho que o erro grave do Dunga foi não ter garimpado mais, não ter dado mais chances a alguns meias com potencial para encarar a responsa de organizar a seleção brasileira. Alex que foi do Palmeiras, o outro Alex que foi do Inter de Porto Alegre, Wagner que atuou pelo Cruzeiro, esses aí têm pelo menos o jeitão dos nossos tradicionais armadores, que sabem o momento certo de segurar o jogo e o de dar velocidade, que sabem a hora de tocar de lado e a de lançar em profundidade. Não digo que era pegar qualquer um deles, botar lá e tá resolvido. Mas deveriam ter sido testados, tiveram tempo de ser testados (o que não aconteceu com o Ganso, que começou a jogar bola de verdade só esse ano) e poderiam nos ajudar. A opção por um monte de jogadores com o mesmo perfil revela uma confiança cega no esquema tático. E a gente sabe que, no futebol, uma surpresinha de vez em quando é muito bem-vinda.
Por este seu post, fico com a sensação de que estamos fritos. É isto mesmo?
ResponderExcluirMário, eu não afirmaria isso. Apesar de ser a competição esportiva mais importante do mundo, a Copa do Mundo é um torneio muito curto, em que um time pode se acertar (ou "encaixar", como dizem os modernos) e levantar a taça sem que os seus defeitos apareçam. Honestamente: eu não queria Luca Toni jogando no Flamengo, e ele foi o centroavante titular da Itália na conquista de 2006. De repente o conjunto acerta, e a gente chega lá. Mas brilhar, isso sim, acho muito difícil.
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