segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ponto corrido é o antifutebol. 
Começou neste final de semana o campeonato mais difícil do mundo. O líder joga contra o lanterna, e é jogo duro. (No ano passado, o campeão Flamengo tomou um catiripapo de cinco a zero do Coritiba, que acabou rebaixado. Ou seja: tudo pode acontecer.) Mas não gosto do sistema de pontos corridos, e acho que o principal problema é conceitual. 
Seus defensores levantam a bandeira de que só os pontos corridos garantem a justiça, por premiar quem se organiza, quem se planeja, quem é mais profissional. E aí é que entra a questão do conceito: não faz sentido querer associar o futebol à justiça. 
Futebol é um esporte em que você pode ter um time muito melhor que o do seu adversário, você pode massacrar o seu adversário, você pode chutar trinta bolas na trave do seu adversário. Mas se no último minuto o seu adversário arma o contra-ataque, vai lá e faz o gol, você perde o jogo. 
Não há nada mais tolo do que isso que a gente vê a toda hora na tevê: o Fluminense domina a partida e tritura o Madureira, mas nada de balançar a rede. O Madureira dá uma escapada meio sem-vergonha, faz o gol, volta todo pra defesa e ganha o jogo. Aí o narrador pergunta ao comentarista: fulano, foi justo o resultado? E o comentarista responde com uma tolice maior ainda: sim, foi justo porque o Fluminense não teve competência para aproveitar as oportunidades que criou, enquanto o Madureira soube converter a única que teve. Ora, bolas! 
Futebol não tem nada de justiça ou de merecimento: futebol é bola na rede. Você não ganha um jogo de futebol por pontos, como no boxe. Se você jogar muito melhor, mas ficar no zero a zero, é um ponto pra cada time e fim de papo. O jogo é assim, e quem não gostar que invente outro. Defender os pontos corridos em nome da justiça é, portanto, ir contra o preceito básico do futebol. É ir contra uma das características que o fazem ser tão sensacional. 
Outra coisa: claro que as zebras são sempre divertidas, mas o momento sublime do futebol está mesmo é nos grandes clássicos. Nenhum corintiano vai dizer que o jogo da sua vida foi Corinthians e XV de Piracicaba disputado no Parque São Jorge. Vai ser sempre um Corinthians e São Paulo no Morumbi, um Corinthians e Palmeiras no Pacaembu, por aí. Só que, como as partidas entre os grandes costumam ser equilibradas (X ganha de Y que ganha de Z que ganha de X), os campeonatos por pontos corridos acabam decididos pelos jogos contra os pequenos. Aí, quando a gente vai ver, o Cruzeiro não foi campeão brasileiro por ter derrotado o Palmeiras, o Vasco e o Santos: o Cruzeiro foi campeão por não ter perdido pontos para o Figueirense, o Paysandu e o América de Natal. 
Campeonato que se preza tem que ter final. Tem que ter decisão. Pergunte a qualquer gremista sobre quem foi o vice-campeão brasileiro em 81, quando o Grêmio ficou com o título. Todos, sem exceção, vão saber que foi o São Paulo. Pergunte a qualquer são-paulino quem foi o vice-campeão brasileiro em 2006. Pouquíssimos sabem. 
Por fim, há o problema que aconteceu nas duas últimas edições do Brasileiro. Em 2008 o São Paulo liderava e o Grêmio vinha em segundo. O São Paulo tinha um jogo difícil contra o Inter, no Morumbi, e o resultado interessava ao Grêmio. Alegando compromisso importante na Copa Sul-americana, o Inter escalou um time misto, levou um baile e praticamente acabou com as chances do rival gaúcho. Em 2009 veio a forra: sem ter nada a ganhar ou a perder, o Grêmio mandou um time com sete reservas ao Maracanã, perdeu do Flamengo e fez o Inter morrer na praia. 
Para acabar com essa confusão e eliminar qualquer tipo de suspeita, é muito melhor que os jogos decisivos sejam disputados por quem está na briga. Mata-mata já!

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