Desde quando, no futebol, um gol vale mais que o outro?
Quando eu era moleque, a temporada oficial do futebol carioca era aberta por uma bizarrice chamada Torneio Início. Doze clubes iam para o Maracanã e se enfrentavam em jogos eliminatórios, numa jornada que começava de manhã e terminava no finzinho da tarde. Cada jogo durava vinte minutos, havia muitos empates e aí as partidas eram decididas por um critério muito louco: vencia quem tivesse mais escanteios a favor. Era engraçadíssimo, porque em vez de tentar entrar na área para fazer gols, os times levavam a bola pra linha de fundo e se preocupavam em chutá-la em cima do adversário. Goleiro que espalmasse bola pra fora era quase linchado.
Quando Denílson surgiu no futebol, lembro que houve um Torneio Rio-São Paulo em que alguns gênios da cartolagem resolveram experimentar esquisitice semelhante: a partir de um determinado número de faltas, todas elas passavam a ser punidas com pênaltis. Aí o Denílson pegava a bola e saía driblando, driblando, driblando sem parar, até sofrer uma faltinha qualquer. Ou seja: os caras inventaram outro esporte, diferente do bom e velho futebol em que o objetivo é colocar a bola dentro do gol adversário, e o jeito mais fácil de conseguir isso é através da troca de passes.
Nunca entendi exatamente a lógica desse critério de desempate pelo fato de um gol fora de casa valer dobrado. Daqui a pouco inventam que gol de zagueiro vale quatro, gol do meio da rua vale três, gol de cabeça vale meio. Gol é gol. Em casa, fora, do meio-campo, do jeito que for. O gol que o Souza fez contra o Grêmio, empurrando pra dentro uma bola que estava quase sobre a linha e com dois ou três adversários caídos, vale o mesmo que o gol que o Ganso fez contra o Grêmio, com um chute sensacional e indefensável da entrada da área.
Esse critério do gol fora de casa é tão ruim, mas tão ruim, que na final da Libertadores ele é abandonado. É como se os caras dissessem: bom, até aqui foi só brincadeirinha, mas agora que chegou a hora da decisão de verdade, teremos prorrogação.
Disputa de pênaltis, claro, nem pensar. João Saldanha dizia que não a aceitava por não concordar que uma partida fosse decidida por penalidades que nenhuma das equipes cometera. Se tivéssemos prorrogação, e não disputa de pênaltis, não teríamos times jogando como aquele ridículo Universitário de Lima fez contra o São Paulo.
Passei a maior parte da minha vida participando de peladas que, quando terminavam empatadas no tempo normal, eram decididas na base do “primeiro gol acaba”. Os argumentos contrários ao “primeiro gol acaba” no futebol profissional jamais me convenceram. Vi alguns dramáticos e exagerados cogitarem até a possibilidade de jogadores morrerem em campo. Piada. Jogos de tênis às vezes não se estendem por mais de cinco horas? Jogos de vôlei, sobretudo no tempo em que ainda havia a regra da “vantagem”, não duravam uma eternidade? E outra: o cansaço leva ao erro, e os erros tornam qualquer jogo abarrotado de chances de gol.
Quanto à eliminação de ontem do Flamengo pelo critério do gol fora de casa, não há o que reclamar: foi com ele que o Flamengo eliminou o Coritnhians, é ele que está valendo, e fim de papo. Mas essas situações são sempre boas pra fazer a gente pensar.
A noticia nos jornais nessa Libertadores chega ser frustrante. "Ganhou o jogo mas não se classificou".
ResponderExcluirPodemos também adotar o critério de quem jogar moedas perde pontos. Bola de golfe, então... Mas falando sério, descobri um jogo das oitavas da Libertadores de 2002 se não me engano, entre Cobreloa (CHI) e Olimpia (PAR) no Chile, no qual o juiz foi atingido por uma moeda atirada pela torcida no intervalo do jogo, que então estava 1x1. O juiz encerrou o jogo por falta de segurança e, posteriormente, a Conmebol deu a vitória ao Olimpia, visitante, por 2x0. Ou seja, acertar o juiz não pode, mas os jogadores adversários não tem problema...
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