A arte de jogar um título pelo ralo.
Há cerca de um mês eu cruzei com o corintiano Saulo, no corredor aqui da agência, e ele me perguntou, aflito: "Murtinho, quem vai ser o campeão afinal?" Não titubeei: Corinthians. Não apenas porque o time liderava o campeonato, mas por uma série de outros fatores que não vêm ao caso, até porque estão sendo desmentidos a cada rodada. Mas mesmo quem já se impressionara com a queda do Palmeiras no Brasileirão 2009 deve estar surpreso com o declínio corintiano esse ano. Inacreditável. Dos últimos dezoito pontos que disputou, o time ganhou apenas dois. Quando foi entrevistado no "Roda-Viva", Mano Menezes reconheceu que o time com Adílson Batista estava mais rápido e mais insinuante, o que ele atribuía sobretudo ao recesso criado pela Copa do Mundo, quando os jogadores tiveram o tempo necessário para uma boa recuperação. De uma hora pra outra, um bando de gente se machucou, outro bando caiu assustadoramente de produção, a bola do Iarley passou a não entrar nem por creio-em-deus-padre, a defesa que era uma das menos vazadas virou uma peneira. E a apatia? E o desinteresse? No primeiro tempo da partida de ontem, em São Januário, os jogadores pareciam aborrecidos, como se jogar futebol fosse o emprego mais enfadonho do mundo. Entretanto, e apesar de tudo, acho que a torcida corintiana não deve perder a esperança: como a gangorra do campeonato só para de se mexer na última rodada, o Cruzeiro ainda pode cair, o Santos e o Inter podem parar de subir, o Flu pode se abater de vez, o Corinthians pode se reencontrar e tudo pode virar de novo pelo avesso. Mas a verdade é que o Corinthians vem dando um curso intensivo – até mesmo para o Palmeiras do ano passado – de como se joga uma taça pela janela.
A viagem no feriadão para o interior de São Paulo me impediu de acompanhar a rodada do último final de semana. Além do videoteipe de Flamengo e Avaí, a única coisa que vi foi o primeiro tempo de Cruzeiro e Fluminense, e o que pintava ser um jogão acabou sufocado pela temperatura de trinta e cinco graus que fez em Uberlândia. Estranhei a lentidão do Cruzeiro – um time que tem na rapidez sua principal característica – e só compreendi os motivos da lerdeza quando ouvi a notícia sobre o calor. Quanto ao Fluminense, a saída do Deco na metade do primeiro tempo deixou o time com a mesma falta de qualidade percebida contra o Santos. Vale repetir o comentário feito aqui no blog há uma semana: com uma escalação daquelas, não dá pra ganhar de ninguém.
Os renomados economistas Lucas Murtinho, Pedro Saud e Thomas Newlands, que costumam ler o blog, hão de concordar: o futebol é muito mais complexo do que a Economia. Até prova em contrário, Economia é uma ciência que, quanto mais se estuda, melhor se compreende. Já o futebol, por mais que você goste, acompanhe e tente se informar, cada vez você compreende menos. Quem costuma ver o Kléberson jogar não consegue entender como é que ele foi um dos vinte e três representantes do futebol brasileiro na última Copa do Mundo. Quem viu o Atlético Goianiense não dar sequer um chute a gol contra o Flamengo, em Volta Redonda, não consegue entender como aquele time fez quatro no Corinthians, lá no Pacaembu. Mas, digressiono. A comparação com a Economia só entrou aqui porque, também no futebol, a gente pode analisar as partidas por seus aspectos macro e seus aspectos micro. Sob o ponto de vista macro, Flamengo e Avaí foi bem simples: o Flamengo dominou o primeiro tempo, fez dois a zero; o Avaí dominou o segundo, fez dois a dois. Fim de papo. Mas futebol costuma ser decidido nos detalhes, ou seja, no micro, e houve um lance que mudou completamente o andamento do jogo. Juan pegou a bola no meio-campo e resolveu fazer o que não sabe: driblar o adversário. Foi desarmado e, em vez de realizar o prejuízo e cercar o inimigo, tentou operar o juiz, atirando-se escandalosamente no chão. Evandro Roman não caiu na dele, o Avaí contra-atacou com perigo, não fez o gol mas ficou com o escanteio. Na cobrança, barbante. Estávamos no início do segundo tempo, e aquilo alterou tudo. Obviamente, não dá pra garantir se o Avaí chegaria ou não ao empate se não fosse aquela jogada recorrente – acontece em todos os jogos do Flamengo – do Juan. Mas aí teríamos que colocar o “se” em campo, e desde os tempos de Charles Miller a gente sabe que “se” não joga bola.
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