terça-feira, 5 de outubro de 2010

O gol de Defederico, o montinho artilheiro e a linha burra.
Sábado, no Pacaembu, o Ceará ganhava do Corinthians por dois a um quando houve uma falta junto à lateral, perto da grande área cearense. Defederico levantou a bola na área, ela passou por todo mundo, tocou no chão e entrou. Nos comentários sobre o lance, o narrador do PFC disse que o goleiro Michel Alves fora enganado pelo “montinho artilheiro”. Nada disso. 
A nova safra de narradores e comentaristas esportivos tem feito confusão com duas expressões antigas do nosso futebol, o montinho artilheiro e a linha burra. O montinho artilheiro entra em cena quando o atacante chuta uma bola rasteira, ela vem queimando a grama e, quando se aproxima do goleiro que já está pronto para defendê-la rente ao chão, alguma saliência do gramado faz com que ela suba, tirando qualquer chance de defesa. No gol de Defederico, a bola veio pelo alto e, simplesmente, quicou à frente de Michel Alves. E desde que ganhamos a nossa primeira bola, aos três ou quatro anos de idade, já no primeiro chute pra cima a gente aprende que bola quica. 
Outra expressão que tem sido mal interpretada é a “linha burra”, muito utilizada pelos comentaristas esportivos da minha infância no Rio – Ruy Porto, Luiz Mendes, João Saldanha etc. O futebol era diferente e os times atuavam com esquemas muito mais estáticos. Muitas vezes, os quatro zagueiros ficavam praticamente em linha reta, o que significava que bastava ultrapassar um deles para o atacante se ver livre de todos e parar na cara do goleiro – daí a invenção do líbero. Quando alguma zaga se apresentava com essa formação, ficava caracterizada a “linha burra”. 
Hoje em dia, muita gente confunde linha burra com linha do impedimento, que pode até ser arriscada, mas de burra não tem nada. Pelo contrário: é uma das formas mais inteligentes de diminuir a área de trabalho e neutralizar o ataque adversário. É óbvio que precisa ser muitíssimo bem treinada, os zagueiros têm que ter rapidez e visão de jogo, e é indispensável contar com a eficiência de um bom bandeirinha. Mas, repito, de burra ela não tem nada.

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