Uma explicação simples para as falhas dos nossos zagueiros.
Não tem mistério. Se o cara domina bem, tem categoria, visão de jogo e bom toque de bola, vai jogar no meio-campo. Se tem velocidade e fôlego, joga de ala ou lateral. Se é rápido e habilidoso, vai ser atacante pelos lados do campo. Se tem facilidade pra se mexer na entrada da área, bom senso de colocação, chuta com os dois pés e é bom no cabeceio, tem tudo pra ser um bom centroavante. Agora, se o cara não sabe fazer nada disso, ele vira zagueiro. As falhas de Maurício Ramos nos dois gols do Botafogo, a falha de Rafael Tolói no gol do Fluminense e a imensa bobagem do Gum no gol do São Paulo só aconteceram porque, muitas vezes, nossos zagueiros se esquecem dos motivos que os fizeram ser zagueiros. Alguém precisa, constantemente, lembrá-los.
Futebol não é só qualidade e disputa por título ou posições no alto da tabela. Futebol também envolve drama, e por isso preferi acompanhar Palmeiras x Botafogo a ver São Paulo x Fluminense. Antes da rodada, e da derrota do Atlético Mineiro para o Coritiba, já considerava o Brasileirão definido e acho essa história de G4 uma tremenda enganação. Assim, e mesmo ciente de que a qualidade estaria no Morumbi, escolhi Araraquara. E lá o que não faltou foi drama, a começar pelo gol de Lodeiro, na bola que bateu na trave e voltou, no meio de um bolo de jogadores do Palmeiras, na cabeça do uruguaio. Chute do Maikon Leite na trave, gols inacreditáveis perdidos por Luan e Patrick Vieira, Márcio Azevedo salvando bola em cima da linha, com o goleiro Jefferson batido, e muito mais. Na arquibancada, marmanjos e mulheres choravam – choro que certamente aumentava a cada vez que o serviço de som do estádio anunciava um gol do Sport contra o Vasco. E que atingiu o auge mais tarde, com todos já em casa para a santa pizza dominical, com a derrota da Portuguesa para o Bahia. O time do Palmeiras briga muito dentro de campo, mas o problema é que briga mais ainda com a bola. E o engraçado é que em alguns jogos – como no de ontem – surgem inúmeras chances de gol, mas não dá pra dizer que o time as criou. A bola é rifada, bate em um, bate no outro, sobra na frente, jogadores se chocam, é uma confusão dos diabos. Criar chance de gol é outra coisa, o que coloca o Palmeiras numa condição inédita no futebol: é um time que consegue perder gols sem criar as chances. Quem já viu o Palmeiras jogar três ou quatro vezes, ou quem viu o jogo de ontem, sabe do que estou falando.
Sábado, depois da derrota para o Flamengo, o goleiro Wilson deu uma grande lição aos felipões, abéis bragas, cucas e outros chorões de sempre. Ao ser entrevistado, Wilson disse que lamentava a anulação de dois gols do Figueirense em lances discutíveis, mas que não seria justo pôr a culpa nisso. Admitiu que o clube fizera muitas besteiras durante o ano – como, por exemplo, ter quatro técnicos em dez meses –, que todos no Figueirense tinham errado demais e que a culpa era deles mesmos e de mais ninguém. Muito mais digno, muito mais bonito e muito mais esportivo do que fez o Cuca na última quarta-feira, reclamando de um pênalti que não houve e procurando desculpa esfarrapada para o fato de seu time não ter conseguido vencer, em casa, um adversário com vinte pontos a menos na tabela e que jogou o segundo tempo inteiro com um a menos. Fez papel de bobo, pra variar.
A arbitragem errou ao marcar impedimento nos dois gols de Júlio César, do Figueirense. Apesar de ter visto os lances várias vezes, continuei na dúvida se havia impedimento ou não, e aí a conclusão me parece óbvia: se vendo várias vezes pela tevê a gente continua na dúvida, é claro que os gols deveriam valer. Elementar. Quanto ao gol de Hernane, que deu a vitória ao Flamengo, ele está para a história do futebol da mesma forma que aquele gol de Denílson, do São Paulo, na recente vitória sobre o Palmeiras: nunca mais.
Os gols mal anulados do Figueirense serviram de pretexto pra que eu fizesse uma pesquisinha rápida, apenas para confirmar o que quase todo mundo já sabe: reclamar de arbitragem no Campeonato Brasileiro é coisa de torcedor cego ou de técnico chorão. Peguei o Flamengo como exemplo, já que, por motivos óbvios, foi o time que mais vi jogar. Desconsiderei as partidas em que, mesmo sendo prejudicado, o Flamengo venceu, assim como aquelas em que, mesmo sendo beneficiado, perdeu. Ou seja: levei em conta apenas os jogos em que erros de arbitragem interferiram claramente no resultado. O Flamengo foi beneficiado nas vitórias sobre o Santos (não houve pênalti em Ibson), sobre o Bahia (idem), sobre o Coritiba (o primeiro gol, de Vágner Love, foi feito em impedimento) e sobre o Figueirense (que teve os tais dois gols mal anulados). E foi prejudicado nas derrotas para o Palmeiras (Barcos estava impedido quando fez o gol do jogo) e para o Fluminense (o juiz deveria ter dado a lei da vantagem, já que Cléber Santana fez o gol na sequência do lance em que foi marcado pênalti em Wellington Silva, e que acabou desperdiçado por Bottinelli), e também nos empates com o Cruzeiro (Liédson fez um gol mal anulado, no finalzinho do jogo) e com o Atlético Mineiro (apesar do choro de Cuca, se teve alguém prejudicado ali foi o Flamengo: ao contrário do que alega o técnico, o pênalti em Ronaldinho Gaúcho não aconteceu, e a expulsão de Wellington Silva foi injusta, porque no lance em que ele recebeu o primeiro cartão amarelo sequer houve falta). Moral da história: ficam, mais ou menos, elas por elas.
Sábado, deu pena. O Cruzeiro entrou com uma dupla de zaga – Rafael Donato e Mateus – capaz de deixar a torcida rubro-negra orgulhosa de seu zagueiro Wellinton. E do outro lado estava, apenas, o Neymar. Foi um massacre. Eu nunca tinha visto, num jogo entre dois clubes grandes brasileiros, o time da casa ser goleado e sua torcida gritar em coro o nome do principal jogador adversário. O Cruzeiro faz um campeonato muito ruim, mas a pior notícia de todas vai, coitada, para a torcida do Palmeiras: Montillo recebeu o terceiro cartão amarelo e não enfrenta o Bahia na próxima rodada. Urubu quando tá de azar, o de baixo caga no de cima.