Pílulas do final de semana.
O Flamengo não tem do que reclamar. Um time que se diz grande e que entra em campo com Val Baiano de centroavante tem mais é que tomar virada com dois gols nos acréscimos. Aos dezessete do segundo tempo, um a zero no placar, Juan fez boa jogada pela esquerda, foi à linha de fundo e cruzou encobrindo o goleiro. Na risca da pequena área, sozinho e com o gol vazio, Val Baiano cabeceou por cima do travessão. Aos trinta e oito do segundo tempo, ainda um a zero no placar, Petkovic fez um lançamento perfeito no meio da zaga do Guarani, Val Baiano dominou na canela, mesmo assim a bola sobrou à sua frente e quicando. Na saída do goleiro, mais uma vez ele mandou por cima do travessão. Claro que a hipótese beira o impossível, mas caso o Val Baiano tivesse aproveitado pelo menos uma dessas duas oportunidades, o Flamengo teria feito dois a zero e matado o jogo. Não matou, morreu. Bem feito.
O Fluminense não tem do que reclamar. Um time que, mesmo com Deco e Conca em campo, entrega a responsabilidade da cobrança de um pênalti decisivo ao Washington tem mais é que perder dois pontos que podem fazer muita falta no final do campeonato. Se isso acontecer, bem feito.
Eu achava que o São Paulo era lento por causa do estilo do Hernanes. O Hernanes saiu, o time continua lento e – o que é pior – agora sem talento. A morosidade do São Paulo deu ao Fluminense a impressão de que o jogo seria uma teta, ainda mais depois daquele gol de pelada feito pelo Deco. Mas São Paulo é São Paulo. O Fluminense fez um péssimo primeiro tempo, levou a virada, voltou mais determinado no segundo e empatou o jogo com um gol que Gabriel Garcia Marquez descreveria com o título de “crônica do gol anunciado”: apesar dos três zagueiros Xandão, Renato Silva e Miranda, o Fluminense já tinha levado vantagem em duas jogadas de cruzamento, quando Conca e Rodriguinho cabecearam e Rogério Ceni só pôde torcer pra bola não entrar. Na terceira tentativa, concluída com a cabeçada de Leandro Eusébio, não havia torcida que desse jeito. De qualquer forma, apesar da lentidão e da conhecida falta de criatividade na armação das jogadas, o São Paulo fez um bom jogo. Eu fiquei com a sensação de que, com Alex Silva, Dagoberto e Ricardo Oliveira de volta, o time vai crescer e subir na tabela.
O jogo entre Fluminense e São Paulo deixou duas coisas bem claras. Primeira: Conca é um meia perigosíssimo, Deco tem tudo para vir a ser um dos grandes nomes do campeonato, não dá pra comparar Washington com Fred, mas quem mais faz falta ao time do Fluminense hoje é o Emerson. Segunda: Muricy não quis seguir uma regra simples e sagrada, a que diz que técnico bom é aquele que não inventa. A escalação do Belletti no lugar do Emerson, empurrando Conca pra frente, foi uma invenção desmiolada. Belletti é um jogador que, quando tinha vinte e poucos anos e fôlego de sobra, era no máximo mais ou menos. Agora, em final de carreira, suas poucas atuações pelo Fluminense foram lamentáveis e ontem ele quase fez o time perder o jogo. O problema é que, com a nossa cabeça enraizadamente colonizada, a gente acha que, como o cara tá vindo da Europa, é craque. Jogou no Barcelona? Oh! Jogou no Chelsea? Oh! Foi só tirar o internacional Belletti e o jogo mudou.
Sábado, no Beira-Rio, Internacional e Botafogo fizeram um jogo chato. Dos noventa minutos, o Botafogo só se dispôs a jogar durante os cinco finais do primeiro tempo, quando criou quatro oportunidades de gol, com Jobson, Maicosuel, Herrera e Fahel. Nos outros oitenta e cinco, o time só se defendeu. O Inter fez o gol, segurou a onda nos tais cinco minutos – Renan fez três ótimas defesas – e ganhou o jogo sem muito esforço. O Botafogo deveria fazer uma petição à CBF, solicitando oficialmente que Mano Menezes não fosse mais assistir aos jogos do clube. Sempre que ele aparece, Jobson e Maicosuel somem. E por falar em Mano Menezes, ele ontem foi ver Flamengo e Guarani. Eu, hein.
Não me lembro de ter visto nenhum gol de pênalti nesse final de semana. Mas me lembro de ter visto três pênaltis perdidos, com Neymar, Washington e Ricardo Xavier, do Guarani. Além desses, tivemos recentemente mais um do Neymar, um do Bruno César, dois do Chicão, os dois que o Grêmio Prudente perdeu no jogo contra o Santos, a lista é interminável e a constatação é óbvia: a paradinha foi uma doença que viciou nossos cobradores. Sem poder utilizá-la, estão perdidos e sem confiança na hora de bater. E já que o assunto é pênalti: não sei se há alguma recomendação expressa da comissão de arbitragens ou da FIFA, mas nossos juízes simplesmente aboliram a tradicionalíssima “bola na mão”. Pra mim, o pênalti que Bruno César perdeu contra o Cruzeiro não foi pênalti. O pênalti que Washington perdeu ontem contra o São Paulo foi outro absurdo. Esses caras ainda não se tocaram de algo que começará a acontecer muito em breve: do mesmo jeito que Pelé inventou a história de enroscar o próprio braço no braço do zagueiro, dando a entender que estava sendo agarrado, a habilidade e a malícia do jogador brasileiro daqui a pouco vão transformar o jogo num festival de bolas lançadas propositalmente em cima dos braços dos adversários. E aí vai ficar exposto o quanto esse critério é ridículo. O que conta é a intenção. Mão na bola é uma coisa, bola na mão é outra. Como saber se o cara teve ou não intenção? Ora, ora, ora: qualquer pessoa que tenha entrado mais de dez vezes num campo de pelada percebe na hora.
Não vi o jogo do Corinthians, só sei que fez o dever de casa. Mas isso a gente está vendo desde o início do campeonato. Insisto: para o Corinthians permanecer na briga até o final, vai ter que melhorar o dever fora de casa. E quando eu falo em briga, é briga pelo título: não me venham com essa conversa mole de G4. Isso, pra mim, é coisa inventada pelos nossos ilustres e milionários treinadores, para aumentar suas chances de sucesso e manter seus indecentes salários. Não caio nessa não.
Não sei se eles vão lembrar. Em 2007, o Campeonato Brasileiro ia lá pela metade, Marcus Weber, Jaime Agostini, André Figueiredo e eu decidimos encarar, no almoço, a costelinha do Pilão Mineiro. Conversávamos sobre futebol – como se houvesse outro assunto – e discutíamos algumas possibilidades. O Flamengo vinha de uma fase péssima, beirando a linha do rebaixamento, mas com a contratação de Fábio Luciano, Cristian, Ibson e Roger, mais a chegada do Joel Santana, todos concordávamos que o time não cairia. Por outro lado, achávamos que, se não abrisse o olho e rápido, o Corinthians poderia dançar, já que o time era bem fraco. Não deu outra. O Flamengo acabou o campeonato em terceiro lugar, o Corinthians desceu. Ontem, quem assistiu a Flamengo e Guarani deve ter ficado surpreso por esses dois times não estarem na zona do rebaixamento. Ambos são de uma incompetência ofensiva inacreditável. O Flamengo ainda tem chance de se acertar com a dupla Diogo e Deivid, mas o Guarani é candidatíssimo à segundona em 2011. Só pra vocês terem uma ideia: o cérebro do time é o Baiano, aquele mesmo que jogou na lateral-direita do Palmeiras e do Santos. Um time que tem o Baiano como cérebro é, no mínimo, um time muito pouco inteligente.