segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Os minutos finais de Inter e Corinthians não podiam ter sido mais espetaculares. Como já fizera de forma grotesca na semifinal da Libertadores, contra o São Paulo, o goleiro Renan saiu de forma atabalhoada, obrigando o lateral Nei a uma defesa muito mais plástica e difícil que a do uruguaio Suarez no jogo contra Gana. Mas logo depois, uma bela jogada de Alecsandro terminou na falta que fechou o placar. Sorte é algo que precisa ser ajudado pela competência, mas a verdade é que Moacir não tem dado sorte no Corinthians. Depois de fazer aquele pênalti bobo em Juan, no jogo de ida contra o Flamengo pela Libertadores, e amargar um longo período de afastamento que só terminou com a saída do Mano Menezes, ele deu muito azar na cobrança de Andrezinho. Não acho justo afirmar que a bola só entrou porque Moacir desviou de cabeça: Andrezinho bate muito bem daquela distância, e fiquei com a impressão de que, se o Moacir não desvia, Júlio César só ia olhar. Mas aí já é suposição, enquanto o desvio é fato. Duas perguntas: se o Souza estava no banco, e com o time perdendo o técnico põe Danilo no lugar de Iarley, o que faz Souza no banco do Corinthians? Se o Souza não estava no banco, o que faz Souza no elenco do Corinthians? 
O grande zagueiro Mozer iniciava sua carreira, e o técnico do Flamengo era Dino Sani. Não lembro contra quem era o jogo, mas lembro que, logo no começo da partida, uma bola sobrou quicando na intermediária do Flamengo e, em vez de tirar feio, Mozer tentou dar um lençol de calcanhar no atacante adversário. O cara roubou a bola e criou uma confusão danada na área rubro-negra. A jogada não terminou em gol, mas na mesma hora Dino Sani mandou aquecer o zagueiro que estava no banco e substituiu Mozer. Um castigo, uma vergonha e uma lição que o zagueiro levou pro resto da sua bem-sucedida carreira. O técnico Silas deveria ter feito o mesmo com David, depois daquele pênalti estúpido no primeiro gol do Palmeiras. Uma jogada limpa, sem nada na frente para atrapalhar, todo mundo vendo o lance com total clareza, ele vai e puxa a camisa do Tinga. Nem que o juiz quisesse poderia deixar de dar. E foi pênalti sim senhor: David começou a puxar a camisa fora da área, mas Tinga não caiu e continuou no lance. Quando caiu, estava dentro da área. Bem marcado. Além disso, como a jogada não era frontal, até havia chance de terminar em gol, mas uma chance muito menor do que o pênalti. Meu avô gostava de corrida de pombo-correio e não ligava a mínima para futebol. Mas às vezes nos acompanhava nos video-tapes dos jogos, domingo à noite lá em casa, e ele não se conformava com defensor que fazia pênalti. Vovô Bebê dizia que fazer pênalti era uma idiotice completa, porque em noventa por cento das vezes o pênalti representava uma chance de gol muito maior do que a jogada que o originou. Ele estava certíssimo. Pênalti que vale a pena foi o que o lateral Nei, do Inter, fez contra o Corinthians. Nos outros, quase sempre é falsa malandragem. Ou então é burrice mesmo. 
Por falar em pênalti, qual será o mistério do Guarani? A gente sabe que, em qualquer lugar do mundo, os árbitros tendem a, na dúvida, beneficiar os clubes grandes e prejudicar os pequenos. Mas há algo de surpreendente acontecendo com o Guarani. Nas poucas vezes em que vi o time jogar nesse campeonato, achei bem ruinzinho, com exceção do Mazola, um atacante rápido e habilidoso. Entretanto, nos últimos dois jogos o Guarani teve a seu favor dois pênaltis muito marotos. Um contra o São Paulo no meio da semana, o outro contra o Vasco no sábado. Não tenho autoridade pra falar, porque não vi os jogos e pode ser até que os juízes tenham metido a mão no time de Campinas. Mas que é estranho, é. 
O primeiro tempo do Flamengo, no jogo de sábado contra o Palmeiras, foi digno de um time que vem fazendo todos os esforços possíveis para chegar à zona do rebaixamento – o que pode não acontecer na próxima rodada porque o Atlético Goianiense tem um jogo difícil contra o Cruzeiro, mas não deve passar do final de semana. Faltou qualidade, arrumação em campo, velocidade, passe, e faltou algo que a torcida não perdoa e não pode perdoar: vontade. Jaime Agostini defende a tese de que o Estatuto do Torcedor deveria ser bem explícito quanto ao direito de espancar os jogadores que merecessem. No caso do Flamengo do último sábado, seria uma carnificina no Engenhão. Justiça seja feita: calando a boca desse blogueiro, a atuação dos dois técnicos foi fundamental. Percebendo que, para parar o Flamengo bastaria anular Léo Moura, Felipão teve a humildade de pôr Márcio Araújo para marcá-lo individualmente. O Flamengo não andou. Silas não teve humildade suficiente para fazer o mesmo com Valdívia, e deu no que deu. O chileno continua visivelmente fora de forma, mas é óbvio: pega um cara que sabe jogar bola, deixa que ele trabalhe livre, com tempo para dominar, ajeitar, pensar e armar o jogo, nem precisa estar em forma. Aliás, Silas mostrou que gosta de acumular as funções de técnico e inventor: Toró não é primeiro volante, é segundo; Williams não pode jogar de segundo volante, e sim de meia pelo lado direito; Renato Abreu se julga um armador, o que é uma piada, mas fazê-lo cair na real parece simples. Basta pegar qualquer partida do Inter ou do Grêmio, mostrar o D’Alessandro e o Douglas jogando, e perguntar: filho, você faz um terço do que esses dois fazem? Não? Então arruma outro lugar no campo pra jogar. O Flamengo foi mal escalado, mal substituído e só não levou uma sacola porque o Palmeiras se acomodou. Era jogo pra cinco ou seis. 
Gravei Fluminense e Vitória, mas não consegui assistir. Entretanto, duas coisas podem ser ditas. Primeira: como já acontecera no jogo contra o Atlético Mineiro, o goleiro tricolor Rafael falhou novamente numa cobrança de falta. Segunda: Rodriguinho sofreu o pênalti do primeiro gol, fez o gol da vitória, já havia feito dois no Flamengo, sendo um deles um golaço. Isso reforça a tese de que Muricy fez bobagem quando o preteriu na hora de decidir quem seria o segundo atacante com a contusão do Emerson. Inventou, encheu o meio-campo, deslocou Conca pra frente, e ajudou o Fluminense a perder pontos que podem fazer falta lá no final. Rodriguinho não é, nem de longe, tão bom quanto Emerson. Mas era só botar o cara pra jogar e manter o resto do time, que estava redondo. Mais uma vez, vale um dos mandamentos do blog: técnico bom é o que não atrapalha. 
Os quatro a um do Santos no Cruzeiro foram tão enganosos quanto os cinco a um do Fluminense no Atlético Mineiro, comentados na última sexta-feira. O jogo estava indefinido até os quarenta e três do segundo tempo, quando Alex Sandro fez o terceiro e matou a partida. Pouco depois, Neymar fez o quarto e fechou a tampa. O gol de Alex Sandro foi um primor. A imprensa esportiva que nunca chutou uma bola na vida costuma achar maravilhoso qualquer gol feito por cobertura. Muitas vezes, o goleiro se precipita tanto na saída que fazer o gol fica a coisa mais fácil do mundo. O de Alex Sandro não foi não. Começou com um passe de letra do Neymar, depois teve uma meia-lua do Alex Sandro no Elicarlos e acabou com o complemento sob medida. Fábio ameaçou sair, recuou, e Alex Sandro ficou com um espaço relativamente pequeno para encobrir o goleiro e fazer a bola morrer nas redes. Ousou e conseguiu. Golaço. 
Depois de Neymar, André, Wesley e Ganso, o Santos apresenta mais um jogador de muito futuro: o goleiro Rafael. Ele tem uma característica que o torna diferente de quase todos os nossos goleiros: não foge da responsabilidade. É certo que, de algum tempo pra cá, o nível dos goleiros brasileiros melhorou bastante, mas eles continuam com medo de sair do gol, preferindo deixar a responsa com os zagueiros. Rafael é diferente. Quando o atacante entra livre na área, ele nem quer saber: parte pra cima, e é claro que isso surpreende e assusta. Fez isso com Bruno César, no jogo com o Corinthians, e duas vezes no jogo de sábado contra o Cruzeiro, uma com Thiago Ribeiro e outra com Montillo. Fosse outro goleiro, ia sair meio de mansinho, o atacante ia escolher o canto e depois todo mundo ia dizer: ah, o cara entrou livre, não dava pra fazer nada. Rafael está provando que, muitas vezes, dá pra fazer alguma coisa sim. Para encerrar por hoje: Montillo joga demais e o que o Neymar faz com a bola é absolutamente espantoso. Sobretudo porque ele faz sempre em velocidade e em direção ao gol.

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