sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Neymar e a responsabilidade da imprensa. 
Acho curioso como, em diversas situações, a nossa imprensa esportiva se parece com nossos governos. Como disse o ex-ministro Rubens Ricúpero – e Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, transformou na letra de “Militando na contrainformação” – o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde. 
Neymar é absurdamente talentoso e a maior promessa de craque surgida no futebol brasileiro desde Ronaldinho Gaúcho. Isso ninguém discute. Mas existe, na imprensa esportiva brasileira, um considerável contingente de jornalistas saudosistas e adeptos de um tal futebol-arte que eu não sei bem o que é, e esse pessoal acaba confundindo tudo. 
Pra começar: na década de setenta, o que se jogava no Brasil era futebol-arte? Tá, ok, mas foi na década de setenta que eu tive o desprazer de ir ao Maracanã torcer por um ataque do Flamengo formado por Buião, Adãozinho, Michila e Caldeira. Saudosismo é uma praga, e não vamos nos iludir: na década de setenta havia times bons e ruins, havia futebol bem e mal jogado, havia jogos excelentes e péssimos. Como nunca deixou de ser. A diferença – crucial, reconheço – é que não havia o êxodo de jogadores que há hoje, e os talentos ficavam por aqui mesmo. Claro que o talento precisa e merece ser reconhecido e reverenciado, sempre. Portanto, no caso Neymar, nada contra o talento. Mas tudo contra a incoerência que a imprensa revela agora. 
Quando alguém alertava que, em jogo entre profissionais, não se dá lençol em ninguém depois que o juiz paralisou a jogada, lá vinha a tropa de choque do futebol-arte: ah, isso é inveja de quem não sabe fazer. Quando alguém falava que é ridículo jogar com aquela golinha da camisa levantada, de novo: ah, coisas da idade, deixa o garoto. Quando alguém dizia que comemorar gol com dancinhas é um desrespeito ao adversário, lá vinham eles: que nada, futebol é alegria, gol é o momento mágico, esse é o jeito da molecada extravasar. 
Agora ficam todos aí, posando de educadores e recomendando psicólogos, treinadores que exerçam a disciplina, famílias estruturadas etc. Tudo isso seria ótimo. Mas ajudaria bastante se tivéssemos uma imprensa esportiva mais responsável, mais coerente e, sobretudo, que entendesse um pouco mais das entrelinhas do jogo e não confundisse talento e malícia com molecagem e provocação.

3 comentários:

  1. concordo com quase tudo. também acho q gola levantada é o caralho. coisa de juvenil peladeiro. quer dar lençol com bola parada? pode dar. quer dar rolinho, pedalada, fazer passe de bunda? tem mais é que fazer. mas depois o aço vai chegar. e não faz cara de choro quando tomar a bota. agora, não quer ver dancinha na comemoração do gol? é muito simples: não toma gol, filhodumaputa.

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  2. Jaime, é o seguinte: eu nunca vi o Pelé fazer gol e mandar a torcida adversária calar a boca. Eu nunca vi o Zidane fazer gol e comemorar com a dança da galinha. Tostão, Ademir da Guia, Zico, Falcão, Raí, eu nunca vi nenhum desses caras fazer embaixadinha com o placar apontando quatro a zero a favor. Acho que já escrevi isso no blog: se numa pelada de segunda à noite, qualquer um de nós esquenta a cabeça quando um adversário começa de gracinha, imagine num clássico com estádio lotado e o país inteiro assistindo. De qualquer modo, esse último post é, mais do que qualquer outra coisa, uma sequência da conversa de ontem sobre o “trauma” do PVC. Na maioria dos casos, quem escreve e fala sobre futebol no jornal e na TV nunca chutou uma bola na vida. Não sabe o que é estar empatando uma pelada em três a três e tomar o gol decisivo porque o zagueiro decidiu brincar na área. Não tem ideia de como é enervante estar perdendo por quatro a zero e ver os caras do outro lado tirando uma. Sem entender o que eu chamei no post de “entrelinhas” do futebol, as análises e comentários desses falsos especialistas viram um festival de asneiras. Em relação à nossa discordância quanto à dancinha, pra mim deveria ser regra: gol só pode ser comemorado como Pelé e o time do Santos faziam. Socos no ar e abraços formando uma pirâmide. Se não for assim, cartao amarelo.
    Abraço.

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  3. Concordo com você Murta. Acho que a imprensa esportiva não tem coerencia e são os pivos e criadores de grande parte das polêmicas no futebol. Criando boatos e fazendo comparações absurdas.
    Acho q a imprensa deveria apenas noticiar os fatos, e deixar os torcedores fazerem suas proprias analises.

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