quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Muricy assumiu o Corinthians?
Mesmo quando não vence, o Corinthians costuma se apresentar bem. Foi assim contra o Inter, naquele segundo tempo de arrepiar, foi assim contra o Grêmio, quando Iarley perdeu três chances inacreditáveis, tem sido assim. Mas ontem, contra o Botafogo, o time foi mal. No segundo tempo então, parecia que o técnico era o Muricy: bola aberta na lateral e tome cruzamento. Teve uma grande chance com Paulinho, mas ele ficou indeciso na hora da conclusão e acabou praticamente atrasando para o goleiro Jefferson. A defesa também não se mostrou firme. Houve desfalques, mas o Campeonato Brasileiro é desse jeito. Não há quem jogue completo, não há quem repita escalação. No gol do Botafogo, Loco Abreu sequer precisou pular pra cabecear. Ou seja: não teve nada a ver com altura, impulsão etc. Foi erro de marcação puro e simples, e apenas repetiu uma jogada que acontecera poucos minutos antes, numa cobrança de escanteio. Completamente livre, Loco Abreu dominou no peito e deu uma paulada que resvalou no travessão antes de sair. Embora sem criar muitas oportunidades, o Botafogo me pareceu melhor. E teve a bola do jogo no último lance, infantilmente desperdiçada por Caio. Pergunto aos amigos corintianos que, obviamente, acompanham o time com mais constância que eu: é impressão minha ou Roberto Carlos tem jogado com o freio de mão puxado? 
Apesar dos rios, cachoeiras e cascatas, frutos, pássaros e matas, devemos desconfiar de jogadores jovens que retornam ao Brasil. O cara vem ganhar menos, vem jogar mais, vem encarar gramados horrorosos, vem ser mais cobrado do que é lá fora. Qual é a vantagem? Quando saiu daqui, o goleiro Renan brilhava no Internacional, mas ainda não tinha uma carreira consolidada. Agora voltou, e voltou mal à beça. No jogo em que reestreou, contra o Flamengo no Beira-Rio, achei estranha sua insegurança em bolas fáceis. Depois disso, já o vi cometer uma série de erros infantis. Marcos Assunção é, sem favor algum, um dos melhores chutadores do nosso futebol, mas os dois gols de falta que Renan tomou ontem simplesmente não existem. O segundo, então, foi um absurdo pela distância. O Palmeiras continua dependendo da garra do Kléber e das bolas paradas de Marcos Assunção. Ainda é pouco, mas o time começa a subir e continuo achando que vai terminar o campeonato bem melhor do que quando começou. 
O gol de Montillo contra o Atlético Goianiense foi uma dessas coisas que faz qualquer neófito achar que jogar futebol é fácil. Aliás, quase tudo que o Montillo faz em campo é assim. Vi o meia argentino jogar várias vezes na última Libertadores, gostei, mas no Cruzeiro ele tem me impressionado ainda mais. Movimentação, habilidade, visão de jogo. Faz gols e vive largando os atacantes na cara do gol. Montillo esteve pra vir para o Flamengo, mas não houve acerto de grana. Ainda bem que nós temos o Renato Abreu para armar nossas jogadas. 
Não vi o jogo do Fluminense, mas o time parece ter aproveitado o exagerado placar de cinco a um sobre o Altético Mineiro pra voltar a embalar. Ganhou do Vitória lá na Bahia, o que nunca é moleza, e na rodada de ontem retomou a liderança de verdade, independentemente do resultado do jogo adiado do Corinthians. O magro um a zero sobre o Avaí, em casa, revela que o jogo não deve ter sido fácil, mas é bom todo mundo se acostumar: se já não eram muito comuns, jogos fáceis daqui em diante serão verdadeiras raridades.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Flamengo e Goiás fizeram um jogo de quem tá doido pra cair.
O Campeonato Brasileiro é feito de ciclos e momentos. Às vezes um clube vem mais ou menos, pega duas ou três rodadas favoráveis, ganha os jogos, ganha moral e embala. Às vezes acontece o contrário. Eu não tenho a menor dúvida de que, nesse momento, a pior equipe do Brasileirão é a do Flamengo. O time está dando uma sorte danada, porque os outros candidatos ao rebaixamento também não conseguem crescer na tabela. Só que não há time de futebol que consiga dar sorte no campeonato inteiro, e uma hora dessas o caldo vai entornar. Como o elenco do Flamengo está longe de ser o pior da competição, me parece que o fato do time ser o pior em campo deixa evidente uma crise de comando. E aí não tem remédio: troque-se o comandante. Ah, mas o time vai ter três técnicos no mesmo campeonato? Dane-se. Isso não é bom, mas paciência. O Corinthians teve três treinadores em 2005 e foi campeão. É necessária uma sacudidela das boas – que nem a de Joel Santana em 2007 – e é óbvio que, esta sacudidela, Silas não deu. 
Qualquer rubro-negro que tenha assistido ao jogo de ontem desde o início sabia que, em algum momento, a zaga ia entregar o ouro. Jean e David faziam bobagens, corriam riscos e se enrolavam nas jogadas mais simples. E como o Goiás não demonstrava a menor competência ofensiva, Jean foi lá e resolveu. Fazer gol contra acontece com qualquer um. Fazer gol contra daquele jeito acontece com zagueiro ruim, sem colocação, sem tempo de bola, sem visão de jogo. Aquele lance morreria tranquilamente nas mãos do Marcelo Lomba ou nos pés do Léo Moura, pois o Rafael Moura vinha bem mais atrás. Falar em Rafael Moura, pela segunda vez o Flamengo é salvo por uma expulsão adversária. Contra o Grêmio Prudente, o jogo mudou com o cartão vermelho do Adriano Pimenta; ontem, foi a vez do Rafael Moura. Entrar ou sair da zona do rebaixamento, agora, não faz muita diferença. A mídia cria uma onda gigantesca sobre o assunto e todo mundo embarca – até nós, que vivemos justamente da mídia. Nesse momento, o problema não é a posição em que o Flamengo começa ou termina a rodada. O problema é a bolinha ridícula que vem jogando e o lugar nenhum a que o time pode chegar. 
Ao lado de Léo Moura e Marcelo Lomba, Williams era um dos três únicos jogadores do Flamengo a fazer um bom Campeonato Brasileiro. Até que Mano Menezes acompanhou dois jogos do time e alguém inventou que Williams poderia ser convocado. Nunca mais jogou nada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Os minutos finais de Inter e Corinthians não podiam ter sido mais espetaculares. Como já fizera de forma grotesca na semifinal da Libertadores, contra o São Paulo, o goleiro Renan saiu de forma atabalhoada, obrigando o lateral Nei a uma defesa muito mais plástica e difícil que a do uruguaio Suarez no jogo contra Gana. Mas logo depois, uma bela jogada de Alecsandro terminou na falta que fechou o placar. Sorte é algo que precisa ser ajudado pela competência, mas a verdade é que Moacir não tem dado sorte no Corinthians. Depois de fazer aquele pênalti bobo em Juan, no jogo de ida contra o Flamengo pela Libertadores, e amargar um longo período de afastamento que só terminou com a saída do Mano Menezes, ele deu muito azar na cobrança de Andrezinho. Não acho justo afirmar que a bola só entrou porque Moacir desviou de cabeça: Andrezinho bate muito bem daquela distância, e fiquei com a impressão de que, se o Moacir não desvia, Júlio César só ia olhar. Mas aí já é suposição, enquanto o desvio é fato. Duas perguntas: se o Souza estava no banco, e com o time perdendo o técnico põe Danilo no lugar de Iarley, o que faz Souza no banco do Corinthians? Se o Souza não estava no banco, o que faz Souza no elenco do Corinthians? 
O grande zagueiro Mozer iniciava sua carreira, e o técnico do Flamengo era Dino Sani. Não lembro contra quem era o jogo, mas lembro que, logo no começo da partida, uma bola sobrou quicando na intermediária do Flamengo e, em vez de tirar feio, Mozer tentou dar um lençol de calcanhar no atacante adversário. O cara roubou a bola e criou uma confusão danada na área rubro-negra. A jogada não terminou em gol, mas na mesma hora Dino Sani mandou aquecer o zagueiro que estava no banco e substituiu Mozer. Um castigo, uma vergonha e uma lição que o zagueiro levou pro resto da sua bem-sucedida carreira. O técnico Silas deveria ter feito o mesmo com David, depois daquele pênalti estúpido no primeiro gol do Palmeiras. Uma jogada limpa, sem nada na frente para atrapalhar, todo mundo vendo o lance com total clareza, ele vai e puxa a camisa do Tinga. Nem que o juiz quisesse poderia deixar de dar. E foi pênalti sim senhor: David começou a puxar a camisa fora da área, mas Tinga não caiu e continuou no lance. Quando caiu, estava dentro da área. Bem marcado. Além disso, como a jogada não era frontal, até havia chance de terminar em gol, mas uma chance muito menor do que o pênalti. Meu avô gostava de corrida de pombo-correio e não ligava a mínima para futebol. Mas às vezes nos acompanhava nos video-tapes dos jogos, domingo à noite lá em casa, e ele não se conformava com defensor que fazia pênalti. Vovô Bebê dizia que fazer pênalti era uma idiotice completa, porque em noventa por cento das vezes o pênalti representava uma chance de gol muito maior do que a jogada que o originou. Ele estava certíssimo. Pênalti que vale a pena foi o que o lateral Nei, do Inter, fez contra o Corinthians. Nos outros, quase sempre é falsa malandragem. Ou então é burrice mesmo. 
Por falar em pênalti, qual será o mistério do Guarani? A gente sabe que, em qualquer lugar do mundo, os árbitros tendem a, na dúvida, beneficiar os clubes grandes e prejudicar os pequenos. Mas há algo de surpreendente acontecendo com o Guarani. Nas poucas vezes em que vi o time jogar nesse campeonato, achei bem ruinzinho, com exceção do Mazola, um atacante rápido e habilidoso. Entretanto, nos últimos dois jogos o Guarani teve a seu favor dois pênaltis muito marotos. Um contra o São Paulo no meio da semana, o outro contra o Vasco no sábado. Não tenho autoridade pra falar, porque não vi os jogos e pode ser até que os juízes tenham metido a mão no time de Campinas. Mas que é estranho, é. 
O primeiro tempo do Flamengo, no jogo de sábado contra o Palmeiras, foi digno de um time que vem fazendo todos os esforços possíveis para chegar à zona do rebaixamento – o que pode não acontecer na próxima rodada porque o Atlético Goianiense tem um jogo difícil contra o Cruzeiro, mas não deve passar do final de semana. Faltou qualidade, arrumação em campo, velocidade, passe, e faltou algo que a torcida não perdoa e não pode perdoar: vontade. Jaime Agostini defende a tese de que o Estatuto do Torcedor deveria ser bem explícito quanto ao direito de espancar os jogadores que merecessem. No caso do Flamengo do último sábado, seria uma carnificina no Engenhão. Justiça seja feita: calando a boca desse blogueiro, a atuação dos dois técnicos foi fundamental. Percebendo que, para parar o Flamengo bastaria anular Léo Moura, Felipão teve a humildade de pôr Márcio Araújo para marcá-lo individualmente. O Flamengo não andou. Silas não teve humildade suficiente para fazer o mesmo com Valdívia, e deu no que deu. O chileno continua visivelmente fora de forma, mas é óbvio: pega um cara que sabe jogar bola, deixa que ele trabalhe livre, com tempo para dominar, ajeitar, pensar e armar o jogo, nem precisa estar em forma. Aliás, Silas mostrou que gosta de acumular as funções de técnico e inventor: Toró não é primeiro volante, é segundo; Williams não pode jogar de segundo volante, e sim de meia pelo lado direito; Renato Abreu se julga um armador, o que é uma piada, mas fazê-lo cair na real parece simples. Basta pegar qualquer partida do Inter ou do Grêmio, mostrar o D’Alessandro e o Douglas jogando, e perguntar: filho, você faz um terço do que esses dois fazem? Não? Então arruma outro lugar no campo pra jogar. O Flamengo foi mal escalado, mal substituído e só não levou uma sacola porque o Palmeiras se acomodou. Era jogo pra cinco ou seis. 
Gravei Fluminense e Vitória, mas não consegui assistir. Entretanto, duas coisas podem ser ditas. Primeira: como já acontecera no jogo contra o Atlético Mineiro, o goleiro tricolor Rafael falhou novamente numa cobrança de falta. Segunda: Rodriguinho sofreu o pênalti do primeiro gol, fez o gol da vitória, já havia feito dois no Flamengo, sendo um deles um golaço. Isso reforça a tese de que Muricy fez bobagem quando o preteriu na hora de decidir quem seria o segundo atacante com a contusão do Emerson. Inventou, encheu o meio-campo, deslocou Conca pra frente, e ajudou o Fluminense a perder pontos que podem fazer falta lá no final. Rodriguinho não é, nem de longe, tão bom quanto Emerson. Mas era só botar o cara pra jogar e manter o resto do time, que estava redondo. Mais uma vez, vale um dos mandamentos do blog: técnico bom é o que não atrapalha. 
Os quatro a um do Santos no Cruzeiro foram tão enganosos quanto os cinco a um do Fluminense no Atlético Mineiro, comentados na última sexta-feira. O jogo estava indefinido até os quarenta e três do segundo tempo, quando Alex Sandro fez o terceiro e matou a partida. Pouco depois, Neymar fez o quarto e fechou a tampa. O gol de Alex Sandro foi um primor. A imprensa esportiva que nunca chutou uma bola na vida costuma achar maravilhoso qualquer gol feito por cobertura. Muitas vezes, o goleiro se precipita tanto na saída que fazer o gol fica a coisa mais fácil do mundo. O de Alex Sandro não foi não. Começou com um passe de letra do Neymar, depois teve uma meia-lua do Alex Sandro no Elicarlos e acabou com o complemento sob medida. Fábio ameaçou sair, recuou, e Alex Sandro ficou com um espaço relativamente pequeno para encobrir o goleiro e fazer a bola morrer nas redes. Ousou e conseguiu. Golaço. 
Depois de Neymar, André, Wesley e Ganso, o Santos apresenta mais um jogador de muito futuro: o goleiro Rafael. Ele tem uma característica que o torna diferente de quase todos os nossos goleiros: não foge da responsabilidade. É certo que, de algum tempo pra cá, o nível dos goleiros brasileiros melhorou bastante, mas eles continuam com medo de sair do gol, preferindo deixar a responsa com os zagueiros. Rafael é diferente. Quando o atacante entra livre na área, ele nem quer saber: parte pra cima, e é claro que isso surpreende e assusta. Fez isso com Bruno César, no jogo com o Corinthians, e duas vezes no jogo de sábado contra o Cruzeiro, uma com Thiago Ribeiro e outra com Montillo. Fosse outro goleiro, ia sair meio de mansinho, o atacante ia escolher o canto e depois todo mundo ia dizer: ah, o cara entrou livre, não dava pra fazer nada. Rafael está provando que, muitas vezes, dá pra fazer alguma coisa sim. Para encerrar por hoje: Montillo joga demais e o que o Neymar faz com a bola é absolutamente espantoso. Sobretudo porque ele faz sempre em velocidade e em direção ao gol.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Começou a esquentar.
A questão não é que todo mundo esteja jogando a favor do Corinthians. A questão é que, num campeonato tão equilibrado como esse, em que é normal ganhar e perder, subir e descer, se um time se mantém forte e estável, ele dispara. Abrindo o leque e considerando que os cinco primeiros na tabela são candidatos ao título, na rodada do último final de semana só o Inter venceu – além do Corinthians, claro. Já no meio da semana, Fluminense e Cruzeiro também ganharam, mas aí quem perdeu foi o Inter. Ou seja: enquanto um tropeça aqui e outro ali, o Corinthians abre a vantagem. Ainda não estamos na reta final, que só começa de verdade na trigésima rodada, mas já nesse domingo o Corinthians tem, diante do Inter em Porto Alegre, a chance de conquistar uma das que o PVC chama de “vitórias improváveis” que levam ao título. É parada dura e tem tudo para ser um jogaço. Se der Inter, o time gaúcho mostra cacife pra brigar até o fim; se der Corinthians, vai ficar difícil segurar a equipe de Adílson Batista, mesmo que ainda falte tanta água pra rolar. 
Contra o Santos, o Corinthians mostrou novamente o que tem sido sua marca característica: a consistência. Mesmo nos momentos em que é dominado, o time consegue segurar a bronca, não deixa o adversário matar o jogo e se recupera. E a maior força é mesmo a do conjunto. Tem gente jogando o fino, principalmente Jucilei e Elias, mas é um time em que sai um, entra outro, e a pegada não muda. Já o Santos, hoje uma equipe bem diferente daquela do primeiro semestre, teve que encarar a rebordosa da crise entre Neymar e Dorival Jr. Era um desses jogos que poderiam ajudar a embolar o campeonato, mas os santistas cometeram tantas besteiras administrativas que ficou difícil não entregar o ouro. Fizeram um a zero, fizeram dois a um, e não deu outra: entregaram. 
O Flamengo fez, contra o Grêmio em Porto Alegre, sua melhor partida no segundo turno, embora ainda distante de ter feito uma grande partida. Teve equilíbrio, procurou manter a posse de bola, abriu o jogo pelas pontas e contou com mais uma boa atuação do goleiro Marcelo Lomba. Léo Moura jogou muito e Diogo mostrou que pode ser bastante útil. O problema é que todos os ataques pararam nos pés do Deivid. Val Baiano fez falta. Além disso, o time tem sofrido da síndrome do cobertor curto: quando a defesa estava firme, o ataque não marcava; agora que o ataque faz seus golzinhos (foram nove nos últimos quatro jogos), a defesa virou uma peneira. Dos cinco gols que o time levou contra Fluminense e Grêmio, três foram idênticos: bola parada levantada na área, um desvio na primeira trave e o complemento mortal. Falta ao Flamengo o que tem sobrado no Corinthians: a bendita consistência. 
Parece que certos jogadores entram em campo com uma vontade irrefreável de fazer bobagem. O Vasco, cheio de empates na tabela e precisando muito da vitória sobre o Botafogo para se aproximar da turma da frente, vencia por dois a um, tinha um a mais (Herrera fora expulso) e o relógio já passara dos quarenta do segundo tempo. Aí o Botafogo levanta uma bola despretensiosa na área, o tal do Titi sobe todo desajeitado e mete a mão, de graça. Pênalti, Loco Abreu bate, barbante. PC Gusmão deveria dar uma de Dorival Jr., chamar Titi no canto e decretar: filho, você tá de castigo. Quinze dias sem jogar. 
Um olhar simplista sobre um jogo que termina cinco a um vai chegar às conclusões óbvias que a gente lê nos jornais ou assiste na tevê. Massacre, passeio, show de bola, etc. Fora o placar, Fluminense e Atlético Mineiro não foi exatamente isso. É bem verdade que o tricolor sempre teve a partida sob controle, mas as coisas só se resolveram com a expulsão do volante atleticano Alê, aos dezoito do segundo tempo. Aí sim: com um a mais em campo, contra um adversário entregue e desesperado, ficou fácil fazer o terceiro, o quarto e o quinto. De um jeito ou de outro, o resultado mantém o Flu na briga e levanta o astral do time, que andava meio derrubado. 
Vanderlei Luxemburgo, assim como seu colega Leão, segue firme em sua descida rumo ao ostracismo. Sua passagem pelo comando do Atlético foi patética, deixando o time durante quinze rodadas na zona do rebaixamento e com uma defesa que atingiu, no jogo de ontem, a inacreditável marca de quarenta e cinco gols sofridos. É uma pena ver o mais talentoso dos treinadores brasileiros perder a mão de vez, mas serve de punição por sua opção clara pelo business, ao trocar a vontade de ganhar dentro de campo pela gana de ganhar cada vez mais fora dele.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Caso Neymar: um festival de lambanças. 
Você acha que o Neymar ganhou a queda-de-braço com Dorival Júnior? Pois eu acho que quem ganhou foram seus empresários. 
Na revista Piauí de outubro de 2007, há uma longa matéria sobre o agente da FIFA Wagner Ribeiro.* Fala da venda do Kaká, da venda do Robinho, da briga do agente com Leão, no Corinthians, por causa do Lulinha – e que acabou provocando a saída do técnico, exatamente como aconteceu agora. E fala sobre o Neymar, então com quinze anos. Ali a gente percebe claramente quem é que manda de verdade no atual futebol brasileiro.
Evidente que, nessa história, todo mundo errou. 
Neymar não poderia ter feito o que fez. Jogador de futebol, quando é bom e fominha, quer bater todos os pênaltis, todas as faltas, todos os laterais e todos os tiros de meta. Mas se o técnico disser que não, pode amarrar a cara, fazer beicinho, não dormir à noite, mas tem que segurar a onda. Claro que não é o único, mas um dos problemas do Neymar é que, ao ser incentivado no desrespeito aos jogadores e torcedores adversários, em nome do “futebol-arte” (ver post da última sexta-feira), ele extrapolou e passou a achar natural desrespeitar o técnico, os colegas de time e até os torcedores do Santos. 
Dorival Júnior também errou, por transformar um problema disciplinar grave numa briga quase que pessoal, além de tentar dar ao país uma declaração explícita de que “quem manda aqui sou eu”. Não entendo exatamente de que forma o Neymar seria punido com o afastamento no jogo contra o Corinthians. Na verdade, os maiores punidos com essa decisão seriam o Fluminense, o Cruzeiro e o Inter, além do próprio Santos. Um belo desconto no salário, por sinal anunciado pela diretoria santista, seria mais do que suficiente. Na entrevista coletiva após o episódio da semana passada, Dorival Júnior declarou que “treinador de futebol é, acima de tudo, um gerenciador de problemas”. Concordo plenamente, só acho que, esse aí, ele não soube gerenciar não. 
Ao demitir o treinador, a diretoria do Santos talvez tenha cometido o pior de todos os erros. É a bagunça tolerada, autorizada, oficializada. Mesmo que Dorival Júnior tenha ultrapassado os limites hierárquicos da sua função, como o Santos afirma na nota oficial, a decisão abençoa os desatinos de Neymar e, indiretamente, pode fazer muito mal ao futuro do jogador. 
Finalmente, um recado pra torcida do São Paulo: Dorival Júnior parece mesmo ser bom técnico, principalmente por ter compreendido o que tinha nas mãos no início do ano e ter feito a parte que lhe cabia para aquele time ser tão espetacular. Ok. Mas não pensem que, com Dorival Júnior no comando, o Jorge Wagner vai jogar tanto quanto o Ganso, o Marlos quanto o Robinho e o Fernandão quanto o Neymar. 
Treinador treina. Quem joga é o time. 
* http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_13/artigo_377/O_agente_globalizado.aspx

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Se vai ganhar a Copa, não sei. Mas o cara conhece.
O Mano Menezes que eu queria ver há pouco mais de um mês no "Bem, Amigos!", mas Galvão Bueno, Jô Soares e Ivan Lins me forçaram a desistir, vi ontem no "Roda Viva". O cara é um excelente entrevistado. Conhece profundamente o assunto, organiza bem o pensamento, fala com clareza e ainda teve paciência com a Marília Gabriela, que provou estar à altura da nossa imprensa especializada: não sabe nada de futebol. Fiquei feliz, também, por ver o Mano defender alguns raciocínios que já foram abordados aqui no blog, ou no mínimo em conversas com a rapaziada. 
Quando o jornalista Paulo Moreira Leite, com seu jeitão de maestro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, insinuou que Zagalo não fizera nada na seleção de setenta, Mano e Mauro Betting (de quem eu gosto) rebateram na hora. Mano aproveitou pra dizer que aquele foi o melhor time de futebol que ele já viu jogar, inclusive com conceitos táticos que servem de referência até hoje. 
Questionado sobre uma possível diferença de tratamento para Ronaldo, no Corinthians, confirmou que havia sim, e que, se você pegar um jogador cheio de conquistas e outro que ainda está começando, é normal e recomendável que o tratamento seja diferente. 
Quando Michel Laurence perguntou se ele não achava que Dunga poderia ter ligado para o Fenômeno seis meses antes da Copa, pra dizer que contava com ele e estimulá-lo, Mano deixou claro que esse não é o papel do treinador da seleção brasileira. Ao contrário: Ronaldo é que precisaria ter arrebentado nos jogos e treinamentos, para mostrar a Dunga e ao país inteiro que não podia deixar de ser convocado. 
E quando Mauro Betting brincou com o esquema tático de Mano no Corinthians, o falso quatro-três-três que era, na verdade, quatro-cinco-um (por sinal, muito parecido com o Flamengo dos anos oitenta), Mano riu, concordou e tirou uma, dizendo que, enquanto os jornalistas esportivos continuarem mais preocupados com as fofocas do que com o jogo, sempre será fácil dizer pra eles que aquilo era quatro-três-três. Em outras palavras: é fácil enrolar jornalista esportivo, porque ele não entende nada do que acontece dentro de um campo de futebol. 
Mano admitiu, ainda, que o Corinthians de Adílson Batista está mais rápido do que quando ele deixou o clube. Deu um baile. Poderia ter havido um pouco mais de provocação por parte dos jornalistas. Por exemplo: como ele explica o fato de alguns técnicos, inclusive ele, ganharem trezentos, quatrocentos, quinhentos mil reais por mês e perderem um campeonato brasileiro para um técnico que assumiu o time campeão ganhando quinze? Outro: depois de tanto planejamento, tanto sonho sonhado e tanto dinheiro investido, como ele explica a eliminação na Libertadores para o time que, naquele momento, melhor traduzia o conceito de esculhambação? Faltaram algumas coisinhas, mas foi um programa bem bacana. Merecia continuação.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pílulas do final de semana. 
O primeiro tempo de São Paulo e Palmeiras foi bastante amarrado, e o que houve de mais emocionante foi a expulsão de Luís Felipe Scolari. Muito barulho por nada. O São Paulo entrou com uma volantada danada e o Palmeiras deixou claro que, sem o Kléber em campo, a esperança fica por conta das bolas paradas do Marcos Assunção. Mas não dá pra querer que o cara faça gol de falta em todos os jogos. De qualquer modo, como Felipão transformou o Campeonato Brasileiro numa peneira, em que ele vai observar os jogadores para montar o elenco pro ano que vem, parece que o Palmeiras já se resignou a apenas cumprir tabela. Discordo do técnico e desconfio que Felipão vem jogando pra valorizar seu trabalho. Na minha opinião, o time não está a uma distância tão grande dos outros – vai dizer que o elenco do Botafogo é melhor que o do Palmeiras? – e poderia ter um pouco mais de ambição. Pena. Com a volta de Alex Silva, dando à defesa a segurança que sumira, e o talento de Lucas, que mais uma vez ganhou o jogo sozinho, o São Paulo pode crescer. Pra quem só pensa em Libertadores, e como esse ano existe a possibilidade de garantir a vaga chegando em sexto lugar, até dá. Mas sexto lugar pro São Paulo é muito pouco, não? 
A rodada deixou a impressão de que começa a acontecer com o Corinthians o mesmo que aconteceu com o São Paulo nas temporadas do tricampeonato, quando o tricolor seguia vencendo e os outros se comiam uns aos outos. Dos times que ocupam as seis primeiras colocações, só Corinthians e Inter ganharam. Santos empatou com Guarani, Fluminense empatou com Flamengo, Botafogo e Cruzeiro empataram entre si. Contra o Grêmio Prudente, o Corinthians só correu risco no comecinho da partida, numa bola cruzada que o centroavante Hugo cabeceou pra fora quase da pequena área. Mas foi o tipo do jogo que, mesmo se tivesse tomado o gol naquele momento, o Corinthians certamente viraria e chegaria à vitória. Elias e Paulinho jogaram muito. E apesar do time não ser espetacular, já que sequer é tão bom quanto o do primeiro semestre do ano passado, quem quiser ganhar do Corinthians vai ter que jogar muito também. 
O clássico carioca, estranhamente disputado no Engenhão – é muito estranho ver um Fla-Flu em outro estádio que não o Maracanã –, deixou claro que a principal diferença entre os dois times está no condicionamento físico. Mesmo muito desfalcado, tendo que correr atrás do placar em duas oportunidades e trocando apenas um jogador na partida inteira, o Fluminense acabou inteiro. Já o Flamengo, praticamente completo (só Juan não jogou), fez as três substituições possíveis e, ainda assim, acabou com pelo menos três jogadores com a língua lambendo o gramado: Léo Moura, Renato e Deivid. Este último, que fez seu primeiro gol com a camisa rubro-negra, merece um comentário à parte. Pode ser que eu me engane, e tomara que eu me engane, mas tá difícil acreditar que ele ainda vá ser o atacante que a torcida do Flamengo imaginou que ele seria. Pior que isso: que o Zico garantiu que ele seria. A falta de dinheiro reinante no futebol brasileiro tem provocado esse problema: nossos times vêm contratando jogadores pelo que eles já fizeram, e não pelo que eles estão fazendo. E o futebol é implacável: nele, o passado não conta. 
Existe alguma coisa mais esquisita do que a Libertadores? Existe: a Copa Sul-Americana. Na última quinta-feira, o time uruguaio do Defensor, que é muito do mais ou menos, derrotou o peruano Sport Huancayo por nove a zero.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Neymar e a responsabilidade da imprensa. 
Acho curioso como, em diversas situações, a nossa imprensa esportiva se parece com nossos governos. Como disse o ex-ministro Rubens Ricúpero – e Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, transformou na letra de “Militando na contrainformação” – o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde. 
Neymar é absurdamente talentoso e a maior promessa de craque surgida no futebol brasileiro desde Ronaldinho Gaúcho. Isso ninguém discute. Mas existe, na imprensa esportiva brasileira, um considerável contingente de jornalistas saudosistas e adeptos de um tal futebol-arte que eu não sei bem o que é, e esse pessoal acaba confundindo tudo. 
Pra começar: na década de setenta, o que se jogava no Brasil era futebol-arte? Tá, ok, mas foi na década de setenta que eu tive o desprazer de ir ao Maracanã torcer por um ataque do Flamengo formado por Buião, Adãozinho, Michila e Caldeira. Saudosismo é uma praga, e não vamos nos iludir: na década de setenta havia times bons e ruins, havia futebol bem e mal jogado, havia jogos excelentes e péssimos. Como nunca deixou de ser. A diferença – crucial, reconheço – é que não havia o êxodo de jogadores que há hoje, e os talentos ficavam por aqui mesmo. Claro que o talento precisa e merece ser reconhecido e reverenciado, sempre. Portanto, no caso Neymar, nada contra o talento. Mas tudo contra a incoerência que a imprensa revela agora. 
Quando alguém alertava que, em jogo entre profissionais, não se dá lençol em ninguém depois que o juiz paralisou a jogada, lá vinha a tropa de choque do futebol-arte: ah, isso é inveja de quem não sabe fazer. Quando alguém falava que é ridículo jogar com aquela golinha da camisa levantada, de novo: ah, coisas da idade, deixa o garoto. Quando alguém dizia que comemorar gol com dancinhas é um desrespeito ao adversário, lá vinham eles: que nada, futebol é alegria, gol é o momento mágico, esse é o jeito da molecada extravasar. 
Agora ficam todos aí, posando de educadores e recomendando psicólogos, treinadores que exerçam a disciplina, famílias estruturadas etc. Tudo isso seria ótimo. Mas ajudaria bastante se tivéssemos uma imprensa esportiva mais responsável, mais coerente e, sobretudo, que entendesse um pouco mais das entrelinhas do jogo e não confundisse talento e malícia com molecagem e provocação.
Calma, gente. Ainda tem muita coisa para acontecer.
No ano passado, bombardeado nas coletivas de imprensa por não conseguir acertar o time do São Paulo, Ricardo Gomes se chateava – embora sem jamais perder a compostura – com insinuações sobre sua suposta inexperiência e sua indiscutível ausência de títulos como treinador. Certa vez, quando o tema era o sobe-desce do Brasileirão, ele lançou mão com orgulho de sua vivência europeia (“isso eu posso garantir a vocês, pelo tempo que passei lá fora”) para assegurar que não havia outro campeonato tão equilibrado como o nosso. Mais aspas para Ricardo Gomes: “O Brasileiro é o único campeonato do mundo em que o primeiro colocado enfrenta o último, e é jogo duro”. Verdade. E é disso que eu mais gosto. Quando segurava a lanterna da competição, o Atlético Goianiense jogou em casa e ganhou tanto do Corinthians quanto do Fluminense. E vocês sabem de quem o Atlético Goianiense perdeu, também jogando em casa? Pois é: do Flamengo. Até sábado passado, o Corinthians estava invicto no Pacaembu. Até sábado passado, o Grêmio não tinha uma vitória sequer fora de casa. Sábado passado os dois se enfrentaram, no Pacaembu, e o Grêmio venceu por um a zero. No domingo o Palmeiras deixou de ganhar um jogo teoricamente mais fácil, contra o Vasco em São Paulo, para na quarta-feira ganhar um jogo teoricamente muito mais difícil, contra o Grêmio em Porto Alegre. Resumindo: mesmo com a superioridade até agora demonstrada por Corinthians (mais consistente) e Fluminense (ultimamente claudicante), no Brasileirão 2010 tudo pode acontecer. Ainda faltam dezesseis rodadas e, portanto, temos em jogo um número maior de pontos do que qualquer equipe já somou. No ano passado, incomodado com a perspectiva do São Paulo conquistar o quarto título seguido ou do rival Palmeiras ser campeão, o corintiano Magalha projetou uma combinação de resultados que dava o título ao Flamengo – só que pra isso o Flamengo precisaria vencer os seis últimos jogos. Eu falava: Magalha, não tem como, é impossível. O Flamengo não venceu os seis, mas venceu cinco (Santos, Atlético Mineiro, Náutico, Corinthians e Grêmio) e empatou com o Goiás, fez dezesseis pontos em dezoito e ficou com a taça. Como diria Renato Russo, que tinha toda a pinta de detestar futebol, ainda é cedo. 
PS: Espero que, pelo menos hoje, Roger e Alê Santos não me cobrem comentários sobre o São Paulo. Melhor deixar quieto.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Será que Muricy vai repetir o ano passado?
Eu nunca quis ser, como dizia minha mãe, boca de seca-pimenteira, mas me lembro de ter escrito aqui no blog que, se ficasse quinze dias sem o Conca e o Emerson, o Fluminense corria o risco de desandar. Nem precisou perder o Conca. Com Emerson de fora, o Fluminense venceu apenas uma das últimas seis partidas que disputou, e é evidente que Muricy não conseguiu arrumar o time. Pelo contrário: ao escalar Conca como falso atacante e isolar Washington, ele erra feio. O estilo do Washington, lento e pesadão, não tem como se encaixar em um esquema como esse. Deco e Conca são rápidos e inteligentes, mas não têm resposta lá na frente. No jogo de ontem, em apenas sete minutos o bom bandeirinha Roberto Bratz já tinha assinalado três impedimentos do Washington. Bidu: os caras pensam rápido, ele não; os caras tocam rápido, ele não; os caras já vêm com a pizza pronta, ele ainda tá buscando a farinha. Não vou mais ficar falando mal do Washington. Há quem goste. Há quem ainda se impressione com essa história do “cara que faz gol”. Começo a achar que, se o Emerson não voltar logo, a tendência é Muricy bisar o fiasco do ano passado, quando pegou o Palmeiras lá nas cabeças, depois do curto e próspero período sob o comando do interino Jorginho, e terminou o campeonato fora do maldito G4. 
Quem não tem nada com isso é o Corinthians. (E também o Cruzeiro, que eu já disse aqui no blog ser o time brasileiro que mais gosto de ver jogar.) O Corinthians entrou sossegadinho, esperou apagar o fogo inicial do Fluminense, levou o primeiro tempo em banho-maria. Antes do bonito gol de Jucilei, que vem fazendo um grande campeonato, apenas uma chance pra cada lado, com Deco e Paulinho. Depois do gol de Jucilei, o jogo ficou ainda mais sob controle. No ano passado, o comentarista PVC atribuiu o título do Flamengo ao que ele chamou de “vitórias improváveis na reta final”: contra o Atlético, no Mineirão, e contra o Palmeiras, no Palestra Itália. Ou seja: as vitórias improváveis são, necessariamente, aquelas que se obtém fora de casa. Era o que faltava para o Corinthians ampliar suas chances de levar o título. Mas faço questão de repetir: olho no Cruzeiro. 
O juiz de Grêmio Prudente e Flamengo foi Ricardo Marques Ribeiro, o mesmo que eu elogiei aqui pela arbitragem no jogo Santos e Botafogo. Ontem ele poderia ter sido excelente, mas cometeu um erro decisivo para o resultado: a expulsão de Adriano Pimenta. Achei excessivamente rigorosa. Pouco antes de fazer o gol do Grêmio Prudente, Adriano Pimenta levara um cartão amarelo por uma falta em Diogo. Logo depois fez o gol e, na comemoração, ergueu a camisa cobrindo o rosto. Aí fica minha dúvida sobre como é essa história: levantar a camisa até o umbigo, pode? E se passar do umbigo mas não mostrar os mamilos, pode? Não sei o que diz a regra e me recuso a pesquisar isso, mas a verdade é que ele não tirou a camisa. Creio que o árbitro poderia ter demonstrado bom senso e relevado. O Flamengo jogou o segundo tempo inteiro com um a mais, o Grêmio Prudente ficou o segundo tempo inteiro com os dez lá atrás e acabou não aguentando a pressão. Para encerrar: o Flamengo fez uma partida péssima. Alguém surpreso?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Campeonato italiano e interatividade.
De todos os esportes que conheço, o campeonato italiano é o que mais se assemelha ao futebol. Pouco, é verdade, mas parece. De qualquer modo, influenciado pelo Alex Borba e seu padrão europeu de exigências, me animei para ver Cesena e Milan, pra conferir a formação com Robinho, Pato, Ronaldinho Gaúcho e Ibrahimovic. E eles tomaram um couro legítimo. A defesa do Milan é uma baba. No meio-campo joga o Pirlo, que atualmente talvez pegasse uma reserva no Avaí. Robinho entrou quando o caldo já entornara, procurou se movimentar, fez uma ou duas papagaiadas com a bola, mas não teve tempo de produzir nada. Ronaldinho Gaúcho fez mais ou menos a mesma coisa que Robinho, só que ficou em campo bem mais tempo. Pato pelo menos tentou jogar em velocidade, atuando pelo lado direito e fazendo jogadas perigosas. Ibrahimovic é o Fernandão ganhando em euro. E bota euro nisso. Lento e dispersivo, embora sem dúvida habilidoso e com ótima visão de jogo. Depois daqueles olhares lânguidos para o Ronaldo Fenômeno e do delicado tête-a-tête com Piqué, acho que ele faria uma bela dupla de ataque com a Marta. Mas o melhor do jogo foi a transmissão da ESPN. Compreendo que o mundo caminha para a interatividade, é inevitável, mas as situações que isso provoca são inusitadas. Enquanto o narrador passava o tempo inteiro pedindo aos assinantes que entrassem no site e mandassem mensagens com suas perguntas, o comentarista mostrava absoluto mau humor com a – óbvia – impossibilidade de responder todos os e-mails que chegavam. Aí os assinantes começam a espinafrar, reclamando que as mensagens não são lidas, o comentarista tenta se explicar alegando o grande número de e-mails que chegam, o narrador insiste em pedir ao assinante que escreva, é uma balbúrdia só. E para arrematar, o comentarista (Sílvio Lancelotti) gasta a maior parte do tempo dando receitas da culinária italiana, frequentemente interrompidas por causa de um ou outro lance importante. Quando a bola para, a receita volta. Posso garantir que a transmissão é divertidíssima, mas quem quiser ver futebol deve procurar outra coisa.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pílulas do final de semana.
Começo a desconfiar que o lord tem razão. Nas últimas sete rodadas, o Fluminense abriu o placar em todos os jogos, e não conseguiu manter a vitória em nada menos de cinco deles – nas derrotas para Guarani e Atlético Goianiense fora de casa, e nos empates com Vasco, São Paulo e Palmeiras no Maracanã. E mais: contra Palmeiras e Atlético Goianiense, o time levou gol nos acréscimos. Eu lembro que, no glorioso período são-paulino do recente tricampeonato brasileiro, se o São Paulo fizesse um a zero, o jogo estava liquidado. Não havia quem tirasse a vitória do time. Além de equilíbrio e consistência, está faltando ao Fluminense compreender que uma coisa é fazer uma boa campanha, e outra bem diferente é ter um time espetacular. O Fluminense vem fazendo um bom campeonato, mas não dá para classificar como espetacular um time que tem Fernando Henrique, André Luís, Diguinho, Washington etc. Continua com muita chance de ser campeão, mas o treinador está deixando a peteca cair. 
Meus amigos tricolores Roger e Alê Santos me acusam de perseguir e nunca elogiar o São Paulo. Não é verdade, mas vamos lá: há quanto tempo não dá para elogiar o São Paulo? O problema sou eu ou é o São Paulo? Depois de três vitórias consecutivas – registre-se: contra três times que estão entre os cinco piores do Brasileirão –, o time não viu a cor da bola ontem contra o Botafogo. O primeiro tempo ainda foi lá e cá, embora com mais atitude por parte da equipe carioca, mas no segundo o time de Sérgio Baresi foi engolido. O principal problema do São Paulo é a ligação entre o meio-campo e o ataque. Marcelinho jogou muito contra Atlético Mineiro e Flamengo, e o time foi bem; Marcelinho jogou mal contra o Botafogo, o time sumiu. Marcelinho é muito bom e tem futuro, mas não dá para o São Paulo depender dele, certo? 
Quem brilhou mais uma vez, ontem no Engenhão, foi Joel Santana. Quando o volante Marcelo Mattos se machucou, ele poderia perfeitamente pôr em campo um zagueiro e empurrar Leandro Guerreiro para o meio. Mas não. Dotado de uma coragem ofensiva desconhecida até pouco tempo, Joel colocou o atacante Caio e partiu pra cima do São Paulo. Mais uma vez, deu certo. O homem tá impossível. 
O jogo de sábado contra o Grêmio mostrou por que o Corinthians precisa resolver, com urgência, a questão da ausência de vitórias fora de casa. Como o time vinha embalado no Pacaembu, uma coisa compensava a outra. Mas é óbvio, é claro, é evidente que, tirando os mais fanáticos corintianos, ninguém em sã consciência poderia acreditar que o time fosse vencer todos os seus jogos em casa. Não dá. E aí, não vencer um ou outro jogo fora faz falta. O primeiro tempo da partida foi muito concentrado no meio-campo e com poucas chances. Valeu por um dos gols mais bonitos do campeonato, feito pelo Douglas. No segundo tempo o Corinthians mandou no jogo e Iarley perdeu três chances inacreditáveis: o pênalti, um gol muito mais fácil do que o próprio pênalti e uma jogada na pequena área em que ele furou a cabeçada. Falar em pênalti: meus amigos corintianos que leem o blog não me queiram mal, mas os juízes não estão marcando pênaltis demais a favor do Corinthians? Só nos últimos cinco jogos, foram quatro – e eu, sinceramente, acho que nenhum deles existiu. Reconheço que sou muito rigoroso com essa história de pênalti, mas não sei não. Será que não tem algo a ver com a eleição para a presidência do Clube dos Treze, Andrés Sanchez na chefia da delegação brasileira que foi à África do Sul etc? Que tá estranho, tá.  
Quando era comentarista, Mário Sérgio gostava de dizer que “o desespero é o caminho mais longo para chegar ao gol adversário”. O Flamengo tem todas as razões do mundo para estar desesperado, mas está claro que, neste momento, o maior problema do time é o desespero. Sábado, contra o Vitória, aos seis minutos do primeiro tempo a câmera mostrou o técnico Silas olhando pro relógio. Aí não dá. De qualquer forma, pelo menos o time participou de um jogo de futebol. Levou gol, fez gol, chutou bola na trave no finzinho, esteve perto de ganhar e muito perto de perder. Foi mal, mas ainda assim foi melhor do que nos tempos da mediocridade rogeriolourençeana. 
Botei pra gravar o jogo entre Palmeiras e Vasco, mas pergunto aos meus amigos palmeirenses aqui da agência: vale a pena ver? Tô muito desconfiado de que não vale não. 
Atenção, Jaime e todo mundo que gosta de futebol: no jogo entre Fluminense e Atlético Goianiense, houve uma falta quase na risca da área a favor do Flu. Washington deu um leve toque cobrindo a barreira, o goleiro Márcio sequer se mexeu e a bola bateu no travessão. Nisso, o comentarista Carlos Eduardo Lino disse o seguinte: “e ainda tem gente que diz que o Washington é ruim de bola; quem é ruim de bola não bate uma falta desse jeito”. Bate sim, Lino. Você assiste a qualquer pelada vagabunda de várzea e vê um monte de gente batendo falta com categoria, dando lençol, fazendo golaços de bicicleta. Não parece, mas futebol é muito mais complexo do que isso. E o cara ainda ganha dinheiro pra falar uma bobagem dessas na TV. Carlos Eduardo Lino. Guardem esse nome. E o Jaime já pode emitir o bilhete dele naquele famoso aviãozinho.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Destaques de ontem: Joel Santana e Ricardo Marques Ribeiro.
No post de quarta-feira, elogiei a surpreendente ofensividade de Joel Santana no comando do Botafogo. No dia seguinte, contra o Santos, ele partiu pra cima de novo. Mesmo jogando no Pacaembu e tendo que suportar a previsível pressão santista, o homem não se intimidou. Com menos de dez minutos do segundo tempo, tirou o volante Fahel, pôs em campo o atacante Caio e passou a atuar com três homens de frente. A recompensa veio aos quarenta e cinco, com um bonito gol do Loco Abreu. 
Outra coisa digna de registro, na mesma partida, foi a ótima arbitragem de Ricardo Marques Ribeiro. Pra quem não aguenta mais pênaltis inventados, faltas apontadas em qualquer lance em que há contato e interpretações absurdas, chega a ser um alento ver alguém fazendo a coisa certa. E olha que não é fácil apitar jogo que tem Neymar de um lado e Caio do outro: os dois apanham, é verdade, mas se atiram mais do que apanham. Tomara que não tenha sido um dia atípico. Porque às vezes isso acontece: a gente elogia o cara no domingo, chega a quarta-feira e ele dá três pênaltis que só são pênaltis aqui no Brasil, exagera nos cartões, erra tudo e a gente fica com cara de trouxa. Vamos aguardar e torcer.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pênaltis absurdos e Marcelinho comendo a bola.
Lord Agostini ontem me esculachou pelo msn, só porque eu não meti o pau no Muricy depois da derrota do Fluminense, em Campinas. Tentei explicar que eu não tinha visto o jogo e não podia comentar o que não vi, mas não adiantou. O homem estava possesso e chegou a me acusar de levar dinheiro do treinador do Fluminense pra não falar mal dele. Já consultei os advogados do blog – pagos por Muricy, evidentemente, já que eu não tenho grana pra isso – e pretendo levar o caso às barras dos tribunais. Tais desavenças, no entanto, não reduziram o prestígio que o Lord mantém junto ao blogueiro e decidi ver Fluminense e Ceará, abrindo mão de um dos maiores clássicos do futebol brasileiro, Cruzeiro e Internacional. Vai que o Fluminense tropeça e eu não falo nada? O homem ia garantir meu bilhete em seu famoso avião dos infernos. Mas quando o Fluminense fez dois a zero, com apenas vinte minutos, e liquidou a fatura, tratei de me mudar para o jogo de Uberlândia. Para minha surpresa, Cruzeiro e Inter fizeram uma partida chocha e chata. Coisas do futebol. Fora isso, ontem tivemos mais um aborrecido festival de pênaltis inexistentes, assinalados por conta da incompetência dos nossos péssimos árbitros. Tivemos o Corinthians firme e forte em sua saga de não vencer fora de casa. Tivemos o São Paulo confirmando a boa recuperação – na tabela, porque o futebol continua meia-boca. E tivemos o Flamengo se aproximando de uma posição mais adequada às suas apresentações no campeonato. 
No final da década de sessenta, fazia sucesso um treinador chamado Tim. Era inteligente, gostava do futebol bem jogado e montava algumas surpresas táticas nos times que dirigia, alterando-os em função do adversário. Tim era fã de um meia chamado Bráulio, que apareceu muito bem no Internacional de Porto Alegre, brilhou no Coritiba e ficou bastante tempo no América do Rio, numa época em que o Ameriquinha tinha sempre boas equipes. Aonde Tim ia, o Bráulio ia junto. E Tim dizia o seguinte: com o Bráulio no meio, eu tenho um time sempre organizado. Toda vez que eu vejo em campo um bando de loucos como o do atual time do Flamengo, eu lembro do Tim e ponho a responsabilidade por toda aquela desorganização no meio-campo. A defesa pode falhar, como na pixotada de Jean no segundo gol do São Paulo. O ataque pode ser improdutivo, como tem sido durante todo o campeonato. Mas se o meio-campo tiver gente que conheça o assunto, a coisa vai. E no Flamengo não está indo não. O técnico Silas, ontem, conseguiu a proeza de fazer a torcida sentir saudade do Rogério Lourenço. Escalou mal e fez uma substituição aos vinte minutos, tirando Corrêa e colocando Vinícius Pacheco. Não tenho nada contra tirar o Corrêa, um jogador de meio-campo que não arma, não desarma e não acerta passe. Mas tenho tudo contra colocar o Vinícius Pacheco, que já provou em três dúzias de ocasiões que não resolve bulhufas. O São Paulo não jogou bem, mas não há a menor necessidade de jogar bem para ganhar do Flamengo. Bastou o belo passe do Marcelinho, a quem eu já tinha elogiado depois do jogo contra o Atlético Mineiro, no lance do primeiro gol, para o Flamengo desabar. Só não entendi por que Sérgio Baresi – ou Rogério Ceni, como andam dizendo por aí – decidiu pôr o Renato Silva no segundo tempo. Entrou fazendo as lambanças de sempre, cometendo faltas bobas na entrada da área e ajudando a levantar o ânimo do Flamengo. Estranhamente, até porque estava com um a mais, o São Paulo sumiu do jogo e só criou mais uma boa chance, em outra linda jogada do Marcelinho. Sempre ele. Ao perder só de dois, o Flamengo se consolidou como uma das três defesas menos vazadas do campeonato, ao lado de Fluminense e Cruzeiro. O que só serve para comprovar – como se ainda fosse necessário – a inaceitável mediocridade de um time que é seis vezes campeão brasileiro, mas que hoje se contenta em perder de pouco.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pílulas do final de semana, depois da ressaca do feriadão.
Todo mundo que gosta de futebol se pergunta, de vez em quando, o que leva alguém a escolher a posição de goleiro. No último programa "Central da Copa", realizado poucas horas após a decisão entre Espanha e Holanda, os participantes fizeram um rápido balanço e, obviamente, o inacreditável frango que o inglês Green papou no jogo contra os Estados Unidos foi eleito o maior da competição. O apresentador Tiago Leifert quis saber do convidado especial, Ronaldo Fenômeno, se ele tinha sentido pena do Green. Resposta: "não, eu nunca sinto pena de goleiro". Sábado, no Pacaembu, o Corinthians operou um massacre absoluto em cima do Goiás, com mais de trinta finalizações. Ou seja: uma finalização a cada três minutos. Neste Brasileirão, duvido que qualquer jogador tenha trabalhado tanto, numa única partida, como o goleiro Harley, que fez pelo menos meia dúzia de grandes defesas e ainda teve que buscar a bola cinco vezes no fundo das redes. Vida inglória. Outro que teve um árduo final de semana foi Deola, do Palmeiras. Até os dez minutos do segundo tempo, quando Marcos se machucou, o Cruzeiro chutara apenas uma vez ao gol, numa cobrança de falta do Montillo. Deola entrou em campo com seu time ganhando de dois a zero, levou três gols em que não teve culpa alguma, saiu de campo derrotado e praticamente sem tocar na bola. Mas foram eles que escolheram essa vida, não? 
Quem se irritou com o defensivismo de Dunga, e apostava em Felipão para a redenção da seleção brasileira, deve estar um tanto decepcionado com a escalação e o modo de jogar do Palmeiras. O lateral-esquerdo é Fabrício, um zagueiro de área pesadão e sem qualquer vocação ofensiva. O meio-campo tem quatro volantes: Pierre, Edinho, Marcos Assunção e Rivaldo. O meia Valdívia – completamente fora de forma – atua como falso atacante, o que acaba transformando Kléber numa espécie de Robinson Crusoé entre os defensores adversários. No jogo de domingo, quando o placar já estava dois a dois e Valdívia se arrastava em campo, Felipão tirou o meia chileno e pôs outro homem de meio-campo, o Tinga. Com a agravante de que o Palmeiras tinha quatro atacantes na reserva: Tadeu, Luan, Patrick e Ewerthon. Se nenhum deles podia ajudar num jogo como aquele, pra que levá-los pro banco? Ao contrário do que acontece com Corinthians, Internacional e Cruzeiro, bem armados já há algum tempo, o Palmeiras está sendo montado agora, e é sabido que um time deve ser ajeitado a partir da zaga. Até aí, ok. Mas me parece que está havendo um excesso de cautela combinado com uma total falta de confiança. 
Ao contrário do Felipão, e para surpresa de todos, quem tem apostado no futebol ofensivo é o folclórico Joel Santana. Não é difícil ver o Botafogo jogando bem e com três atacantes em campo – mais o Maicosuel, que é um meia que não marca ninguém –, mesmo quando o time está ganhando e contra adversários poderosos. Outro dia, aqui na agência, eu conversava com o corintiano Rodney e o palmeirense Kride sobre jogadores e técnicos que acabam ficando com uma imagem estereotipada, e aí podem fazer o que for que nada tira aquele carimbo de suas testas. Kride citou Obina, que está tão longe de ser um craque quanto de ser um mau jogador, eu concordei e emendei com Joel Santana. Se buscarmos o histórico do Joel, vamos ver que, quase sempre, o cara pega roubada. Alguém pode alegar: ah, mas vida de técnico é sempre assim. Não é não. Nesse Brasileirão mesmo, temos dois casos de vida mansa: Cuca, atual treinador do Cruzeiro, herdou um time certinho, armado por Adílson Batista. Este, por sua vez, pegou no Corinthians um conjunto afiadíssimo, montado por Mano Menezes. É claro que Cuca e Adílson vêm tendo muito mais facilidades do que Silas, no Flamengo, e Felipão, no Palmeiras. Em quase toda a sua trajetória, Joel Santana só tem sido chamado para salvar, remendar ou reparar os erros alheios. Times dilacerados, elencos pífios, atrasos de pagamento, riscos de degola. Tendo que arrumar a casa e levantar o moral da tropa, o cara chega e faz o óbvio: começa a se defender, e aí consolida a fama de retranqueiro. Mas não dá para imaginar outro jeito. Esse ano, por exemplo, Joel assumiu o comando do Botafogo após uma terrível goleada de seis a zero para o Vasco. Pouco tempo depois, exatamente aqueles mesmos jogadores beliscavam o título estadual. Não há como discutir o lado tosco e pitoresco da figura, mas por trás daquela pança indecente e daquela misteriosa prancheta, podem crer que há uma boa dose – e bota dose nisso – de competência. 
O São Paulo teve muita disposição e foi bem contra o Atlético Mineiro, mas a virada e a vitória devem ser lançadas na conta do meia Marcelinho. É rápido, se movimenta bastante, parte pra cima e não tem medo de arriscar as jogadas, como na meia-lua que deu num pequeno pedaço de campo e que iniciou o lance do terceiro gol. Sim, o lateral-esquerdo Eron revelou ingenuidade ao levar o drible e o volante Rafael Jataí, em vez de cortar, acabou ajeitando a bola pro Fernandão concluir, mas foi a ousadia do Marcelinho que criou toda a confusão e provocou os erros da zaga atleticana. Bom jogador. Ainda sobre São Paulo e Atlético Mineiro: não sei quanto a vocês, mas eu não consigo engolir esses pênaltis marcados nos cruzamentos em que todo mundo agarra todo mundo e ninguém é de ninguém. O suposto pênalti de Miranda em Obina foi assim. Já o de Casemiro em Serginho me pareceu pênalti, embora desnecessário e fruto de precipitação. Dagoberto é que continua o mesmo. Depois de cumprir um período de castigo, parecia desinteressado. Como a janela europeia fechou, não dá pra saber qual é a dele, já que é, sem dúvida, um bom atacante. 
Apesar do zero a zero, Flamengo e Santos fizeram um bom jogo no Maracanã. Ficou claro que, mesmo com as saídas de Robinho, André e Wesley, a contusão do Ganso e a suspensão do Neymar, o Santos está pronto. E que, mesmo com as entradas de Diogo e Deivid, o Flamengo ainda está em formação. O time fez um bom primeiro tempo, criando suas chances de gol pelo lado direito, com Léo Moura e Williams. Numa delas, Diogo completou para ótima defesa do Rafael; na outra, Deivid perdeu um gol que até o Val Baiano faria. Pelo menos o rubro-negro demonstrou mais força no ataque, o que sempre serve para equilibrar as partidas: quando o adversário percebe que não vai ser fustigado, parte pra cima sem dó nem piedade – como o Cruzeiro fez na quarta-feira passada – e não há defesa que aguente. No segundo tempo o Santos foi mais consciente e objetivo, mas o Flamengo mostrou que começa a se aproximar daquilo que se convencionou chamar de time de futebol. O problema é que dezembro está logo ali. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Seis meses de alegrias, seis meses de tormento.
A vida do torcedor de futebol ficou mais difícil. Já houve um tempo em que, quando surgia uma boa geração nas divisões de base de um clube, o torcedor ficava certo de que teria um time forte nos próximos três ou quatro anos. Com a dureza dos clubes brasileiros e o excesso de grana que passou a girar em torno da bola, nossos bons times passaram a durar seis meses, e olhe lá. Como aconteceu recentemente com o Corinthians ao ficar sem Cristian, André Santos e Douglas, com o Flamengo sem Adriano, Zé Roberto e Aírton, com o Santos sem Robinho, André e Wesley. No Brasileirão 2009 a torcida do Fluminense passou todo o segundo turno sofrendo com a gigantesca probabilidade de ver o time cair, e só pôde se tranquilizar na última rodada; esse ano o time tem boas chances de ser campeão. No caminho contrário, em 2009 a torcida do Flamengo comemorou o título, mas vai começar o segundo turno desse ano temendo o rebaixamento. No ano passado, com o time na parte de cima da tabela, eu assistia aos jogos dos outros clubes torcendo sempre pelos pequenos contra os grandes, já que o Flamengo brigava pau a pau com Internacional, São Paulo, Cruzeiro e Palmeiras. Agora eu me vejo na situação inversa: jogam São Paulo e Atlético Goianiense, eu torço ferrenhamente pelo São Paulo, para que o clube goiano afunde de vez. Quanto menos vagas lá na zona da degola, menores as chances de cair. Vida dura.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fluminense entregando o ouro, Palmeiras mostrando força.
Por óbvios e rubro-negros motivos, não vi Fluminense x Palmeiras. O que não me impede de dizer que o Fluminense precisa abrir o olho. Futebol não se ganha de véspera, com o que já se fez, com o nome ou o salário dos jogadores. Cada jogo tem que ser vencido ali, no momento, naqueles noventa minutos. No primeiro tempo da partida contra o São Paulo, o Fluminense se arrastou preguiçosamente em campo. Quando decidiu correr, mandou no jogo, mas só conseguiu empatar. Mesmo que o Palmeiras tenha jogado melhor – repito que não vi –, levar gol aos quarenta e oito do segundo tempo é algo que só acontece por desatenção e relaxamento. Se jogar sério e com consciência das suas limitações, o Fluminense é um dos mais fortes candidatos ao título. Se brincar, um abraço. Quanto ao Palmeiras, os comentários que ouvi agora de manhã aqui na agência confirmam o que postei anteontem: muita água ainda vai rolar no Brasileirão, e se Corinthians e Fluminense derem mole, o Palmeiras é mais um que pode chegar.
Flamengo: mais do mesmo.
Tá ficando monótono escrever sobre os jogos do Flamengo. É só dar Maçã C / Maçã V e revisar a dupla de ataque. Às vezes jogam Diego Maurício e Val Baiano, às vezes entram Leandro Amaral e Cristian Borja, volta e meia Vinícius Pacheco é escalado. Os cinco competem por um antirrecorde: saber qual deles é o atacante a fazer o menor número de gols em toda a história do clube. Nesse momento, há um empate entre Val Baiano, Leandro Amaral, Cristian Borja e Vinícius Pacheco, já que Diego Maurício fez um mísero golzinho na partida contra o Avaí. Os outros quatro, neca de pitibiriba. Que o ataque do Flamengo não existe, todo mundo sabe. Mas ontem, aprofundando sua capacidade de piorar a cada jogo, o time foi um desastre também na defesa e o placar só ficou em um a zero porque o goleiro Marcelo Lomba fez uma ótima partida. Poucas vezes vi, no Flamengo, dois jogadores entrarem em campo com tanta responsabilidade quanto a que terão, a partir de agora, Deivid e Diogo. Sem eles, não haverá salvação. Aleluia.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Parabéns, rapaziada.
Renato Martorelli. Serginho. Alex Borba. Tony Oliveira. Rodney. Felipe Rocca. Josi. Vanessa Forti. Daniel França. Dani e Vinícius. Saulo. Krika. Reinaldo Brasil. Luís Felipe. Tiago, Letícia e Luca. Magalha, Lilian e Gabriel. Fernanda Serejo. Grande abraço do blog pra vocês e os outros trinta e quatro milhões, novecentos e noventa e nove mil, novecentos e setenta e oito aniversariantes do dia.
A revisão das previsões.
Logo depois da interrupção do Campeonato Brasileiro, para a Copa do Mundo, me arrisquei numa previsão sobre os candidatos ao título, com a ressalva de que tudo poderia mudar por causa da janela europeia de transferências. Agora, com a janela fechada, chegou a hora de rever as previsões. Naquela ocasião, apontei seis favoritos: Corinthians, São Paulo, Internacional, Palmeiras, Flamengo e Fluminense. Vou rever um por um. 
No ano passado, o sheik Emerson formou uma excelente dupla com Adriano e foi titular do Flamengo até a vigésima-primeira rodada do Brasileirão, quando deixou o clube pra jogar na Arábia. Seu substituto foi Zé Roberto, que cumpriu bem a missão, ajudou o Flamengo a levantar o título e voltou para a Alemanha. Esse ano, Emerson e Zé Roberto estavam doidos pra jogar novamente pelo Flamengo, só que o clube não conseguiu a grana necessária pra trazer nenhum dos dois. (Não me perguntem de onde saiu a grana pra trazer Deivid e Diogo.) Pois bem. Nas dez rodadas pós-Copa, Emerson, pelo Fluminense, e Zé Roberto, pelo Vasco, já marcaram sete gols. Mais do que todo o time do Flamengo no mesmo período. Aliás, o Flamengo fez, nesses últimos dez jogos, o mesmo número de gols que o meia Elias, do Atlético Goianiense, fez sozinho nos últimos dois. Ridículo. Deivid e Diogo podem ajudar o time a seguir no campeonato com uma campanha menos vergonhosa, mas tá na cara que não dá mais pra disputar o título. Menos um na briga. 
Desde que vim para São Caetano, há cinco anos, essa é a pior temporada do São Paulo. Planejamento tosco, contratações equivocadas, técnico honesto mas sem pegada. O time vai melhorar e subir na tabela com a chegada do Ilsinho e a volta do Alex Silva, mas a distância pra quem está na ponta ficou grande demais. Menos dois na briga. 
Não sei exatamente por que, mas eu ainda acredito que o Palmeiras tem chance. Nunca achei o time ruim como, às vezes, a própria torcida palmeirense acha, mas faltava força ofensiva. A chegada do Kléber diminuiu bastante o problema, só que aí coincidiu com a saída do Cleiton Xavier, agora veio o Valdívia, ou seja: tem que arrumar tudo de novo. Essa janela é um inferno, mas não há o que fazer a não ser conviver com ela. Apesar de ser reticente em relação aos superestimados poderes dos técnicos, reconheço que Felipão é um treinador carismático, que pode ajeitar as coisas, fazer um bom trabalho, unir time e torcida. Aí, se Fluminense e Corinthians vacilarem tanto quanto Palmeiras e São Paulo no ano passado, o verdão pode entrar na briga. É verdade que nem o Felipão acredita nisso – não sei se com sinceridade ou se por estratégia –, mas não acho impossível. 
O Inter perdeu dois jogadores muito importantes, Sandro e Taison, o que o deixou mais fraco que Fluminense e Corinthians. Mas ainda é um bom time e está de moral elevada pela conquista da Libertadores. Além disso, parece que vai conseguir mandar seus jogos no Beira-Rio, o que é fundamental para sonhar com alguma coisa. Se o Inter esquecer esse maldito Mundial de Clubes e voltar suas atenções para o Campeonato Brasileiro – um título que não levanta desde 1979 –, vai dar trabalho. 
Fluminense e Corinthians permanecem como os dois grandes favoritos, apenas com as posições trocadas: antes da interrupção do campeonato, o Corinthians liderava e o Flu vinha em segundo. As colocações se inverteram, mas os dois permanecem muito fortes. Não perderam jogadores na janela, mantiveram o nível, seguem firmes e focados. O Fluminense tem um problemão: se o Maracanã realmente for fechado, o time vai sentir. Não sei exatamente por que o Maraca precisa ser fechado agora, se o estádio de Itaquera e a nova Arena da Fonte Nova só começarão a ser construídos em janeiro de 2011. Coisas da triste política de picuinhas que tomou conta do futebol brasileiro. 
O maior problema do Corinthians não é apenas o maior: é também o mais gordo. Até Andrés Sanchez já admitiu que precisamos aceitar o Ronaldo do jeito que ele é agora. E agora ele é um jogador sem a menor condição de aguentar o tranco de um campeonato longo e extremamente competitivo. Com Ronaldo, é preciso montar todo o esquema de jogo em torno de um atacante que mal corre e pouco se movimenta; sem Ronaldo, o Corinthians apresenta carências ofensivas que podem pesar na hora do vamos ver. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Mas como não existe time perfeito, são grandes as chances do coringão levar o caneco mesmo sem resolver esse embrulho. 
Quando comecei a pensar nessa revisão, cheguei a considerar as possibilidades de Santos e Cruzeiro, mas acho que não vai dar pra nenhum dos dois. Mesmo com as saídas do Robinho, do André e do Wesley, estava disposto a incluir o Santos na briga, porque time que tem Neymar e Paulo Henrique é candidato ao título de qualquer campeonato que dispute. Mas a contusão do Ganso muda tudo. Sem ele, fica muito difícil. O Cruzeiro tem sido, nas últimas temporadas, um dos bons times do futebol brasileiro. Tem um elenco equilibrado e padrão de jogo definido, mas atrapalha muito o fato de ter se transformado num time itinerante, que joga hoje em Uberlândia, amanhã em Ipatinga, depois de amanhã em Sete Lagoas. Tudo é Minas, mas a casa do Cruzeiro é o Mineirão e não tem jeito. Lá o time conhece os segredos, as dimensões, os buracos, a altura da grama, as referências. Pode parecer que não, mas tudo isso conta. Agora, é esperar. No dia cinco de dezembro saberemos, de tudo isso, o que estava certo, o que bateu na trave e o que foi a mais rematada bobagem.