Virei casaca.
Nélson Rodrigues costumava dizer que o homem podia, de vez em quando, trocar de endereço, trocar de emprego, trocar de mulher, o homem só não podia trocar o time para o qual torce.
Foi circunstancial, claro, mas na final da Copa eu troquei. No post publicado em 7 de julho, com o título "O futebol tem uma dívida com os holandeses", declarei minha decisão de torcer pela Holanda. É verdade que essa ideia começou a balançar quando eu li que Sneijder estava próximo de igualar o feito de Pelé, que em 1962 ganhou todos os títulos que disputou. Achei que seria muita areia pro caminhão do Sneijder. E logo que o jogo começou, com a entrada maldosa de Van Bommel em Iniesta e com a sola criminosa de De Jong no peito de Xabi Alonso, transformando em carinhoso afago o pisão de Felipe Melo em Robben, aí não tive dúvida e virei espanhol desde criancinha.
Não me arrependi, menos pela vitória da Espanha e mais porque, confirmando o que eu já desconfiava de outros jogos, Van Bommel é mau caráter e Robben é um fresco. Parece jogador brasileiro, desses que reclamam do juiz em toda bola que perdem. Um saco. Mas acabou acontecendo o que eu não esperava, e não queria: fiquei tenso toda vida e comemorei muito o gol de Iniesta na prorrogação, até porque considero insano que uma Copa do Mundo seja decidida nos pênaltis. Sou contra a disputa de pênaltis em qualquer situação, mas disputa de pênaltis na final da Copa é um absurdo completo.
Sei que a maioria das pessoas deve discordar, mas achei um jogo bom, nervoso, muito marcado, embora com excesso de pancadaria por parte dos holandeses. Jogo típico de final de Copa do Mundo dos tempos modernos. Destaques: as duas defesas que Casillas fez nos pés de Robben e o beijo que ele deu em Sara Carbonero, sua bela namorada-repórter, na entrevista após o jogo; a discreta eficiência de Piqué, um zagueiraço; a incansável movimentação de Iniesta; a atuação de Fábregas, que entrou muito bem na partida e deu o precioso passe para o gol do título; o controle do jogo exercido, mais uma vez e como sempre, por Xavi; a coerência e a humildade do treinador Vicente del Bosque, com sua bonachona cara de tiozão do churrasco, em montar o time espanhol em torno da escalação e do jeito de jogar do Barcelona. (Coisa que, aqui no Brasil, é impensável. As paixões exacerbadas dos nossos torcedores e os interesses financeiros dos nossos clubes sempre impedirão que a gente tenha um time como base, mesmo que seja um timaço pleno de glórias. Só pra dar um exemplo: uma seleção com o ataque do Santos e a defesa do São Paulo não seria uma grande seleção? Mas quem toparia isso?)
Amanhã, uma rápida listinha de melhores e piores da Copa 2010.
Caraca,Murta, grande idéia, defesa do São Paulo e ataque do Santos! Abraços, Fred.
ResponderExcluirMurta,decisão de penalti é emocionante porém sempre frustrante. E sentiu a psicologia do jogo no segundo tempo da prorrogação? Tem uma hora que neguinho quase tem um acordo tácito, começa a fazer pouco caso de atacar...aí vai um espanhol maluco, faz o gol e incendeia tudo. Abs, Fred.
ResponderExcluirVocê leu que o Real Madrid e o Barça tem uma filosofia? Todos os times destes cluebes dos times de base, infantis, juvenis, etc, todos jogam da mesma forma que o time principal. Isso é genial porque independende de um técnico. E´lei, quem não segue, dança.E os moleques crescem já com o virtude de jogar ofensivamente como o time principal. Isso muda o futebol. Abraços, Fred.
ResponderExcluirPois é, Fred. Não sabia dessa história do Real e do Barça não. Genial. Se bem que, aqui, acontece a mesma coisa: os times de base jogam todos do mesmo jeito feioso e medroso dos times de cima. A história dos pênaltis tem esse problema: parece que é inerente ao ser humano não querer correr os riscos necessários pra tentar ganhar na bola rolando, deixando tudo na conta das penalidades. Sou a favor do bom e velho rito das peladas: primeiro gol acaba. Abração.
ResponderExcluirLembra que nas peladas era cinco vira, dez acaba!
ResponderExcluirBons tempos aqueles, hem, Murta?
É aquele negócio - penalti é sempre emocionante, porém não reflete o que rolou em 120 minutos de futebol. É um troço aleatório demais, frequentemente injusto - quase que não é futebol.
É um fim inglório pra quem perde, não dignificante pra quem vence. O gol da Espanha foi quase um gol de ouro, não é? Abraços, Fred.