Só se enganou com a Argentina quem quis.
Na condição de admirador confesso do futebol argentino, me sinto à vontade para reafirmar o que venho dizendo desde o início da Copa: a seleção do Maradona nunca esteve com essa bola toda. Enquanto alguns apressados se extasiavam com os passeios diante da Nigéria, da Coreia do Sul e da Grécia, ou seja, diante de ninguém, este blog se mantinha firme na defesa do conceito que encerra o post do dia 5 de abril, com o título “Enganos da pré-temporada”: futebol é um esporte em que o seu talento só pode ser avaliado quando encontra adversários com capacidade para neutralizá-lo.
As facilidades postas no caminho da Argentina continuaram nas oitavas: é verdade que o jogo contra o México esteve embaçado até o juiz validar o gol de Tevez em claro impedimento, mas acho que ali a Argentina venceria de qualquer maneira. No entanto, ao encarar uma seleção bem arrumada e que combina boa organização tática com vários jogadores de enorme eficiência, o time de Don Diego mostrou todos os seus muitos defeitos.
Demichelis, Burdisso e Heinze passam o jogo inteiro se esforçando ao máximo para entregar o ouro. Otamendi e Máxi Rodrigues são do tipo que entram, saem, e ninguém percebe que eles estiveram e já saíram de campo. Nulidades.
Mas nada se compara a Higuaín. Horroroso. Não dá para entender o que é que um dos cinco maiores e mais talentosos jogadores da história conseguiu enxergar no futebol do Higuaín. E o pior é que, para mantê-lo no time, Maradona barrou Diego Milito – que também não é lá grandes coisas, mas é melhor –, arrumou briga em casa deixando Aguero no banco, e ainda obrigou Tevez a atuar fora da sua verdadeira posição. Por falar no Tevez, deu pena dele e do Messi – esses sim, dois jogadores extraordinários.
Não sei se vocês repararam, mas nenhuma das três semifinalistas atura essa praga chamada "homem de referência". Na Holanda, que ataca com Robben, Van Persie e Kuit, isso não existe. No Uruguai de Diego Forlán, Suarez e Cavani, também não. Na Alemanha, Podolski joga aberto pela esquerda e Klose se mexe bastante. Na Espanha, Fernando Torres não faz uma boa Copa, mas também não é de ficar parado esperando a bola chegar. E o pior é que os caras que jogam assim – está cheio deles por aí – volta e meia reclamam que "a bola não chega", como se eles fossem cidadãos de uma raça superior, ali instalados unicamente para ser servidos. Repito: o que mais surpreende é justo o Maradona, que fez dupla no Nápoli com Careca, um dos maiores centroavantes que vi jogar, dar moral, força e o posto de titular absoluto a Higuaín. Como diria o grande filósofo Dunga, vai ver foi por causa do comprometimento.
A Alemanha mostrou contra a Argentina tudo o que já apresentara diante da Inglaterra. Boa marcação, um grande zagueiro (Friedrich), quatro ótimos jogadores de meio-campo – inclusive os dois que atuam mais como volantes, numa lição que deveria ser decorada por todos os treinadores brasileiros –, precisão no passe, rapidez na saída de bola, objetividade nos contra-ataques. Mas tem uma coisa: essas qualidades todas precisam ser relativizadas pelo fato de estar dando tudo certo para a Alemanha, até o que nem eles mesmos esperavam. Um exemplo: o atacante Klose, que nessa Copa já fez quatro gols em quatro jogos, no último campeonato alemão passou a maior parte da temporada na reserva e marcou apenas três gols em onze jogos. Aproveitamento semelhante ao do Souza do Corinthians.
Moral da história: quando o time é bom e a sorte ajuda, fica difícil segurar.
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