quinta-feira, 22 de julho de 2010

O rebaixamento deveria ser repensado. 
Sempre desconfiei de que algo estava errado nesse critério de rebaixamento. A desconfiança virou convicção em 2008, quando tivemos a honra de contar com o Ipatinga na primeira divisão, enquanto o Corinthians já ensaiava na segundona o belo futebol que viria a estourar no iníco de 2009, quando o time ganhou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Eu ficava imaginando que diabos o futebol brasileiro ganhava com o Ipatinga na primeira e o Corinthians na segunda, e via o quanto de dinheiro nossos combalidos clubes perdiam com essa idiossincrasia. Como aquilo não fazia sentido, passei a juntar em minha cabeça alguns argumentos contra o rebaixamento, pelo menos do jeito que ele é feito hoje. 
Pra começar, acho que a possibilidade de um time cair (sempre existe, né?) pode afastar patrocinadores mais diligentes, porque é preciso muita disposição para pôr uma montanha de dinheiro num negócio totalmente imprevisível. Quem não lembra do “melhor ataque do mundo”, formado por Edmundo, Romário e Sávio? Era pra ganhar tudo, não ganhou nada. Futebol é assim, e colocar dinheiro em futebol será sempre um risco. Aí você investe pesado num time, as coisas dentro de campo dão errado e lá vai toda a sua grana para a segundona. Não sei se os patrocinadores pensam nisso, mas deveriam pensar. 
Ah, mas a não existência do rebaixamento é totalmente antiesportiva. Pode ser, não sei. Mas sei que uma das competições mais espetaculares e lucrativas do esporte mundial, a NBA, não tem rebaixamento. Pelo contrário: em vez de mandar os últimos colocados para uma divisão abaixo, os caras que cuidam da NBA procuram reforçá-los. 
Pela lógica, as duas perguntas seguintes são: 
1) Mas que critério adotar para escolher os vinte clubes? 
2) O que fazer com os demais? 
As respostas são simples, e cabem na mesma palavra: ranking. 
Não estamos acostumados com rankings, mas eles existem no futebol. A FIFA tem um critério lá dela para rankear as seleções mundiais, e assim estabelecer quem é ou deixa de ser cabeça de chave nas Copas do Mundo. Alguém sabe por que a Liga dos Campeões da Europa tem, por exemplo, quatro clubes ingleses, três franceses e dois portugueses? Por causa de um ranking criado pela UEFA. Ou seja: teríamos o nosso ranking para definir os vinte clubes, e também haveria subida e descida, mas só quando acontecesse alguma mudança no ranking. É assim na Liga dos Campeões da Europa. 
Acho um crime castigar qualquer um dos nossos grandes e históricos clubes, jogando-o para a segunda divisão só por causa de uma temporada infeliz. Agora: se esse mesmo clube tiver duas, três, quatro temporadas ruins, ele certamente cairá no ranking e, aí sim, segunda divisão nele. 
Outra vantagem do ranking é que ele desestimularia aventuras financeiras que a gente cansa de ver nas divisões inferiores. No ano passado, quando o Guarani garantiu o seu retorno à primeira divisão, o técnico Vadão foi entrevistado ainda no campo de jogo. Perguntado sobre os planos para 2010, ele disse que não tinha a menor ideia de nada e que não sabia com quais jogadores poderia contar, já que nenhum deles pertencia ao clube. O Guarani era apenas uma fachada para um grupo de empresários. 
Da temporada 2009 para a temporada 2010, o Grêmio Barueri mudou de nome e de cidade, virou Grêmio Prudente e se desfez de nove jogadores do seu time titular. Xandão, André Luiz e Fernandinho foram para o São Paulo, Leandro Castan e Ralf para o Corinthians, Márcio Careca para o Vasco, Tiago Humberto para o Internacional, Éverton para o Fluminense, Val Baiano para o futebol mexicano. Isso não é um time de futebol: é um balcão de negócios. Isso não é coisa de clube que mereça estar na primeira divisão. Com o critério do ranking, só subiriam para a primeira divisão clubes que trabalhassem com seriedade durante alguns anos. 
Outro dia eu li uma entrevista do Andrés Sanchez em que ele calculava a dívida do Corinthians em cerca de cem milhões de reais. E completava: se a torcida corintiana se resignasse a ter um time mediano e que apenas lutasse para não cair, ele pagava a dívida em menos de doze meses. Pois então: não estaria aí uma razoável solução para os nossos clubes se ajustarem financeiramente? Sem o risco do rebaixamento imediato, eles teriam tranquilidade para promover jogadores das divisões de base – mesmo que passassem um ano inteiro só tomando sacode – e depois voltariam mais fortes, sem dever nada a ninguém. Seria um jeito de começar de novo e, quem sabe?, agora fazer dar certo.

2 comentários:

  1. Murtinho
    Já pensei sobre esta questão de ranking para rebaixamento tbm e, se não me engano, acho que já tivemos algumas experiências assim aqui, não? Aliás, o campeonato argentino não é assim? De qq forma, tenho medo que isso vire um clubinho dos mesmos e que, com isso, os times se acomodem. Outro ponto que vejo como contrário é a perda da emoção do campeonato, afinal, muitas vezes a briga por não cair acaba sendo mais emocionante do que a do título. Além disso, qual motivação teriam os times da Segundona? Por outro lado, concordo que times como Prudente não acrescentam absolutamente nada no campeonato. Sem tradição, sem torcida, totalmente sem graça! De qq forma, o argumento de que seria uma boa oportunidade de reformulação e saneamento financeiro é bastante interessante. Mas vc realmente acredita que os times aproveitariam o não rebaixamento para pagar suas dívidas? Com esses nossos cartolas?
    Vinicius

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  2. Pois é, Vinicius. Se os dirigentes dos nossos clubes continuassem pensando e agindo do mesmo modo que pensaram e agiram os que iniciaram essas dívidas, não ia adiantar nada. Só que hoje o futebol envolve volumes tão estratosféricos de grana, que mesmo com mãos um pouco mais ligeiras aqui ou ali, ainda assim sobraria para os clubes. Quanto aos times da segunda divisão: eles teriam que subir no ranking, aos poucos, seguindo as mesmas trajetórias dos nossos grandes clubes. Paciência. Mas quem trabalhasse com seriedade, em três ou quatro anos poderia estar na elite. E o raciocínio inverso serviria para evitar a acomodação que você teme: clube grande que tivesse três ou quatro anos péssimos, cairia. Não sei. Mas acho que dá pra pensar sobre. Abração.

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