Mário e seus temores.
No comentário do último post, meu irmão Mário ainda se mostra desconfiado em relação à seleção espanhola, e teme que uma vitória de Xavi e companhia desencadeie uma irritante pressão nacional pela volta do futebol romântico e puramente ofensivo.
Quanto ao primeiro tema: pra quem desembarcou na África do Sul com excesso de elogios na bagagem, a Espanha continua devendo sim, já que sua única atuação digna de tantos confetes foi contra a Alemanha. É verdade que o estilo de jogo espanhol nos deixa cheios de desconfiança. Eu não apenas vou torcer pela Holanda, pelos motivos expostos no post da última quarta-feira, como se fosse obrigado a apostar em alguém, lançaria minhas fichas na turma de laranja. Acho um time mais consistente. No entanto, se repetir contra a Holanda a partida que fez diante da Alemanha, a Espanha leva o caneco pra casa e elimina qualquer dúvida sobre a sua qualidade, porque jogar aquilo numa semifinal e numa final de Copa do Mundo é coisa de time grande.
Quanto à questão do futebol romântico, isso eu já considero uma batalha perdida, independentemente de qual das duas venha a ficar com o título. Bato nessa tecla sempre que o assunto surge: futebol não é só defesa, nem é só ataque. Claro, o Botafogo foi campeão carioca apenas se defendendo e o Santos foi campeão paulista apenas atacando, acontece, mas futebol é o campo inteiro. Acho um erro pensar que o time da Espanha quer saber unicamente de atacar. Há várias maneiras de você se defender, e manter a posse de bola é uma das mais eficazes. Quando a equipe adversária está bem fechada em seu campo e a Espanha toca, toca, toca, nem sempre isso deve ser visto como incompetência ofensiva. Posse de bola não quer dizer nada - creio que os leitores do blog odeiam estatísticas futebolísticas tanto quanto eu -, mas se você fica setenta por cento do tempo com a bola, o adversário vai ter muito menos chance de chegar ao seu gol. Isso é óbvio até pra quem levava pau sistematicamente em Matemática, como o blogueiro.
Concordo com Mário que, a partir de agora, vai ter gente querendo escalar o meio-campo da seleção brasileira com Ganso, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Robinho, mas uma boa herança dessa Copa é a volta da ideia de que futebol tem que ser jogado por quem sabe jogar bola. O espanhol Piqué é um zagueiro que marca bem e sabe jogar. O holandês De Jong é um volante que protege bem a zaga e sabe jogar.
Como bom tricolor, Mário deve lembrar de um dos volantes mais famosos que o Fluminense teve, o Denílson - que Nélson Rodrigues chamava de "Rei Zulu". Desarmava feito um leão, era duro entrar na área do Fluminense, mas dizia-se que o Denílson tinha mesmo a obrigação de desarmar mais do que qualquer outro, porque toda bola que tomava, ele devolvia, por ter um péssimo passe. No final do jogo contra Portugal, Gilberto Silva errou um passe de dois metros para Josué, sem qualquer marcação. Já no meio-campo da Holanda, da Espanha e da Alemanha, todo mundo sabe jogar bola. Clodoaldo, Piazza, Zé Carlos, Falcão, Cerezo, todos esses caras eram volantes e todos jogavam muito.
O futebol fica mais legal quando as jogadas começam nos pés de quem conhece o assunto.
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