Deu pra ti, Dunga.
Acho que existem três linhas de raciocínio distintas pra gente tentar entender a derrota da seleção brasileira.
A primeira segue o caminho da esportividade blasé, que nós, brasileiros, não aceitamos: não dá pra ganhar tudo, todas e sempre. Ganha-se aqui, perde-se ali, futebol é assim mesmo. Isso é absolutamente verdadeiro, mas pra nós não serve.
A segunda procura explicações em certas peculiaridades daquela partida, em função de alguns conceitos do jogo. De certa forma, aconteceu na eliminação do Brasil diante da Holanda o mesmo que houve na recente eliminação do Corinthians diante do Flamengo. Depois de uma primeira fase morna, em que enfrentou adversários de uma ruindade assombrosa, o Corinthians fez, naquele primeiro tempo, sua melhor exibição na Libertadores. Mas cometeu um erro imperdoável: não matou o jogo. Era impossível manter aquele ritmo alucinado o tempo inteiro, e o Corinthians acabou perdendo a classificação. O Brasil idem. O primeiro tempo da seleção brasileira contra a Holanda foi a melhor coisa do nosso time na Copa, mas era fundamental aproveitar o desequilíbrio holandês – revelado já no gol anulado de Robinho – para fazer o segundo e pôr a classificação no bolso. No segundo tempo, era previsível: nem nós conseguiríamos jogar tanto, nem eles poderiam jogar tão pouco. Os papéis se inverteram, só que a seleção holandesa soube aproveitar o descontrole brasileiro.
A terceira linha é a que quase sempre preferimos: mesmo sendo apaixonados por um esporte coletivo, mantemos a tendência a individualizar, apontando responsáveis pelas vitórias e culpados pelas derrotas. Como esse é mesmo o nosso jeito, vamos lá.
No gol de empate, Júlio César falhou tanto na comunicação quanto na atitude. É óbvio que aquela bola era dele, e Júlio deveria ter gritado isso mais alto que todas as vuvuzelas juntas. E mesmo que Felipe Melo não tivesse saído da jogada, como não saiu, nosso goleiro deveria ter passado por cima dele, atropelado, socado sua cabeça junto com a bola, qualquer coisa – estamos falando de quarta de final de Copa do Mundo.
A linha de passe do ataque holandês no lance do segundo gol é inadmissível quando se tem uma zaga experiente e atenta.
Mas se é para individualizar, sigo em frente e pergunto: Luís Fabiano não é um guerreiro que, feito o David Copperfield da grande área, se solta das amarras que prendem sua chuteira ao gramado, se antecipa ao zagueiro e manda de voleio para as redes uma bola que pesa feito pedra? Pois eu não vi nada disso, e olha que ainda dizem que a Jabulani é levinha. O que eu vi em campo foi um gatinho manso e perdido entre os defensores holandeses, sem se movimentar, sem tentar fugir da marcação, sem abrir espaços. Um autêntico "homem de referência", desses que só servem para emperrar o time. Luís Fabiano está longe de ser um Higuaín, mas também está longe dos grandes centroavantes que já tivemos.
O maior desastre individual de todos foi, claro, o Dunga. Técnicos de futebol são teimosos por definição, e têm que arcar com isso. É o preço. Ou seja: quando são teimosos e ganham, não há o que fazer a não ser tirar o chapéu para eles; quando são teimosos e perdem, que aturem o chumbo grosso. Dunga errou na convocação, adotando critérios pouco futebolísticos pra levar Doni, Gilberto, Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué, Kléberson, Grafiti. No jogo de futebol, não importa se você é feio ou bonito, se é temperamental ou comedido, se é fiel ou galinha, se é evangélico ou ateu. No jogo de futebol, o que importa é saber jogar bola. Errou contra a Costa do Marfim, quando a partida estava definida e ele não tirou Kaká após o cartão amarelo – Kaká acabou expulso. Errou contra o Chile, quando a partida estava definida e ele não tirou Ramires e Juan que tinham cartões amarelos – Ramires acabou levando o segundo, ficou fora contra a Holanda e fez uma falta danada. Errou contra a Holanda, ao não substituir Felipe Melo logo no início do segundo tempo, depois daquela irresponsável jogada de calcanhar na frente da nossa área. E, no que foi o maior erro de todos, não conseguiu deixar o time psicologicamente preparado para reagir a adversidades: com o placar desfavorável, o Brasil virou um bando dentro de campo. Como torço para o Flamengo, estou bastante acostumado com isso. Mas da seleção brasileira a gente tem a obrigação de esperar muito mais.
Mortinho. Você também acha que o clime de concentração militar implantada pelo Dunga, de raça extrema chegando até no nivel de raíva acabou passando para os jogadores, tirando um pouco da irreverência do nosso estilo de jogo?
ResponderExcluirEu acho que sim. Como escrevi no post, o time estava claramente descontrolado, não soube jogar com o placar adverso, meteu os pés pelas mãos. E é aquela velha história: não existe fórmula para um time de futebol dar certo. Você pode ganhar ou perder jogando feio ou bonito. Então, por que escolher jogar feio? Se jogar feio fosse garantia de vitória, ok, jogue-se desse jeito. Mas não é. Portugal jogou feio. O Brasil jogou feio. E os dois voltaram pra casa antes do que esperavam. Abraço.
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