sexta-feira, 30 de julho de 2010

O pior Flamengo dos últimos cinco anos.
Nem precisava, porque a gente tem visto o que está indo a campo, mas a entrevista do Zico no Bem, Amigos da última segunda-feira deixou claro que viveremos alguns anos de recessão. Ninguém discute o acerto na política de investir no CT, parar de pagar salários injustificáveis (parece que o Dênis Marques ganhava duzentos e vinte e cinco mil reais por mês) e dar um basta no festival de sandices que tem caracterizado as gestões do clube. Até aí, tudo bem. Ficar três ou quatro anos sem brigar pra vencer o Brasileirão não é problema. Ficar quatro ou cinco anos sem participar da Libertadores, menos ainda. Mas eu pergunto: e se o time descer pra segunda divisão, a torcida vai continuar apoiando o projeto? A política interna do clube vai permanecer sossegada, só porque é o Zico? Sejamos práticos: para o Galinho continuar lá e o projeto ser levado adiante, é preciso um mínimo de resultados dentro do campo. O problema é que, nos últimos cinco anos, o rubro-negro nunca teve um time tão fraco quanto o atual. Senão, vejamos. 
Em 2006 o Flamengo foi campeão da Copa do Brasil. Fez um Campeonato Brasileiro medíocre, terminando em décimo-primeiro lugar, mas sem risco de rebaixamento. Além disso, mal ou bem o time tinha jogadores de qualidade, como Diego Souza, Renato Augusto e Jônatas, que teve um ótimo começo, chegou a ser chamado para a seleção brasileira e depois jogou a carreira no lixo, por uma incompreensível aversão aos treinamentos físicos. 
Em 2007 o Flamengo foi campeão carioca e ficou em terceiro lugar no Brasileirão. Em 2008 foi bicampeão carioca e ficou em quinto no Brasileirão, perdendo a vaga pra Libertadores na última rodada. Em 2009 foi tricampeão carioca e Campeão Brasileiro, depois de dezessete anos. 
Portanto, 2010 será o único dos últimos cinco anos em que o Flamengo não vai ganhar nada – e, faço questão de reforçar, tem grande chance de cair pra segundona. Não tenho receio em afirmar que o Flamengo tem, hoje, o pior ataque entre os vinte clubes que disputam o Campeonato Brasileiro. É um vexame. E o que está acontecendo com as contratações seria cômico se não fosse trágico. Namoraram Felipão, casaram com Rogério Lourenço. Sonharam com Ronaldinho Gaúcho, acordaram com Marquinhos do Palmeiras – que, aliás, jogou quarenta e cinco minutos e já foi embora. Falaram no zagueiro Réver, pegaram o Jean. Negociaram com Montillo e Riquelme, trouxeram Correa e Renato Abreu. Tentaram Kléber Gladiador e Rafael Sóbis, conseguiram Val Baiano e Cristian Borja. Fizeram a fineza de renovar o contrato do atabalhoado David, mantiveram os lamentáveis Michael e Fernando, e agora nos ameaçam com Gilberto Silva. Os maiores reforços do time para o Brasileirão pós-Copa foram as dispensas do Ramón, do Gil, do Dênis Marques e do Bruno Mezenga. 
Se continuar assim, o Flamengo cai. E com ele, caem também Zico e seu projeto.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Libertadores aproxima o nosso futebol do futebol americano.
Defendo a controvertida tese de que os torcedores brasileiros dão à Libertadores uma importância desproporcional, quase da mesma forma que a mídia tenta fazer com o torneio de futebol na Olimpíada. Não consigo me empolgar com esse sonho de faturar nossa primeira medalha de ouro no futebol olímpico, que me parece meio fabricado. Acho futebol na Olimpíada tão desimportante quanto esses mundiais subvinte ou subdezessete ou subqualquer coisa. A Libertadores não chega a tanto, é emocionante e envolvente, mas que deveríamos encarar como mais uma competição. Os clubes mexicanos, por exemplo, continuam privilegiando o seu campeonato nacional. Até mesmo os argentinos, com sua incontestável hegemonia no torneio, costumam enxergá-lo de forma mais natural, em vez de transformá-lo em questão de vida ou morte. Nessa edição da Libertadores, o Estudiantes mandou um time misto para a primeira partida das oitavas de final, contra o San Luís no México, porque tivera um compromisso importante pelo campeonato argentino no domingo anterior. Em vários jogos da Libertadores que vi esse ano, foi fácil perceber o que ontem ficou claramente confirmado: o regulamento, a mentalidade e o conceito da Libertadores transformam jogos de futebol em estranhos espetáculos de ataque contra defesa, mesmo quando os times se equivalem – o que é o caso de São Paulo e Internacional. Futebol requer equilíbrio. Claro que você tem que saber se defender, mas tem que atacar também, e para isso é importante contar com jogadores que façam a bola sair da defesa e chegar ao ataque. Muitos jogos da Libertadores se parecem com jogos de futebol americano, em que os times têm uma formação para atacar e outra para defender, as duas se revezando na mesma partida. E aí, ficamos assim: fora de casa, só defendemos; em casa, atacamos feito índios. Ontem, se o São Paulo tivesse entrado com Xandão e Renato Silva nos lugares de Fernandão e Dagoberto, não haveria qualquer diferença. E todo mundo acha que é isso mesmo, Libertadores pede esse tipo de comportamento, só ganha quem joga desse jeito. Pode ser. Mas o resultado é que, apesar da empolgação, da emoção, da tensão e do nervosismo, os jogos da Libertadores costumam ser tecnicamente pobres. A não ser pra quem é fã do futebol americano, o que definitivamente não é o caso desse blog.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Agora, deixa o homem trabalhar.
Gostei da primeira lista do Mano, apesar de não conhecer direito o lateral Rafael e o meia Éderson, de achar estranha a convocação do Jucilei e de ver uma certa precipitação em chamar o Renan, que é bom goleiro mas tem menos de dez jogos como titular do Avaí. De qualquer modo, tá valendo. Sobretudo por revelar uma renovação de espírito, um novo conceito. Agora é botar pra jogar e ver quem aguenta o tranco de verdade. É provável que alguns venham a sucumbir, mas faz parte: seleção brasileira é para poucos. Os quatro remanescentes da Era do Comprometimento não tiveram culpa de nada na última Copa. Tiago Silva sequer foi testado, Daniel Alves lutou feito um leão, Ramires entrou bem e teria se firmado, não fosse o cartão amarelo contra o Chile, e Robinho foi nosso melhor jogador na África do Sul. Todos têm crédito e todos sabem jogar bola, o que parece essencial nesses novos tempos. Também gostei dos trechos que vi da entrevista coletiva. Entendo que não é fácil aturar a mesmice e o despreparo da maioria dos nossos repórteres esportivos, mas fiquei com a impressão de que um dos grandes problemas do Dunga era sua pequenez intelectual. É bastante possível que, por não compreender direito as perguntas, Dunga já saísse espanando nas respostas, como se estivesse se defendendo das próprias limitações. Mano tirou todas de letra, sem arrogância e com um sorriso sereno nos lábios. Um bom começo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quatro notas sobre o final de semana.
Fluminense e Botafogo fizeram uma partida que explica por que o futebol é tão bacana. O Fluminense líder do campeonato, o Botafogo lá na rabeira; o Fluminense com as contratações mais caras do futebol carioca para o Brasileirão, o Botafogo com o mesmo time do título estadual; o Fluminense com o técnico que fora convidado para dirigir a seleção brasileira, o Botafogo com um técnico que a toda hora é vítima de chacotas. E não é que o Botafogo deu um calor no Fluminense? Foi melhor o jogo todo, Leandro Guerreiro anulou Conca, Somália correu uma barbaridade e dominou o meio-campo, e o time ainda encontrou forças para chegar ao empate e quase virar, depois de tomar um gol absurdo, numa cobrança de tiro de meta infeliz do bom goleiro Jéfferson. O Botafogo não desanimou, partiu pra cima, conseguiu empatar aos trinta do segundo tempo e, até o final, teve mais quatro grandes chances de gol, que terminaram com uma cabeçada de Antônio Carlos na trave e três ótimas defesas de Fernando Henrique em chutes de Leandro Guerreiro, Edno e Caio. Surpreendentemente, um jogaço. 
Nesse final de semana, vi quatro expulsões bastante discutíveis: Daniel Carvalho e Neto Berola do Atlético Mineiro, Danny Morais e Somália do Botafogo. É preciso ter muito cuidado pra não voltarmos ao lamentável nível de arbitragens que tivemos no início do ano, durante os campeonatos estaduais. 
Bonita e merecida a homenagem da torcida e dos jogadores do Corinthians ao Mano Menezes. Apesar de não ter atingido a principal meta do clube, não conseguindo realizar o antigo sonho de conquistar a Libertadores, Mano fez um trabalho muito bom. A gente precisa compreender que técnico de clube tem sempre certas limitações, pela necessidade de trabalhar com o que está disponível. Houve erros, como a indicação do Tcheco, que sempre foi mediano mas que chegou para a torcida corintiana vendido como craque. As indicações de Iarley e Danilo, pelo estranho critério da “experiência na Libertadores”. E o mais grave de todos, que foi a demora em reacertar o time depois da saída de André Santos, Cristian e Douglas – o que talvez tenha colaborado para a eliminação precoce na Libertadores. Mas o saldo é bastante positivo. Como escrevi no post da última sexta-feira, meu preferido era o Vanderlei Luxemburgo, um cara competente mas nebuloso, um técnico sem dúvida discutível. Meu segundo nome era o Mano, à frente do Muricy e também do Felipão. Acho que ele tem tudo pra fazer sucesso. 
O treinador do Flamengo, Rogério Lourenço, disse que o resultado do jogo com o Inter foi injusto, e que o Flamengo merecia melhor sorte. Acho bobagem falar sobre justiça ou injustiça no futebol, mas como quem começou foi ele, vamos lá. Foi injusto sim, porque o Flamengo merecia perder de muito mais. Aliás, a torcida rubro-negra deveria torcer com todas as forças para que isso acontecesse o mais rápido possível – de preferência contra o Vasco, já no próximo domingo. O maior Flamengo de todos os tempos surgiu depois de uma goleada que o time levou do Grêmio, no Estádio Olímpico. O Flamengo atual está precisando levar outra chacoalhada daquelas, para que joguem uma bomba no time e comecem tudo de novo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Descendo do muro.
Existem alguns assuntos dos quais esse blog foge descaradamente. Um deles é essa comoção nacional em torno da escolha do novo técnico da seleção. Não consigo dar a técnicos de futebol essa importância que eles passaram a ter, sobretudo aqui no Brasil. E o engraçado é que, pelo talento dos jogadores brasileiros, o que menos deveria importar pra nós é, justamente, o técnico. O cara treinar a seleção da Suécia e levá-la a uma semifinal da Copa, como aconteceu em 94, é digno de registro e aplauso. Aqui no Brasil é obrigação. Reconheço que, em certos momentos e em jogos específicos, a importância do treinador aumenta, mas continuo acreditando que técnico bom é o que não atrapalha. 
Falar nisso: no último programa Central da Copa, da Globo, Ronaldo Fenômeno participou como convidado. Ele disse ter sido dirigido, durante um ano, por Vicente del Bosque, e que o cara é fantástico. Tranquilo, divertido, boa-praça. E fechou mais ou menos com essas palavras: "Você precisa ver a preleção dele. Dura três minutos. Pergunta se tá tudo ok, e manda pro jogo." Ronaldo ainda aproveitou pra dar uma pedalada nos técnicos que dão preleções de quarenta minutos. Ou seja: não tem nada dessa baboseira de que a gente é guerreiro, a gente é sangue bom, a gente é família. Se uma seleção chega à final da Copa do Mundo e os jogadores precisam de uma palestra de autoajuda para ser motivados, algo está muito errado. 
Parece que a preferência nacional é mesmo pelo Felipão, mas eu tenho minhas dúvidas. Felipão conquistou títulos importantes com Grêmio e Palmeiras, foi campeão do mundo em 2002, mas depois disso não arrumou mais nada. Levar Portugal à final da Eurocopa é um mérito, mas perder a final da Eurocopa para a Grécia, em Lisboa, é um vexame. Chegar com Portugal ao quarto lugar na Copa do Mundo é bacana – mas é quarto lugar, né? Fracassou no Chelsea, ninguém ouviu falar de nada lá no Uzbesquistão. Não custa lembrar que, ao ser convidado para comandar a seleção brasileira na Copa de 2006, Parreira também tinha vencido um Mundial, o de 94. E deu no que deu. Pode ser o Felipão? Pode. Mas só pode ser o Felipão? Não. 
Leonardo é o Dunga bonitinho e com bons modos. Chegaram a falar em Dorival Jr., certamente pelo primeiro semestre do Santos. Já devem ter parado de falar no Dorival Jr., por causa do segundo semestre do Santos. Gosto do Mano, mas a verdade é que o Mano ainda não tem um título de importância indiscutível. Ganhou estaduais, que os próprios clubes têm se encarregado de afundar cada vez mais na lama, levou times da segunda para a primeira divisão, que é o melhor job que um treinador de futebol pode querer, e levantou a Copa do Brasil com o Corinthians. Troféu que o Péricles Chamusca também ergueu com o Santo André, Vagner Mancini com o Paulista de Jundiaí e Nelsinho com o Sport. Não credencia ninguém. Repito: acho Mano Menezes um bom técnico, mas ainda tem pouca coisa no portfolio. Como não posso falar do Muricy, para não atrair a ira eterna e as pragas violentíssimas do meu grande amigo Jaime Agostini, meu voto vai para ele, o insuperável, o magnânimo, o genial, o charmoso, o mestre das maracutaias e irresistível conquistador de manicures. 
Chega de ficar em cima do muro: para técnico da seleção brasileira, o blog vota no professor doutor Vanderlei Luxemburgo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O rebaixamento deveria ser repensado. 
Sempre desconfiei de que algo estava errado nesse critério de rebaixamento. A desconfiança virou convicção em 2008, quando tivemos a honra de contar com o Ipatinga na primeira divisão, enquanto o Corinthians já ensaiava na segundona o belo futebol que viria a estourar no iníco de 2009, quando o time ganhou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Eu ficava imaginando que diabos o futebol brasileiro ganhava com o Ipatinga na primeira e o Corinthians na segunda, e via o quanto de dinheiro nossos combalidos clubes perdiam com essa idiossincrasia. Como aquilo não fazia sentido, passei a juntar em minha cabeça alguns argumentos contra o rebaixamento, pelo menos do jeito que ele é feito hoje. 
Pra começar, acho que a possibilidade de um time cair (sempre existe, né?) pode afastar patrocinadores mais diligentes, porque é preciso muita disposição para pôr uma montanha de dinheiro num negócio totalmente imprevisível. Quem não lembra do “melhor ataque do mundo”, formado por Edmundo, Romário e Sávio? Era pra ganhar tudo, não ganhou nada. Futebol é assim, e colocar dinheiro em futebol será sempre um risco. Aí você investe pesado num time, as coisas dentro de campo dão errado e lá vai toda a sua grana para a segundona. Não sei se os patrocinadores pensam nisso, mas deveriam pensar. 
Ah, mas a não existência do rebaixamento é totalmente antiesportiva. Pode ser, não sei. Mas sei que uma das competições mais espetaculares e lucrativas do esporte mundial, a NBA, não tem rebaixamento. Pelo contrário: em vez de mandar os últimos colocados para uma divisão abaixo, os caras que cuidam da NBA procuram reforçá-los. 
Pela lógica, as duas perguntas seguintes são: 
1) Mas que critério adotar para escolher os vinte clubes? 
2) O que fazer com os demais? 
As respostas são simples, e cabem na mesma palavra: ranking. 
Não estamos acostumados com rankings, mas eles existem no futebol. A FIFA tem um critério lá dela para rankear as seleções mundiais, e assim estabelecer quem é ou deixa de ser cabeça de chave nas Copas do Mundo. Alguém sabe por que a Liga dos Campeões da Europa tem, por exemplo, quatro clubes ingleses, três franceses e dois portugueses? Por causa de um ranking criado pela UEFA. Ou seja: teríamos o nosso ranking para definir os vinte clubes, e também haveria subida e descida, mas só quando acontecesse alguma mudança no ranking. É assim na Liga dos Campeões da Europa. 
Acho um crime castigar qualquer um dos nossos grandes e históricos clubes, jogando-o para a segunda divisão só por causa de uma temporada infeliz. Agora: se esse mesmo clube tiver duas, três, quatro temporadas ruins, ele certamente cairá no ranking e, aí sim, segunda divisão nele. 
Outra vantagem do ranking é que ele desestimularia aventuras financeiras que a gente cansa de ver nas divisões inferiores. No ano passado, quando o Guarani garantiu o seu retorno à primeira divisão, o técnico Vadão foi entrevistado ainda no campo de jogo. Perguntado sobre os planos para 2010, ele disse que não tinha a menor ideia de nada e que não sabia com quais jogadores poderia contar, já que nenhum deles pertencia ao clube. O Guarani era apenas uma fachada para um grupo de empresários. 
Da temporada 2009 para a temporada 2010, o Grêmio Barueri mudou de nome e de cidade, virou Grêmio Prudente e se desfez de nove jogadores do seu time titular. Xandão, André Luiz e Fernandinho foram para o São Paulo, Leandro Castan e Ralf para o Corinthians, Márcio Careca para o Vasco, Tiago Humberto para o Internacional, Éverton para o Fluminense, Val Baiano para o futebol mexicano. Isso não é um time de futebol: é um balcão de negócios. Isso não é coisa de clube que mereça estar na primeira divisão. Com o critério do ranking, só subiriam para a primeira divisão clubes que trabalhassem com seriedade durante alguns anos. 
Outro dia eu li uma entrevista do Andrés Sanchez em que ele calculava a dívida do Corinthians em cerca de cem milhões de reais. E completava: se a torcida corintiana se resignasse a ter um time mediano e que apenas lutasse para não cair, ele pagava a dívida em menos de doze meses. Pois então: não estaria aí uma razoável solução para os nossos clubes se ajustarem financeiramente? Sem o risco do rebaixamento imediato, eles teriam tranquilidade para promover jogadores das divisões de base – mesmo que passassem um ano inteiro só tomando sacode – e depois voltariam mais fortes, sem dever nada a ninguém. Seria um jeito de começar de novo e, quem sabe?, agora fazer dar certo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Uma pergunta da Dani e outras perguntas minhas. 
Minha amiga Dani Carvalho ontem perguntou por que os jogos da Copa não podem ser no Pacaembu. Aproveito o embalo para reforçar a pergunta, estendendo-a ao Morumbi, e fazer outras. 
A primeira delas é essa: por que temos que fazer a nossa Copa seguindo um padrão europeu de qualidade? Como escreveu Ary Barroso e cantou João Gilberto, isso aqui, ioiô, é um pouquinho de Brasil, iaiá. Não vamos nos curvar à bagunça e ao improviso, ok, mas nem oito nem oitenta. Vai dizer que a Copa de 2010 na África do Sul teve infraestrutura tão poderosa quanto a de 2006 na Alemanha? E se tivesse, alguma coisa estaria errada. 
Eu vi, na ESPN, o José Trajano dizer que lá na África do Sul essa história de estacionamento, por exemplo, não tinha em estádio nenhum. A torcida do São Paulo lotou o Morumbi no jogo contra o Cruzeiro pela Libertadores, vai lotar novamente contra o Inter, não vai caber uma pulga a mais se o time chegar à final, e os caras vão de metrô, trem, van, a pé, quem vai de carro estaciona onde der; mas para receber três ou quatro jogos da Copa tem que construir um mirabolante estacionamento pra não sei quantos mil carros? Como assim? Por acaso os abastados, belos e cheirosos turistas do primeiro mundo virão para a nossa Copa em seus confortáveis automóveis? É claro que é necessário melhorar muito a rede de transportes, apertar a segurança, dar um tapa no estádio, conservar bem o gramado. Mas isso é mais simples, não? 
Voltando ao Pacaembu: se a abertura da Copa vai ser vista pela tevê por bilhões de pessoas no mundo inteiro, qual a diferença entre ter quarenta ou sessenta mil no estádio? É óbvio que ninguém vai pensar em fazer o jogo de abertura aqui no Anacleto Campanella, mas não seria justo relevar certas coisas em nome da história, da tradição e de tudo que o Pacaembu representa para a cidade de São Paulo? E outra: nunca fui lá, mas já ouvi de vários amigos paulistanos que o Pacaembu é fantástico para se assistir a jogos de futebol. A torcida corintiana lota o estádio o ano inteiro, promovendo espetáculos emocionantes e inesquecíveis. Não é exatamente isso o que se espera de uma Copa do Mundo? 
Para continuar com esse tão sofisticado padrão de exigências, seria melhor abandonar a ideia de uma Copa itinerante e democrática – que foi o que a levou para a África do Sul –, e fazê-la sempre na Suíça.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Correria desenfreada.
A gente ainda nem acabou de falar mal do Felipe Melo, e já tem que se preocupar com o Campeonato Brasileiro. Haja preparo físico – coisa que, aliás, me impressionou nessas duas rodadas disputadas após o retorno. Graças à liberalidade de um chefe gente boa e também amante do futebol (apesar de palmeirense), consegui ver muito mais jogos da Copa do que esperava. E mesmo vendo bastante coisa do crème de la crème da bola, ainda assim me surpreendi com a correria das primeiras partidas a que assisti na volta do Brasileirão. Nossos times estão correndo mais do que as seleções que foram à África do Sul. Flamengo e Botafogo, Palmeiras e Santos, Santos e Fluminense, todos foram disputados em altíssima velocidade. O Vitória atropelou o São Paulo na base da correria. Claro: muita correria leva a mais erros e mais trombadas, o que às vezes transforma o jogo num espetáculo meio atrapalhado. Por outro lado, também serviu pra mostrar que o critério de nossas arbitragens parece ter dado uma subida de nível – com exceção de dois ou três pênaltis meio marotos que andaram sendo marcados. De qualquer modo, é melhor esperar: as arbitragens na Copa também começaram excelentes, para depois se transformar em desastres. Já devo ter escrito aqui no blog, mas não custa repetir: o que mais me incomoda nas arbitragens não são exatamente os erros, a não ser em casos específicos e decisivos, mas os critérios. O juizinho que dá falta em qualquer choque, que embarca na encenação de jogadores que preferem jogar deitados, que saca o cartão em todas as divididas, que não pode ver alguém cair na área que logo aponta pra marca fatal, isso é o que há de mais irritante no futebol. E a mudança de critérios dos campeonatos estaduais para o campeonato brasileiro é visível e positiva. Para encerrar, uma curiosidade: os atacantes que o Flamengo tem hoje no elenco são Diego Maurício, Paulo Sérgio, Vinícius Pacheco, Cristian Borja e, apesar de ainda não ter estreado, Val Baiano. E vocês sabem qual o único dos vinte times do Brasileirão que marcou gol em todos os nove jogos? Flamengo. Vai entender.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Duas rapidinhas sobre os jogos de ontem.
Flamengo e Botafogo fizeram o que era possível com as escalações que mandaram ao Maraca. Muita luta, muita correria, muita vibração e pouquíssima qualidade. O jogo foi decidido numa jogada brilhante do único cara em campo capaz de fazer alguma coisa diferente, o Petkovic. 
Quando sintonizei no jogo entre Ceará e Corinthians, a partida já estava com quarenta minutos do segundo tempo. Mas ainda deu tempo de ouvir o comentarista Caio insinuar uma comparação entre o estilo de jogo do Corinthians e o da seleção espanhola. Não satisfeito, pouco depois ele fez um comparativo entre a dupla Tcheco e Danilo e a dupla Xavi e Iniesta. Quem viu o jogo na Globo, por favor me esclareça: foi isso mesmo ou eu estava com sono, adormeci e sonhei?
Zico botou mais uma falta lá na gaveta. Mas bateu outro pênalti em cima do goleiro.
O galinho cantou alto e grosso. Deu uma de Felipe Melo e espanou geral. Não acompanho as divisões de base do Flamengo – vi alguma coisa da última Copinha, porque estava em casa convalescendo de uma rápida cirurgia –, mas o que tem surgido de jogadorzinho medíocre vindo de lá é assustador. A maior esperança era o Erick Flores, que teve duzentas chances no time principal, negou fogo em todas e acabou emprestado ao Ceará, onde está na reserva. É claro que não há outra saída para os clubes brasileiros a não ser investir nas divisões de base, mas tem que saber fazer. Talvez eu seja injusto, mas tenho a impressão de que aqui no Brasil ninguém está fazendo muito direito não. O Flamengo foi campeão brasileiro em 2009 com apenas um jogador formado na casa, o Adriano, justamente o que parecia se importar menos com essa coisa de imagem do clube, a instituição é maior do que tudo etc. Não acho que Rogério Lourenço tenha a pegada necessária para ser técnico do Flamengo, e um de seus maiores defeitos (assim como da nossa presidente Patrícia Amorim) é achar que tudo que vem da base é bom. Zico meteu a bola lá na gaveta ao deixar claro que, dos que estão lá, não dá para aproveitar ninguém. Não sei exatamente em que contexto a frase foi dita e a intenção talvez nem tenha sido lançar excrementos ao ventilador, mas está certíssimo. Achar que dá para arrumar o time puxando gente debaixo é ilusão. Por outro lado, o galinho repetiu 86 e bateu outro pênalti nas mãos do goleiro, ao dizer que era melhor não ter sido campeão brasileiro. Aí não. O Flamengo vem sendo essa bagunça absoluta desde, no mínimo, 2001, quando Vampeta saiu de lá dizendo a famosa frase: “O Flamengo fingia que me pagava e eu fingia que jogava.” O título do ano passado pode, quando muito, ter piorado uma situação que já era péssima. Perguntem aos torcedores do Corinthians se eles acham ruim o time ter sido campeão brasileiro em 2005, mesmo com as trapalhadas financeiras do Kia Joorabchian que, segundo alguns, acabaram levando o time à segundona. O Corinthians caiu, sim, mas dois anos antes conquistara o título. Já o Botafogo, o Palmeiras, o Grêmio, o Atlético Mineiro e o Vasco, que também visitaram a segunda divisão neste século, não sabem o que é ser campeão brasileiro desde o século passado. Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra, e o comportamento presunçoso dos jogadores do Flamengo já vem de muito tempo, até mesmo dos anos em que, como tudo indica que vai acontecer novamente agora, o time teve que brigar até a última rodada pra não cair.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Acabou a fantasia. Hoje volta o futebol de verdade.
Agora que a Copa acabou, vamos voltar à vida real. Sim, porque não dá para acreditar muito em todos aqueles jogos com estádios lotados, pacíficas filas indianas nos portões de entrada, torcidas adversárias confraternizando, mulher bonita que não acaba mais na arquibancada, times entrando juntos pelo vestiário central, a bola tratada com extrema cerimônia antes dos jogos – e às vezes também durante as partidas, como pudemos perceber quando estavam em campo a Austrália, a Coreia do Norte e o Gilberto Silva –, vestiários que deixam a gente com vontade de morar neles (cômodos amplos e arejados, piscina térmica, espaço gourmet, etc.). Nosso negócio aqui é outro. Ilha do Retiro, Barradão, São Januário, banheiros do Maracanã, torcidas se matando em brigas combinadas pela internet, gás de pimenta no vestiário, quebra-quebra em protesto contra a queda pra segunda divisão. É o futebol-verdade, novamente em cartaz a partir das sete e meia da noite. E um pouco mais tarde, o choque de líderes: Ceará e Corinthians, os dois únicos invictos do campeonato, se enfrentam no Castelão. Mas precisamos de paciência, porque ainda não é agora que o campeonato começa pra valer: temos que esperar o fim da janela europeia. Aí sim, sabendo quem ficou, quem foi e quem veio, dá pra gente ter uma ideia de quem poderá fazer o quê.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Os melhores da Copa 2010.
Seleção: Casillas no gol; Lahm, Piqué, Friedrich e Fábio Coentrão na zaga; Schweinsteiger, Xavi, Iniesta e Sneijder no meio-campo; Muller e Diego Forlan no ataque.
Menções honrosas: os goleiros Eduardo (Portugal) e Stekelenburg (Holanda), os zagueiros Mensah (Gana) e Tanaka (Japão), os volantes Perez (Uruguai) e Busquets (Espanha), o meia Ozil (Alemanha) e, a título de consolo, o nosso Robinho.
Gol mais bonito: Tshabalala (África do Sul), contra o México;
Defesa mais importante: briga boa entre Stekelenburg (Holanda), no chute de Kaká que teria mudado a história da Copa, e Casillas (Espanha), na jogada em que Robben entrou livre e ele impediu o gol que daria o título à seleção holandesa.
Melhor jogo: Alemanha quatro, Inglaterra um.
Melhor exibição: Alemanha, nos quatro a zero em cima da Argentina.
Momento mais emocionante: o pênalti que Azamoah Gian bateu no travessão, no último lance da prorrogação das oitavas de final entre Gana e Uruguai.
Lance mais bizarro / mais eficiente: a defesa em cima da linha de Suarez, cometendo o pênalti que permitiu à seleção muito meia-boca do Uruguai seguir na competição.
Os piores da Copa 2010.
Anti-seleção: Muslera (Uruguai); Gutierrez (Argentina), Demichelis (Argentina), Osorio (México) e Heinze (Argentina); Gilberto Silva (Brasil), Felipe Melo (Brasil) e Máxi Rodrigues (Argentina); Cristiano Ronaldo (Portugal), Cardoso (Paraguai) e Higuaín (Argentina).
Gol mais esquisito: o gol contra de Agger (Dinamarca), a favor da Holanda.
Gol “Até o Paulo Asano faria”: Higuaín (terceiro gol da Argentina contra a Coreia do Sul).
Gol “Nem o Paulo Asano perderia”: Yakubo (Nigéria), contra a Coreia do Sul.
Maior frango: Green (Inglaterra), no jogo contra os EUA.
Pior jogo: páreo duro entre Suíça zero, Honduras zero e Brasil zero, Portugal zero.
Pior seleção da primeira rodada: Grécia.
Pior seleção da segunda rodada: Eslováquia.
Pior seleção da terceira rodada: Suíça.
Pior seleção das oitavas: EUA.
Pior seleção das quartas: Argentina.
Maior fiasco: Argentina, na derrota de quatro a zero para a Alemanha.
Troféus especiais da Copa 2010.
Troféu A Grande Mentira: Seleção da Argentina.
Troféu Pinóquio: Fabio Capello, técnico da Inglaterra.
Troféu Salve Simpatia: Raymond Domenech, técnico da França.
Troféu Ioiô: Seleção Brasileira (foi mal contra a Coreia do Norte, muito bem contra a Costa do Marfim, horrorosa contra Portugal, excelente contra o Chile, magnífica no primeiro tempo contra a Holanda e um desastre no segundo tempo contra a Holanda). 
Troféu Stevie Wonder: Os uruguaios Jorge Larrionda (juiz) e Mauricio Espinosa (bandeirinha), que não viram a bola quicar quase meio metro dentro do gol do alemão Neuer, no chute de Lampard.
Troféu Fairplay: Felipe Melo e De Jong (Holanda).
Troféu Anta Africana: Felipe Melo (De Jong, pelo menos, não foi expulso).
Troféu Cidade Maravilhosa: Umberto Undiano, juiz espanhol que apitou Sérvia e Alemanha, distribuiu nove cartões amarelos e marcou um pênalti meio maroto. Arbitragem do tipo que só se vê no Campeonato Carioca.
Troféu Bagunça Brasil 2006: Seleção da França.
Troféu Ronaldo Fenômeno: Blanco (México). Tava gorducho à beça.
Troféu Deus Tem Mais o Que Fazer Do Que Ver Jogo de Futebol: Jorginho, nosso auxiliar técnico fundamentalista.
Troféu Quem Sabe Nunca Esquece: Maradona, pelo show à parte toda vez que a bola vinha em sua direção, à beira do campo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Virei casaca.
Nélson Rodrigues costumava dizer que o homem podia, de vez em quando, trocar de endereço, trocar de emprego, trocar de mulher, o homem só não podia trocar o time para o qual torce. 
Foi circunstancial, claro, mas na final da Copa eu troquei. No post publicado em 7 de julho, com o título "O futebol tem uma dívida com os holandeses", declarei minha decisão de torcer pela Holanda. É verdade que essa ideia começou a balançar quando eu li que Sneijder estava próximo de igualar o feito de Pelé, que em 1962 ganhou todos os títulos que disputou. Achei que seria muita areia pro caminhão do Sneijder. E logo que o jogo começou, com a entrada maldosa de Van Bommel em Iniesta e com a sola criminosa de De Jong no peito de Xabi Alonso, transformando em carinhoso afago o pisão de Felipe Melo em Robben, aí não tive dúvida e virei espanhol desde criancinha. 
Não me arrependi, menos pela vitória da Espanha e mais porque, confirmando o que eu já desconfiava de outros jogos, Van Bommel é mau caráter e Robben é um fresco. Parece jogador brasileiro, desses que reclamam do juiz em toda bola que perdem. Um saco. Mas acabou acontecendo o que eu não esperava, e não queria: fiquei tenso toda vida e comemorei muito o gol de Iniesta na prorrogação, até porque considero insano que uma Copa do Mundo seja decidida nos pênaltis. Sou contra a disputa de pênaltis em qualquer situação, mas disputa de pênaltis na final da Copa é um absurdo completo. 
Sei que a maioria das pessoas deve discordar, mas achei um jogo bom, nervoso, muito marcado, embora com excesso de pancadaria por parte dos holandeses. Jogo típico de final de Copa do Mundo dos tempos modernos. Destaques: as duas defesas que Casillas fez nos pés de Robben e o beijo que ele deu em Sara Carbonero, sua bela namorada-repórter, na entrevista após o jogo; a discreta eficiência de Piqué, um zagueiraço; a incansável movimentação de Iniesta; a atuação de Fábregas, que entrou muito bem na partida e deu o precioso passe para o gol do título; o controle do jogo exercido, mais uma vez e como sempre, por Xavi; a coerência e a humildade do treinador Vicente del Bosque, com sua bonachona cara de tiozão do churrasco, em montar o time espanhol em torno da escalação e do jeito de jogar do Barcelona. (Coisa que, aqui no Brasil, é impensável. As paixões exacerbadas dos nossos torcedores e os interesses financeiros dos nossos clubes sempre impedirão que a gente tenha um time como base, mesmo que seja um timaço pleno de glórias. Só pra dar um exemplo: uma seleção com o ataque do Santos e a defesa do São Paulo não seria uma grande seleção? Mas quem toparia isso?) 
Amanhã, uma rápida listinha de melhores e piores da Copa 2010.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mário e seus temores.
No comentário do último post, meu irmão Mário ainda se mostra desconfiado em relação à seleção espanhola, e teme que uma vitória de Xavi e companhia desencadeie uma irritante pressão nacional pela volta do futebol romântico e puramente ofensivo.
Quanto ao primeiro tema: pra quem desembarcou na África do Sul com excesso de elogios na bagagem, a Espanha continua devendo sim, já que sua única atuação digna de tantos confetes foi contra a Alemanha. É verdade que o estilo de jogo espanhol nos deixa cheios de desconfiança. Eu não apenas vou torcer pela Holanda, pelos motivos expostos no post da última quarta-feira, como se fosse obrigado a apostar em alguém, lançaria minhas fichas na turma de laranja. Acho um time mais consistente. No entanto, se repetir contra a Holanda a partida que fez diante da Alemanha, a Espanha leva o caneco pra casa e elimina qualquer dúvida sobre a sua qualidade, porque jogar aquilo numa semifinal e numa final de Copa do Mundo é coisa de time grande.
Quanto à questão do futebol romântico, isso eu já considero uma batalha perdida, independentemente de qual das duas venha a ficar com o título. Bato nessa tecla sempre que o assunto surge: futebol não é só defesa, nem é só ataque. Claro, o Botafogo foi campeão carioca apenas se defendendo e o Santos foi campeão paulista apenas atacando, acontece, mas futebol é o campo inteiro. Acho um erro pensar que o time da Espanha quer saber unicamente de atacar. Há várias maneiras de você se defender, e manter a posse de bola é uma das mais eficazes. Quando a equipe adversária está bem fechada em seu campo e a Espanha toca, toca, toca, nem sempre isso deve ser visto como incompetência ofensiva. Posse de bola não quer dizer nada - creio que os leitores do blog odeiam estatísticas futebolísticas tanto quanto eu -, mas se você fica setenta por cento do tempo com a bola, o adversário vai ter muito menos chance de chegar ao seu gol. Isso é óbvio até pra quem levava pau sistematicamente em Matemática, como o blogueiro.
Concordo com Mário que, a partir de agora, vai ter gente querendo escalar o meio-campo da seleção brasileira com Ganso, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Robinho, mas uma boa herança dessa Copa é a volta da ideia de que futebol tem que ser jogado por quem sabe jogar bola. O espanhol Piqué é um zagueiro que marca bem e sabe jogar. O holandês De Jong é um volante que protege bem a zaga e sabe jogar.
Como bom tricolor, Mário deve lembrar de um dos volantes mais famosos que o Fluminense teve, o Denílson - que Nélson Rodrigues chamava de "Rei Zulu". Desarmava feito um leão, era duro entrar na área do Fluminense, mas dizia-se que o Denílson tinha mesmo a obrigação de desarmar mais do que qualquer outro, porque toda bola que tomava, ele devolvia, por ter um péssimo passe. No final do jogo contra Portugal, Gilberto Silva errou um passe de dois metros para Josué, sem qualquer marcação. Já no meio-campo da Holanda, da Espanha e da Alemanha, todo mundo sabe jogar bola. Clodoaldo, Piazza, Zé Carlos, Falcão, Cerezo, todos esses caras eram volantes e todos jogavam muito.
O futebol fica mais legal quando as jogadas começam nos pés de quem conhece o assunto.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não era mentira.
A seleção espanhola, cantada em prosa e verso desde muito antes da Copa, existe de verdade. Alguém pode rebater: alto lá, a Espanha já tinha vencido a Eurocopa de 2008. Tinha mesmo. Assim como a Grécia vencera a de 2004. Copa do Mundo é Copa do Mundo. É ali que a camisa pesa pra valer (não é, Luís Fabiano?), e aquela penca de placares acanhados na primeira rodada deixa claro que na Copa do Mundo o buraco é mais embaixo. A Espanha, por exemplo, começou perdendo da lamentável Suíça por um a zero. Os dois a zero sobre Honduras não encantaram ninguém. Os dois a um sobre o Chile, com os espanhóis jogando todo o segundo tempo com um a mais, menos ainda. Depois, um magro um a zero sobre Portugal, um magérrimo um a zero sobre o Paraguai e, então, uma obesa vitória de um a zero sobre a Alemanha. Sim, obesa, porque a Alemanha já tinha dado provas de sua força contra dois grandes adversários e passou a ostentar a faixa de favorita. Só que a Espanha atropelou. Todos nós estamos cansados de saber que futebol não tem nada a ver com justiça – o que o torna tão surpreendente e emocionante –, mas o resultado de ontem em Durban premiou a seleção que esteve melhor na defesa, melhor no meio-campo (como joga o Xavi!), melhor no toque de bola e, apesar de continuar concluindo menos do que deveria, mais perigosa no ataque. Uma grande exibição. Arrebentou com as poucas esperanças que eu ainda tinha de beliscar pelo menos o quarto lugar no bolão aqui da agência, mas foi bacana. Teremos uma final grandiosa e sem favorito. Final de Copa do Mundo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O futebol tem uma dívida com os holandeses. Por isso, vou torcer por eles.
A seleção da Holanda que chega à final da Copa de 2010 é diferente e bem menos empolgante do que as que chegaram às finais de 74 e 78. A de 74 era deslumbrante. Surpreendia no sistema tático defensivo quando, muitas vezes, parecia um bando de loucos correndo ao mesmo tempo em direção à linha do meio-campo, pra deixar o ataque adversário em impedimento. Ninguém nunca tinha visto aquilo. Surpreendia na parte ofensiva, com um toque de bola rápido, preciso e envolvente. Em poucos segundos os caras saíam da defesa e já estavam em condição de concluir. O time de 78 surpreendia menos – até porque todos já conheciam as novidades desde 74 – e não contou com Johann Cruyff, o maior jogador holandês de todos os tempos. Mas ainda assim era um timaço. Tanto a Holanda de 74 quanto a Holanda de 78 deram o tremendo azar de fazer a final contra equipes da casa. A gente sabe que isso tem peso decisivo no futebol, e mais ainda em copas do mundo. Chile e Coreia do Sul só chegaram entre os quatro primeiros quando jogaram em casa. A Suécia só chegou à final jogando em casa. Inglaterra e França foram campeãs do mundo uma única vez – ambas em casa. E outra: além de estar em casa, em 74 a Alemanha também tinha uma grande seleção, com Beckenbauer, Overath, Maier, Muller, Breitner, um monte de cobras. A Argentina de 78 estava longe disso, mas hoje a gente tem plena consciência de que era impossível tirar aquela copa das mãos do general Videla e do almirante Massera. A Holanda 2010 encanta menos, mas é muito equilibrada. A defesa é tão boa quanto o meio-campo, que é tão bom quanto o ataque, que é tão bom quanto a defesa. E pra ligar todos os setores, dois jogadores que entram fácil na seleção da Copa: De Jong e Sneijder. Seja contra a Alemanha (mais provável), seja contra a Espanha (sabe lá?), no próximo domingo eu vou torcer para que a bola pague ao futebol holandês a dívida que tem com ele há trinta e seis anos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Hoje tem semifinal da Copa. Mas o que importa é o nome do nosso novo técnico.
Aqui não perdemos tempo. Logo depois de dançarmos para a forte e equilibrada – embora não tão encantadora – seleção holandesa, já estamos discutindo apaixonadamente o nome do próximo técnico, aquele que vai nos renovar e nos redimir. Ontem vi alguns trechos dos programas esportivos do SporTV e da ESPN. Como ambos têm problemas sérios, embora inversos, não há ser humano que consiga assistir a qualquer um dos dois o tempo inteiro. O Linha de Passe deveria ser veiculado na Espanha, com o slogan “Hay gobierno? Soy contra!”. O Linha de Passe é contra tudo e contra todos. Já o Bem, Amigos é intragável por ser excessivamente chapa-branca. A entrevista de ontem com Ricardo Teixeira foi um irritante festival de sorrisos cúmplices, bajulação e baba-ovismo. Ricardo Teixeira fez o papel de sempre, lavando as mãos diante do fracasso como se ele fosse o presidente da Confederação Dinamarquesa de Futebol. 2006? Culpa do Parreira e sua excessiva liberalidade. 2010? Culpa do Dunga e seu cativeiro. Aí vem a frase falsa e feita: “Quando você está sobrevoando o Oceano Atlântico, não dá mais pra voltar.” Sim, mas quem foi que escolheu o piloto? Ricardo Teixeira não falou de nomes, e sim de um projeto. Quer um treinador que tope a parada de renovar a seleção brasileira, evitando a convocação, desde já, de caras que não terão condição de estar na Copa de 2014. Disse também que dirigentes, jornalistas e torcedores precisarão de paciência para conviver com eventuais fracassos durante o percurso, já que o objetivo será, única e exclusivamente, 2014. Copa América, Copa das Confederações, nada disso importa. Concordo. Mas faltou um dos entrevistadores (Galvão Bueno, Paulo César Vasconcellos, Renato Maurício Prado e Arnaldo César Coelho) lembrar ao presidente da CBF que ele teve discurso idêntico quando Leão era o técnico da seleção brasileira e disputou uma Copa das Confederações com um time todo improvisado. Nossa participação foi um fiasco, e Leão já desceu no Galeão demitido. No final do programa da ESPN, José Trajano afirmou, segundo ele com noventa por cento de chances de acerto, que o próximo técnico da seleção brasileira será Leonardo. Sei não.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Só se enganou com a Argentina quem quis.
Na condição de admirador confesso do futebol argentino, me sinto à vontade para reafirmar o que venho dizendo desde o início da Copa: a seleção do Maradona nunca esteve com essa bola toda. Enquanto alguns apressados se extasiavam com os passeios diante da Nigéria, da Coreia do Sul e da Grécia, ou seja, diante de ninguém, este blog se mantinha firme na defesa do conceito que encerra o post do dia 5 de abril, com o título “Enganos da pré-temporada”: futebol é um esporte em que o seu talento só pode ser avaliado quando encontra adversários com capacidade para neutralizá-lo. 
As facilidades postas no caminho da Argentina continuaram nas oitavas: é verdade que o jogo contra o México esteve embaçado até o juiz validar o gol de Tevez em claro impedimento, mas acho que ali a Argentina venceria de qualquer maneira. No entanto, ao encarar uma seleção bem arrumada e que combina boa organização tática com vários jogadores de enorme eficiência, o time de Don Diego mostrou todos os seus muitos defeitos. 
Demichelis, Burdisso e Heinze passam o jogo inteiro se esforçando ao máximo para entregar o ouro. Otamendi e Máxi Rodrigues são do tipo que entram, saem, e ninguém percebe que eles estiveram e já saíram de campo. Nulidades. 
Mas nada se compara a Higuaín. Horroroso. Não dá para entender o que é que um dos cinco maiores e mais talentosos jogadores da história conseguiu enxergar no futebol do Higuaín. E o pior é que, para mantê-lo no time, Maradona barrou Diego Milito – que também não é lá grandes coisas, mas é melhor –, arrumou briga em casa deixando Aguero no banco, e ainda obrigou Tevez a atuar fora da sua verdadeira posição. Por falar no Tevez, deu pena dele e do Messi – esses sim, dois jogadores extraordinários. 
Não sei se vocês repararam, mas nenhuma das três semifinalistas atura essa praga chamada "homem de referência". Na Holanda, que ataca com Robben, Van Persie e Kuit, isso não existe. No Uruguai de Diego Forlán, Suarez e Cavani, também não. Na Alemanha, Podolski joga aberto pela esquerda e Klose se mexe bastante. Na Espanha, Fernando Torres não faz uma boa Copa, mas também não é de ficar parado esperando a bola chegar. E o pior é que os caras que jogam assim – está cheio deles por aí – volta e meia reclamam que "a bola não chega", como se eles fossem cidadãos de uma raça superior, ali instalados unicamente para ser servidos. Repito: o que mais surpreende é justo o Maradona, que fez dupla no Nápoli com Careca, um dos maiores centroavantes que vi jogar, dar moral, força e o posto de titular absoluto a Higuaín. Como diria o grande filósofo Dunga, vai ver foi por causa do comprometimento. 
A Alemanha mostrou contra a Argentina tudo o que já apresentara diante da Inglaterra. Boa marcação, um grande zagueiro (Friedrich), quatro ótimos jogadores de meio-campo – inclusive os dois que atuam mais como volantes, numa lição que deveria ser decorada por todos os treinadores brasileiros –, precisão no passe, rapidez na saída de bola, objetividade nos contra-ataques. Mas tem uma coisa: essas qualidades todas precisam ser relativizadas pelo fato de estar dando tudo certo para a Alemanha, até o que nem eles mesmos esperavam. Um exemplo: o atacante Klose, que nessa Copa já fez quatro gols em quatro jogos, no último campeonato alemão passou a maior parte da temporada na reserva e marcou apenas três gols em onze jogos. Aproveitamento semelhante ao do Souza do Corinthians. 
Moral da história: quando o time é bom e a sorte ajuda, fica difícil segurar.
Deu pra ti, Dunga.
Acho que existem três linhas de raciocínio distintas pra gente tentar entender a derrota da seleção brasileira. 
A primeira segue o caminho da esportividade blasé, que nós, brasileiros, não aceitamos: não dá pra ganhar tudo, todas e sempre. Ganha-se aqui, perde-se ali, futebol é assim mesmo. Isso é absolutamente verdadeiro, mas pra nós não serve. 
A segunda procura explicações em certas peculiaridades daquela partida, em função de alguns conceitos do jogo. De certa forma, aconteceu na eliminação do Brasil diante da Holanda o mesmo que houve na recente eliminação do Corinthians diante do Flamengo. Depois de uma primeira fase morna, em que enfrentou adversários de uma ruindade assombrosa, o Corinthians fez, naquele primeiro tempo, sua melhor exibição na Libertadores. Mas cometeu um erro imperdoável: não matou o jogo. Era impossível manter aquele ritmo alucinado o tempo inteiro, e o Corinthians acabou perdendo a classificação. O Brasil idem. O primeiro tempo da seleção brasileira contra a Holanda foi a melhor coisa do nosso time na Copa, mas era fundamental aproveitar o desequilíbrio holandês – revelado já no gol anulado de Robinho – para fazer o segundo e pôr a classificação no bolso. No segundo tempo, era previsível: nem nós conseguiríamos jogar tanto, nem eles poderiam jogar tão pouco. Os papéis se inverteram, só que a seleção holandesa soube aproveitar o descontrole brasileiro. 
A terceira linha é a que quase sempre preferimos: mesmo sendo apaixonados por um esporte coletivo, mantemos a tendência a individualizar, apontando responsáveis pelas vitórias e culpados pelas derrotas. Como esse é mesmo o nosso jeito, vamos lá. 
No gol de empate, Júlio César falhou tanto na comunicação quanto na atitude. É óbvio que aquela bola era dele, e Júlio deveria ter gritado isso mais alto que todas as vuvuzelas juntas. E mesmo que Felipe Melo não tivesse saído da jogada, como não saiu, nosso goleiro deveria ter passado por cima dele, atropelado, socado sua cabeça junto com a bola, qualquer coisa – estamos falando de quarta de final de Copa do Mundo. 
A linha de passe do ataque holandês no lance do segundo gol é inadmissível quando se tem uma zaga experiente e atenta. 
Mas se é para individualizar, sigo em frente e pergunto: Luís Fabiano não é um guerreiro que, feito o David Copperfield da grande área, se solta das amarras que prendem sua chuteira ao gramado, se antecipa ao zagueiro e manda de voleio para as redes uma bola que pesa feito pedra? Pois eu não vi nada disso, e olha que ainda dizem que a Jabulani é levinha. O que eu vi em campo foi um gatinho manso e perdido entre os defensores holandeses, sem se movimentar, sem tentar fugir da marcação, sem abrir espaços. Um autêntico "homem de referência", desses que só servem para emperrar o time. Luís Fabiano está longe de ser um Higuaín, mas também está longe dos grandes centroavantes que já tivemos. 
O maior desastre individual de todos foi, claro, o Dunga. Técnicos de futebol são teimosos por definição, e têm que arcar com isso. É o preço. Ou seja: quando são teimosos e ganham, não há o que fazer a não ser tirar o chapéu para eles; quando são teimosos e perdem, que aturem o chumbo grosso. Dunga errou na convocação, adotando critérios pouco futebolísticos pra levar Doni, Gilberto, Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué, Kléberson, Grafiti. No jogo de futebol, não importa se você é feio ou bonito, se é temperamental ou comedido, se é fiel ou galinha, se é evangélico ou ateu. No jogo de futebol, o que importa é saber jogar bola. Errou contra a Costa do Marfim, quando a partida estava definida e ele não tirou Kaká após o cartão amarelo – Kaká acabou expulso. Errou contra o Chile, quando a partida estava definida e ele não tirou Ramires e Juan que tinham cartões amarelos – Ramires acabou levando o segundo, ficou fora contra a Holanda e fez uma falta danada. Errou contra a Holanda, ao não substituir Felipe Melo logo no início do segundo tempo, depois daquela irresponsável jogada de calcanhar na frente da nossa área. E, no que foi o maior erro de todos, não conseguiu deixar o time psicologicamente preparado para reagir a adversidades: com o placar desfavorável, o Brasil virou um bando dentro de campo. Como torço para o Flamengo, estou bastante acostumado com isso. Mas da seleção brasileira a gente tem a obrigação de esperar muito mais.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Copa e a queda em série de alguns mitos do futebol internacional.
Uma das muitas coisas bacanas de uma Copa do Mundo é que ela muda padrões e quebra referências, às vezes pro bem, às vezes pro mal. (Muita gente aponta a derrota da seleção brasileira em 82 como a principal responsável pela onda de defensivismo que tomou conta do futebol brasileiro – e, principalmente, das nossas seleções.) 
Os cinco ou seis fiéis leitores do blog sabem da irresistível atração que o blogueiro sente pela derrubada de mitos que o futebol sempre traz, embora a gente nunca aprenda. Nessa Copa, pelo menos três deles já caíram: Itália, Inglaterra e técnicos ultrabadalados. 
A eliminação da Itália ainda na primeira fase, com apenas dois pontos ganhos, representa o fim de um dos maiores mitos do futebol internacional: essa baboseira de que a seleção italiana sempre começa mal e acaba bem. Isso até pode acontecer quando eles têm bons jogadores – como tinham em 82 e em 2006 –, mas o time desse ano era uma baba danada. Quem viu alguns jogos do Milan na última temporada pôde perceber que o Pirlo é um jogador muito próximo da aposentadoria, e no entanto era ele a única chance da seleção italiana mostrar um futebol ao menos razoável. Portanto, vamos acabar com essa tolice: não existe essa história de que a Itália sempre começa mal e acaba bem. 
Já a Inglaterra costuma chegar às copas com a fama de ter um sistema defensivo sólido, um time que dificilmente apresenta grandes talentos ofensivos mas que é difícil de ser batido. Com o catiripapo que tomou da Alemanha, levando gol até em saída de tiro de meta, esse papo também foi pro espaço. Ouvi dizer que a ausência do Rio Ferdinand foi fatal. Tenham paciência. Se o intransponível sistema defensivo britânico depende do futebol do Rio Ferdinand, aí mesmo é que o mito foi pro brejo. 
Juntas, Inglaterra e Itália ajudaram a derrubar mais um mito: o dos supertreinadores. Capello e Marcello Lippi, além de Domenech, saíram da competição bem antes do que se esperava. Capello levou para a África do Sul o mérito de, entre outras coisas, ter “recuperado a auto-estima da seleção britânica”. Não vi nada disso. O time mostrou falta de personalidade nas três partidas da primeira fase, até mesmo na única que venceu. Pode parecer um paradoxo, mas a melhor exibição da Inglaterra foi na derrota por quatro a um para a Alemanha. Houve o fracasso do Rooney, é verdade, mas ele não tem culpa. A culpa é da vulgarização da palavra craque: Rooney é um atacante muito bom; craque é outra coisa. 
A Itália também colaborou para que os supertreinadores fossem desmascarados, com as fraquíssimas atuações da equipe de Marcello Lippi. Assim como no caso da Inglaterra, a melhor atuação italiana foi na derrota. Domenech é uma piada, mas é estrela, uai. Fazer o quê? Os quatro treinadores que disputam o título de verdade – Dunga, Bert van Marwijk, Maradona e Joachim Low – não têm nada de astros superpoderosos. Melhor assim. 
Alguns outros mitos ainda podem cair até o final da Copa, mas é bom esperar pra não escrever bobagem. O blog volta na segunda.