segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Depois da vulgarização do pênalti, a hora e a vez da vulgarização do golaço.
Antes de crucificá-los, precisamos entender que jornalistas esportivos têm a obrigação profissional de dar uma valorizada nos jogos, e ninguém é melhor nisso do que os locutores de rádio. Quem já passou pela cruel experiência de assistir a uma partida no campo ouvindo a narração pelo rádio – coisa que sempre detestei – sabe que ali estão dois jogos completamente diferentes: um que é real e outro que só existe na descrição do narrador. A empolgação a qualquer custo e a obrigação do elogio explicam, por exemplo, o ufanismo aborrecido do Galvão Bueno e os constantes acochambramentos da maioria dos nossos comentaristas. Se o cara esculhamba o jogo no primeiro domingo, no segundo e no terceiro, quem vai ligar a televisão pra ver futebol no último domingo do mês? Mas também não precisa exagerar. No jogo contra o Vasco, pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, Tiago Neves fez um gol que entraria, no máximo, na categoria dos “bem resolvidos”. Um bom lançamento do Renato Abreu, uma eficiente matada no peito deixando a bola quicando à frente, um óbvio lençol no goleiro Fernando Prass e o toque pra rede. Bonito? Sim. Golaço? Longe disso. Nessa ainda curta passagem do Liédson – que é muito bom centroavante – pelo Corinthians, já fui atraído por chamadas que me convidavam pra ver golaços dele. Acho que vi os sete que ele fez nessa volta ao clube, e lamento informar que, golaço mesmo, não teve nenhum. Eu não sei por que se criou a jurisprudência de que todo gol de letra na pequena área e todo gol por cobertura é golaço. Gol de letra na pequena área é muito mais uma questão de oportunismo do que de talento. E gol por cobertura a gente tem visto meia dúzia a cada rodada. Golaço por coberturta foi o do Fenômeno contra o Santos, nas finais do Campeonato Paulista de dois mil e nove. Quando recebeu a bola, ainda marcado pelo zagueiro, Ronaldo já tinha visto Fábio Costa adiantado – o que os demais mortais só perceberam quando o goleiro olhava desanimado a bola passando acima de sua cabeça. Não consigo entender por que é considerado golaço um lance em que o cara entra livre, com a bola quicando, o goleiro sai no desespero e praticamente oferecendo os sete metros e trinta, e aí o atacante faz o que a gente vê em qualquer pelada de várzea. Golaço é outra coisa, mas narradores e comentaristas estão lá pra isso: encher a bola do espetáculo. 
É claro que, no jogo de ontem contra o Boavista, o Flamengo teve mais posse de bola, mais chances de gol e poderia ter vencido por um placar bem mais folgado, mas insisto que o time ainda não aconteceu. Falta definir quem são os titulares, falta encontrar a posição certa de alguns caras que têm que ser titulares, falta criação, faltam frieza e competência nas conclusões. Os campeonatos estaduais funcionam hoje como pré-temporada, e a classificação do time para a final, independentemente do que vier a acontecer no segundo turno, pode dar a Vanderlei Luxemburgo tempo e tranquilidade pra chegar à melhor formação. Mas o time tem demorado demais pra resolver jogos fáceis, tem sofrido pra fazer os resultados, tem corrido riscos contra adversários muito inferiores. O mais bacana do jogo de ontem foi mesmo a cobrança de falta do Ronaldinho, menos até pelo gol e mais pela segurança com que o Gaúcho bateu na bola. Quem não viu pode checar pela Internet: Ronaldinho toca e já sai comemorando. Coisa de quem sabe que, dependendo do jeito que você bate na bola, nem Jesus Cristo pega. Se bem que, como dizia o católico fervoroso, supersticioso convicto e botafoguense doente Carlito Rocha, Jesus Cristo, não: Jesus Cristo pegava todas. 
O empate entre São Paulo e Palmeiras foi o melhor resultado possível para o blog. Tanto são-paulinos quanto palmeirenses acusam o blog de perseguição e má vontade – o que absolutamente não procede – e caem de pau no blogueiro sempre que um dos dois ganha e o post não aparece aqui. Minha mulher é testemunha: ontem, botei o jogo pra gravar, mas com a confusão de chuva e adiamentos, a gravação acabou com menos de cinco minutos. Fiasco. Mais tarde dei uma espiada rápida nos melhores momentos, mas melhores momentos são, antes de tudo, mentirosos e ninguém consegue entender jogo nenhum assistindo àquilo ali. O empate me salvou. Obrigado, Adriano Michael Jackson. 
O Flamengo ganhou a Taça Guanabara, choveu pra cacete em São Paulo, e o São Paulo passou mais um clássico sem vitória. Portanto, não tivemos surpresas nesse final de semana e a grande notícia da segunda-feira é a abertura da quarta edição da Copa de Literatura Brasileira, organizada por meu filho Lucas, agora acompanhado na empreitada pelo Fernando Torres e pela Lu Thomé. Claro que o ideal é ler o maior número possível de livros participantes, mas, mesmo sem ler, vale a pena seguir as resenhas e se divertir com os comentários. Pra quem gosta de futebol e literatura, é um prato cheio. copadeliteratura.com.br

4 comentários:

  1. Bem a calhar o comentário anti-vulgarização do golaço. No tema "golaços de cobertura", no entanto, deixe-me contribuir mais um: Montillo encobrindo Bruno na Libertadores do ano passado.

    Quanto ao gol de falta do Ronaldinho ontem: Hélton pegava.

    (Mas sigo rubro-negro, ainda que não pareça.)

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  2. Pedro: de acordo. O gol de Montillo foi realmente sensacional. E também acho que o Hélton pegava a de ontem sim. Felizmente, o Hélton não pegou a que não podia pegar: a do Pet, em dois mil e um. Carlito Rocha que me desculpe, mas aquela nem o filho do homem pegava.

    Abração.

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  3. Quem é o filho do homem?? O Edinho?

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  4. Valois: verdade. Filho do homem é o Edinho, só que esse não pegava nada.

    Saudade, irmãozinho!

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