quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Todo mundo fala do impedimento. Mas, e o pênalti?
Em novembro do ano passado, meu filho Lucas esteve aqui em São Paulo, com Clarice, para o show do Paul McCartney. No mesmo final de semana jogaram Flamengo e Guarani – evento muito mais importante do que o show do Paul, claro. Para amenizar a tensão do pré-jogo, que decidiria a permanência ou não do Flamengo na primeira divisão, eu e Lucas conversávamos sobre o discutido pênalti de Gil em Ronaldo, acontecido sete dias antes na partida entre Corinthians e Cruzeiro. Foi quando Lucas lançou uma tese interessante.
Desde a final da Copa de 90, em que a Alemanha ganhou da Argentina por um a zero com um gol de pênalti inexistente, eu achava que a regra do pênalti precisava ser repensada. Independentemente de má-fé, que pode existir mas é rara, todo juiz erra. Futebol é um esporte de choque e de chegada, com lances rápidos, jogadores malandros, e o cara tem que decidir se apita ou não em fração de segundos. Não há como não errar. E nesse ponto é que a teoria do Lucas se mostra precisa. 
Ela parte do princípio de que a regra do pênalti foi criada quando o jogo era outro, com ampla predominância dos ataques sobre as defesas e partidas que terminavam oito a cinco, sete a quatro, seis a três. Óbvio: se um jogo tem nove ou dez gols, pouca diferença faz se o juiz marca um pênalti que não houve. É apenas uma chance a mais entre quinze ou vinte. Mas a partir do momento em que o jogo mudou, que a preparação física ganhou uma importância absoluta, que os treinadores descobriram que podiam vencer reforçando seus sistemas defensivos e que as chances de gol se tornaram cada vez mais raras, aí a história passou a ser outra. E o erro de um juiz pode determinar, simplesmente, o vencedor de uma Copa do Mundo. 
Existe a teoria tosca de que deve ser marcado pênalti em qualquer falta dentro da área. Esse era, inclusive, o principal argumento de quem concordou com a marcação do pênalti de Gil em Ronaldo: e se fosse lá no meio-campo, não seria falta? Sim: no meio-campo, seria. Dentro da área, não. Árbitro existe para arbitrar, e arbitrar exige bom senso. 
Lembro que, nos primeiros jogos da Copa de 98, os juízes desandaram a marcar pênaltis e, numa mesa redonda da ESPN, o grande Tostão lançou a pergunta no ar: “Vocês não acham que está havendo uma banalização do pênalti?” Só que, antecipando a polêmica, ele mesmo declinou da discussão: “Mas vamos deixar pra lá, antes que comecem a me acusar de ser contra o pênalti.” Concordo com Tostão: o pênalti não pode ser banalizado.
Uma sugestão simples e viável seria diminuir a área do pênalti, fazendo com que eles só fossem marcados nas faltas cometidas dentro da pequena área. Ou seja: na grande área, falta comum, barreira etc. Com isso, a chance do erro de um árbitro decidir um jogo ou um campeonato seria drasticamente reduzida. 
Tenho toda a certeza de que a regra do pênalti jamais será alterada. Mas a gente tá aqui, justamente, para comentar e discutir o que ninguém comenta e discute, certo?

8 comentários:

  1. Jorge, nunca tinha ouvido essa teoria do Lucas, mas pensando aqui rapidamente: Imagine o pênalti sofrido pelo caminhão subindo a ladeira (sim, aquele mesmo cujo nome vc se recusa a falar) no domingo último contra o Boavista. O cara tava sozinho dentro da grande área e já tinha tirado a bola do goleiro. É derrubado. É o famoso "chance clara de gol". Não vai dar pênalti? Viraria falta comum? Entendo e concordo em grande parte com a banalização q está havendo na marcação de pênaltis, mas tenho medo da banalização das faltas que há atualmente, e principalmente no Brasil. Esse fim de semana estava vendo Chelsea e Liverpool, jogaço, recheado de rivalidade ainda mais exacerbada com a troca do Fernando Torres do segundo para o primeiro. Lá pela metade do 2º tempo, cada equipe tinha cometido umas 5 faltas cada. Compare com as estatísticas de qualquer jogo no Brasil e entenderá o q estou falando. Eu sei, são coisas até ligeiramente diferentes e estou até misturando um pouco os assuntos, mas defendo muito mais algum tipo de punição coletiva ao time q comete muitas faltas do q a revisão da regra do pênalti. Enfim, só botando um pouco mais de lenha na discussão.

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  2. thomas,

    deixando de lado o absurdo de considerar uma bola no pé do deivid chance clara de gol: se a mesma falta acontecesse dois metros atrás, seria uma falta comum de jogo e ninguém reclamaria. parece absurdo porque estamos acostumados com a área de pênalti, mas depois de algum tempo da mudança sugerida uma falta na grande área seria tratada com a mesma naturalidade de uma falta próxima à área hoje.

    essa distância entre o número de faltas no brasil e na europa é esquisita mesmo, mas acho que parte do problema é que juiz brasileiro marca muita falta. aposto que no liverpool e chelsea teve um monte de jogadas que aqui seriam interrompidas e lá fora são consideradas legais.

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  3. Paulo Asano diz: pênalti é loteria. E fim de papo.

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  4. murtinho, vai assistir volei.

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  5. Já apitaram por mim. Obrigado Daniel.

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  6. Thomas: a história da diminuição da área do pênalti não faz parte da teoria do Lucas, a irresponsabilidade por ela é toda minha. O que o Lucas defende é que, antigamente, um possível erro do juiz na marcação de um pênalti era muito menos determinante do que é hoje. Reforçando: em noventa, um pênalti inexistente deu o título mundial à Alemanha. Agora em dois mil e dez, um pênalti inexistente (pelo menos pra mim) tirou o Cruzeiro da briga pelo Brasileirão. De qualquer forma, concordo inteiramente com a resposta do Lucas, e digo mais: esse menino vai longe.

    Daniel: outro dia você reclamou que eu não cito você aqui no blog. Vai continuar de castigo, porque quando o assunto é futebol, não se brinca com o santo nome de Paulo Asano em vão.

    Jaime: se entendi corretamente o seu comentário, sou obrigado a reconhecer que você tem boa parte de razão. Eu também acho que, no geral, não devemos mudar porra nenhuma no futebol. Impedimento, então, que costuma ser a regra mais questionada, acho que é intocável. O que eu acho é que o pênalti é a situação mais clara em que, em vez do lateral rápido, do meio-campista criativo, do atacante perigoso, a partida acaba sendo decidida pelo juiz. Nós dois já conversamos sobre isso: juiz pode interferir de vários modos imperceptíveis, até mesmo invertendo simples laterais. Mas aí é má-fé, e contra a má-fé não há o que possa ser feito. Estou falando é de erros, que podem acontecer com todo mundo. Mas perder uma Copa porque erros podem acontecer com todo mundo é foda. Para encerrar: você prefere o Bruninho ou o Ricardinho?

    Paulo: perfeito. Como sempre.

    Abraços para todos.

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  7. kd o post sobre a péssima estreia do filhodumaputa na libertadores? para de ficar pensando bobagem e vamos voltar a falar sobre futebol de verdade.

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  8. Apesar de concordar com a teoria do Lucas de que o pênalti hoje tem muito mais influência do q antigamente, não concordo muito com a ideia de mudar o tamanho da área (ou onde o pênalti seria marcado, etc). Aquilo ali está delimitado justamente pq, em teoria, qualquer falta ali pode evitar um gol (tirando o caso do ônibus com freio de mão puxado, claro), o que não é verdade para todas as faltas, enfim. Claro q faltas fora da área também podem evitar um gol iminente, mas há da haver um limite e creio que estou satisfeito com o atual.
    Jorge, não sei se você já abordou o assunto em algum post aqui, mas sobre o excessivo número de faltas:
    1) Gostei da ideia q se testou no camp. paulista há uns 10 anos ou mais. A cada 10 faltas sofridas, o time tinha direito de uma cobrança da meia lua (sem barreira se não me engano). Não sei se essa seria a melhor punição, se é a melhor maneira de inibir faltas, mas eu gosto da inspiração na ideia do basquete, que pune com lances livres (no coletivo) ou expulsão do jogo (individualmente). Claro, o basquete é um jogo decidido em muitas dezenas de pontos, enquanto o futebol a diferença muitas vezes é de apenas 1 gol. Fica a sugestão de um post futuro.

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