Caprichando no conceito.
Nossos torcedores não costumam ser muito criativos em seus gritos de guerra ou no que escrevem em faixas de protesto. Nada mais pobre do que rimar “ão, ão, ão, Fulano é seleção”. Ou do que o preconceituoso coro que eu ouvia no Maraca da minha adolescência, toda vez que meu time levava um gol: “ela, ela, ela, silêncio na favela”. Mas existem exceções.
Há cerca de dois anos, a torcida do Botafogo levou para o Engenhão uma faixa com uma bela frase: “Não há clube que resista a tamanha falta de ambição.” Coincidência ou não, depois disso o time melhorou o desempenho nos campeonatos brasileiros e ainda levantou, com um elenco visivelmente inferior aos dos outros três grandes, o título carioca de 2010.
Ontem surgiu mais uma excelente. Parece cedo, mas já revoltada com as tolices de Adílson Batista no comando do time, a torcida do Santos produziu uma ótima faixa, com uma frase que vale para todos – eu disse todos – os treinadores de futebol do mundo. Dizia o texto: “Muito faz quem não estorva. Fora Adílson.” Trata-se de uma versão mais elaborada de um chavão que eu sempre defendo aqui no blog: técnico bom é o que não atrapalha.
Suspeito que exista, na função de técnico, uma estranha relação de dinheiro e poder. O cara tem que mostrar que é ele quem manda – o que acabou causando, por exemplo, a inesperada saída de Dorival Júnior do Santos, no ano passado – e nada melhor para isso do que fazer coisas que só ele faria. Escalo o Diogo, em vez do Maikon Leite ou do Zé Eduardo, porque quem manda aqui sou eu. O Fernando vai jogar no Flamengo como o Rincón jogava no Corinthians. Pouco importa que o Fernando seja o Fernando e o Rincón fosse o Rincón, o que importa é que o técnico é o mesmo. Eu.
E tem, claro, a história da grana. A partir do momento em que treinadores viraram estrelas, com salários de fazer presidente de multinacional morrer de inveja, o cara não pode chegar lá e cozinhar o feijão com arroz. Ele tem que ser diferente. Ele tem que inventar. Ele tem que bater o pezinho. Ele tem que insistir com um centroavante que nunca funcionou desde a estreia, que aconteceu há distantes seis meses.
“Muito faz quem não estorva.” Leão de Ouro em Cannes na categoria faixa de torcida.
murta (nosso fernando calazans do varejo), me admira vc chamar de melhora a conquista do disputadíssimo e exigente carioca de 2010. o botafogo é uma merda que vive fugindo da zona do rebaixamento no brasileirão. no nosso campeonato de 16 clubes, ele cai na primeira edição. e qdo suibir, cai de novo. qto aos técnicos, pior que técnico estrela é técnico esquemeiro e hj temos aos montes, inclusive na seleção. oq será q a gente tem q fazer pra levar uma faixa pro estádio? queria prestar uma homenagem a um volante, um técnico e um ex-jogador.
ResponderExcluirJaime: a gente precisa dar uma força pros caras. Eles têm se esforçado, porque aquilo era uma bagunça só. Agora, pelo menos, é uma bagunça organizada. Por exemplo: semana passada, Joel Santana completou um ano no comando do time. Para o futebol brasileiro, isso vale mais do que os vinte e quatro anos do Alex Ferguson à frente do Manchester United. Não dá pra ficar só tripudiando.
ResponderExcluirQuanto à faixa em homenagem ao seu volante preferido, acho que já vai dar pra levar nesse final de semana: li hoje na Internet que Carpegiani poderá contar com os reforços de Rivaldo, Júnior César e Rodrigo Souto. Boa sorte.
Abração.