Jorge Murtinho FC

Uma seleção cada vez mais distante dos torcedores. 

Fiquei preocupado por causa de um post que não escrevi. O cara se mete a ter um blog sobre futebol, há um jogo entre as duas seleções que mais vezes estiveram numa final de Copa do Mundo, e não sai uma linhazinha sequer sobre o assunto? E a preocupação aumentou quando percebi que a indiferença não era só minha, mas geral. 

Amistoso da seleção brasileira sempre foi uma festa. Era a chance que se tinha de ver, no mesmo time, os ídolos por quem você torcia e os adversários que você temia. Era a oportunidade rara de ver, jogando juntos, o Pelé do Santos, o Gérson do São Paulo, o Tostão do Cruzeiro, o Rivelino do Corinthians, o Jairzinho do Botafogo. Os estádios lotavam e, de certa forma, os amistosos eram pra valer – tão pra valer que, como escrevi aqui outro dia, num desses jogos vi Pelé quebrar a perna de um botinudo da seleção alemã. 

Em relação à seleção brasileira, foi nesse ambiente que me criei. Por isso, fiquei espantado ao perceber meu comportamento nessa última disputa de pênaltis entre Brasil e Paraguai, que eliminou nossa seleção da Copa América. Pra mim, pouco importava ganhar ou perder. Em vez de me aborrecer, cheguei a rir com as cobranças de Elano e André Santos. 

Como não sou jornalista nem cientista social, não faço entrevistas nem pesquisas, não posso saber o que as pessoas sentem e sigo minhas intuições. Nada contra o profissionalismo ou o direito que cada um tem de trabalhar onde quiser, mas me parece que a internacionalização criou uma distância agora impossível de encurtar entre a seleção brasileira e os torcedores. Claro que um time bom ajudaria, um futebol bem jogado empolga, mas a seleção brasileira sempre foi diferente, e a empatia que havia morreu. Por causa do massacre da mídia, o amor renasce nas Copas do Mundos; fora daí, a identificação é zero. 

A gente se acostumava a torcer pelo cara que a gente acompanhava no campo todo domingo. Ou por aquele atacante adversário que nos deixava preocupados três ou quatro vezes por ano, quando nosso time enfrentava o dele. Na boa: quem vai torcer por esse Fernandinho que entrou em campo contra a Alemanha? Quem já se empolgou com o Fernandinho? Quem já teve medo de enfrentar o Fernandinho? Ninguém, porque ninguém jamais conheceu o Fernandinho. O mesmo vale para o Michel Bastos, nosso lateral-esquerdo na última Copa do Mundo. Para o David Luiz. Para o Jádson. 

Não estou falando da qualidade dos jogadores. Não me refiro à possivel e indecorosa influência de empresários nas convocações e escalações. Não estou falando de nomes, critérios ou atitudes, falo de conceito. 

Mudou muito e mudou pra muito pior. É uma pena.