Jorge Murtinho FC

Equilibrado até o fim.

Impressiona e preocupa a necessidade que Vanderlei Luxemburgo tem de se mostrar sempre um estrategista surpreendente e genial. O Flamengo fizera ótima partida contra o Cruzeiro, com Aírton, Renato Abreu e Bottinelli no meio-campo. Mas, gênio, no jogo contra o Coritiba ele pôs Luiz Philipe Muralha no lugar do Bottinelli. Não tenho nada a favor do Bottinelli, que é meio atrapalhado, cai à toa e perde bolas fáceis, mas o Brasileirão também é feito de reservas assim – outro deles é o Fierro – e o importante é que, ao entrar por lesão, suspensão ou cansaço do titular, eles não joguem o time pra baixo. Dentro de suas limitações, Bottinelli tem funcionado. Luiz Philipe não funcionou, e ainda expôs outro erro recorrente de Luxemburgo: o fato de desperdiçar boa parte do tempo dos jogos com suas teimosias. Flamengo x Coritiba foi muito parecido com Flamengo x Grêmio, que aconteceu uma semana antes. Muita gente marcando, poucas oportunidades etc. Até o golzinho salvador de Jael, neste sábado, foi uma cópia do de Thiago Neves, no sábado passado. Claro que o maior problema do Flamengo não foi o Luiz Philipe: Ronaldinho, Thiago Neves e Léo Moura, que estiveram muito bem contra o Cruzeiro, contra o Coritiba jogaram mal e até com certa displicência – revelando que o Flamengo pode ser prejudicado, na sequência do campeonato, pelo mesmo fantasma que assusta o Corinthians: o time achar que é melhor do que é na verdade. Meu amigo Jó: não vou falar da atuação do Parrudo. Meu filho Lucas (que andou se engraçando e defendendo essa praga no twitter): não vou falar do gol que o Parrudo perdeu quase embaixo da trave. Pelo que deu pra perceber, Jael parece ser uma reedição do Wanderley, o centroavante esforçado que foi embora pro Qatar. Seja bem-vindo, Jael. Qualquer coisa que respire é melhor que o Parrudo. 

E o Corinthians segue em seu inferno astral. Empatar com o Atlético Paranaense na Arena da Baixada não é nada do outro mundo, mas é nítido que a maré virou. Nas primeiras rodadas do campeonato, todo chute do Willian entrava; agora, até passe tá difícil de acertar. E depois de queimar o goleiro Renan, botando em seu lugar um cara que nunca tinha jogado no time principal, Tite queimou Welder, substituindo-o no intervalo, depois da bobagem que o lateral fez no lance do pênalti. Welder errou, ok, mas vem fazendo um bom campeonato. Renan falhou feio no gol do América Mineiro, no meio da semana passada, mas Leandro Castan também vacilou naquela jogada e ainda atrapalhou o goleiro. Castan continuou no time, Renan dançou. Domingo passado, contra o Avaí, Emerson perdeu um gol porque quis colocar, e a massa reclamou porque ele devia ter enchido o pé; ontem, Willian perdeu um gol porque encheu o pé, e a massa vai reclamar porque ele devia ter colocado. Urubu quando tá de azar, o de baixo caga no de cima. Mas como acumulou um exagero de pontos até a décima rodada, e a gangorra certamente vai continuar, o Corinthians segue como um dos favoritos. 

Tô achando que, assim como foram os de 2009 e 2010, esse campeonato vai ser pau a pau até o final. Quem está indo muito bem é o São Paulo, sem fugir àquele recente jeito São Paulo de ser: não brilha, não encanta, não empolga, mas vai vencendo. Não jogou bem quinta-feira contra o Bahia – mesmo num campeonato difícil como o Brasileiro, ganhar de três a zero nem sempre é sinônimo de jogar bem –, não jogou bem ontem contra o Avaí, mas vai seguindo e botando os pontinhos na poupança. Acho que ainda falta uma certa paudurecência ao time, que às vezes fica meio apático com Lucas, Dagoberto, Marlos, Fernandinho. Mas a verdade é que, com tanto oba-oba em cima do Corinthians e do Flamengo, o São Paulo tá ali coladinho, comendo em silêncio e pelas beiradas. Vai brigar. 

Tenho pensado em escrever um post com elogios ao Botafogo, mas o time sempre dá uma derrapada e aí o elogio fica sem sentido. Além disso, meu santo não bate com o do Caio Jr. desde 2008, quando ele dirigiu o Flamengo. Recebeu do Joel Santana um time limitado mas muito bem armado, fez um monte de bobagens, tirou o Flamengo da briga pelo título e acabou chegando num decepcionante quinto lugar. Mas esse ano o Botafogo trabalhou direito, manteve a base do ano passado e trouxe jogadores interessantes. Renato é o tipo de meio-campista que não desequilibra jogos, mas dá equilíbrio ao time. Apesar do Alê Santos implicar com ele, elogiei várias vezes o Elkeson quando ainda jogava no Vitória. Se esse Felipe Menezes, meia que tem entrado aos poucos no time, é quem estou pensando, também é bom. Vinha fazendo um ótimo campeonato pelo Goiás em 2009, mas saiu na janela de meio do ano para o Benfica e não tive mais notícias dele. Não sei de onde veio o zagueiro Gustavo, mas mostrou segurança e tranquilidade na partida contra o Cruzeiro. O Botafogo está longe de ser um timaço, mas tá se arrumando e pode fazer um Brasileirão bastante bom. Ah, e ainda tem o Cortês, melhor lateral-esquerdo do último Campeonato Carioca jogando pelo Nova Iguaçu e autor da jogada mais sensacional do ano: casou e fez a festa de recepção do seu casamento no Habib´s de Campo Grande. Nessa época em que jogadores de futebol viraram alguns dos seres mais deslumbrados do planeta, chega a ser um alento.