Post bem recheado para uma rodada bem bacana.
A rodada desse final de semana serviu pra comprovar o óbvio, e quem aparece por aqui já percebeu que o blog não gosta do óbvio. Pra ler o óbvio, é muito mais negócio abrir a página de esportes do UOL, o Lancenet etc, mas às vezes não tem muito jeito. O óbvio da rodada foi a confirmação de que no Campeonato Brasileiro ninguém ganha jogo de véspera. Os três primeiros colocados na tabela enfrentaram três pequenos, e nenhum deles venceu. Sendo que dois jogaram em casa e o outro chegou a abrir dois gols de vantagem. Alguma coisa me diz que, além do pessoal que tá lá por cima, alguém ainda vai chegar atropelando por aí. Não sei se pra ficar com o título, mas pelo menos pra dar trabalho.
O São Paulo não tem feito valer o que sempre foi um dos seus trunfos: resolver bem os jogos em casa, sobretudo contra os times pequenos. Já empatara com o Atlético Goianiense, num jogo em que esteve duas vezes na frente do placar, e sábado empatou com o Atlético Paranaense, num jogo em que teve que correr duas vezes atrás do empate. Há os desfalques na zaga, os reforços importantes que não estreiam nunca, há um monte de coisas, ok, mas o campeonato é assim pra todo mundo, esse tipo de problema afeta todos os times em diferentes momentos e acaba levando a melhor quem segue superando as dificuldades e botando os pontinhos no bolso.
Acho uma certa covardia essa mania de pôr a culpa de tudo no goleiro. Escrevi mais ou menos isso quando Júlio César tomou aquele gol do Neymar na final do Campeonato Paulista, e repito agora em relação ao Felipe. Me parece que isso vem do histórico que temos de, todo domingo à noite, assistirmos aos gols da rodada. Ali a gente só vê os gols que o atacante faz, nunca os que ele perde; a gente só vê os gols que o goleiro leva, nunca os que ele evita. Um exemplo: percebo aqui na agência uma certa má vontade com o Fábio, do Cruzeiro, por conta de uma fase complicada que ele passou no time mineiro, falhando em dois ou três fins de semana seguidos. Aí, pronto, virou frangueiro. Eu, que conheço o Fábio dos tempos do Vasco e sempre que posso vejo o Cruzeiro jogar, acho um goleiraço. Mas voltemos a Florianópolis. É claro que Felipe errou o tempo da bola e falhou feio no gol de empate do Figueirense, mas se houve um vilão rubro-negro no jogo de ontem foi o Thiago Neves. Não viu a cor da bola, não ajudou Ronaldinho Gaúcho e Léo Moura que estavam bem mas cansaram, e ainda perdeu a chance do jogo: quando estava dois a um, concluiu pra fora, cara a cara com o goleiro, mais uma grande jogada do Ronaldinho. Um gol naquele instante mataria a reação do Figueirense. Em outras palavras: o cagalhão parrudo de ontem foi o senhor Thiago Neves, que vai ter uma grande responsa na próxima quinta-feira, quando Ronaldinho desfalcará o time mais uma vez. Aliás: o homem voltou a jogar bola, mas seis cartões amarelos em dezesseis rodadas é um pouco demais, não? Já o verdadeiro Parrudo fez o que dele se espera: gols. Eu confesso que espero de um centroavante bem mais do que isso, mas no caso dele seria injusto. O primeiro gol foi muito bonito, com ótima colocação na área e uma cabeçada perfeita. O segundo foi puro oportunismo, escorando uma cobrança de escanteio perfeita do Ronaldinho. Continua sendo o Parrudo, mas considero aceito o requerimento para que ele volte a ser tratado pelo nome próprio. De qualquer forma, o tribunal do blog pediu mais prazo para aplicar o veredicto.
Eu não gosto do Héber Roberto Lopes. Nunca reparei como ele se comporta nos jogos dos outros clubes grandes, mas sempre que ele apita uma partida do Flamengo tenho a nítida sensação de que ele sofre de uma certa crise de afirmação, querendo mostrar pra todo mundo que tem personalidade e não se impressiona com camisa. Já o vi cometer erros absurdos contra o Flamengo e nunca o vi cometer erros semelhantes a favor. Leitores do blog sabem que não entro nesse papo de que o time A ou B perdeu ou ganhou por causa do juiz. Acho um porre, e a verdade é que isso não aconteceu ontem, quando o Figueirense até jogou melhor do que o Flamengo. Mas Héber intimidou. Numa conversa ocorrida há algum tempo, eu e Jaime concordamos que é possível um juiz interferir na atuação de um time sem cometer nenhum erro grave. Espezinhando, invertendo faltinhas bobas, coagindo. Ontem o jogo foi muito equilibrado, os dois times correram bastante, marcaram firme etc, e como é que num jogo assim o Flamengo leva seis cartões amarelos e o Figueirense nenhum? No mínimo, é estranho.
O Corinthians fez um bom primeiro tempo e deveria ter resolvido o jogo. É a história do óbvio no Campeonato Brasileiro. Ou, como dizia o Velho Guerreiro, só acaba quando termina. A grande questão é que o Corinthians não precisa somente dos pontos que tem perdido, até porque que está em primeiro na tabela: o Corinthians precisa de uma grande atuação, de uma grande vitória, pra recuperar o bom caminho e provar que a fase de queda chegou ao fim. Mas tá complicado. Nas últimas seis partidas, jogando três vezes em casa e três fora, o time fez apenas seis pontos em dezoito. Pra quem vinha de nove vitórias e um empate em dez jogos, é uma queda brutal. A gordura dos pontos acabou, Flamengo e São Paulo já encostaram e tem mais gente chegando. Tá na hora de acordar e, bom, o Cuca taí pra isso.
É muito bacana, no futebol, essa história dos gols que mudam a história dos jogos. Não falo de gols marcados nos últimos minutos, porque aí é óbvio e já se disse lá no primeiro parágrafo que o blog não gosta do óbvio. Nessa última rodada, tivemos dois gols desses: o de Elkeson do Botafogo, contra o América Mineiro, e o de Somália do Figueirense, contra o Flamengo. Quem vê o placar de Botafogo e América Mineiro pode imaginar que foi uma teta, mas com dez minutos o time carioca perdia por dois a zero. Se Elkeson não acerta o chutaço que acertou e não faz o golaço que fez ainda no primeiro tempo, ia ser osso virar aquele jogo. Com o gol de Somália aconteceu a mesma coisa. A total desatenção do Flamengo – o que, justiça seja feita, tem sido raro – permitiu ao Figueirense voltar para o jogo, que parecia definido quando o Flamengo fez dois a zero. Gols como o de Elkeson e o de Somália mudam tudo.
De um lado, Gilberto Silva, Fábio Rochemback, Marquinhos e Lúcio; do outro, Fernando Bob, Valência, Marquinhos e Souza. Esbanjando indigência criativa em seus meios-de-campo, Grêmio e Fluminense fizeram uma partida quase que de ataques contra defesas, onde as poucas oportunidades surgiram muito mais por falhas de quem devia defender do que por méritos de quem queria atacar. O final do jogo foi gozadíssimo, pela bagunça tática que Abel implantou no Fluminense, enchendo o time de atacantes que corriam alucinadamente pra todos os lados e pouco se entendiam. E o pior é que o time quase empata num bonito chute de primeira do Araújo, com seu sensacional look de capanga de Carlito Brigante, personagem de Al Pacino no filme “O Pagamento Final”, de Brian de Palma. Mas ficou no quase.