segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Depois da vulgarização do pênalti, a hora e a vez da vulgarização do golaço.
Antes de crucificá-los, precisamos entender que jornalistas esportivos têm a obrigação profissional de dar uma valorizada nos jogos, e ninguém é melhor nisso do que os locutores de rádio. Quem já passou pela cruel experiência de assistir a uma partida no campo ouvindo a narração pelo rádio – coisa que sempre detestei – sabe que ali estão dois jogos completamente diferentes: um que é real e outro que só existe na descrição do narrador. A empolgação a qualquer custo e a obrigação do elogio explicam, por exemplo, o ufanismo aborrecido do Galvão Bueno e os constantes acochambramentos da maioria dos nossos comentaristas. Se o cara esculhamba o jogo no primeiro domingo, no segundo e no terceiro, quem vai ligar a televisão pra ver futebol no último domingo do mês? Mas também não precisa exagerar. No jogo contra o Vasco, pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, Tiago Neves fez um gol que entraria, no máximo, na categoria dos “bem resolvidos”. Um bom lançamento do Renato Abreu, uma eficiente matada no peito deixando a bola quicando à frente, um óbvio lençol no goleiro Fernando Prass e o toque pra rede. Bonito? Sim. Golaço? Longe disso. Nessa ainda curta passagem do Liédson – que é muito bom centroavante – pelo Corinthians, já fui atraído por chamadas que me convidavam pra ver golaços dele. Acho que vi os sete que ele fez nessa volta ao clube, e lamento informar que, golaço mesmo, não teve nenhum. Eu não sei por que se criou a jurisprudência de que todo gol de letra na pequena área e todo gol por cobertura é golaço. Gol de letra na pequena área é muito mais uma questão de oportunismo do que de talento. E gol por cobertura a gente tem visto meia dúzia a cada rodada. Golaço por coberturta foi o do Fenômeno contra o Santos, nas finais do Campeonato Paulista de dois mil e nove. Quando recebeu a bola, ainda marcado pelo zagueiro, Ronaldo já tinha visto Fábio Costa adiantado – o que os demais mortais só perceberam quando o goleiro olhava desanimado a bola passando acima de sua cabeça. Não consigo entender por que é considerado golaço um lance em que o cara entra livre, com a bola quicando, o goleiro sai no desespero e praticamente oferecendo os sete metros e trinta, e aí o atacante faz o que a gente vê em qualquer pelada de várzea. Golaço é outra coisa, mas narradores e comentaristas estão lá pra isso: encher a bola do espetáculo. 
É claro que, no jogo de ontem contra o Boavista, o Flamengo teve mais posse de bola, mais chances de gol e poderia ter vencido por um placar bem mais folgado, mas insisto que o time ainda não aconteceu. Falta definir quem são os titulares, falta encontrar a posição certa de alguns caras que têm que ser titulares, falta criação, faltam frieza e competência nas conclusões. Os campeonatos estaduais funcionam hoje como pré-temporada, e a classificação do time para a final, independentemente do que vier a acontecer no segundo turno, pode dar a Vanderlei Luxemburgo tempo e tranquilidade pra chegar à melhor formação. Mas o time tem demorado demais pra resolver jogos fáceis, tem sofrido pra fazer os resultados, tem corrido riscos contra adversários muito inferiores. O mais bacana do jogo de ontem foi mesmo a cobrança de falta do Ronaldinho, menos até pelo gol e mais pela segurança com que o Gaúcho bateu na bola. Quem não viu pode checar pela Internet: Ronaldinho toca e já sai comemorando. Coisa de quem sabe que, dependendo do jeito que você bate na bola, nem Jesus Cristo pega. Se bem que, como dizia o católico fervoroso, supersticioso convicto e botafoguense doente Carlito Rocha, Jesus Cristo, não: Jesus Cristo pegava todas. 
O empate entre São Paulo e Palmeiras foi o melhor resultado possível para o blog. Tanto são-paulinos quanto palmeirenses acusam o blog de perseguição e má vontade – o que absolutamente não procede – e caem de pau no blogueiro sempre que um dos dois ganha e o post não aparece aqui. Minha mulher é testemunha: ontem, botei o jogo pra gravar, mas com a confusão de chuva e adiamentos, a gravação acabou com menos de cinco minutos. Fiasco. Mais tarde dei uma espiada rápida nos melhores momentos, mas melhores momentos são, antes de tudo, mentirosos e ninguém consegue entender jogo nenhum assistindo àquilo ali. O empate me salvou. Obrigado, Adriano Michael Jackson. 
O Flamengo ganhou a Taça Guanabara, choveu pra cacete em São Paulo, e o São Paulo passou mais um clássico sem vitória. Portanto, não tivemos surpresas nesse final de semana e a grande notícia da segunda-feira é a abertura da quarta edição da Copa de Literatura Brasileira, organizada por meu filho Lucas, agora acompanhado na empreitada pelo Fernando Torres e pela Lu Thomé. Claro que o ideal é ler o maior número possível de livros participantes, mas, mesmo sem ler, vale a pena seguir as resenhas e se divertir com os comentários. Pra quem gosta de futebol e literatura, é um prato cheio. copadeliteratura.com.br

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Aonde será que Muricy e o Fluminense querem chegar?
Não sou antimuricysta ferrenho e não pretendo transformar o blog numa espécie de manifesto permanente da Liga Antitreinadores do Futebol Brasileiro, mas algumas coisas são incompreensíveis. 
No jogo de ontem contra o Nacional de Montevidéu, no Engenhão, Muricy conseguiu ampliar os erros que já havia cometido sábado passado, contra o Boavista. Pouco antes da partida começar, o repórter do SporTV perguntou ao técnico como o time jogaria, já que era muito importante vencer e a escalação mostrava três zagueiros, três homens de marcação no meio-campo e apenas um atacante. Impaciente como sempre, Muricy disse que o Conca encostaria no Rafael Moura. Ouvi aquilo e pensei: não vai dar certo. 
Quem viu os dois últimos jogos do Fluminense há de concordar comigo: por incrível que pareça, o Nacional deu muito menos trabalho que o Boavista. O time de Saquarema, pelo menos, tem três ou quatro caras que tocam bem a bola, outros tantos que batem bem de fora, um ou dois mais abusadinhos que partem pra cima. O Nacional não tem nada e só fez duas jogadas: uma logo no início, desperdiçada porque o último passe foi um pouco longo e tirou a chance do gol, e outra quase no final, num lance grotesco envolvendo Leandro Eusébio e o desastrado atacante uruguaio Santiago, que terminou com um drible no goleiro Ricardo Berna e um risível chute pro alto, isolando a coitada. Sábado, o Boavista fez muito mais que isso. 
Eu não entendo. Se Araújo não é escalado, mesmo com Fred, Emerson e Rodriguinho machucados, o que faz Araújo no Fluminense? E as contratações de Diego Cavalieri, Edinho e Souza, vendidas na mídia carioca (depois, quando o Jaime fala, a gente não gosta) como reforços espetaculares que deixariam o time muito mais forte do que na conquista do Brasileiro? Ontem os três, mais Araújo, estavam sentados no banco, enquanto os outros batiam cabeça em campo e pouco ameaçavam. 
Essa primeira fase da Libertadores tem vários participantes de nível fraquíssimo e ainda é bastante possível o Fluminense garantir uma vaga. Mas o time está errando muito, e Muricy mais ainda.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rebatendo a proposta do Thomas. (Ou: Jaime, por favor, volte amanhã.) 
Pra fechar aquela discussão sobre o pênalti, que o Jaime tanto odeia, Thomas Newlands sugeriu um post que avaliasse outra sugestão, desta vez para punir com tiro livre direto o time que fizesse um determinado número de faltas. 
Thomas, seguinte: em princípio, concordo com o Jaime e não sou a favor de mudanças nas regras do futebol, apesar de achar que algumas coisas bem que podiam ser repensadas. Uma: como sou radicalmente contra a disputa de pênaltis e a favor da prorrogação até que alguém vença – nada substitui o clássico “primeiro gol acaba” das nossas peladas –, acho que se poderia pensar em aumentar o número de substituições nos jogos que fossem para prorrogação. Outra: não concordo com a permissão que os goleiros têm de defender com as mãos bolas atrasadas sem intenção. Pra mim, devia haver rigor absoluto: atrasou com o pé, um abraço. Com ou sem intenção, o goleiro que se vire. 
Mas, no geral, não gosto de mexidas constantes nas regras de esporte nenhum, nem mesmo naqueles que a gente não pode chamar de esporte. No vôlei, por exemplo, acho dois absurdos terem acabado com a vantagem e passarem a permitir que os jogadores toquem na bola com os pés. No futebol de salão, acho uma esculhambação poder fazer gol de dentro da área e goleiro ficar trocando bolinha no meio da quadra. 
Conceitualmente, a discussão do pênalti surgiu não por achar que a regra precisa mudar, mas para pensar em algo que reduza a possibilidade de erros dos juízes definirem as partidas. 
Para encerrar, antes que o Jaime desça mais uma vez o cacete no blog: é possível, Thomas, que você ainda não acompanhasse o jorgemurtinhofc, mas escrevi um post no dia 21 de maio de 2010, com o título “Desde quando um gol vale mais que o outro?”, que lá no meio fala dessa história de punição ao número de faltas. 
Não concordo com a ideia não, mas dá uma lida lá.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Caprichando no conceito. 
Nossos torcedores não costumam ser muito criativos em seus gritos de guerra ou no que escrevem em faixas de protesto. Nada mais pobre do que rimar “ão, ão, ão, Fulano é seleção”. Ou do que o preconceituoso coro que eu ouvia no Maraca da minha adolescência, toda vez que meu time levava um gol: “ela, ela, ela, silêncio na favela”. Mas existem exceções. 
Há cerca de dois anos, a torcida do Botafogo levou para o Engenhão uma faixa com uma bela frase: “Não há clube que resista a tamanha falta de ambição.” Coincidência ou não, depois disso o time melhorou o desempenho nos campeonatos brasileiros e ainda levantou, com um elenco visivelmente inferior aos dos outros três grandes, o título carioca de 2010.
Ontem surgiu mais uma excelente. Parece cedo, mas já revoltada com as tolices de Adílson Batista no comando do time, a torcida do Santos produziu uma ótima faixa, com uma frase que vale para todos – eu disse todos – os treinadores de futebol do mundo. Dizia o texto: “Muito faz quem não estorva. Fora Adílson.” Trata-se de uma versão mais elaborada de um chavão que eu sempre defendo aqui no blog: técnico bom é o que não atrapalha. 
Suspeito que exista, na função de técnico, uma estranha relação de dinheiro e poder. O cara tem que mostrar que é ele quem manda – o que acabou causando, por exemplo, a inesperada saída de Dorival Júnior do Santos, no ano passado – e nada melhor para isso do que fazer coisas que só ele faria. Escalo o Diogo, em vez do Maikon Leite ou do Zé Eduardo, porque quem manda aqui sou eu. O Fernando vai jogar no Flamengo como o Rincón jogava no Corinthians. Pouco importa que o Fernando seja o Fernando e o Rincón fosse o Rincón, o que importa é que o técnico é o mesmo. Eu. 
E tem, claro, a história da grana. A partir do momento em que treinadores viraram estrelas, com salários de fazer presidente de multinacional morrer de inveja, o cara não pode chegar lá e cozinhar o feijão com arroz. Ele tem que ser diferente. Ele tem que inventar. Ele tem que bater o pezinho. Ele tem que insistir com um centroavante que nunca funcionou desde a estreia, que aconteceu há distantes seis meses. 
“Muito faz quem não estorva.” Leão de Ouro em Cannes na categoria faixa de torcida.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O bola murcha da semana atende pelo nome de Muricy Ramalho.
Parece que existem certos conflitos entre dois textos que regulamentam a profissão de técnico de futebol, e eu acho que um bom começo para acabar com o problema seria exigir dos nossos treinadores o diploma de inventor. No meio da semana, na estreia do Santos na Libertadores, Adílson Batista beirou a irresponsabilidade ao escalar Neymar completamente exausto. E fez uma tremenda bobagem ao optar por Diogo para completar o ataque, já que Neymar e Diogo só foram apresentados um ao outro lá em San Cristóbal. O sonolento zero a zero não foi obra do acaso. Nos jogos do Flamengo pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, o professor Luxemburgo deu seguidas aulas de escolhas equivocadas – e algumas delas estão no parágrafo abaixo. Técnico inventor é pleonasmo, técnico teimoso também. Mas o troféu da semana vai, fácil, para Muricy Ramalho. Sábado o Fluminense pegou o Boavista pela semifinal do primeiro turno. Marquinhos foi escalado no meio-campo e Souza ficou no banco. Entrevistado antes da partida, Marquinhos disse que com ele o time ficava mais forte na marcação, já que o Souza é mais ofensivo. Em português claro, o time entrava – contra o Boavista! – com redobrados cuidados defensivos. Mas Muricy se superou. Embora bastante parelho, o primeiro tempo terminou dois a um pro Fluminense, e quando Fred sentiu sua famosa panturrilha de vidro, Muricy decidiu substituí-lo por Souza, mesmo tendo Rodriguinho no banco. Moral da história: sem ser atacado, o poderoso Boavista partiu pra cima no início do segundo tempo, fez o gol de empate e o Fluminense só conseguiu voltar pro jogo quando Rodriguinho entrou no lugar de Marquinhos, reequilibrando o time. Era tarde. A partida foi para os pênaltis e o Boavista foi para a final do primeiro turno. A bola pune. 
A passagem do Flamengo pra decisão do primeiro turno não esconde que Vanderlei Luxemburgo ainda não conseguiu armar o time. Pelo contrário: tem contribuído com algumas invenções que cairiam bem no parágrafo acima, e delas não abre mão nem por decreto. Primeira: apesar do elenco não oferecer nenhuma opção boa pra lateral esquerda, Egídio continua sendo a coisa menos ruim que o time tem pra jogar ali. É triste, mas é verdade. Segunda: da mesma forma que centenas de torcedores compraram tijolinhos para a construção do CT, parece que Renato Abreu comprou uma vaga no time. É um cara que luta bastante e pode resolver o jogo numa cobrança de falta, mas impressionam os mil engenhos que o técnico é obrigado a fazer para mantê-lo entre os titulares. Terceira: insistir com o centroavante que tem entrado em campo – pesado, estático, com pouca transpiração e nenhuma inspiração – é dar murro em ponta de faca e abusar da paciência de uma torcida sabidamente impaciente. Ontem o Flamengo jogou fora sessenta minutos do jogo por causa dessa teimosia, e o time só entrou em campo quando o Praga de Mãe saiu. Quarta: colocar Ronaldinho Gaúcho de centroavante revela desespero e absoluta desorganização tática. Enquanto o time está ganhando, os problemas vêm sendo varridos pra baixo do tapete. Mas uma hora dessas o caldo entorna e o barril explode. Já o Botafogo mostrou o de sempre: boa organização, marcação forte, Loco Abreu agitando lá na frente e Jéfferson pegando até pensamento. O problema é que falta qualidade individual em várias posições e, na hora dos pênaltis, prevaleceu o que parece ser um carma botafoguense nesse tipo de disputa com o Flamengo. 
Mogi Mirim e Palmeiras jogaram no mesmo horário que Flamengo e Botafogo, mas como o Palmeiras lidera o Campeonato Paulista, decidi prestigiar e botei o jogo pra gravar. Quando soube do resultado, declinei. Acredito que nem o mais verde dos palmeirenses aguentaria ver a gravação de um jogo entre Palmeiras e Mogi Mirim que terminou zero a zero. Espero que os torcedores do Palmeiras que leem o blog compreendam. Aliás, preciso muito que pelo menos um deles – o Papp – compreenda. Porque, se não, minha batata vai assar. 
Antes que os amigos são-paulinos reclamem, faço questão de repetir, reforçar e reesclarecer: não tenho o Paulistão em pay-per-view, daí que só consigo ver os jogos do campeonato que são transmitidos na tevê aberta ou no SporTV. Se quando eu vejo o São Paulo perde, juro que a culpa não é minha. Já disse aqui no blog que, por opção, eu não voltaria a ver o Juan jogar. Mas o Lucas compensa. 
Pelo mesmo motivo acima, não consegui acompanhar Corinthians e Santos. Vi apenas um compacto, e todo mundo sabe que compactos não refletem a verdade dos jogos. Deu pra perceber que o Corinthians está mais rápido – mais ou menos na mesma proporção de que, sem qualquer malícia, cabem dois Liédson dentro de um Ronaldo – e que o time se supera em determinação quando as rivalidades regionais entram em campo. Também está claro que essa fase do Campeonato Paulista pouco importa para os quatro grandes, que evidentemente estarão entre os oito finalistas, mas precisa servir para os clubes se acertarem. Como o Corinthians passa por um processo de remontagem, depois da saída de Elias, Roberto Carlos, Ronaldo e Jucilei, e não tem outra competição pra jogar até que comece o Campeonato Brasileiro, o Paulistão passou a ter para o time uma importância que não tem para os demais, e ganhar virou obrigação. O problema é que as últimas experiências mostram que esse tipo de obrigação não tem dado muito certo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O futuro da Libertadores. 
Sem o Boca e sem o River, e com Jorge Wilstermann, Junior de Barranquilla, Caracas, Deportivo Táchira, Emelec, Guarani, Jaguares, León de Huánuco, San Luis, San Martin, Tolima, Unión Española, Godoy Cruz e Oriente Petrolero, a Libertadores começa a se aproximar do que fatalmente ela se tornará a médio prazo: um minibrasileirão. 
A imensa vantagem dos argentinos no número de títulos se deve ao total desinteresse que torcedores e times brasileiros tinham pela competição. Agora que a história mudou, isso também vai mudar. A conquista da Libertadores passou a render mais grana para os clubes, e o antigo desinteresse se transformou em fonte de orgulho – ou frustração – para os torcedores. 
Sou fã do futebol argentino, aprecio o “toco y me voy”, gosto da técnica e da vontade, mas acho que o tamanho do nosso mercado e o investimento cada vez mais pesado dos patrocinadores certamente vão fazer esse quadro virar. 
As seis últimas finais da Libertadores já foram uma demonstração clara disso. Enquanto o futebol brasieiro esteve presente em todas elas, o futebol argentino participou de apenas duas. É um caminho sem volta.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Campeonato estadual é que nem o belo samba de Nélson Sargento: agoniza mas não morre.
"Alguém sempre te socorre, antes do suspiro derradeiro." 
Pois é. Ao contrário do que aconteceu na Europa, o nosso futebol cresceu às custas de rivalidades alimentadas dentro das próprias cidades. Lá, poucas cidades têm mais de um time de peso. Milão, Londres, Lisboa e, talvez, Madri – essa última por causa da apaixonada e linda torcida do Atlético (vale a pena dar uma olhada nesse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=pQf-wlhhEKw&feature=related). Já no Brasil tudo sempre foi diferente, o que talvez explique por que até mesmo a Libertadores só pegou por aqui no tranco: nossos torcedores tinham uma certa desconfiança com relação a um torneio em que o Palmeiras não jogava com o Corinthians ou que o Vasco não encarava o Flamengo. Depois que a fórmula da competição mudou e passou a ter um número bem maior de times brasileiros envolvidos, que patrocinadores passaram a investir pesado e que a mídia viu ali uma ótima oportunidade de negócios, a Libertadores se impôs. 
Só que, curiosamente, a participação dos nossos times vem sendo atrapalhada pelos campeonatos estaduais, que se mantêm vivos pelos conhecidos interesses políticos das federações e porque estamos demorando muito para admitir que não há mais espaço para eles no calendário. Nem espaço e nem motivação. No ano passado vi Rogério Ceni declarar, numa entrevista ao SporTV, que se dependesse dele só disputava a Libertadores e o Brasileirão. 
Acho até que os campeonatos estaduais podem continuar, mas os clubes grandes precisam ser poupados, ganhando com isso uma pré-temporada decente. Ou eles entrariam somente na fase final, ou participariam da disputa com jogadores subvinte e três, por exemplo. 
O que não dá é pra gente continuar acreditando que o time está bom porque ganhou de seis a um do Volta Redonda, de cinco a zero do Ituano, de sete a dois do Brasil de Pelotas ou de oito a três do Tupi de Juiz de Fora. 
Aí, chega na Libertadores e perde do Tolima.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um gosto de nada.
No ano passado, quando Silas assumiu a função de técnico do Flamengo, na primeira entrevista ele falou o de sempre: a grandeza do clube, time da massa, necessidade de vitórias e títulos etc. E encerrou com essa frase: “Passar pelo Flamengo e não ganhar títulos vai ter um gosto de nada”. 
Igual à de Silas pelo Flamengo, a passagem de Roberto Carlos pelo Corinthians teve um gosto de nada. Jogadores de futebol marcam suas histórias nos clubes pelas belas campanhas das quais participam e os importantes títulos que ajudam a conquistar. No Corinthians, Roberto Carlos não conseguiu nada disso. 
Contratado no início de 2010, era o mais importante nome de uma lista que incluía essa maldita invenção recente do nosso futebol: os jogadores de Libertadores. (Iarley e Tcheco foram contratados porque eram jogadores de Libertadores.) Pouco mais de um ano depois, Roberto Carlos sai do clube acuado feito um traficante da Vila Cruzeiro, depois de participar de quatro competições e não ganhar nenhuma delas. Ou seja: nada. 
Enganou durante um tempinho, mas depois parou ali na linha do meio-campo, de onde não saía nem por decreto. É claro, é óbvio, é evidente: torcidas organizadas não têm nada que jogar pedra, quebrar vidro de carro ou fazer ameaças por telefone. Por outro lado, tá mais do que na hora dos jogadores de futebol pararem de achar que podem retornar ao Brasil sem a menor condição de jogar competitivamente, ganhar incalculáveis fortunas mensais e não ser fortemente cobrados por isso. 
Fica a lição.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O mau começo do Fluminense e a picardia do Loco Abreu.
Ao contrário do que parece, um longo campeonato por pontos corridos também prega suas peças. No Brasileirão, por exemplo: se um time é mediano na maior parte da competição e acerta o pé nas cinco rodadas finais, ele pode muito bem ser campeão, sem necessariamente ser o melhor do Brasil. Já falei aqui no blog que o time que eu mais gostei de ver jogar no último Campeonato Brasileiro foi o do Cruzeiro. O problema é que o Cruzeiro só tem batido na trave, e futebol é bola na rede. Desconsiderando, por motivos óbvios, os jogos contra os times pequenos no Campeonato Carioca, o Fluminense não começou bem a temporada, perdendo para o Botafogo, empatando com o Argentinos Juniors e jogando mal as duas partidas. E o que é que o Brasileirão tem a ver com isso? Na verdade, apesar da conquista do título, o Fluminense não terminou o ano passado jogando bem, e o desinteresse de São Paulo e Palmeiras foi decisivo para que o time não perdesse pontos naqueles dois jogos e levantasse o caneco. (Provavelmente, para o Barão de Coubertin não haveria diferença entre jogar com desinteresse e entregar o jogo. Mas no profissionalismo de hoje, em que um jogador nota sete como o Fred ganha mais de seiscentos mil reais por mês, nosso querido barão certamente entenderia que o buraco é mais embaixo.) Para júbilo do Jaime, o Fluminense desses dois últimos jogos ofereceu um curso completo de muricysmo, com total falta de inspiração e dezenas de bolas levantadas na área. Tá certo que falta o Emerson, falta o Deco, só que eles têm faltado demais. Não há problema quanto ao Campeonato Carioca, porque parece que todos estão ligando cada vez menos para esse moribundo. Mas se o time pretende fazer uma Libertadores decente, vai ter que melhorar muito. 
Um dia depois do Loco Abreu fazer um daqueles seus gols muito loucos, Fernanda entrou na sala decretando: “esse cara é muito maloqueiro, ele tem que jogar no Corinthians.” Depois de dar uma espiada no jogo entre Botafogo e Fluminense, concluí que Loco Abreu é um dos poucos jogadores do atual futebol brasileiro que, sozinho, já vale o ingresso. Não pela qualidade técnica, que não passa de sofrível, mas pelo agito que causa nos jogos. Contra o Fluminense ele praticamente obrigou o péssimo juiz Gutemberg de Paula Fonseca a expulsar – injustamente – o Valência, desestabilizando completamente o soprador de apito e presenteando o Engenhão com uma das arbitragens mais tumultuadas e catastróficas dos últimos tempos. Não satisfeito, Loco Abreu falhou na marcação a Rafael Moura no primeiro gol do Fluminense, obrigou Diego Cavalieri a duas ótimas defesas, perdeu um pênalti atrasando a bola pro goleiro e, sem abrir mão da cavadinha, embora mais caprichada, converteu outro. E ainda foi pra galera fazendo o gesto de “eu tenho colhão”. Vale lembrar que, no ano passado, seu irresponsável pênalti com cavadinha deu o título estadual ao Botafogo, no jogo contra o Flamengo, e classificou o Uruguai para a semifinal da Copa do Mundo, no jogo contra Gana. Que Liédson que nada: o cara tinha que ser o Loco Abreu. Maloqueiro total e um figuraço.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Todo mundo fala do impedimento. Mas, e o pênalti?
Em novembro do ano passado, meu filho Lucas esteve aqui em São Paulo, com Clarice, para o show do Paul McCartney. No mesmo final de semana jogaram Flamengo e Guarani – evento muito mais importante do que o show do Paul, claro. Para amenizar a tensão do pré-jogo, que decidiria a permanência ou não do Flamengo na primeira divisão, eu e Lucas conversávamos sobre o discutido pênalti de Gil em Ronaldo, acontecido sete dias antes na partida entre Corinthians e Cruzeiro. Foi quando Lucas lançou uma tese interessante.
Desde a final da Copa de 90, em que a Alemanha ganhou da Argentina por um a zero com um gol de pênalti inexistente, eu achava que a regra do pênalti precisava ser repensada. Independentemente de má-fé, que pode existir mas é rara, todo juiz erra. Futebol é um esporte de choque e de chegada, com lances rápidos, jogadores malandros, e o cara tem que decidir se apita ou não em fração de segundos. Não há como não errar. E nesse ponto é que a teoria do Lucas se mostra precisa. 
Ela parte do princípio de que a regra do pênalti foi criada quando o jogo era outro, com ampla predominância dos ataques sobre as defesas e partidas que terminavam oito a cinco, sete a quatro, seis a três. Óbvio: se um jogo tem nove ou dez gols, pouca diferença faz se o juiz marca um pênalti que não houve. É apenas uma chance a mais entre quinze ou vinte. Mas a partir do momento em que o jogo mudou, que a preparação física ganhou uma importância absoluta, que os treinadores descobriram que podiam vencer reforçando seus sistemas defensivos e que as chances de gol se tornaram cada vez mais raras, aí a história passou a ser outra. E o erro de um juiz pode determinar, simplesmente, o vencedor de uma Copa do Mundo. 
Existe a teoria tosca de que deve ser marcado pênalti em qualquer falta dentro da área. Esse era, inclusive, o principal argumento de quem concordou com a marcação do pênalti de Gil em Ronaldo: e se fosse lá no meio-campo, não seria falta? Sim: no meio-campo, seria. Dentro da área, não. Árbitro existe para arbitrar, e arbitrar exige bom senso. 
Lembro que, nos primeiros jogos da Copa de 98, os juízes desandaram a marcar pênaltis e, numa mesa redonda da ESPN, o grande Tostão lançou a pergunta no ar: “Vocês não acham que está havendo uma banalização do pênalti?” Só que, antecipando a polêmica, ele mesmo declinou da discussão: “Mas vamos deixar pra lá, antes que comecem a me acusar de ser contra o pênalti.” Concordo com Tostão: o pênalti não pode ser banalizado.
Uma sugestão simples e viável seria diminuir a área do pênalti, fazendo com que eles só fossem marcados nas faltas cometidas dentro da pequena área. Ou seja: na grande área, falta comum, barreira etc. Com isso, a chance do erro de um árbitro decidir um jogo ou um campeonato seria drasticamente reduzida. 
Tenho toda a certeza de que a regra do pênalti jamais será alterada. Mas a gente tá aqui, justamente, para comentar e discutir o que ninguém comenta e discute, certo?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ilá-ilá-ilariê, ô ô ô.
Há algum tempo, li na Veja uma extensa matéria sobre a longevidade da Xuxa na televisão brasileira. Marlene Mattos ainda era empresária da apresentadora, e um dos trechos tratava exatamente do nível de influência que ela exercia. Explicando como a coisa funcionava, Marlene contou que em todo final de ano ela chamava Xuxa em seu escritório e falava mais ou menos o seguinte: “Querida, quando esse ano acabar você vai ter mais de tantos milhões na sua conta bancária. Com esse dinheiro você nunca mais precisa trabalhar na vida. Agora, se você decidir continuar, é pra fazer direito.” 
Acho que todo mundo que gosta de futebol tem a obrigação de ser fã do Ronaldo Fenômeno, um dos três maiores centroavantes brasileiros que eu vi jogar – os outros dois foram Careca e Romário. Mas, apesar de toda a admiração que devemos ter por ele, é preciso admitir que Ronaldo tem faltado com respeito ao torcedor corintiano, ao torcedor brasileiro, ao futebol e a ele mesmo. 
Outro dia o Pedro Saud tuitou algo assim: “Se o Christian Bale perdeu mais de vinte quilos pra fazer ‘O vencedor’, não dá pro Ronaldo emagrecer uns cinco quilinhos pra jogar pelo Corinthians?” Na verdade ele precisaria emagrecer bem mais que isso, mas cinco quilos já tornariam a situação um pouco menos constrangedora. Não quer, tudo bem, tá no direito. Mas aí segura a onda, segue o conselho da Marlene Mattos e para.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pílulas do final de semana.
Certamente por causa das origens italianas, São Caetano é uma cidade cheia de palmeirenses. Ontem, quando saí pra comprar o café da manhã, vi bastante gente com a camisa do clube e na maior empolgação. Cético, pensei: será? Será que bastou a entrada do Cicinho na lateral pra transformar aquele timinho fuleiro do ano passado num tremendo timaço esse ano? O problema é que esses jogos dos estaduais, contra os clubes pequenos, transformam qualquer equipe razoável num esquadrão imbatível. Zagas seguras, armadores criativos, ataques marcando gols em profusão. E o torcedor, coitado, embarca. Até que chega a fase decisiva, os grandes se enfrentam e as mentiras aparecem. O Palmeiras está longe, muito longe, de ser um grande time. Mas fiquei com a impressão de que deu uma melhorada sim. O que não pode é o time ficar dizendo que não era dia da bola entrar. Bola não tem vontade própria. Se for chutada do jeito certo, pra dentro dos três paus e fora do alcance do goleiro, ela obedece. Não dá pro Maurício Ramos perder um gol sem goleiro, pro Kléber chutar todas afobadamente em cima do Júlio César, e depois o time dizer que a bola não quis entrar. Se fizer direito, entra sim. 
Agora é tarde, mas o Corinthians fez ontem o que deveria ter feito contra o Tolima: sem chegar a jogar bem, venceu. Essa talvez tenha sido a maior lição deixada pelo São Paulo do Muricy. A gente cansou de ver aquele time praticar um futebolzinho chato de doer, mas ganhar. Apesar das limitações técnicas e de toda a pressão, o Corinthians correu e marcou, bateu e apanhou, se defendeu como pôde e fez o gol quando foi possível. Pena que o time parece ter confundido as competições, e somente ontem, pelo estadual, conseguiu jogar como se joga a Libertadores. 
Mesmo com todo mundo sabendo que essa fase do Campeonato Carioca não serve pra nada, já ficou bastante claro que o miolo de zaga do Flamengo abusa do direito de ser ruim. Mais do que melhorar muito ainda, Ronaldinho Gaúcho e Tiago Neves vão ter que fazer milagres, porque haja gol pra compensar a fraqueza dos caras lá de trás. E o engraçado é que, para essa temporada, o Flamengo trouxe Ronaldinho Gaúcho, Tiago Neves, Bottinelli, Vander, Vanderley, só gente que joga na frente. Quer dizer que eles terminaram dois mil e dez achando que a defesa estava boa? Medo. Sei que o clube não tem um puto no bolso e que só há marketing com jogadores do meio pra frente, mas alguma coisa precisa ser feita. Por exemplo: pode ser que o Wallace não acerte no Corinthians, mas no Vitória parecia ser bom jogador. Manoel, do Atlético Paranaense, também. Vai lá, busca um cara desses e bota pra jogar. Se não der certo, paciência, tentou-se. Outra: continuo sem entender onde o Luxemburgo quer chegar. O time contrata Ronaldinho Gaúcho, Tiago Neves e Bottinelli, mas quem arma as jogadas é o Renato Abreu. Ou seja, ninguém. Já o Coisa Ruim melhorou um pouquinho: sofreu um pênalti, fez um gol – debaixo da baliza, mas fez – e se nos jogos anteriores a nota dele foi zero, ontem levou meio. 
Nos meus tempos de pelada lá na Rua Lauro Muller, quando um cara jogava do jeito que jogam o Rodrigo Souto e o Fernandão, alguém logo berrava: "tá com as pregas presas, porra?" Empolgados com a esfuziante estreia do Rivaldo diante do poderoso Linense, meus amigos são-paulinos praticamente me obrigaram a ver o jogo de ontem contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Agora eles me devem uma: por conta disso, vi um joguinho muito do muquirana e perdi o que dizem ter sido um partidaço – Fluminense e Botafogo, lá no Rio, do qual eu só vi o finalzinho. Foi quando o treinador Carpegiani decidiu substituir Rivaldo por Marcelinho Paraíba. Aí fiquei confuso, achei que tinha errado de canal e que estava vendo uma daquelas antigas exibições da seleção de masters do Luciano do Valle. Imediatamente, pressionei uma das teclas do controle remoto e me mandei para o Engenhão. 
No início do segundo tempo de Santos e Santo André, sábado no Pacaembu, o volante Rodrigo Possebon deu um passe esquisito para o lateral Léo. Cheio de graça e de inspiração, o narrador Milton Leite mandou essa: “A gente pode dizer que foi um passe ruim do Possebon.” Poesia pura. Pouco depois, o Santo André pôs em campo um jogador argentino chamado Mário Jara, cujo sobrenome evidentemente se pronuncia “rara”. Logo na primeira jogada, Mario Jara entrou pesado e levou cartão amarelo. Aí foi a vez do comentarista Maurício Noriega brilhar: “Eu diria que o Mário Jara entrou com ‘rara’ delicadeza.” Depois minha mulher acha que eu sou louco, só porque gosto de assistir aos jogos com o som desligado. 
Não dá para encerrar o post de hoje sem reparar uma injustiça. Neymar? Que nada. Ganso? De jeito algum. Lucas? Nananinanão. A maior revelação do nosso futebol nos últimos tempos é o Paulo Asano, com seus comentários irretocáveis aqui no blog. Outro dia ele arrasou falando sobre a estreia do Rivaldo. Sabe tudo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pra que essa pressa?
Hoje, no almoço, os são-paulinos Roger, Alê e Camilinha me cobraram veementemente um post sobre a estreia do Rivaldo. Expliquei que não tenho o Campeonato Paulista no pay-per-view e que só posso falar do que vejo. Não adiantou: me acusaram de perseguição, de má-vontade e de só falar do São Paulo quando o time perde – o que significa que, ultimamente, eu tenho falado muito do São Paulo, sobretudo após os clássicos paulistas. Cheguei na agência, liguei o msn e já fui pressionado pelo conselheiro Jaime Agostini, embora os motivos do Jaime fossem outros, que vocês vão perceber assim que ele fizer o comentário aí embaixo. O que tenho a dizer sobre ontem é o seguinte: calma, gente. É claro que o cara sempre jogou muito, foi o grande destaque da Copa de dois mil e dois, manteve a forma, etc, etc, etc. Mas desde que saiu do Barcelona, e isso deve ter sido em mil, novecentos e dezessete, nunca mais foi o mesmo. Nem no Uzbequistão, onde o time mais forte perde para o Linense. Rivaldo é bacana, todo timidozão, todo bicho-do-mato, bem na dele, baita jogador, mas completa trinta e nove anos em breve. O futebol está cada vez mais competitivo, cada vez mais veloz, cada vez mais marcado, e por isso eu tenho todas as dúvidas do mundo. (Para os próprios são-paulinos refletirem: vejam o Lucas jogar na subvinte e perguntem a vocês mesmos se há alguma chance do Rivaldo acompanhar um ritmo daqueles.) A caneta foi linda. O lençol foi ainda mais sensacional. O gol foi bonito. Mas custa esperar um pouquinho?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O ano que não começou.
Luiz Eduardo Loureiro, leitor assíduo do blog, outro dia me disse uma frase impecável: o Corinthians só vai ganhar a Libertadores no dia em que olhar pra ela como se fosse uma competição comum. Libertadores é emocionante, tem jogos tensos e catimbados, mas tecnicamente não é nada do outro mundo, sobretudo depois da globalização que não se cansa de levar para a Europa os melhores jogadores sul-americanos. Eu continuo achando mais difícil ganhar o Brasileirão do que a Libertadores. Entretanto, a mídia e a inteligente torcida do São Paulo conseguiram fazer da Libertadores o sonho máximo de consumo do torcedor brasileiro. Partindo dessa realidade, é inevitável constatar que, se para o torneio de dois mil e dez o Corinthians fez tudo certinho e só foi eliminado porque o nome do jogo é futebol, para o de dois mil e onze o clube fez tudo errado. E os erros começaram no meio do Brasileirão do ano passado. Não me refiro a algumas partidas decepcionantes no Pacaembu, como a derrota para o Atlético Goianiense e o empate com o Ceará, porque todo mundo sabe que no Brasileirão isso acontece – o Fluminense empatou com Grêmio Prudente e Goiás em casa, e foi campeão. Mas o empate com o Vitória, em Salvador, a três rodadas do final do campeonato, aquilo não existe. Estava calor? Muito. Mas por acaso o Corinthians é um time nórdico? O Jucilei jogou suas primeiras peladas em campos de neve? Depois veio o inaceitável empate com os reservas do Goiás, que obrigou o time a disputar o fatídico mata-mata encerrado ontem à noite. Fora de campo a diretoria também errou feio, mostrando despreparo e até mesmo arrogância. Porque só a combinação de despreparo com arrogância explica a contratação do Liédson no dia trinta e um de janeiro. Ou seja: passar pelo Tolima é mole, vamos tratar de reforçar o time para o que vier depois. Outro erro cometido, e esse infelizmente com a ajuda da torcida, foi o da superavaliação do elenco. A bela e elogiável fidelidade que o corintiano tem ao seu clube às vezes cega. E aí se começa a achar que o Chicão deveria estar na seleção, que não há lateral brasileiro melhor que o Roberto Carlos, que o Ralf é craque, que ninguém segura o Jorge Henrique. O time do Corinthians é bom. Ponto. Quando foram eliminados pelo Flamengo, no ano passado, os jogadores saíram de campo aplaudidos. Houve técnica, qualidade, luta, pressão, foi um jogaço de bola e a classificação só não veio porque, apesar da bagunça institucionalizada, o Flamengo tinha caras muito bons, como Bruno, Léo Moura, Maldonado, Vágner Love, Adriano. A torcida corintiana reconheceu o esforço e não se envergonhou com a eliminação. Mas cair para o Tolima, fazendo duas partidas lamentáveis, jogando sem alma e sem marcar um golzinho sequer em cento e oitenta minutos, aí é duro. Aí não é Corinthians.
Foi bonita a festa. Surpreendentemente, Flamengo e Nova Iguaçu fizeram um jogo bastante animado. Tudo levava a crer que teríamos um repeteco das partidas anteriores do Flamengo contra os times pequenos: muito superior, mas todo enrolado, o time não correria grandes riscos e acabaria ganhando sem jogar bem. Mas o Nova Iguaçu fez um excelente primeiro tempo e só começou a entregar o ouro perto do fim, quando cansou. Lógico que, ontem, o resultado pouco importava – desde que o Flamengo não perdesse, porque aí seria o anticlímax total. O mais importante era ver a movimentação do time, que jeitão a coisa vai tomar, ver se o Ronaldinho voltou mesmo disposto a jogar bola. A boa notícia é que parece que sim. Correu bastante, pelo menos durante sessenta minutos, aguentou o tranco até o fim, não pediu pra sair, tentou as jogadas e deixou claro que com ele em campo a história é outra. Tiago Neves não brilhou, mas também brigou o tempo todo, e o argentino Botinnelli entrou muito bem no time. Duas coisas continuam a me preocupar, principalmente para o Brasileirão: a necessidade urgente de reforçar certas posições e algumas convicções do Luxemburgo. Só há uma função que o Renato Abreu pode fazer: a de segundo volante. Na armação, apenas em casos extremos; e na lateral, por incrível que pareça, o Egídio é melhor. E tem o Deivid. Bom, não sei se vou conseguir, mas eu não quero mais falar do Deivid. Até porque, como foi dito várias vezes aqui, o blog só trata de futebol. A torcida fez uma linda festa, Ronaldinho se emocionou, o time mostrou que ainda falta muita coisa, mas pode engrenar. Valeu.
Velocidade impressionante. Ainda não tinha visto a seleção subvinte em ação e me impressionaram a rapidez e o condicionamento físico do time. A velocidade que o Lucas e o Neymar dão às jogadas chega a tontear. Se eu, que estava em casa semideitado no sofá, fiquei cansado só de ver, imagino os chilenos que tiveram que correr atrás. Quem já jogou bola, nem que tenha frequentado apenas as mais vagabundas das peladas, sabe: correr com a bola cansa, mas correr atrás de quem tá com a bola mata. No segundo tempo, enquanto o time brasileiro continuava voando, os chilenos estavam mortos. Nossa seleção é forte e só não vai levar uma das duas vagas olímpicas se subir no salto alto. Todos os que estão lá podem ser titulares em seus clubes, mas o Lucas pode mais: ali eu acho que já é caso para seleção principal.