sexta-feira, 24 de maio de 2013

A PARTIR DE 23.05.2013, OS TEXTOS SOBRE FUTEBOL QUE ERAM PUBLICADOS NESTE BLOG PASSARAM A OCUPAR UM NOVO ENDEREÇO:
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-do-futebol 
SE VOCÊ GOSTAVA DE LER AS COISAS AQUI, NÃO DEIXE DE APARECER POR LÁ.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O blogueiro se despede temporariamente do jorgemurtinhofc, agradece aos fiéis leitores e, sem um pingo de vergonha na cara, beija com ardor o escudo de seu novo time. 
Tudo aconteceu mais ou menos assim. No final do ano passado, eu e meu filho Lucas conversamos bastante sobre futebol, blogs, textos etc. Talvez pela quantidade um pouco maior de álcool – minha, porque o Lucas gosta mesmo é de limonada Do Bem –, surgiu a ideia de tentar algo novo para o jorgemurtinhofc. 
Criterioso editor escondido sob a capa de economista da BR Distribuidora, Lucas fez sugestões valiosas e se propôs a tentar contatos. Aí, na edição de fevereiro, a revista Piauí publicou um ótimo artigo do Tostão sobre o retorno de Luiz Felipe Scolari ao comando da seleção brasileira. Escrevi um longo texto, concordando com a maioria dos argumentos e discordando de outros, e mandei para a revista, que o publicou na seção de cartas da edição seguinte. 
As pontas começaram a se juntar, até que, na companhia de um agradável filé à Oswaldo Aranha devidamente rachado sob os toldos da Glória, decidi aceitar o felipônico frila mensal proposto pela revista e, a partir dessa quinta-feira, 23 de maio, passarei a escrever o blog de futebol da Piauí
Tenho o compromisso de publicar um post por semana, mas pretendo fazer mais que isso e postar textos novos sempre que pintarem jogos importantes ou assuntos bacanas. Para facilitar, continuarei informando pelo twitter e pelo facebook sempre que tiver coisa nova. 
Minha participação no canal virtual da revista tem duração prevista para seis meses, depois dos quais retorno ao jorgemurtinhofc – mais ou menos como fez o grande Verón, que ficou rico, famoso e voltou a La Plata para encerrar a carreira no Estudiantes que o revelou. 
O endereço do site é www.revistapiaui.com.br. Entrou lá, é só clicar em Blogs. Com exceção do The Piauí Herald, os blogs da Piauí têm nomes que começam com a palavra "questões". Questões Cinematográficas, Questões Musicais etc. Nessa linha, o novo blog se chamará Questões do Futebol. Apareçam, cadastrem-se, comentem, elogiem, desçam o cacete, curtam, compartilhem, ajudem a fazer o blog bombar. 
Valeu aí todo mundo que sempre prestigiou, todo mundo que sempre deu força, todo mundo que me ajudou a não deixar a peteca cair. E, claro, espero todo mundo lá.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Precipitação. 
Aqui em São Caetano, temos algumas coisas que remetem às cidades mais famosas do mundo. Exemplo: costumamos encerrar o horário de almoço com um agradável café na praça central, como se estivéssemos, digamos, no Boulevard Saint-Germain. Outro dia, aí nesse tal café, os amigos são-paulinos Roger e Alê acreditavam na passagem do time para as quartas de final da Libertadores, e eu discordava. Já disse aqui e repito: não falta muita coisa para o São Paulo montar um grande time, mas falta. Com a saída do Lucas e a entrada do Ganso, o São Paulo mudou muito mais do que a maioria das pessoas tem considerado. Perder o Lucas e ganhar o Ganso significa alterar completamente o jeito de jogar, e equivale, praticamente, a ter que montar um time novo. O São Paulo ainda não se achou e a longa duração do Campeonato Brasileiro pode ajudar. Mas é preciso que a comissão técnica, a diretoria de futebol e, sobretudo, os torcedores – que costumam comprar qualquer coisa – façam uma autocrítica isenta e parem de acreditar em bobagens. (Denílson é bom jogador porque é cria da casa e passou muito tempo na Europa? O cara joga no meio-campo e não acerta um passe. Carleto não foi titular nem no América Mineiro, pode ser titular do São Paulo só porque chuta forte? Futebol é um pouco mais que isso.) Talvez seja importante, também, parar de acreditar em mitos, em preleções, em discursos que ganham jogos. Será que ontem não teve discurso do Rogério antes do time entrar em campo? Ainda não vi nada no youtube. 
Houve uma certa precipitação na avaliação que o São Paulo fez de si mesmo, depois daqueles dois a zero sobre o Atlético no Morumbi. Ronaldinho Gaúcho talvez tenha se expressado de forma inadequada, mas ele tinha razão. Naquele jogo estavam em campo dois times com objetivos bem diferentes. Para acreditar no que não deviam, os torcedores do São Paulo embarcaram na história de que o Atlético ia entrar com tudo porque não lhe interessava enfrentar o São Paulo nas oitavas. Uma certa mistura de soberba com imaginação fértil. Claro que seria mais cômodo encarar o The Strongest ou o Arsenal, mas a equação não era tão simples assim e, se o Atlético eliminasse o São Paulo naquele jogo, havia grande chance de pegar o Grêmio. Tenho minhas dúvidas sobre o que seria melhor.  Não estou dizendo que o Atlético tenha feito corpo mole. O time até entrou pra ganhar, mas o São Paulo entrou pra não morrer. São coisas distantes. 
E por falar em se expressar de forma inadequada, ontem tive mais uma evidência de que alguma coisa não bate na biografia do Caio Ribeiro. Filho de classe média alta, criado em bairro chique e tendo frequentado bons colégios, outro dia – não me lembro qual foi o jogo – Caio disse que era “imperdoável a falta de desatenção da zaga”. Ontem, quando alguém falou que o São Paulo precisava reter mais a bola e tal, ele atacou a concordância afirmando que “para isso é fundamental dois jogadores, o Ganso e o Jadson”. Pais paulistanos de classe média alta: se vocês têm filhos estudando no mesmo colégio em que o Caio estudou, fiquem de olho no professor de Língua Portuguesa. 
Um assunto puxa outro. Ainda na transmissão de ontem, quando Diego Tardelli fez três a zero, Cléber Machado começou a explicar o que era preciso acontecer para o São Paulo se classificar. Como diria Caio Ribeiro, é muita falta de sacanagem. 
Não vi o jogo do Fluminense, mas botei pra gravar e, dependendo da paciência da patroa, talvez eu dê uma espiada logo mais. Entretanto, se ela me acusar de algo por querer ver um jogo gravado do Emelec, serei obrigado a enfiar a viola no saco e botar o rabo entre as pernas. Nenhum ser humano em perfeito domínio das faculdades mentais assiste a um jogo gravado do Emelec.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O jogo de Volta Redonda foi bem melhor que o de São Paulo. Pena que quase ninguém viu. 
Todo jogo decisivo é muito marcado, pegado e tenso, o que não quer dizer que precise ser tão ruim quanto foi São Paulo e Corinthians. Mesmo porque, até por motivos físicos, o excesso de marcação dos primeiros minutos não consegue se manter até o final, deixando as chances aparecerem. Só que elas não surgem do nada: é preciso o mínimo de competência para criá-las, e competência foi algo que ontem não deu as caras no Morumbi. O Corinthians ainda é forte, mas está abaixo do time do ano passado. O São Paulo ainda não é forte, embora eu ache que em breve será. Mas é bom que não demore, porque depois de sete anos consecutivos caindo nas semifinais do Paulistinha, parece que o Vasco acaba de ganhar um rival à altura. 
Tá certo que Volta Redonda é uma cidade sem grandes atrativos, mas bem que Abel Braga poderia ter aparecido por lá. Porque, pela entrevista que deu à repórter do PFC, na volta dos dois times depois do intervalo, fiquei com a impressão de que ele estava em outro planeta. Abel disse que o Fluminense tinha dominado quarenta e quatro minutos, enquanto o Botafogo foi melhor por um minuto, deu sorte e fez o gol. Aqui de São Caetano, espremido entre caixas de mudança, o jogo que eu vi foi bem diferente. Um jogo que começou cheio de machezas de lado a lado, parecendo que ninguém assistiu às desastradas intervenções do Chris e do Lúcio no meio da semana, e que não teve domínio de ninguém. Mas essa é outra especialidade dos nossos treinadores: achar – ou, pelo menos, dizer – que seus times sempre jogaram bem. Mais uma do Abel: a jogada do gol do Botafogo, em que o Leandro Eusébio não saiu a tempo de deixar o ataque adversário impedido, não é responsabilidade do técnico? Isso não faz parte do beabá do sistema defensivo de qualquer time de futebol que se preze? Isso não precisa ser treinado exaustivamente, até que zagueiro nenhum tenha dúvida do que fazer naquele tipo de lance? Ok: nem sempre os jogadores fazem, dentro de campo, aquilo que treinam e que o técnico pede. Mas, paciência, a responsabilidade é dele. Para finalizar a bela performance de um dos nossos técnicos-top: aos vinte e cinco do segundo tempo, com o Fluminense precisando virar o jogo, precisando de gente veloz e com capacidade de conclusão, Abel pensou, pensou e pôs em campo o Felipe. Tudo isso, dizem, por mais de seiscentos mil mensais. 
Sejamos justos: mesmo com o Campeonato Carioca respirando por aparelhos, não é fácil pra ninguém vencer onze jogos seguidos, incluindo aí os três clássicos. (Não custa lembrar que, em 2011, o Flamengo foi campeão carioca vencendo apenas dois dos seis clássicos que disputou.) O Botafogo é certinho, tem um goleiro muito técnico e que joga sério – jamais vi uma defesa espalhafatosa do Jefferson – e faz a maior parte de seus ataques com rapidez e bola no chão. Sem ter nada a ver com a falência do Vasco, a necessidade de recomeçar do zero do Flamengo e o cansaço do Fluminense, o Botafogo cozinhou um honesto feijão com arroz e papou o título. O time ainda tem muitos pontos fracos – Bolívar é lento e não me convence, Júlio César é no máximo um razoável reserva, faltam dois caras com qualidade na frente –, mas pode não fazer feio no Brasileiro. O que está a léguas de distância de pretender algo mais sério. 
Em 1969, fui a um Fla-Flu decisivo, vencido pelo Fluminense por três a dois, com um público de cento e setenta mil pessoas. Em 1971, eu e mais cento e sessenta mil pessoas vimos o Fluminense ser campeão em cima do Botafogo. Em 1974, eu e mais cento e sessenta e cinco mil pessoas vimos o zero a zero entre Flamengo e Vasco que deu o título ao rubro-negro. Tudo isso no fantástico Maracanã, na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. Ontem, no acanhado estádio Raulino de Oliveira, na siderúrgica cidade de Volta Redonda, quinze mil pessoas viram o Botafogo ser campeão. Depois desse número de dar dó, depois do fiasco do Engenhão, depois do Flamengo fazer dois a zero no Resende e ser derrotado por três a dois, só faltava o Campeonato Carioca ser decidido com um gol do Rafael Marques. Foi.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Barcelona e Real Madrid: uma tese despretensiosa. 
O blog pede a compreensão dos leitores para cair em tentação e praticar o esporte preferido dos comentaristas de futebol: babar regra depois dos resultados. Mas o motivo me parece justo, pois trata-se de defender uma tese e abrir o debate aos dois ou três abnegados que frequentam a caixa de comentários. Vamos lá. 
Todos nós já aprendemos que os campeonatos estaduais não servem de parâmetro para a avaliação dos nossos times. O Paulistinha talvez pudesse ser uma exceção, desde que não fosse disputado ao mesmo tempo que a Libertadores e tivesse um número menor de participantes. Do jeito que está, é tão enganoso quanto qualquer outro. O problema é que, apesar de nunca na história desse país etc e tal, ainda não perdemos o hábito de pagar pau para as coisas lá de fora. (Explicação necessária a quem não é de São Paulo: pagar pau significa, mais ou menos, encher a bola exageradamente de qualquer coisa. Para ficar em alguns exemplos futebolísticos: a imprensa esportiva carioca costuma pagar pau para o enganador do Thiago Neves; a torcida são-paulina paga pau, inexplicavelmente, para o Luís Fabiano, que jamais conquistou um título importante com a camisa do clube; a torcida do Flamengo andou pagando pau, precipitadamente, para o Rafinha. Acho que é por aí.)
Retomando: costumamos pagar pau para os feitos do Barcelona e do Real Madrid, esquecidos de que muitas dessas façanhas são alcançadas às custas do campeonato nacional mais desigual de que já se teve notícia. Sábado passado eu vi o finalzinho de um jogo, na tevê, em que o Barça lutava desesperadamente para fazer um golzinho no tal do Levante. Trinta e cinco do segundo tempo e zero a zero no placar, o que interromperia uma inacreditável série de quarenta e nove partidas consecutivas, na Liga Espanhola, fazendo gol em todas elas. Muito mais do que competência do Barcelona, isso significa fragilidade dos adversários, e a gente sabe que o futebol é um esporte onde a sua qualidade só pode ser testada quando encontra adversários à altura. Peguem o Quissamã, que acaba de cair para a segunda divisão do Campeonato Carioca, e tragam pra jogar contra o nosso time aqui da Y&R. Eles ganham da gente por, no mínimo, quinze gols de diferença. 
Claro: se Barcelona e Real Madrid estivessem no Brasil, seriam campeões brasileiros e da Libertadores ano sim, outro também. Não é isso que está em questão. Mas os cinquenta jogos seguidos marcando gols em todos, os noventa e nove gols do Barcelona só nessa temporada, os recordes e mais recordes quebrados por Messi e Cristiano Ronaldo, tudo isso só é possível pela disparidade descomunal entre os dois clubes e o resto. Por isso – ao contrário do nosso futebol, onde ganhar o Brasileirão é mais difícil que a Libertadores –, o verdadeiro desafio para os clubes europeus está na Champions League, e não nos torneios nacionais. 
A tese é essa: da mesma forma que nossos clubes se beneficiam de estaduais indigentes para se enganar, será que Barcelona e Real Madrid – que são indiscutivelmente dois timaços, e não há goleada ou eliminação que altere isso – não passaram a ter uma visão distorcida de suas próprias forças? 
Ontem teve Brasil e Chile. Vaias, gritos de olé, um treinador superado de um lado, um treinador atualizado do outro. Tudo isso mereceria post, mas é muito difícil pra mim escrever qualquer coisa sobre uma seleção brasileira em que o lateral-esquerdo é André Santos. Reconheço que o futebol está cheio de casos de jogadores que fracassam em determinados times e brilham em outros, mas pra mim não dá. Eu vi André Santos jogar no Flamengo e não quero ver de novo. Se isso vale para o Flamengo, imaginem para a seleção brasileira.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Henrique V do Morumbi. 
Circula com sucesso, no youtube, o rápido e empolgante discurso de Rogério Ceni na porta do vestiário, segundos antes do São Paulo entrar em campo contra o Atlético Mineiro. Virou moda: no mundo pós-internet, toda importante vitória futebolística é seguida por um vídeo emocionante postado logo após o jogo. O curioso é que a gente só vê os vídeos de quem vence. É bastante provável que o capitão do Huachipato tenha feito um discurso semelhante antes da partida com o Grêmio, só que isso ninguém nunca vai saber, porque o Huachipato foi eliminado. E será que Rogério não fez um discurso parecido em 2006, quando o São Paulo perdeu a final da Libertadores para o Inter? Ou em 2007, 2008, 2009 e 2010, quando foi eliminado por Grêmio, Fluminense, Cruzeiro e, novamente, Inter? O maior filósofo futebolístico da Praia de Botafogo, Neném Prancha, dizia que se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado. Com discurso motivacional é meio parecido. 
Não há competição mais surpreendente que a Libertadores. Mesmo depois de ter visto o Arsenal de Sarandi, o Sporting Cristal, o Deportes Iquique, o San José e o lendário Tolima, cada um pior que o outro, eis que na quinta-feira passada fui apresentado ao inacreditável Huachipato. Time sem talento algum, com um goleiro de fazer rir – como são desajeitados os goleiros da maioria dos times da Libertadores! – e que tem como única jogada ofensiva a bola aérea para um centroavante grandalhão e limitado, chamado Braian Rodriguez. Futebol é um negócio do qual ninguém pode dizer que entende. Gosta-se ou não. Acompanha-se mais ou menos. Mas entender, ninguém entende. Porque, entre outras coisas, é impossível entender como o Huachipato ganhou do Grêmio em Porto Alegre e empatou com o Fluminense no Rio, e como Braian Rodriguez foi o artilheiro dessa primeira fase da Libertadores. 
Vanderlei Luxemburgo, que certamente sabia por que estava apanhando, nos fez lembrar Diego Hypólito, que nos faz lembrar Arthur Zanetti, que ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres e agora ameaça competir por outro país. Apesar de ser vizinho em São Caetano – a cidade é tão pequena que aqui todo mundo é vizinho de todo mundo –, nunca tinha ouvido falar em Arthur Zanetti e sua ausência não vai interferir nos meus interesses esportivos. Mas pelo que li, vi e ouvi na última semana, sou capaz de apostar que nosso medalhista irá se estabelecer em Boston. Tem mais brasileiro em Boston do que argentino em Búzios.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A pré-temporada que não acaba nunca. 
Com tanta coisa desimportante acontecendo no fim de semana futebolístico, uma saída para o habitual post de segunda-feira seria apelar para um paragrafozinho básico de abertura, pensar em três ou quatro linhas bem sacadas para o encerramento e rechear o texto com uma receita de miojo. Não teria a originalidade do menino do Enem, mas ao menos ficaria de acordo com o futebolzinho tacanho que vem sendo jogado pelos nossos times, com a já citada exceção – ver post publicado em 9 de abril – do Atlético Mineiro. 
O São Paulo perdeu para o XV de Piracicaba, o Corinthians para o Linense, o Atlético Mineiro para a Caldense, e nada disso teve a menor importância. O Flamengo fez um ótimo primeiro tempo contra o Fluminense, o que também não teve importância alguma. Eu poderia seguir no embalo do “grande momento que vive o Palmeiras”, como ouvi outro dia de um empolgado narrador do SporTV, mas meu ceticismo não permite. Poderia engrossar o coro dos que afirmam, no Rio, que o Botafogo está sobrando. O problema é que, nas três primeiras rodadas do primeiro turno, quem sobrava lá no Rio era o Vasco. Depois, até a semifinal, sobrava o Flamengo. Parece que enquanto não conseguirem resolver a encrenca financeira em que estão metidos, os times do Rio continuarão sobrando e despencando em velocidade espantosa. 
O certo é que, a cada ano, os estaduais se revelam uma brincadeira mais e mais sem graça e dispendiosa, com estádios desertos, times reservas e partidas sofríveis. Até o Santos, que ganhando ou perdendo costumava ser divertido, virou uma chatice. Muricy conseguiu. 
Que venham logo as fases decisivas, o mata-mata da Libertadores e o Campeonato Brasileiro. Por mais que a gente goste de futebol, não há quem aguente quatro meses de pré-temporada.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Jogador de futebol não é barata. 
Quando trabalhei pela segunda vez na Provarejo, uma agência de propaganda maravilhosa que respondia pela conta da finada Mesbla, fiz dupla com um diretor de arte tão talentoso quanto impaciente, Guilherme Tôrres. Belo dia, um redator que trabalhara com o Guilherme e tinha virado diretor de criação em outra agência ligou pra ele, atrás de indicações de nomes para a direção de arte. Guilherme citou três ou quatro caras que ele julgava competentes e ouviu a resposta que o tirou do sério: ah, legal, mas eu tava pensando em alguém com mais bagagem. Atolado de serviço, Guilherme foi curto e grosso: “Olha só, ô Fulano, se é assim, por que você não aproveita a hora do almoço e dá um pulo na rodoviária Novo Rio? Lá tá cheio de gente com um monte de bagagem.” 
Modismos no futebol, como todos os modismos, são sempre irritantes. Encaixar a marcação, o time vem numa crescente, ele tem uma boa leitura do jogo. Saco. Outra coisa que está na moda é essa idiotice de “jogador cascudo”. O cara não é mais contratado por jogar bola, e sim por ser cascudo. Principalmente quando o objetivo é a disputa da Libertadores, um torneio para cascudos. Luís Fabiano é cascudo, faz uma bobagem atrás da outra e deixa o São Paulo na mão quando o time mais precisa dele. Deivid é cascudo e se transformou no centroavante que mais irritou a torcida do Flamengo, pelo menos nos últimos dez anos. O Palmeiras foi rebaixado com os volantes Corrêa e Marcos Assunção, o lateral-esquerdo Leandro, o meia Valdívia, um monte de cascudos. O Seedorf ainda consegue encantar no Botafogo porque joga bola ou porque é cascudo? O Zé Roberto é o cérebro do Grêmio porque joga bola ou porque é cascudo? 
Ontem eu vi mais uma obra-prima de um cascudo. Cris, o zagueiro escolhido a dedo por Vanderlei Luxemburgo para comandar a defesa gremista na Libertadores, se irritou com uma proteção boba de bola feita pelo Rafael Sóbis – num lance isolado, no meio do campo e junto à linha lateral – e saiu bicando o atacante do Fluminense por trás. Foi expulso e quase deixou o Grêmio numa tremenda enrascada quanto à classificação. Mesmo estando fora de casa e sem os principais jogadores do meio pra frente, o Fluminense teve as três melhores chances, com Rafael Sóbis, com Vágner e no gol mal anulado de Rhayner. Para o Grêmio, o empate caiu do céu, permitindo ao time jogar por outro empate contra o Huachipato, na última rodada. Mas o jogo é lá, e fácil não deve ser. 
Por falar no gol do Rhayner: temos o hábito de crucificar nossos árbitros e bandeirinhas, que são de fato muito fracos, mas comecei a relevar certas coisas depois de recentes partidas da Champions League. Ibrahimovic estava impedido no gol que fez contra o Barcelona, Eliseu estava impedido no segundo gol do Málaga contra o Borussia Dortmund, Felipe Santana estava impedido no terceiro gol do Borussia Dortmund que eliminou o Málaga – e por aí vai. A regra do impedimento é genial, mas sempre foi de aplicação complicada. E depois dessa sucessão de lambanças, tenho pensado: será que não está cada vez mais difícil para um bandeirinha perceber quando alguém está ou não impedido? O futebol passou a ser jogado com uma rapidez que cansa até quem assiste, os jogadores agora têm uma velocidade usainboltiana e a missão dos pobres bandeirinhas é cada dia mais árdua. Juntemos a isso o fato de que a maioria deles adota o critério do “perigo de gol” – certamente responsável pela anulação do gol de Rhayner – e o que temos é o horror. 
O blog cumpre o doloroso dever de informar que, para tristeza dos verdadeiros amantes do futebol bem jogado, a gandula do Botafogo casou. Pena. Mas, que seja feliz.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Faltam os títulos. Só. 
Abel Braga. Luiz Felipe Scolari. Muricy Ramalho. Paulo Autuori. Vanderlei Luxemburgo. Em ordem alfabética, pra não deixar dúvidas quanto à imparcialidade do blog, esta é a escalação dos técnicos-top do nosso futebol. Todo fim de ano, quando acaba o Campeonato Brasileiro e começa a temporada de vacas magras para a imprensa esportiva, as especulações se repetem: o São Paulo sonha com Autuori, o Inter faz o que for preciso para ter Abel Braga etc. Nossos grandes clubes estão sempre com essas cartas na manga e esses nomes no bolso. Faz mais de dez anos que é assim. Da mesma forma que demoramos demais para enxergar o declínio de determinados jogadores, e continuamos a tratá-los como se eles pudessem fazer hoje o que faziam há uma década, temos dificuldade para esquecer o passado glorioso dos treinadores e, mesmo reconhecendo e aplaudindo as glórias, entender que elas são exatamente isso: passado. 
Mas há luzes no fim do túnel. E, nesse momento, as luzes atendem pelos nomes simples de Tite e Cuca. Esnobado pela intelligentzia da mídia e dos torcedores, que não viam nele um cara à altura das pretensões do Novo Corinthians, Tite driblou desconfianças e críticas generalizadas, se impôs e conseguiu transformar o mediano grupo de jogadores corintianos num time forte e vencedor. Não quer dizer que Tite seja um gênio, longe disso. Não quer dizer que Tite vá brilhar em todos os outros clubes por onde passar. Mas até os caras mais descrentes em relação ao trabalho e à relevância dos técnicos – entre os quais, me incluo – têm que dar o braço a torcer e admitir a importância de Tite nas recentes conquistas do time. 
Cuca é um caso estranho. Jamais ganhou um título de ponta, mas já vi torcedores do São Paulo o apontarem como o verdadeiro mentor do vitorioso time da Libertadores 2005 e dos Campeonatos Brasileiros de 2006, 2007 e 2008. Sem grandes recursos, pôs em campo, em 2007, um Botafogo que era muito bom de ver jogar. E conseguiu o maior milagre acontecido neste século no futebol brasileiro: livrar o Fluminense do rebaixamento em 2009. Não há como não se empolgar com o atual time do Atlético Mineiro. Existem certas desconfianças, é verdade, e todas compreensíveis: o time também empolgou no Brasileirão do ano passado, mas o Fluminense foi campeão com três rodadas de antecedência; enquanto partia pra cima, intimidava e vencia no Estádio Independência, fora de casa virava um inofensivo gatinho e não ganhava de ninguém. Ou seja: a consistência desse Atlético que está aí ainda não foi devidamente comprovada. E não custa lembrar a incensada campanha do Cruzeiro na primeira fase da Libertadores de 2011, para logo depois ser eliminado em casa pelo Once Caldas. E quem era o treinador do Cruzeiro? Sim, o Cuca. 
A primeira fase da Libertadores engana toda vida e dificilmente um time consegue segurar a onda do início ao fim. Riquelme, por exemplo, costuma dizer que a Libertadores começa de verdade quando começa o mata-mata. Infelizmente, a gente tem o péssimo hábito de esquecer essas coisas e repetir os erros. 
Falta a Cuca o que Tite conseguiu com o Brasileirão de 2011 e ratificou com a Libertadores de 2012: um ou dois títulos de peso. Por isso, tirando os torcedores dos outros clubes brasileiros envolvidos na competição – e os do Cruzeiro, por motivos óbvios –, quem gosta de futebol no Brasil deve torcer para o Atlético ficar com a Libertadores. Assim, teremos mais um dos nossos grandes na lista de campeões (ficarão faltando somente Botafogo e Fluminense) e, de quebra, ganharemos um técnico que, apesar de seu comportamento loser e sua cara de bebê chorão, não tem medo de fazer seu time jogar bem e bonito.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A gente vai lá e crau. 
Dilson Funaro ocupava o cargo de ministro da Fazenda em 1986, na época em que o presidente do país era José Sarney. Quando o índice de inflação mensal beliscou os 15%, o governo decidiu lançar um mirabolante plano econômico, cortando zeros, trocando a moeda de cruzeiro para cruzado e decretando o congelamento de preços. Óbvio que deu tudo errado, mas o plano foi vendido à população como algo que ia contra uma suposta falta de sensibilidade dos empresários e totalmente a favor do povo – que, claro, caiu feito um patinho. O principal porta-voz da churumela era o ministro Dilson Funaro, que rapidamente virou uma espécie de herói nacional. Bom. Diz a lenda que, pouco depois, numa reunião ministerial convocada para avaliar a primeira de muitas dificuldades que surgiriam, alguém sugeriu que o governo fizesse um pronunciamento em rede nacional, para tentar enrolar a rapaziada. Concordando com a proposta, vaidoso e confiante no prestígio que o congelamento de preços lhe conferira, o ministro Funaro teria se oferecido para a tarefa, dizendo mais ou menos o seguinte: “Deixa comigo. Pode deixar que eu vou lá e crau.” Eu não sei não, mas começo a achar que a nova diretoria do Flamengo está abusando do direito de chegar lá e crau. A imensa maioria da torcida rubro-negra apoia a seriedade e os esforços que vêm sendo feitos para começar a arrumar a casa. Eu também. A imensa maioria da torcida rubro-negra concorda com o corte geral nos tais esportes ditos olímpicos. Eu também. Não vejo por que pagar uma fortuna a um nadador que mora nos Estados Unidos, treina nos Estados Unidos e o máximo que faz é aparecer uma vez por ano com um roupãozinho com o escudo do Flamengo. Não vejo por que sustentar um ginasta olímpico que sempre que vai para uma competição importante se esborracha de bunda no chão. O Flamengo tem trinta ou trinta e cinco milhões de torcedores por causa do futebol. Se um dia o futebol estiver bombando, com o time ganhando tudo e o dinheiro entrando a rodo, aí pode-se pensar em incentivar a bola de gude e o pique-bandeira. Por enquanto, esquece. Dorival Jr. não tinha culpa de muita coisa, mas o salário o condenava. E se é para chegar em décimo-primeiro ou décimo-segundo no Campeonato Brasileiro, pra que pagar seiscentos mil reais a um treinador? Apesar de seu atabalhoamento e de sua irregularidade, eu gostava do Vágner Love, mas não a ponto de aceitar o que ele custava ao clube. Tudo isso merece apoio, mas paciência tem limite. O Flamengo não tem como fazer o investimento que alguns dos nossos clubes – Corinthians, São Paulo, Inter, Grêmio, Cruzeiro, Atlético – vêm fazendo, e será uma grande surpresa se chegar entre os dez primeiros do Brasileirão 2013. Mas não precisa e não pode ser tão bagunçado dentro de campo. Tomemos o exemplo do próprio treinador, Jorginho. Em 2011 ele dirigiu o Figueirense e o time fez uma bela campanha no Campeonato Brasileiro, a ponto de perder a vaga na Libertadores somente nas duas ou três rodadas finais. Jogava em bloco, defendia-se com eficiência, tinha um contra-ataque forte. Claro: Flamengo é Flamengo, Figueirense é Figueirense, mas Jorginho tem a obrigação de, no mínimo, montar um time de futebol como aquele. Que não será campeão de nada, que jamais dará espetáculo, que terá mais derrotas do que vitórias nos jogos importantes. Mas que vai ser um time, e não um bando. Do contrário, o apoio e a compreensão da torcida vão pro vinagre, o programa do sócio-torcedor naufraga e, assim como aconteceu com o ministro Dilson Funaro, que se viu forçado a pedir demissão, não vai adiantar nada a nova diretoria chegar lá e crau. 
Logo em meus primeiros dias aqui em São Caetano, em maio de 2005, percebi que o futebol seria um grande aliado na minha sociabilização. Já trabalhei em algumas agências onde o pessoal olhava o futebol meio atravessado, mas aqui não. Quase todo mundo gostava. Entretanto, como dizia o Mestre Ambrósio, “terra alheia, pisa no chão devagar”. Assim, fui pisando devagarinho e uma das primeiras coisas que aprendi foi a necessidade de evitar certas discussões, das quais eu sempre sairia derrotado. Era batata. Quando um jogador que havia feito sucesso no Rio se transferia para São Paulo e fracassava, lá vinha a explicação: ah, mas jogar no Rio é muito mais fácil. E quando o cara tinha sido apenas razoável no Rio, mas começava a brilhar em São Paulo, o argumento era fantástico: também, com aquela bagunça dos clubes cariocas, ninguém consegue mesmo se dar bem lá. Voltei a me lembrar disso ontem, por causa do time que Ney Franco mandou a campo. Se algum torcedor do Botafogo viu o jogo, certamente ficou espantado ao encontrar o Édson Silva, todo pimpão, pagando de titular absoluto na zaga. Vai ver ele nunca jogou nada no Botafogo por causa da falta de estrutura. 
Campeão Brasileiro com o Botafogo em 95, campeão da Libertadores com o Cruzeiro em 97, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes com o São Paulo em 2005, Paulo Autuori é hoje um dos treinadores mais respeitados do futebol brasileiro. Em entrevista publicada ontem pelo jornal O Globo, Autuori denunciou o atraso e a insegurança dos nossos técnicos, perguntou em tom de desafio se alguém podia mesmo duvidar que Guardiola faria um bom trabalho na seleção brasileira, disse poucas e boas. E inflou o ego do blog ao afirmar, com palavras um pouco diferentes, o mesmo que publiquei aqui no post de 11 de março, no tópico que fala do Paulo Henrique Ganso. Autuori garantiu ter ouvido, de jogadores que atuaram com ele no exterior, a seguinte frase: “No Brasil eu jogava bola; aqui eu virei jogador de futebol.” O problema é que, além dos clubes brasileiros, Paulo Autuori trabalhou em Portugal, no Peru, no Japão e no Qatar. Se teve gente que só virou jogador de futebol em Portugal, no Peru, no Japão ou no Qatar, a coisa está bem pior do que pensávamos. Ou então, o que é mais provável, Autuori foi devidamente pego na mentira. 
O pênalti de Rogério Ceni em Alexandre Pato é um desses lances do futebol que nem eletrônica, nem televisão, nem arbitragem computadorizada resolvem. Tem gente que vai morrer dizendo que foi pênalti, tem gente que vai morrer dizendo que não foi. Como o resultado do jogo não tinha importância alguma, a polêmica será menor e o mais importante é a constatação – compreensível, mas preocupante para a torcida do São Paulo – de como Rogério Ceni está com os reflexos lentos. Já no primeiro tempo ele soltara uma bola, numa falta cobrada pelo Paulinho, e demorou séculos para fazer a defesa definitiva, quase dando o gol de bandeja ao Guerrero. No lance do pênalti, a falta de jeito do Rafael Tolói foi total, mas Rogério novamente demorou uma eternidade para chegar. A diretoria e a torcida têm a obrigação de, no final desse ano, preparar uma bela festa de despedida para ele.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A seleção dando a cara pra bater. 
É certo que a insuportável chatice dos campeonatos estaduais colabora, mas a escolha de adversários de verdade vem tornando os jogos da nossa seleção mais interessantes. Creio que mesmo o mais pacheco dos nossos torcedores há de reconhecer que, numa fase preparatória, é melhor perder de dois a um para a Inglaterra do que ganhar de oito a zero da China. Quando você perde de dois a um da Inglaterra, você observa quem foi bem e quem decepcionou, quem merece voltar e quem já deu o que tinha que dar, quem jogou a chance fora e agora precisa ralar pra ser convocado de novo. Quando você enfia oito a zero na China, o cara pode fazer cinco gols que não quer dizer nada. 
Aproveitei o final de semana de partidas tenebrosas pelos estaduais pra ver Brasil x Itália. O jogo foi bem bom e já deu pra perceber alguma coisa parecida com uma seleção brasileira, inclusive com Neymar jogando bola. Começou o lance do primeiro gol com uma longa e bela inversão para Hulk, fez toda a jogada do segundo e ainda deixou Hulk na cara do Buffon, com tudo em cima pra fazer o terceiro e garantir a vitória, mas Hulk foi afoito, pisou na bola, se desequilibrou e perdeu a chance. 
Continuo achando que a seleção terá que se esforçar muito mais do que o normal para reconquistar a torcida, devido a um problema que é pouco citado e – pior que isso – sequer é visto como problema: a falta de identificação do torcedor com determinados jogadores. Não me refiro ao fato do cara atuar no exterior. A questão é que temos jogadores que jamais vimos jogar, e é sempre mais difícil torcer por quem não conhecemos. Nossa seleção começou a partida contra a Itália com uma zaga (Daniel Alves, David Luiz, Dante e Filipe Luís) que nunca ninguém viu atuar em clubes brasileiros. Além deles, havia o Hulk lá na frente, mais o Luiz Gustavo e o Diego Costa que entraram depois. As muitas partidas já disputadas pela seleção e o sucesso do Barcelona se encarregaram de familiarizar Daniel Alves com o torcedor brasileiro, David Luiz também vai ficando conhecido, mas querer que os torcedores se identifiquem com quem nunca viram em campo é exigir demais.
Reconheço que oficializar este critério é inviável, pois criaria uma situação de preconceito e teria gente até citando algum artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não precisa ser oficial, né? Basta jogo de cintura. Se há um cara de grande talento e superioridade indiscutível, beleza. Sejamos flexíveis. Mas, na boa, qual a vantagem de convocar o Luiz Gustavo? Não sou um grande entusiasta do Leandro Damião, mas pelo que vi contra a Itália o Diego Costa não é melhor que ele. Então, pra quê? 
De qualquer modo, tivemos uma seleção em campo. Tivemos adversário. Tivemos um jogo de futebol de verdade e um teste válido. Hoje a parada é com a Rússia, e me animei pra deixar gravando. O que já é um avanço em relação ao pouco caso que a seleção vinha merecendo de todos nós.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Gênios incompreendidos. 
Outro dia fui buscar um texto na sala do corintiano Serginho – é lá que ficam as impressoras da agência – e ele me perguntou: “Ô Murta, quando é que a gente vai começar a ter jogo bom pra ver?” Corinthians e Palmeiras (2 x 2) até que foi divertido, alguns clássicos no primeiro turno do Campeonato Carioca foram bem disputados, mas o Serginho tem razão. Não basta ser corrido ou brigado, não basta ter gols bonitos ou jogadas bacanas: pro jogo ser bom de verdade, tem que valer alguma coisa importante. A passagem pra fase seguinte da Libertadores ou a eliminação, a chance de continuar brigando pelo título brasileiro, algo assim. Se não, fica essa coisa morna e chocha. E enquanto a temporada não esquenta, os personagens principais passam a ser nossos técnicos – esses gênios. 
Neste momento, dois estão na berlinda: Ney Franco e Dorival Jr. Não vejo nada de extraordinário em nenhum treinador brasileiro, mas todos são absurdamente teimosos. Num país em que todo mundo é técnico de futebol, ter convicção é importante, mas isso é bem diferente de não enxergar o óbvio. Sempre disse aqui que Dorival Jr. não poderia fazer milagres com o fraco elenco do Flamengo, mas era obrigação dele fazer o melhor possível. Só que em momento algum o time teve padrão – aliás, o último time do Flamengo com padrão de jogo foi o do segundo semestre de 2009, dirigido pelo Andrade e campeão brasileiro. Além disso, certas teimosias são inadmissíveis e imperdoáveis. O Brasil tem duzentos milhões de habitantes. Não é possível que não existam pelo menos duzentos volantes (0,0001% da população) melhores que o Cáceres. Agora, Jorginho vem aí. Oremos. 
Ney Franco balança, por causa da Libertadores, mas não cai, por causa do estadual. Situação complicada. Ney apareceu para o futebol brasileiro dirigindo o Ipatinga, clube em que foi campeão mineiro em 2005 e semifinalista da Copa do Brasil de 2006. Chegou ao Flamengo para disputar a final dessa mesma Copa do Brasil – a competição teve um mês de intervalo entre semifinal e final, por causa da Copa do Mundo –, foi campeão ganhando os dois jogos contra o Vasco e teve o mérito de lançar Renato Augusto no time de cima. Mas, a partir daí, transformou a Gávea num autêntico consulado mineiro: houve um período em que o Flamengo tinha nada menos de onze jogadores formados em Minas Gerais, dos quais o único a fazer sucesso no clube acabou jogando a carreira fora e a vida no lixo – o goleiro Bruno. Ney Franco errou feio na estratégia da Libertadores de 2007, mais ou menos como vem fazendo no São Paulo, e mostrou falta de pegada, exatamente como vem fazendo no São Paulo. A sensação que a gente tem é de que está confuso, perdido e não tirou brevê para pilotar times de ponta do futebol brasileiro. 
Outros dois que correm o sério risco de ver espadas apontadas para suas cabeças são Abel Braga e o indefectível Vanderlei Luxemburgo. Dirigem os dois elencos mais caros do país, mas seus times vivem de altos e baixos. Um fracasso na Libertadores deverá derrubar Luxemburgo automaticamente e também deve tornar insustentável a posição de Abel no Fluminense. Com título brasileiro e tudo. 
Para arredondar o texto e encerrar o post de hoje, retorno ao Serginho e sua expectativa pela volta dos bons jogos: ontem, São Caetano e Palmeiras se enfrentaram aqui na cidade. E aquilo lá, pra ser ruim, ainda faltou muito.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Ganhou quem quis jogar bola. 
Já escrevi aqui no blog que sou totalmente contrário às disputas de pênaltis e que, por mim, empates em jogos decisivos seriam resolvidos com o bom e velho “primeiro gol acaba” das peladas. E no último post elogiei a fórmula de disputa do Campeonato Carioca, que ao menos consegue dar emoção àquela tosqueira. Esse ano o regulamento teve uma pequena mudança, acabando com as disputas de pênaltis e dando a um dos times a vantagem do empate por causa da campanha. Trata-se de um avanço, mas que quase criou um monstro, o que teria acontecido caso o Vasco vencesse o primeiro turno. Nada contra o clube, mas sim contra a forma que encontrou para tentar se valer da vantagem. Na semifinal, contra o Fluminense, o Vasco renunciou aos primeiros quarenta e cinco minutos. Deu o primeiro chute, de muito longe e para muito longe do gol, só aos trinta e dois, e não ameaçou em momento algum. E dizer que a tática deu certo é fazer como os comentaristas, que montam suas sábias análises depois do resultado. Não, não deu certo: o Vasco deu foi sorte, porque Thiago Neves chutou uma bola na trave, Fred perdeu dois gols que raramente perde e o zagueiro tricolor Anderson conseguiu chutar em cima do goleiro vascaíno Alessandro uma bola do meio da pequena área. No segundo tempo o Vasco aproveitou o cansaço do Fluminense, que viajara pela Libertadores no meio da semana, saiu pro jogo e a partida foi muito mais legal. Contra o Botafogo, o Vasco repetiu a dose, renunciando aos primeiros quarenta e cinco minutos. Mesmo uma anta matemática que nem eu – que no vestibular cravei C em todas as questões da prova de Matemática, acertei oito em vinte e cinco, escapei do zero que eliminava e me garanti nas outras matérias – consegue entender que, se você joga pelo empate, o jogo tem noventa minutos e você neutraliza quarenta e cinco, suas chances de perder reduzem-se à metade. Ou seja: não dá pra condenar o Vasco, mas isso faz com que o jogo fique arrastado e desagradável. Felizmente, futebol não tem nada a ver com Matemática, e o Botafogo correu atrás, fez seu belo gol já na reta final da partida e castigou a estratégia vascaína. Reconheço que não foi fácil torcer pelo Botafogo, porque é desanimador escolher um time que escala o Rafael Marques de centroavante – não por acaso, o gol só saiu depois que ele tinha sido substituído –, mas não dá pra torcer por quem não quer jogar. E foi bacana ver o título do primeiro turno ficar com quem entrou em desvantagem, tanto na semifinal da semana passada quanto na final de ontem. 
No outro domingo, botei pra gravar o jogo entre Santos e Corinthians, enquanto assistia a Flamengo e Botafogo. Não sou desses que acham que futebol é só gol, e por isso torcem o nariz automaticamente pra todo zero a zero, mas convenhamos. Ver jogo gravado já é meio esquisito. Ver, gravado, um jogo que não valia nada, mais ainda. Ver, gravado, um jogo que não valia nada, terminou zero a zero e todo mundo garantiu que foi chato à beça, aí seria demais. Tomei a única atitude possível: apaguei a gravação. Ontem, botei pra gravar São Paulo e Palmeiras, enquanto assistia a Vasco e Botafogo. Outro jogo gravado que não valia nada e terminou zero a zero, mas eu queria ver o Ganso jogar. Meu irmão Mário e meu amigo Jó sempre defenderam a tese de que o Ganso é enganador. Eu sempre discordei, mas preciso reconhecer que está cada vez mais difícil sustentar os argumentos. Existe uma diferença enorme entre saber jogar bola e ser um grande jogador de futebol. Os times brasileiros estão cheios de caras que, claramente, sabem jogar bola, mas não conseguem se transformar em grandes jogadores. (Valdívia é um ótimo exemplo. Sabe jogar bola, mas não passa de um tremendo peladeiro.) No primeiro semestre de 2010, Ganso foi um jogador de futebol de verdade – e extraordinário. De algum tempo pra cá, a gente percebe que a visão de jogo continua muito boa, o toque de bola continua elegante, a inteligência continua muito acima, mas não dá pra dizer que ali está um grande jogador de futebol. Diferentemente do que pensam meu irmão Mário e meu amigo Jó, continuo achando o Ganso um jogador raríssimo, em quem vale a pena investir e por quem vale a pena esperar, mas tá demorando demais. Acho que ontem ele foi mal substituído – Jádson tinha que entrar, só que não era o Ganso que tinha que sair – mas o fato é que, mesmo com um a menos, o São Paulo ficou mais rápido e perigoso depois que Ganso e Luís Fabiano saíram, e Jádson e Osvaldo entraram. 
Por falar em Luís Fabiano: não vi São Paulo x Arsenal de Sarandí na última quinta-feira, mas assisti ao finalzinho do jogo e ainda acompanhava a transmissão da TV quando ele foi expulso. Foram alguns minutos do centroavante andando atrás do juiz Wilmar Roldan e falando um monte, até que o árbitro perdeu a paciência e levantou o cartão vermelho. Injustiça. Pena não ter sido possível fazer leitura labial, mas conhecendo o Luís Fabiano como a gente conhece, é fácil supor que ele estava ali, dedo em riste, desferindo elogios rasgados à atuação do juiz e celebrando a moral indiscutível da colombiana mãe de sua senhoria. Estranheza maior foi que ninguém do São Paulo – comissão técnica, jogadores titulares, jogadores reservas, massagista, absolutamente ninguém – foi lá para tirar o Luís Fabiano de campo. Fiquei com a sensação de que até os profissionais de futebol do São Paulo já estão de saco cheio do Luís Fabiano.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Lista de punições. 
Outro dia aconteceu um lance curioso e emblemático no jogo entre Fluminense e Botafogo, pelo primeiro turno do campeonato carioca. Depois de um choque na intermediária do Flu, o volante colombiano Valência ficou caído, como se tivesse levado um daqueles elegantes chutes do Anderson Silva. O Botafogo tinha pressa, Seedorf se irritou com a cera, abaixou o corpo e disse algumas besteiras no ouvido de Valência. Um doce pra quem adivinhar o que aconteceu. Claro: Valência se levantou rapidamente, cheio de disposição, querendo partir pra briga com o holandês. Nunca vi cura tão rápida. Diante disso, e após a história da punição ao Corinthians ter desencadeado uma série de reivindicações para tentar moralizar de vez a Libertadores, montei uma listinha básica de punições que deixariam os jogos de futebol no Brasil muito mais bacanas. Vamos a ela: 
Jogador que sofre falta e faz com a mãozinha aquele gesto pedindo cartão amarelo. Ok, cartão amarelo. Pra ele. 
Jogador que se joga de carrinho na bola, depois que ela já saiu pela lateral, só pra fazer média com a torcida. Cartão amarelo. 
Torcida que vibra com o jogador que dá o tal carrinho. Três jogos de estádio vazio, no estilo Corinthians e Millonários, além da obrigação de comparecer a três partidas do Novo Basquete Brasil. 
Torcida que vai ao delírio com volante botinudo dando bico pra lateral. Seis jogos de estádio vazio, mais a obrigação de acompanhar seis partidas de showbol. 
Torcida que canta “o campeão voltou”. Dez jogos de estádio vazio, mais a obrigação de acompanhar dez jogos de futebol feminino. 
Jogador que comemora gol com dancinha. Cartão amarelo. 
Jogador que comemora gol fazendo coraçãozinho. Cartão amarelo e um beijo no coração. 
Jogador que comemora gol apontando para o céu, sem atinar para o fato de que, obviamente, Deus se esqueceu do goleiro adversário. Cartão amarelo, vinte Pai-Nossos e trinta Ave-Marias. 
Jogador que fica rolando no chão com dores lancinantes, mas ao ser retirado do campo toma meio gole de água junto à linha lateral e imediatamente pede autorização ao juiz pra voltar. Não volta. Chuveiro. Cartão vermelho. 
A caixa de comentários do blog está à disposição de quem tiver outras sugestões. 
Tecnicamente, o campeonato carioca é muito inferior ao paulista, mas a fórmula de disputa o deixa bem mais divertido. A divisão em dois turnos curtos, com oito jogos no primeiro e sete no segundo, exige mais atenção por parte dos clubes grandes, porque a combinação de uma ou duas bobeiras de um grande com um pouco mais de atrevimento de um pequeno pode tirar o grande das semifinais. Nesse primeiro turno, por exemplo, faltou muito pouco para o Boavista deixar o Fluminense de fora – o que, aliás, aconteceu em 2011. E nas semifinais, o mata-mata quase sempre faz os jogos ficarem emocionantes. Ontem, Botafogo e Flamengo fizeram uma partida fraca, mas com um segundo tempo bem bom de ver. O segundo tempo de Vasco e Fluminense, então, foi sensacional, com os cinco gols e as duas viradas. Eu seria capaz de apostar que nem Roberto Dinamite acreditava na vitória do Vasco, depois que o Fluminense virou pra dois a um em dois minutos. Surpresa total. O que não chegou a surpreender foi a vitória do Botafogo sobre o Flamengo. A torcida rubro-negra terá que ser sábia e humilde. Sábia para compreender que não há como 2013 ser um grande ano para o time, mas que pode ser um ano decisivo na história do clube. E humilde para olhar, por exemplo, pro Corinthians, e entender que, se não der o primeiro passo, o Flamengo nunca vai chegar lá. Agora, vamos combinar que Dorival Jr. bem que podia dar uma forcinha. Claro que a tarefa dele é inglória, mas não dá para, entre outras coisas, jogar com volantes tão lentos quanto Cáceres e Renato Abreu. Dorival escalou mal, substituiu mal e não conseguiu deixar o time concentrado desde o primeiro minuto. Deu mole. 
Estudei com dois jornalistas esportivos famosos e rubro-negros fanáticos: Roberto Assaf, no Colégio Padre Antônio Vieira, e Renato Maurício Prado, na PUC. No DVD “Herois de uma nação”, que mostra a trajetória do timaço que o Flamengo montou no final da década de setenta e que acabou ganhando a Libertadores e o Mundial Interclubes de 81, além dos campeonatos brasileiros de 80, 82 e 83, Renato Maurício conta uma história bacana. Era o dia 3 de março de um ano qualquer e ele, Renato, recebeu um telefonema do Assaf. Depois dos cumprimentos de praxe, recomendações à patroa e tal, houve o seguinte diálogo: 
– Renato, você sabe que dia é hoje?  
– Sei, ué, hoje é dia três de março. 
– Não, Renato, hoje é Natal. Três de março é o dia em que nasceu o salvador. 
Para entender a importância de Zico para o Flamengo, tem que ser rubro-negro e tem que ter a idade que, mais ou menos, eu, Roberto Assaf e Renato Maurício Prado temos. O salvador chegou para nos redimir de todo o sofrimento causado, em nossa infância futebolística, por adversários como Cabralzinho, Paulo Borges, Gérson, Jairzinho, e por suspeitíssimos aliados como Buião, Michila, Onça e Caldeira. Da mesma forma que o Santos jamais terá outro Pelé e o Boca Juniors jamais terá outro Maradona, o Flamengo jamais terá outro Zico.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A única maneira de começar a consertar as coisas. 
Nessa altura do campeonato, todos os textos sobre Oruro já foram escritos e todas as indignações já foram externadas, mas não há como ter um blog sobre futebol e não registrar o assunto. Não pretendo tirar minha opinião da reta, mas vou inverter a ordem. Primeiro, quero falar do receio que tenho com a história de punições generalizadas. Cansei de ir a clássicos no Maracanã com público superior a 120 mil pessoas. Havia as torcidas organizadas, com Jaime de Carvalho chefiando a do Flamengo, Dulce Rosalina puxando o casaca, casaca do Vasco, Tarzan comandando a do Botafogo e Roberto (acho que era esse o nome) a do Fluminense. Os torcedores dos dois times entravam e saíam pelos mesmos portões, fazendo provocações quando chegavam e gozações quando iam embora, mas tudo mais ou menos numa boa. Vi brigas, claro, mas era algo tão estranho que chegava a causar vergonha alheia: brigar por causa de futebol? Façam-me o favor. Mas, seja com 120 mil, seja com 60 mil pessoas no estádio, não dá para exigir de um clube que exerça controle absoluto sobre o que fazem seus torcedores. Se a polícia não consegue, como o clube vai conseguir? E aqui não cabem diferenças. Torcedor de futebol, quando dá para ser louco e descontrolado, é louco e descontrolado vestindo qualquer camisa. Claro que há mais probabilidades dos problemas acontecerem com as torcidas do Corinthians e do Flamengo, por uma questão matemática, mas são todas iguais no destempero e na selvageria. Além disso, temo pela nossa esperteza. Somos um povo esperto demais. No centro de nossa bandeira deveria estar uma foto do Macunaíma, e não aquela estranha expressão “ordem e progresso”. O presidente do nosso Senado é Renan Calheiros, um espertalhão de marca maior. Pra não fugir do futebol, um dos nossos maiores jogadores, ganhador de Copa do Mundo, vencedor de Champions League, duas vezes eleito o melhor do planeta pela FIFA, cria uma jogada de gol pedindo um gole de água ao goleiro adversário – aí o goleiro age com esportividade e sai de campo com a palavra “otário” carimbada na larga testa, enquanto o craque amplia sua fama de esperto. Quero dizer o seguinte: caso as decisões passem a ser tomadas sob a forma de ritos sumários, não ficaria surpreso em ver um cara apaixonado pelo Inter vestir uma camisa do Grêmio e ir pro meio da torcida rival, num jogo com mando de campo tricolor, para atirar coisas no gramado e prejudicar o adversário. Repito: não vamos esquecer que somos espertos toda vida. De qualquer modo, esse primeiro e longo parágrafo revela algumas preocupações, mas é claramente o lado mais fraco da história. 
O outro lado, muito mais poderoso, começa justamente onde termina um dos argumentos acima. Se nem o clube e nem a polícia são capazes de controlar cinquenta, setenta ou noventa mil torcedores, só há uma força capaz de assumir essa responsabilidade: os próprios torcedores. E aí a teoria das punições generalizadas precisa ser abandonada, perdendo de goleada para a importância de punições que sirvam de exemplo. Não há outro jeito. Um dia antes do jogo do Corinthians, vi um pequeno trecho do primeiro tempo de Toluca x Nacional de Montevidéu. Houve cinco minutos de paralisação, porque a torcida mexicana atirou um objeto qualquer na cabeça de um dos bandeirinhas. A partida foi interrompida, o bandeirinha foi atendido e a bola continuou a rolar como se nada tivesse acontecido. Mesmo porque, no bordão mais irritante dessa época do ano, Libertadores é assim. A teoria do exemplo torna a punição ao Corinthians necessária e justa, mas para ser justa de verdade ela precisa quebrar um padrão: a partir de agora, ninguém mais vai precisar de proteção policial para bater um escanteio; a partir de agora, bandeirinhas não se arrependerão de entrar em campo sem capacete; a partir de agora, os jogos da Libertadores finalmente chegarão ao século XX – sim, XX, e não XXI. É importante, também, que seja apurada e abolida de vez a vergonhosa relação existente entre as diretorias dos clubes e as torcidas organizadas. Cada um vive como quer e gasta seu dinheiro do jeito que prefere, mas essa história de torcedor brasileiro em Oruro não entra na minha cabeça. Ok: o Corinthians vai disputar a final do mundial interclubes em Tóquio, o cara pede pra ser demitido, torra a grana da rescisão e faz um monte de loucuras, só que é a final do mundial interclubes em Tóquio. Mas quem é que vai daqui pra Bolívia – de ônibus! – para assistir ao primeiro jogo da fase de grupos da Libertadores? Esses caras trabalham? Estão de férias? Tá certo que a nova classe C tem conseguido milagres, mas esse aí merece canonização. Por mais que seja, coitada, a Bolívia, uma viagem dessas não sai de graça. Tem a passagem, tem o ingresso, o indivíduo precisa comer, precisa dormir, precisa perder uma semana de trabalho. Bom, que trabalho? E aí é que está: quem banca esses caras? Há muito tempo que as nossas torcidas organizadas deixaram de ser aquela coisa romântica e desinteressada do tempo da Dulce Rosalina, e passaram a viver uma promíscua e remunerada relação com as diretorias dos grandes clubes. Por mantê-las e incentivá-las, essas diretorias – e os clubes que elas representam – precisam ser responsabilizadas na hora em que acontece o que aconteceu. 
Pra terminar: tenho um neto de um ano e oito meses que passa boa parte do dia chutando uma bola e gritando gol. Até hoje lembro nitidamente de várias das minhas idas ao Maracanã levado por meu pai e gostaria muito de poder reviver essa experiência, agora desempenhando o outro papel, com o Martin. Quero que ele possa sentir a mesma alegria que eu sentia naqueles dias e que ele venha a ter a mesma memória afetiva que tenho hoje. Algo me diz que essa punição ao Corinthians pode ser o primeiro passo para tornar esse sonho possível.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um pouco de várias coisas nesse começo de temporada. 
Questões políticas à parte, em 1969 a situação era essa: eu não passava de um molecote, o Flamengo tinha um time apenas esforçado e o Botafogo era um timaço, com seis jogadores que viriam a ser convocados por Zagallo, logo que assumiu a seleção brasileira no ano seguinte: Gérson, Jairzinho, Paulo César e Roberto, que foram campeões do mundo, além de Leônidas e Rogério, que acabaram cortados da relação final. Flamengo e Botafogo fariam um jogo fundamental para a ambição de ambos no campeonato carioca, em que o Botafogo lutava pelo tri. Quem perdesse estaria fora da briga pelo título, que terminou ficando com o Fluminense. O treinador rubro-negro era o malandro e atrevido Tim. Uma espécie de Paulo Barros do futebol carioca nos anos sessenta, Tim surpreendeu o Maracanã e, acima de tudo, o time do Botafogo. Pôs Murilo, que era lateral-direito, para marcar individualmente Jairzinho, que jogava pelo meio do ataque. Pôs Luís Cláudio, que era meia-armador, colado em Paulo César, que se movimentava pela ponta-esquerda. E pôs o volante Liminha em cima do Gérson. Ninguém jamais tinha visto aquilo: marcação homem a homem em três caras, quase que reduzindo o jogo a uma partida de sete contra sete. Com gols de Arílson e Doval, em vinte minutos o esforçado Flamengo vencia a seleção botafoguense por dois a zero – o jogo terminou dois a um – e o alvinegro parava de sonhar com o tricampeonato. No intervalo da partida, com mais de 149 mil pessoas no Maracanã, pelo menos dois terços do estádio cantavam em êxtase o samba-enredo “Bahia de todos os deuses”, que dera ao Salgueiro o título de campeã no desfile daquele ano. Minha memória futebolística é, modéstia à parte, excelente, mas nesse caso não se trata disso: tenho certeza de que quem viu e ouviu aquilo não esquece. Pois bem. Nada contra o Coldplay, até devo ter uma dúzia de músicas da banda aqui no meu iTunes, acho “Fix you” uma canção belíssima, mas no último domingo, em que o Flamengo ganhou do Botafogo por um a zero, a torcida rubro-negra desprezou o grande samba-enredo da Unidos de Vila Isabel e comemorou a vitória entoando aquele ôôôôôô de “Viva la vida”. Francamente.
Dizem que uma das armas do Corinthians – um time pouco acima do mediano, mas bastante vitorioso e dificílimo de ser batido – é o respeito que os jogadores têm por Tite, graças à clareza de seus critérios e sua coerência. Essas duas características são indiscutivelmente louváveis, e nada mais justo do que a decisão de começar a temporada escalando como titulares os caras que conquistaram os títulos do ano passado. Só que isso tem limite. Renato Augusto e Pato não podem ser reservas, e também não me conformo em ver Romarinho no banco e Jorge Henrique no jogo. Ok: futebol é um esporte coletivo, os onze lá dentro têm que se completar e é por isso que existe um técnico com a responsabilidade de escalar aqueles que melhor compõem o conjunto. Mas também é função do treinador conseguir montar o time de forma a aproveitar os jogadores mais talentosos. Às vezes não dá, mas técnico tá lá pra isso. 
O que Ronaldinho Gaúcho tem de bom de bola, tem também de sonso. É um jogador que costuma entrar nas divididas com o pé acima da linha da bola, mas sempre fazendo carinha de santo ou de vítima. Por excesso de preciosismo, arrisca lances impossíveis e depois, com mímicas pra lá de estranhas, dá a entender que a culpa foi do companheiro que não compreendeu a jogada. Mas em matéria de cinismo, nada supera a entrevista que deu a Tadeu Schmidt logo depois de sair do Flamengo e entrar na Justiça do Trabalho contra o clube. Independentemente de ter todo o direito de receber o que estava no contrato, ali ele caprichou na manha, na mentira e no cinismo. Se fosse outro cara, eu talvez aceitasse a conversa mole de que o lance do primeiro gol do Atlético contra o São Paulo foi puro acaso e pintou na hora da cobrança do lateral. Como se trata de quem se trata, creio que ele pensou na jogada desde o momento em que a bola saiu e o jogo parou para que Júnior César fosse atendido, tirando a concentração de todo mundo. Ainda sobre Ronaldinho, acho bobagem insistir com ele na seleção. Seu tempo na seleção brasileira se encerrou nos Jogos Olímpicos de 2008, quando foi imposto por Ricardo Teixeira ao treinador Dunga e pouco fez. Já vi muitos jogadores darem a volta por cima em situações semelhantes, mas apesar de estar comendo a bola no Atlético, não me parece que este seja o caso do Ronaldinho. 
A gente precisa decidir: ou esses jogos de grandes contra pequenos nos campeonatos estaduais valem alguma coisa, ou não valem coisa alguma. E aí, temos que pedir emprestada a coerência do Tite. Se a vitória do São Paulo sobre o Ituano não teve importância nenhuma – e não teve –, o frango de Rogério Ceni também não deve ser considerado. Essas partidas carecem de motivação, sobretudo para quem está disputando uma competição como a Libertadores, e a falta de motivação gera desconcentração e erro. Não morro de amores por Rogério Ceni – um jogador que, ao contrário do ex-goleiro Marcos, por exemplo, só é querido pelos torcedores do seu próprio clube –, mas achei exagerada a reverberação do frango. Pra mim, o gol que Cássio levou contra o Palmeiras foi muito pior. Porque ali, mesmo também sendo um jogo sem importância para o destino do campeonato, era um clássico, tem a coisa da rivalidade etc e tal. Ali havia motivação, havia concentração, havia empenho. De todo modo, foi bom, para acalmar os ânimos dos que acham que Cássio tem que ser levado imediatamente à posição de goleiro titular da seleção brasileira. Vamos com calma. O lance mais importante da conquista da Libertadores pelo Corinthians foi a defesa de Cássio naquela bola do Diego Souza. A atuação de Cássio na final do mundial interclubes foi perfeita. Mas não podemos esquecer que, nos quatro anos em que passou no PSV Eindhoven, ele jamais foi titular. Eu até acho que, como não temos hoje um goleiro indiscutível – como foi Taffarel em sua época –, Cássio é forte candidato. Mas não custa esperar. Como diz meu neto Martin, só um pouquinho. 
Vanderlei Luxemburgo parece o tipo de cara doente que, de tanto mentir, acaba acreditando nas próprias mentiras. E de tanto acreditar nelas, acaba convencendo alguns incautos. Técnico recordista de títulos no Campeonato Brasileiro, Vanderlei dá a impressão de ter desenvolvido uma incontrolável obsessão pela Libertadores, cegueira que o tem levado a passar por cima de tudo e de todos e a cometer erros primários. O Santos negociava com Willian José, Vanderlei atravessou o negócio e levou o centroavante. O São Paulo negociava com Vargas, idem. O Flamengo queria Welliton, lá foi ele de novo. Será que alguém, em sã consciência, pode mesmo achar que vai resolver o problema do gol contratando o Dida? Que vai tornar a defesa mais sólida repatriando o Cris? Que vai ficar imbatível trazendo o Barcos, mesmo que pra isso tenha que pagar uma fortuna ao atacante e ao Palmeiras, além de se desfazer de quatro ou cinco jogadores? E o pior de tudo: como é que esse cara, que já foi considerado quase que por unanimidade o melhor treinador do futebol brasileiro, faz três dos novos reforços estrearem no mesmo dia e sem um treino sequer? Não assisti à partida contra o Huachipato, mas li que o único gremista em campo a fazer alguma coisa parecida com jogar futebol foi o Zé Roberto. E vi que os dois gols do time chileno tiveram a decisiva contribuição do Cris, em duas jogadas iniciadas em cima do André Santos – outra enganação avalizada pelo tresloucado treinador. O resultado de todo esse destempero é que, se o Grêmio não vencer o Fluminense hoje à noite, todo o projeto do professor pode ir para o espaço. Mas incauto é o que não falta no futebol brasileiro. Se isso acontecer, ano que vem ele arruma outro trouxa para engabelar.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Negalê e os campeonatos estaduais. 
Todo ano é a mesma coisa: perto da primeira rodada dos estaduais, começam as discussões a respeito dos estaduais. Outro dia, lendo algo sobre o assunto pela milésima vez, me veio à cabeça o vídeo “Assembleia Geral”, do pessoal da Porta dos Fundos. (Quem ainda não viu, é só clicar aqui. Vale a pena.) Do mesmo modo que é impossível o Negalê ganhar qualquer uma daquelas votações na cadeia, não há como os grandes clubes ganharem votações nas federações das quais fazem parte. O raciocínio precisa ser feito de cima pra baixo. O presidente da CBF é eleito pelos presidentes das federações estaduais. Os presidentes das federações estaduais são eleitos pelos clubes filiados. E aí o que pesa é a política do “é dando que se recebe”. Se a gente pensar que, juntando a primeira com a segunda divisão, em São Paulo existem quatro clubes grandes e trinta e seis pequenos, fica fácil entender porque é difícil mudar alguma coisa. O mesmo vale para o Rio de Janeiro, para Minas Gerais, para o Rio Grande do Sul. Os estaduais não precisam, necessariamente, acabar, mas bem que poderiam ser disputados de um jeito muito mais racional e ter um nível técnico muito mais interessante. 
Zé Mário era um volante baixinho, narigudo e eficiente, que atuou no futebol carioca na década de setenta. Apareceu no Bonsucesso e depois foi campeão pelo Flamengo, pelo Fluminense e pelo Vasco. Parece que foi ontem, mas eu lembro que, por volta de 1972, li uma entrevista com Zé Mário em que ele reclamava dos atrasoa de salário no Flamengo. Na matéria, o Narigueta (era esse o apelido do cara) dizia o seguinte: “Eu tenho uma pequena loja de materiais de construção lá em Bonsucesso, e o primeiro dinheiro que entra é para pagar os funcionários. Não entendo por que nos clubes de futebol não acontece o mesmo.” Isso quer dizer, simplesmente, que o Flamengo atrasa salários dos seus jogadores há mais de quarenta anos. Se a nova diretoria conseguir fazer tudo o que pretende no tempo em que pretende, o clube dará um gigantesco passo pra virar esse jogo. O Corinthians está aí mesmo para provar que é possível. 
Tem o Ganso no São Paulo, o Montillo no Santos, o Pato e o Renato Augusto no Corinthians, mas quem conseguiu melhor se reforçar para essa temporada foi o Flamengo, ao emprestar o zagueiro Welinton para a Rússia. Se bem que poderia ter sido para a China, que é um pouco mais longe. 
É bastante possível que, até amanhã, seja noticiado o nome do clube pelo qual o meia Carlos Eduardo irá jogar nos próximos dezoito meses. Uma coisa é certa: seja qual for a decisão do ex-gremista, o time por ele escolhido imediatamente se transformará num dos melhores do Brasil, já que o Carlos Eduardo é, sem sombra de dúvida, um dos três maiores jogadores brasileiros em atividade. Como? Me precipitei? Não é tudo isso não? Peço desculpas então, mas é que, pelo espaço na mídia e por todo o suspense criado, pensei que fosse. Das três, uma: ou eu sou exageradamente cético, ou a imprensa futebolística é insuportavelmente cínica, ou noventa por cento dos torcedores de futebol no Brasil são inacreditavelmente tolos. 
Esse post foi só pra rapaziada não esquecer que o blog existe. O recesso de fim de ano aqui na agência me presenteou com dez dias de vagabundagem, voltei para duas semanas de trabalho e agora saio de férias pra retornar depois do Carnaval. Quando o blog estiver de volta, aviso pelo facebook e pelo twitter.